Britto será candidato ao governo do Estado









Britto será candidato ao governo do Estado
O ex-governador pediu tempo ao PPS, mas a decisão já está tomada

Acabou o suspense no PPS: o ex-governador Antônio Britto será candidato ao Palácio Piratini. O partido prepara o lançamento festivo da candidatura para os próximos dias.

Conclamado pelos integrantes do diretório regional a concorrer, Britto pediu ontem alguns dias para decidir, mas fez um discurso de candidato no encontro extraordinário do diretório do PPS e deixou os deputados convencidos de que a candidatura é irreversível.

O discurso no final do encontro provocou euforia nos cerca de 150 integrantes do PPS que foram à sede da sigla, no bairro Floresta.

– Não tenho direito a projetos pessoais. O fim da aliança nos liberou para uma situação nova e para mim diferente: o confronto entre minha vontade pessoal, que sempre foi e continua sendo de não disputar, e a necessidade de que a gente possa então colaborar.

A chapa deverá contar com o senador José Fogaça, candidato à reeleição. A outra vaga de senador e a de vice ficarão em aberto para os parceiros que o partido começará a buscar a partir de hoje.

Apesar de se considerar “em liberdade” para a disputa em torno da sucessão estadual, em virtude do fracasso da formação da Frente Trabalhista com o PDT e o PTB, Britto disse que a aliança tem possibilidades de se concretizar.

– Se hoje ou amanhã o PDT adotar uma atitude negociadora, estarei disponível para conversar – afirmou, ressaltando que a Frente foi rompida unilateralmente pelo partido de Leonel Brizola.
PDT e PTB formalizaram um pacto nacional em torno da candidatura presidencial de Ciro Gomes (PPS). O acordo obriga o PTB gaúcho a apoiar José Fortunati (PDT) para o Piratini, apesar de o partido ter preferência por Britto no Estado. Para o PPS, a decisão não isolou o ex-governador.

– Esse isolamento não foi comunicado às ruas. Pela primeira vez na história da humanidade, estar com 2 ou 3 milhões de pessoas é estar isolado – disse Britto, referindo-se ao desempenho nas pesquisas de intenção de voto, durante o discurso proferido sem microfone.

O PPS tenta uma aliança com o PFL. Apesar da pouca estrutura no Estado, a sigla tem um dos maiores espaços no rádio e na TV. O PFL gaúcho, porém, depende de uma decisão nacional para dar início às conversações com o PPS. Se o partido assumir apoio ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra, a aliança fica inviabilizada.

– As conversas estão complicadas porque as pessoas que conversam não sabem se podem conversar – disse Britto em entrevista depois da reunião do PPS.

Com a imprensa, o ex-governador manteve o suspense em torno da candidatura. Brincou com os jornalistas, afirmando que era candidato à “reeleição”. E completou:

– A conselheiro do Grêmio.

Britto evitou confirmar a indicação de seu nome, alegando que o rompimento da Frente Trabalhista é muito recente. Pediu ao presidente estadual do PPS, deputado federal Nelson Proença, “dois ou três dias, uma semana no máximo” para manifestar intenção de concorrer:

– Há apenas 24 horas fomos informados de que a Frente acabou.
Britto espera ter apoio do PTB, apesar de o comando nacional da sigla forçar a aliança com o PDT.

– Amor imposto é amor sem gosto – disse Britto, referindo-se à tentativa de forçar o deputado Sérgio Zambiasi (PTB) a apoiar o vereador José Fortunati (PDT).

O ex-governador chegou ao encontro do PPS às 11h30min, duas horas depois de iniciada a reunião, acompanhado da mulher, Luciana Maydana, e do senador José Fogaça. Ao desembarcar do carro, cumprimentou as pessoas que o aguardavam diante da sede do partido em italiano:

– Bon giorno.

– Como se diz candidato em italiano? – perguntou-lhe uma repórter.

– Pergunta para o Fortunati ou para o Tarso Genro – respondeu, referindo-se aos candidatos do PDT e do PT ao Piratini.

Antes dos discursos de Fogaça e de Britto, a direção do partido distribuiu à imprensa uma resolução em que apela aos líderes da Frente Trabalhista “para que busquem o entendimento”. O texto também manifesta apoio ao presidente nacional do PPS, senador Roberto Freire (PE), “pela forma tolerante e paciente com que tem conduzido o partido neste momento difícil da formação da Frente”, e conclama Britto e Fogaça a assumirem a condição de candidatos.

As Alianças e a Lei
A chamada verticalização das coligações não impede os partidos que apóiam a candidatura de Ciro Gomes (PPS) de lançar mais de um candidato a governador:

• O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proíbe os partidos de se coligarem nos Estados com siglas adversárias na eleição para presidente da República. É a chamada verticalização das alianças (a coligação presidencial subordina as coligações para governador e senador).

• Em tese, o PPS gaúcho pode se coligar com o PTB, o PDT ou qualquer partido que não tenha candidato a presidente da República.

• Pela lei, o PPS e o PTB podem formar uma aliança em torno do ex-governador Antônio Britto, deixando o PDT sozinho com a candidatura de José Fortunati.

• O problema é que PDT e PTB fecharam um acordo em nível nacional, prevendo que concorrerão aliados em todos os Estados.

• A direção nacional do PTB ameaça intervir no diretório do Rio Grande do Sul se essa diretriz for desrespeitada, mas o PTB gaúcho estuda medidas judiciais para se prevenir de uma futura intervenção.

• Se Britto não tiver o apoio formal do PTB, não poderá usar o tempo do partido de Sérgio Zambiasi no rádio e na televisão, mesmo que o deputado e todos os parlamentares do PTB apóiem sua candidatura.

• Os cálculos preliminares indicam que, sozinho, o PPS terá 36 segundos em cada um dos blocos da propaganda para governador. Se tiver o apoio do PFL, ganha pelo menos mais três minutos.


“Ninguém vai impor políticas ao PPS”
Entrevista: Roberto Freire, senador e presidente nacional do PPS

O presidente nacional do PPS, senador Roberto Freire (PE), acredita que o partido tem de investir nas coligações regionais para garantir o crescimento da candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. Diante da aliança nacional entre o PDT e o PTB, Freire lamenta que a Frente Trabalhista não tenha sido consolidada e afirma que o PPS continuará trabalhando para desenvolvê-la nos Estados.

No dia em que o PPS gaúcho aclamou o ex-governador Antônio Britto como candidato ao Piratini, Freire falou a Zero Hora sobre a eleição no Rio Grande do Sul e as próximas articulações da sigla. Reforçando o seu descontentamento com a possibilidade de uma aliança entre PPS e PFL, o senador garantiu que a união dos partidos trabalhistas beneficiará a candidatura de Ciro.

Zero Hora – Como o senhor avalia a união entre PDT e PTB? O PPS não se sentiu isolado com essa aliança?
Roberto Freire – Não houve isolamento do PPS, porque os dois partidos reforçaram o apoio a Ciro. E a fusão dos dois partidos é boa para a democracia. Ficamos satisfeitos em ser instrumento dessa unidade pela candidatura Ciro. Daqui para a frente, a relação será entre a unidade trabalhista e o PPS, que é o partido do candidato a presidente da República, Ciro Gomes.

ZH – A união PTB-PDT foi a melhor solução para o impasse da Frente Trabalhista em nível nacional?
Freire – Sim, porque saímos do impasse. O ideal seria termos resolvido a unidade no Rio Grande do Sul e termos a Frente Trabalhista. Não superamos todos os problemas, mas criamos condições para resolvê-los. Nacionalmente, já estamos juntos com Ciro. Quem teve bom senso nesse encaminhamento foi Brizola. O PTB ainda não está sabendo bem o que está acontecendo . Mas Brizola está tendo a compreensão de que o problema no Rio Grande do Sul não poderia contaminar todo o Brasil.

ZH – O senhor chegou a pensar em rever a candidatura de Ciro Gomes?
Freire – Antes da reunião de terça-feira, PDT e PTB diziam que, se não houvesse acordo, poderiam excluir o PPS de qualquer aliança. Diante dessa hipótese, eu disse que ninguém colocaria uma faca no peito do PPS, exigindo nosso suicídio. Seria esquizofrênico dizer que apóiam nosso candidato, mas não apóiam o partido. Isso o PPS não aceitaria. Não quis rever a candidatura de Ciro. Ele foi candidato pelo PPS em 1998 sem o PDT e o PTB. Portanto, o PPS não tem de ficar prestando conta sobre isso, muito menos ao PDT e ao PTB. Saímos candidatos sem eles e sairíamos de qualquer forma. O PPS quer a aliança, tem lutado e trabalhado por ela. Mas ninguém vai impor políticas ao PPS.

ZH – E como ficam as articulações do PPS a partir de agora?
Freire – Daqui para a frente é trabalhar a união nos Estados. Estou muito otimista. Se no Rio Grande do Sul não deu, é lamentável, mas tudo bem. Isso não está impedindo a aliança com Ciro Gomes nem a possibilidade de alianças nos Estados. Agora trabalharemos o espaço da política e não da imposição. Queremos a aliança, ela é instrumento fundamental para a vitória do Ciro.

ZH – Como o senhor vê a candidatura do ex-governador Antônio Britto no Estado?
Freire – Respeito a decisão do partido e não tenho nada a repor. Eles estão adotando uma posição depois da decisão do PDT e do PTB nacional e ainda chamam os partidos, se mostram abertos ao diálogo. Não podemos facilitar aí no Rio Grande do Sul. Temos de entender que, apesar de o PT ser uma boa coisa na política brasileira, não está sendo bom no Estado.

ZH – Como o senhor vê a possibilidade de aproximação do PPS com o PFL no Estado?
Freire – Sou contra e mantenho a minha posição. Acho que a aproximação com o PFL não é um bom caminho. Mas o partido tem a democracia como base e quem vai decidir isso são os companheiros do Rio Grande do Sul. Na questão nacional, adoto a mesma posição. Sou contra, mas respeito qualquer decisão do partido.


Pont rebate tese de Lula sobre França
O ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont considerou “equivocada” a tese do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, que responsabilizou a extrema esquerda pela derrota do candidato do Partido Socialista à presidência da França, Lionel Jospin.

Segundo Pont, os votos que faltaram a Jospin foram os de seus próprios parceiros no governo da chamada Esquerda Plural, como Movimento dos Cidadãos, Verdes e Partido Comunista. Essas agremiações, que respaldaram Jospin em 1995 e tinham ministros no governo, lançaram candidatos presidenciais.

O ex-prefeito comparou as críticas de Lula às cobranças sofridas pelo PT em 1982 e 1984, quando a sigla foi acusada de dividir a oposição à ditadura militar ao lançar candidatos próprios.
– Em 1982, muita gente veio me botar o dedo na cara e dizer que éramos culpados pela derrota de Simon (o então senador Pedro Simon foi candidato a governador pelo PMDB). Jamais o PT usou essa linguagem para negar a independência política de nenhum grupo – afirmou.

O ex-prefeito acrescentou que os partidos da extrema esquerda (Luta Operária, Liga Comunista Revolucionária e Partido dos Trabalhadores) faziam oposição a Jospin e tinham o direito de lançar candidatos. Pont criticou Jospin por privatizar estatais e retirar direitos dos assalariados.


FH critica “sapato alto” de petista
O presidente Fernando Henrique Cardoso recomendou ontem ao candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, que não coloque “sapato alto”.

Segundo FH, “um pouquinho de humildade é bom, ajuda”.

Questionado sobre a pressão do PFL para que o PSDB troque de candidato, retirando José Serra da disputa, ele disse que só pode rir disso. Segundo o presidente, um partido não deve fazer restrições a candidatos de outros partidos. Sobre o fato de bancos estrangeiros terem recomendado redução de investimentos no Brasil por causa da ascensão de Lula nas pesquisas, FH disse que foram precipitados e que o país “não tem de estar tremendo por causa disso”.

FH lança hoje em Carajás (PA) um projeto de exploração de cobre da Companhia Vale do Rio Doce. A empresa espera produzir 141 mil toneladas anuais de concentrado de cobre na Serra do Sossego.

O presidente disse discordar das avaliações de que a eventual eleição de Lula traria instabilidade econômica ao país. Segundo ele, o Brasil avançou muito, em razão das “mudanças profundas” feitas por seus dois governos.

Ele chegou a ironizar o programa de governo do PT para o setor elétrico, lançado na terça-feira, afirmando que Lula está pregando idéias semelhantes às suas, como a necessidade de capital estrangeiro nessa área.

– Só que ele disse uma coisa que não é verdadeira. Eu já tomei decisão sobre Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) e sobre Furnas. É preciso tomar cuidado, ninguém deve botar sapato alto antes da hora. Os que já fizeram isso, como eu próprio, que já me sentei na cadeira errada, sabem que não se deve repetir isso.

FH se referia às advertências de Lula contra a eventual privatização de hidrelétricas e também ao fato de ele próprio, FH, ter se sentado antes da hora na cadeira de prefeito de São Paulo, na campanha de 1985. Ele perdeu a eleição.

Questionado sobre se Lula estaria colocando salto alto, afirmou:

– Veja, ele está dizendo o que eu devo fazer até o fim do meu mandato. Espera lá, um pouquinho de humildade é bom, ajuda, né? Ele devia se informar um pouco melhor.


Tributos serão elevados para compensar CPMF
Governo negocia aprovação com PFL

O governo decidirá em duas semanas onde serão feitos os cortes no Orçamento e quais tributos serão elevados para compensar as perdas com o atraso na aprovação da emenda que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

Segundo o ministro do Planejamento, Guilherme Dias, a já anunciada elevação da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) garantirá a reposição de apenas 20% da queda na arrecadação.

O ministro avalia que as perdas com a CPMF variam de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões. Será necessária, portanto, redução de gastos públicos. Dias adiantou que os cortes atingirão desde o custeio da máquina administrativa até os investimentos previstos para este ano.

– Vamos fazer um pente-fino em despesas como viagens e consultorias, mas também será preciso adiar investimentos – disse.

O governo terá de dispender tempo na negociação com o PFL para conseguir acelerar a votação da proposta que prorroga a vigência da CPMF. O aceno com a liberação de recursos orçamentários em troca do encurtamento dos prazos regimentais de tramitação não comoveu a direção do partido, que rompeu com o governo em março, quando ainda bancava a candidatura presidencial da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney.

– A liberação de emendas e restos a pagar não é mais do que obrigação do governo – disse ontem o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).

O senador afirma que o PFL não pretende obstruir as votações, mas exigirá o cumprimento dos prazos regimentais.

– O PFL não jogará contra o país, mas pretendemos apresentar emendas e lutar para que elas sejam aprovadas – avisou Agripino.

Uma emenda que pode ser endossada pela bancada do PFL é a que determina a partilha da CPMF com Estados e municípios, proposta pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM).


Prefeitura de Viamão ameaça demitir 500 funcionários
Projetos para reduzir salários serão enviados para a Câmara

Dois projetos serão enviados pelo prefeito de Viamão, Eliseu Chaves (PT), o Ridi, à Câmara de Vereadores propondo a redução das gratificações anuais dos servidores públicos de 4% para 3% a cada dois anos e a revisão do índice de progressão salarial de 16% ao ano, previsto no plano de carreira.

Se as duas medidas não forem suficientes para diminuir os gastos com o funcionalismo, o Executivo ameaça demitir pelo menos 500 dos cerca de 3 mil servidores.

A medida é para enxugar a folha de pagamento, que ainda consome 70% da receita de Viamão e desrespeita a Lei de Responsabilidade Fiscal. As possíveis demissões colocaram os servidores públicos, os vereadores de oposição e a prefeitura de Viamão em pé de guerra. Uma audiência pública, marcada para as 20h de hoje, no plenário da Câmara, tentará amenizar a polêmica. Segundo o prefeito, lá a sociedade terá a possibilidade de opinar sobre as propostas do Executivo e ajudar a encontrar a melhor saída para solucionar o problema de caixa da prefeitura.

Ridi disse estar pressionado pela Lei Fiscal e garante que sua intenção não é demitir. O prefeito afirma que Viamão não tem excesso de servidores, já que faltam médicos e funcionários para a Secretaria Municipal de Obras, por exemplo. Hoje, o gasto com pessoal em Viamão é de aproximadamente R$ 3,5 milhões, o que para o prefeito não é excessivo se levada em conta a população de 227 mil habitantes. O problema, segundo Ridi, é que a Lei Fiscal obriga municípios como Viamão a adotar “medidas antipáticas” por mexer com a folha de pagamento e, por isso, criar um problema social.

– É um dilema. De um lado temos a lei e, de outro, a questão social – avalia o prefeito.

O presidente do Sindicato dos Municipários de Viamão, Gilnei da Silva Guimarães, afirma que a entidade é contra as demissões e até mesmo a redução de vantagens obtidas pelos funcionários ao longo dos anos. Segundo ele, a prefeitura deveria se adequar à Lei de Responsabilidade Fiscal aumentando a arrecadação do município “com políticas sérias e criativas”.

– Não é demitindo ou metendo a mão no bolso do funcionalismo que o problema será resolvido – criticou o sindicalista.

Duas horas antes do início da audiência pública os servidores iniciarão uma série de protestos na Praça Júlio de Castilhos, em frente à prefeitura. Às 14h, o prefeito concederá uma entrevista coletiva à imprensa para explicar a situação financeira do município e os motivos que o levam a adotar essas medidas para reduzir os gastos com a folha de pagamento.

– Se a prefeitura vai mal, a economia do município não se desenvolve. Precisamos nos unir para encontrar uma solução – argumenta o prefeito, garantindo ser “radicalmente contra a saída mais fácil das demissões”.


Artigos

A tragédia da França
Luiz Pilla Vares

A gravidade dos resultados das eleições francesas não é somente a derrota histórica da esquerda. Não é a primeira vez que a esquerda sofre uma derrota histórica. Houve outras, inclusive na França, muito piores. O trágico consiste no incontestável avanço da extrema direita, xenófoba, racista e antidemocrática. Ainda se fosse um caso isolado, embora grave, não seria assustador. O verdadeiramente trágico é que a vitória do fascista Le Pen sobre o socialista Jospin conjuga-se com outros triunfos da extrema direita européia, como na Itália e na Áustria.

Por quê? As forças de esquerda e democráticas de todo o mundo devem começar a se inquietar e a questionar-se sobre os rumos atuais da política internacional. E, em primeiro lugar, constatar aquilo que salta aos olhos: o fracasso em todos os níveis, econômico, social e político da chamada “terceira via”. O discurso proclamado por Blair acabou nivelando as propostas de centro-esquerda e de centro-direita, deixando para a direita fascista aquilo que os eleitores (e a sociedade) querem ouvir, como, por exemplo, a questão do desemprego, da crítica à globalização neoliberal, da segurança e da corrupção. Jospin e Chirac, nas eleições francesas, falavam quase a mesma linguagem. Le Pen era o “diferente”.

O PT e seus aliados deveriam analisar profundamente os desastres da bandeira cor-de-rosa dos socialistas franceses

Houve, também, a dispersão da esquerda. Os socialistas não souberam atrair a esquerda revolucionária: só os votos aos três candidatos trotskistas dariam a supremacia sobre a direitista Frente Nacional, sem contar os votos do “pólo democrático” de Jean-Pierre Chevenement, do velho Partido Comunista e dos ecologistas, que também apresentaram candidaturas isoladas. Na realidade, desde a eleição de Mitterrand, a totalidade da esquerda não obtinha uma porcentagem tão alta, mas dispersa, fragmentada, pavimentando o caminho para a extrema direita. Só os três candidatos trotskistas somaram 10% dos votos, o que, somados aos votos de Jospin, superariam o próprio Jacques Chirac. Por enquanto, a história tem se repetido sempre como farsa. Mas, e se ela alguma vez se repetir como uma tragédia ainda mais forte?

É dever dos socialistas e dos centro-esquerdistas repensarem a fracassada “terceira via” e a “inevitabilidade” da globalização neoliberal, se quiserem descartar a ameaça neofascista da extrema direita, com tudo o que ela representa de retrocesso, de antidemocrático, de xenofobia e de racismo. Mas, nós, da esquerda, também poderíamos ler alguém que nos é muito caro e que foi o autor do mais brilhante e profético estudo sobre os anos 30, Revolução e Contra-Revolução na Alemanha, de Leon Trotsky. E, aqui entre nós, o PT e seus aliados deveriam analisar profundamente os desastres da bandeira cor-de-rosa dos socialistas franceses.

Finalmente, o problema mais sério; a abstenção superou a porcentagem de votos de todos os candidatos. Este fato tem se repetido em quase todas as eleições nos países do chamado Primeiro Mundo, o que revela um certo desencantamento com a participação democrática, um ceticismo em relação à política e aos regimes representativos, o que é ótimo para as forças de extrema direita. No domingo, 21, quando os franceses se acordaram, já era tarde. Desta vez o canto do galo gaulês só despertou os fascistas.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Política habitacional
Até agora, os candidatos à sucessão presidencial nada disseram sobre o que pretendem em relação à política habitacional, setor que, no conjunto (indústria da construção e correlatas) representa quase 20% do Produto Interno Bruto do país. As carências habitacionais, especialmente para a classe média, podem ser medidas em números. O presidente do Sinduscon-RS, Pedro Silber, diz que por ano seria necessário 1 milhão de novas moradias, das quais 70% de valor até R$ 35 mil. Os empresários do setor pretendem questionar os presidenciáveis no próximo dia 9, quando estarão debatendo programas de governo com o comando da CNI – Confederação Nacional da Indústria – em Brasília.

Luis Roberto Ponte, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, repete ser “intolerável a taxa de juro para o financiamento habitacional”. O dirigente também refere a necessidade de prazos compatíveis às necessidades dos adquirentes da casa própria.

Construtores gaúchos reclamam, com razão, da excessiva burocracia nas transações imobiliárias, da falta de linhas de financiamento e da carga tributária incidente sobre o setor. Do custo final de uma moradia, 56% é imposto, dizem os construtores, que lembram os fatores positivos desse setor. Primeiro, é o que mais emprega mão-de-obra menos qualificada. Segundo, é uma indústria genuinamente nacional e, por fim, o retorno do investimento é muito rápido.

Outro aspecto fundamental, regist rado por Silber, é o social, quando se trata da geração de empregos. Nenhum setor tem capacidade de criar emprego em massa como a construção civil, ressalta o presidente do Sinduscon, lembrando que o país já teve até ministério para cuidar da desburocratização, mas não tem sequer um banco para cuidar da habitação. Os empresários reconhecem que, sem desenvolvimento e crescimento da economia, não existem condições para aumentar a produção de habitação. Com renda pequena e desemprego, o mercado fica comprimido. A maior parte das empresas gaúchas que atuam na construção civil é de pequeno e médio portes.


JOSÉ BARRIONUEVO

Britto sai da toca
O PPS preferiu não esperar uma definição mais clara do quadro eleitoral e lançou ontem as candidaturas de Antônio Britto a governador e de José Fogaça a senador. O ex-governador segurou até onde pôde seus correligionários em busca de uma aliança mais ampla, de preferência à esquerda, com o PDT. A decisão de Brizola de isolar o PPS encerra a fase das negociações e faz com que a candidatura seja assumida por Britto de forma mais objetiva nos próximos dias. Apenas aguarda que sejam encerradas as negociações do PFL, que faz de conta que terá Silvio Santos como candidato. Principal nome da oposição, Britto não podia ficar fora da disputa.

Bonow como vice
Até o dia 10, deve ser realizado um novo ato público, em que o PPS e o PFL devem anunciar uma aliança, entrando Germano Bonow como candidato a vice-governador. O PFL assegura ao PPS o tempo necessário (em torno de três minutos) nos espaços gratuitos de rádio e televisão, nos 45 dias que antecedem a eleição.

À espera do PTB
A outra vaga de senador, ao lado de José Fogaça, será guardada para Sérgio Zambiasi. A exemplo do que acontece em São Paulo, o PTB gaúcho ainda pode definir uma composição com o PPS na convenção estadual marcada para a segunda metade de junho.

Atraso nos recursos para enchente (do ano passado) gera briga
A visita da ministra interina da Integração Nacional, Mary Dayse Kinzo, às regiões alagadas ontem ficou tensa em Rosário do Sul, quando o prefeito em exercício de Quaraí, João Carlos Gediel (PSDB), indagou o motivo da demora na liberação de recursos das enchentes do ano passado. O secretário nacional da Defesa Civil, coronel José Wilson Pereira, perdeu a paciência e foi para cima do prefeito com o dedo em riste. Um integrante da comitiva da ministra teve de separar os dois exaltados, que partiam para briga. O secretário Dirceu Lopes parece espantado.

Emília assume namoro
Agora é público. Edson Martins Areias, advogado, é o namorado da senadora Emília Fernandes, divorciada há dois anos. Advogado no Rio de Janeiro, Areias transferiu o título eleitoral ontem para Livramento, para poder votar em sua amada, candidata à reeleição pelo PT. Já havia estado na terra da senadora durante a semana da Páscoa, quando foi apresentado à família, como convém. O namorado participou das comemorações do Dia do Trabalho, um evento binacional, com a participação de brasileiros e uruguaios, no qual a senadora foi a principal atração.
Orgulhoso, mostra o novo título, da 30ª zona eleitoral, seção 128.

Olívio não esquece a “herança maldita”
Ao participar da inauguração da Expobento, sem saber da decisão do PPS, o governador Olívio Dutra voltou a falar na “herança maldita” recebida de seu antecessor, propondo que Britto volte a ser candidato para justificar o seu governo.

Ética e moral – Também presente à inauguração da Expobento, o presidente da Assembléia, deputado Sérgio Zambiasi, rechaçou as críticas que recebeu do deputado Roberto Jefferson (RJ), sobre a postura do partido no RS, que estaria se colocando acima da direção nacional. Zambiasi alfinetou:
– Em relação à ética e à moral, somos superiores, sim.

Brizola pode ser o vice
Acertado o pacto para a formação de um único partido trabalhista, sob a bandeira do PTB, Leonel Brizola trabalha agora no fortalecimento dos dois partidos nos Estados, apostando no crescimento da nova sigla, hoje com 49 deputados federais e três senadores.
O passo seguinte poderá ser sua candidatura a vice-presidente, ao lado de Ciro Gomes. Em se tratando de Brizola, sempre fica uma possibilidade de ser ele o candidato à sucessão de FH.

Rigotto não perde tempo
O PMDB está impressionado com a capacidade de mobilização do deputado Germano Rigotto desde que assumiu há pouco mais de uma semana a candidatura a governador. Está determinado a assegurar a homologação de seu nome no dia 23 de junho, em convenção estadual. Esteve em Caxias do Sul, ontem, na posse do novo reitor, hoje vai a Brasília, retomando amanhã à noite uma série de encontros, devendo reunir domingo mais de mil mulheres no auditório da Assembléia. Segue um roteiro por São Leopoldo, Passo Fundo, Pelotas, Santa Maria e um município da Fronteira.


ROSANE DE OLIVEIRA

Fim do suspense
Que ninguém tenha dúvida: Antônio Britto será candidato ao governo do Estado em 6 de outubro. O PPS evitou usar a palavra “lançamento” porque planeja um ato festivo para os próximos dias e queria valorizar o “rompimento unilateral do PDT”, que o excluiu da Frente Trabalhista. O tempo para pensar, pedido ontem por Britto diante da conclamação do PPS para que concorra, é apenas estratégia.

A campanha começa a ser montada hoje pela manhã, com os dirigentes convencidos de que não há mais espaço para recuo. Os deputados não cabiam em si de contentamento com o discurso afirmativo de Britto, que pela primeira vez falou como candidato. O PPS decidiu pagar para ver se o PDT conseguirá sustentar a campanha de José Fortunati. E apostou todas as suas fichas no 14 vermelho e preto, o número e as cores do PTB.

Apesar da decisão do PTB nacional de forçar a coligação com o PDT no Rio Grande do Sul, Britto vai para a disputa confiante no apoio do partido de Sérgio Zambiasi. O PPS reservou para Zambiasi uma das vagas de candidato ao Senado e seus líderes estão convencidos de que juiz algum será capaz de impedir o PTB de se coligar no Rio Grande do Sul com o partido que apóia para a Presidência da República. Ou de obrigar o deputado Sérgio Zambiasi a fazer campanha para José Fortunati.

O PTB gaúcho faz de conta que acatou a decisão da direção nacional, mas até a convenção de junho essa concordância é mera formalidade. Os movimentos de Zambiasi apontam para outra direção. O presidente da Assembléia está magoado com o tratamento recebido dos dirigentes nacionais do PTB e já encomendou um estudo jurídico para saber se é possível desobedecer à ordem de José Carlos Martinez. O parecer dos juristas respalda a dissidência.

Antes de ir para o encontro do PPS, Britto comunicou sua disposição de concorrer aos candidatos com quem espera contar se for para o segundo turno: Celso Bernardi (PPB), Germano Rigotto (PMDB) e José Fortunati (PDT), todos definidos como “amigos queridos”.

Para que Britto abraçasse a candidatura, os deputados do PPS que desde o ano passado esperavam pelo sim tiveram que vencer também a resistência da mulher do ex-governador, Luciana Maydana. Ontem, Luciana acompanhou o marido no encontro do PPS e garantiu aos companheiros de partido: “Britto não vai fugir da raia”.


Editorial

UM EXEMPLO TRIBUTÁRIO

Pela primeira vez na história tributária brasileira, o número de contribuintes pessoas físicas atingiu o patamar de 15,5 milhões, o que significa um acréscimo impressionante de 2,4 milhões em relação ao último exercício. O aumento é motivado em grande parte pelo temor de punições por parte da Receita e pela não-correção das tabelas, o que elevou mais gente da condição de isento à de contribuinte, mas é preciso ser atribuído também ao crescimento ve getativo da população, que acaba forçando uma elevação na massa de salários. Tão destacável quanto esse aumento do número de contribuintes é a facilidade com que se completou esse processo indicando de maneira clara o caminho para o próprio sistema tributário brasileiro.

A utilização por parte da Receita Federal e a aceitação por parte dos contribuintes de instrumentos eficientes – como o proporcionado pela internet – e a possibilidade de fiscalização eletrônica – via cruzamento de informações – estão consagrando um sistema simples, de acesso universal e, especialmente, passível de controles e fiscalizações. Ao contrário das pesadas estruturas exigidas pela maioria dos demais tributos, o IR – da mesma maneira que a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) – demonstra quais são as virtudes a serem buscadas na reforma do sistema tributário brasileiro. A constatação de que mais de 90% dos 15,5 milhões de declarações de renda foram feitos pela internet representa um fato de extraordinária importância que merece a análise dos especialistas.

A utilização ampla da internet representa um fato de extraordinária importância

Há um cálculo informal que indica que, se coibida a sonegação, a arrecadação dobraria, ou seja, para cada real pago em imposto existe na realidade um outro sonegado. Mesmo que esses números não sejam precisos, a sonegação representa uma dupla injustiça: de um lado, retira recursos que o poder público poderia investir em serviços e, de outro, sobrecarrega os contribuintes honestos, forçando-os a pagar pelos sonegadores, arcando com alíquotas elevadas.

A existência de modelos de arrecadação que dificultam a ação dos faltosos, seja pelo controle cruzado das informações (como no imposto de renda), seja por incidirem sobre receitas insonegáveis (como na CPMF), indica virtudes que não só não podem ser desprezadas como, ao contrário, precisam ser desejadas e perseguidas. Se a elas se acrescentar o fato de, num e no outro caso, ser dispensada a presença de pesadas estruturas arrecadatórias, tem-se um conjunto de características que marcariam positivamente qualquer sistema tributário eficaz e moderno. Um modelo tributário com esse perfil ajudaria o poder público a arrecadar mais e, com isso, certamente daria condições a que se aliviasse a carga suportada atualmente pelas pessoas físicas e jurídicas que não sonegam.


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05/02/2002


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