Abandono forçado









Abandono forçado
Ligação com PC Farias leva Martinez a deixar comando da campanha de Ciro

BRASÍLIA - As denúncias que ligam o presidente do PTB e coordenador da campanha de Ciro Gomes, José Carlos Martinez, ao falecido tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, Paulo César Farias, obrigaram o deputado do PTB do Paraná a deixar o comando da Frente Trabalhista. A saída do parlamentar foi acertada na madrugada de quarta-feira. Martinez admitiu que as denúncias contra ele estavam prejudicando a candidatura de Ciro. Quem ocupará interinamente a coordenação é o irmão do candidato, Lúcio Gomes. Na próxima semana, o deputado Walfrido Mares Guia (PTB-MG) deve ser convidado a substituí-lo.

O tucano José Serra não perdoou o adversário. ''É até contraditório. Se ele era tão puro assim, como dizia Ciro Gomes, então por que saiu da campanha?'', questionou Serra. O tucano insistiu que Ciro fez tudo o que pôde para manter Martinez na campanha. O líder do PMDB, deputado Geddel Vieira Lima (BA), comparou Ciro com o ex-presidente Fernando Collor. ''Esse filme eu já vi''.

O único tucano que saiu em defesa de Ciro foi o presidente da Câmara, Aécio Neves. ''Ciro é um homem digno. As denúncias de Martinez nada têm a ver porque não é ele o candidato à Presidência'', defendeu Aécio.
Ontem, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, sugeriu o prosseguimento do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) contra José Carlos Martinez. Trata-se de processo criminal em que o deputado é acusado pelo Ministério Público do Paraná de sonegação fiscal, evasão de divisas, falsidade ideológica e falso testemunho. A denúncia é de 1998, embasada no envolvimento de Martinez com PC Farias, em 1991.

O processo estava parado porque Martinez tinha imunidade parlamentar. Desde dezembro do ano passado, os deputados podem ser processados sem licença prévia do plenário. A sugestão de prosseguimento do processo está nas mãos do ministro do Supremo Ilmar Galvão, que deverá tomar as providências que achar necessárias.
A saída de Martinez aconteceu depois de inúmeros recados de Ciro a amigos em comum. A gota d'água ocorreu na última segunda-feira. O presidente do PTB convocou a imprensa para divulgar nota sobre as denúncias. A coletiva aconteceu contra a vontade de Ciro. O documento trazia sete vezes o nome do candidato e ainda criticava os donos dos veículos de comunicação.

Três dias antes, Ciro havia se irritado tanto com Martinez que chegou a abandonar uma caminhada pelas ruas de Curitiba. O parlamentar faz campanha de reeleição à Câmara no Estado e passou todo o dia colado em Ciro. Preocupado em ser contaminado pelas denúncias, o presidenciável alegou que o a passeata estava desorganizada, pegou um taxi e foi embora.

Ontem, Ciro e Martinez trocaram cartas de homenagem um sobre o outro. O presidenciável se disse chocado com a carga de violência que se abateu sobre o coordenador. Martinez também responsabiliza os adversários pela denúncia.


Vice de Ciro diz ter munição contra Serra
Senador do PPS sai em defesa da honra de Paulinho

BRASÍLIA - O vice na chapa de Ciro Gomes, Paulinho Pereira da Silva (PTB-SP), está preparando uma ofensiva contra José Serra. Ele recebeu do diretor-geral do laboratório farmacêutico Aché, José Eduardo Bandeira de Mello, um relatório sobre a situação da indústria farmacêutica no Brasil durante o governo FH.
Os dados serão entregues ao presidenciável da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, amanhã, e servirão de munição no debate entre os candidatos à Presidência, que será no domingo, na TV Bandeirantes. A principal propaganda do tucano José Serra é sua gestão no Ministério da Saúde.

Segundo Paulinho, a visita à empresa faz parte de uma série de encontros com funcionários. ''Depois de falar com os trabalhadores, fui chamado para conversar com a diretoria e eles me entregaram dados alarmantes'', afirmou.

O relatório, de acordo com o candidato, denuncia a falta de investimentos e a grande quantidade de vagas fechadas no setor químico. ''Além disso, mais de 65% dos empresas farmacêuticas são multinacionais'', diz.
Ainda ontem, em São Paulo, o presidente do PPS, senador Roberto Freire, afirmou que a Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) está convencida do ''gosto requentado'' das denúncias contra o candidato a vice de Ciro Gomes. ''Nada desabona a honra de Paulinho'', garantiu.

O candidato a vice é suspeito de envolvimento na compra superfaturada de uma fazenda em Piraju (SP), com recursos federais, e de manter um sítio em nome de um laranja por três anos.


Rita ensina segredos da horta a Serra
BRASÍLIA - O candidato José Serra levou ontem para casa um nabo gigante e uma berinjela sem agrotóxico, plantados no centro de pesquisas da Embrapa. O nabo foi colhido, pessoalmente, por sua vice, Rita Camata. Ela, que trabalhou na roça ainda menina, identificou pelas folhagens que a raiz estava no ponto para ser colhida. Puxou-a da terra como se fosse um troféu.

''Vou levar o nabo para minha casa porque é desintoxicante e faz bem para a saúde'', afirmou Serra. O candidato resolveu percorrer todo o canteiro de plantação experimental da Embrapa, denominado de ''Vitrine de Tecnologias 2002'', com espécies de cereais, algodão colorido, hortaliças, girassóis, ervas medicinais, e leguminosas. São 350 experimentos tecnológicos distribuídos em 30 mil metros quadrados. É lá que está a bezerra Vitória, a primeira espécie clonada no Brasil. Serra não foi visitá-la. E evitou falar de clonagem.

Preferiu ver as plantas. Mas ao contrário do que lhe aconteceu em Petrolina (PE), quando se atrapalhou ao identificar uma melancia, desta vez contou com a ajuda das placas utilizadas para identificar os as leguminosas, hortaliças, e ervas medicinais. Cada canteiro tinha o nome do produto em exposição. Serra olhava sempre para o letreiro antes de falar. Ao olhar para o canteiro de beringela, Serra quis saber porque ele se colocava um plástico por debaixo da plantação. ''Porque ela está tampada?'', perguntou Serra. ''Para manter a umidade e evitar as ervas daninhas'', disse o presidente da Embrapa, Alberto Portugal. ''Mas isso funciona? Não fica muito quente'', questionou o candidato.

Antes olhou para uma ervilha considerada de maior produtividade e comeu a leguminosa crua. ''É boa, muito gostosa e até docinha'', elogiou Serra. Ele recolheu ainda pedacinhos de manjericão para cheirar. E quando viu o boldo do Chile achou a planta engraçada. ''Mas o que é isso?'', perguntou. ''É boldo, bom para curar ressaca'', respondeu, sem a menor cerimônia, o presidente da Embrapa.

Ainda em Brasília, Serra anunciou ontem que criará oito milhões de empregos em quatro anos se for eleito. Ele admitiu que a meta é ''conservadora'' e mais baixa que os 10 milhões previstos na plataforma do candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva. ''Mas é a a meta real e a que é possível ser obtida'', diz o tucano. ''No futuro ela poderá ser ultrapassada'', prevê. O candidato afirmou que para tornar esta meta viável será preciso adotar uma estratégia econômica ''correta'' privilegiando setores da economia que criem novos empregos.

José Serra diz que vai impedir que o ti-ti-ti tome conta da campanha eleitoral. Por este motivo, aproveitou para antecipar, ontem mesmo, a divulgação das metas estratégicas do seu programa de governo.


PT quer arrecadar R$ 36 milhões
SÃO PAULO - O PT lançou ontem a maior campanha de arrecadação de fundos de sua história. O objetivo é obter R$ 36 milhões, para bancar a propaganda eleitoral de Lula e dos outros candidatos do partido. Para alcançar o objetivo, foi montada uma estratégia que inclui visitas a empresas, pedidos pelo correio e até um sistema para receber doa ções pela internet.

''O Lula sempre foi prejudicado nas eleições anteriores porque seus adversários dispunham de muito mais dinheiro. Desta vez, pretendemos trabalhar para que a questão financeira não atrapalhe a candidatura'', diz Delúbio Soares, coordenador de finanças da campanha.

O valor de R$ 36 milhões consta do planejamento de gastos que o partido enviou para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Esse é o máximo que os petistas poderão gastar na campanha. O montante é muito superior ao orçamento da disputa presidencial de 1998, quando Lula gastou R$ 4,5 milhões.

Desta vez, o principal alvo petista para conseguir dinheiro serão os grandes empresários. O partido montou uma lista com as duas mil maiores empresas do país e vai enviar representantes para conversar com os seus presidentes. Além de tentar arrecadar fundos ''no atacado'', o PT preparou uma mala-direta para os filiados pedindo doações. Os sites vão trabalhar com um sistema de doações on-line e uma loja virtual para vender camisetas e outros produtos.


Garotinho vai ser o 1° no horário gratuito
Jobim vai mostrar urnas aos partidos

BRASÍLIA - Foi sorteada ontem, em sessão pública do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a ordem em que serão veiculados os programas no horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Os programas vão entrar no ar no dia 20 de agosto.

O primeiro candidato à Presidência a aparecer será o ex-governador Anthony Garotinho, do PSB. Depois dele serão apresentados os programas de José Maria de Almeida (PSTU), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Rui Pimenta (PCO) e José Serra (PSDB). Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, é o último a estrear. Seu programa fecha o horário gratuito no primeiro dia de propaganda eleitoral no rádio e na TV.

Representantes dos partidos ou coligações partidárias que apóiam os candidatos a presidente puderam acompanhar o sorteio feito pela Justiça Eleitoral. A ordem de aparição dos candidatos nos programas não será fixa. O que se apresentar por último um dia será o primeiro no dia seguinte. Entre eles, no entanto, vai ser mantida a ordem de seqüência.

O presidente do TSE, ministro Nelson Jobim, se reúne na próxima segunda-feira, às 9h, com representantes dos partidos ou coligações partidárias, para mais uma vez, apresentar o sistema de urna eletrônica que será adotado nas eleições e permitir o exame dos programas utilizados por técnicos credenciados e pelos representantes dos candidatos.

A maioria dos partidos considera que o sistema de voto eletrônico no Brasil pode ser considerado seguro e que qualquer tentativa de fraude seria detectada. Representantes do PDT, no entanto, têm denunciado as urnas eletrônicas, criticando a participação de técnicos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na elaboração dos programas para a transmissão de dados.


Britto faz 80 anos
Jornalista teve participação ativa no JB até 2001

Quem disse que octogenário não pode lançar moda? Faz hoje 80 anos Manoel Francisco do Nascimento Brito, o dono daquelas iniciais M.F. que o Jornal do Brasil usou por mais de meio século em cima do cabeçalho. Ele se aposentou em 2001. Mas outro dia mesmo o jornalista Russell Baker, lamentando na New York Review of Books a tomada das redações pelos executivos, elogiava o modelo de patrão que no Brasil ele vestiu como um terno bem cortado. ''Os velhos barões da imprensa'', escreveu Baker, ''podiam ser plutocratas, excêntricos e tirânicos, mas eram estadistas comparados com diretores flagelados pelo mercado como os atuais. A velha-guarda se importava com seus jornais e com a opinião do público sobre eles. Eram, em geral, pessoas que adoravam jornais e saboreavam o poder sobre a vida pública que sua propriedade lhes conferia''. Eram empresários que podiam até parar de fazer contas quando tinham pela frente uma boa história. Pode ser um aviso à praça. Afinal, quem diz isso passou quase 40 anos na página de opinião de The New York Times. Mas, pela data, parece um presente de aniversário feito sob medida para Nascimento Brito, que usava esse figurino para ensinar a gerações de jornalistas do JB como se lida com qualquer tipo de autoridade, a começar pelas trovejantes, como o próprio M.F.

O ex-editor-chefe Walter Fontoura, por exemplo. Ele assinava o Informe JB na década de 1967, quando se acreditava que fosse mau negócio, para os repórteres da casa, incomodar o político Chagas Freitas. E conta que um dia, tendo quebrado essa norma, foi chamado ao gabinete do diretor para explicações. ''Walter, o Chagas é meu irmão'', atacou Nascimento Brito. ''E ele me ligou se queixando muito de você. Eu tive de dizer a ele que tomaria uma providência. Então, prometi demiti-lo''. O demitido quis saber o que deveria fazer com aquela informação. ''Nada'', respondeu patrão. ''Vá trabalhar normalmente e, se um dia ele lhe perguntar alguma coisa, diga que foi despedido e readmitido imediatamente''.

Isso Nascimento Brito nunca aposentou. Meses atrás, foi ameaçado de perder a voz pela seqüela tardia de um derrame que ele mantém desde 1978 sob exercícios diários de obstinação e fisioterapia. ''Vou ficar sem a melhor maneira que eu tenho de cutucar o mundo'', comentou. E, pelo sim, pelo não, passou a treinar escrever com a mão esquerda num teclado de computador.


FH pode ter mais 6 dias de governo
Mudança visaria prestigiar a posse

Depois de obter mais quatro anos de mandato, com a aprovação da emenda da reeleição, o presidente Fernando Henrique poderá ganhar mais seis dias para governar. O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG) quer transferir a posse do novo presidente do dia 1º para 6 de janeiro, Dia de Reis. A lógica é que a mudança garantirá uma presença mais expressiva de outros chefes de Estado. ''A posse é um momento para o presidente dizer ao que veio, para o Brasil e o mundo. A data atual dificulta a vinda de autoridades estrangeiras'', afirmou Aécio.

A mudança, porém, requer uma alteração na Constituição - operação já em curso. Uma proposta de emenda constitucional já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ). Aécio pretende instalar, na próxima semana, uma comissão especial para analisar a sugestão. A intenção é desmembrá-la, transformando o artigo que trata da posse em uma proposta separada. ''A sugestão inicial da proposta de emenda constitucional, do deputado José Genoino (PT-SP), é 15 de janeiro. Eu quero antecipá-la para o dia 6'', disse Aécio.

Caso seja aprovada na comissão, a proposta estará pronta para ir ao plenário. Por ser proposta de emenda constitucional, precisa de quorum de dois terços - 308 deputados - e votação em dois turnos para então ser levada ao Senado, onde tramitará pela CCJ e terá que ser aprovada em dois turnos, por 54 senadores. ''É uma idéia normal e desejável'', endossou o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS). Ele diz que parlamentares reclamam das dificuldades em comparecer à solenidade de posse do presidente, governadores e prefeitos, o que ''acaba por tirar o brilho do evento''.
''Não sei por que a Constituição mudou a data'', afirmou ele.


Jorge Roberto tem apoio 'collorido'
O PRTB, partido que lançou a candidatura do ex-presidente Fernando Collor ao governo de Alagoas, aderiu ontem, oficialmente, com mais três outros partidos nanicos, à campanha de Jorge Roberto Silveira, candidato da Frente Trabalhista (PDT-PTB-PPS) ao governo do Rio.

Anteontem, Jorge Roberto adiantou o apoio de quatro siglas, sem citar seus nomes, mas garantiu que o PRTB não constava do bloco. A atitude do candidato da Frente Trabalhista causou constrangimento e o PRTB, ao contrário dos outros partidos, não enviou representante da Executiva Regional ao evento na quadra da escola de samba Unidos da Ponte, na Pa vuna, onde o apoio foi oficializado. O Jornal do Brasil telefonou para o o presidente regional do PRTB, Arlindo Pereira da Silva, mas ele não retornou as ligações.

Além do bloco de nanicos - formado por PRTB, PTdoB, PTN e PHS - a candidatura de Jorge Roberto ganhou a adesão do vice-prefeito de São João do Meriti, Iranildo Campos (PPB). O apoio, segundo ele, foi liberado pelo presidente do PPB no Rio, o deputado federal Francisco Dornelles, e pelo prefeito de São João do Meriti, Antônio Carvalho (PMDB).

No evento de ontem, Jorge Roberto criticou a candidata da Frente Todos pelo Rio (PFL-PMDB-PSDB), Solange Amaral, por estar gravando depoimentos de líderes comunitários contra sua administração em Niterói para exibir no horário eleitoral gratuito.


Ibope: Maluf está na frente em SP
Paulo Maluf, do PPB, tem 32% das intenções de voto e lidera a corrida pelo governo de São Paulo, segundo pesquisa do Ibope divulgada ontem à noite. O atual governador, Geraldo Alkmin (PSDB), é o vice-líder, com 22%. José Genoino, do PT, vem em terceiro lugar, com 11%. Os demais candidatos têm, no máximo, 2% das preferências. Numa simulação sobre o segundo turno, Maluf aparece em vantagem sobre Alkmin (44% a 40%), mas numa situação de empate técnico. Contra Genoino, venceria por 51% a 31%.

O Ibope ouviu 1.200 eleitores em 66 municípios paulistas entre 28 e 31 de julho. A margem de erro da pesquisa é de 2,8 pontos percentuais.

Também segundo o Ibope, em Pernambuco o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) seria reconduzido ao cargo com facilidade se a eleição fosse hoje. Ele tem 65% das intenções de voto, contra 10% do principal opositor, o deputado petista Humberto Costa.


Artigos

Dança enrolada
Newton Rodrigues

Pelas últimas pesquisas, o fenômeno mais relevante é a simultaneidade da queda de Lula e a ascensão de Ciro Gomes, que reduziu substancialmente sua distância em relação ao petista, ameaçando ultrapassá-lo, se ambos mantiverem o atual ritmo. As quedas vertiginosas dos outros candidatos (o governista Serra e o evangélico Garotinho) indicam, aliás, que a disputa final deverá ser entre os dois. O candidato da Frente Trabalhista vem sustentando forte ritmo na ascensão de sua bem conduzida campanha, enquanto o petista permanece em queda que, se não ameaça tirá-lo da disputa final, pode eliminá-lo da atual liderança. A pesquisa DataFolha divulgada dia 30 de julho, aponta para uma diferença de apenas 5% entre os dois candidatos, quando era de 20% na pesquisa do último dia 5 (38% a 18%, respectivamente). Segundo ela, Lula caiu cinco pontos e Ciro Gomes subiu 10. Pelo Ibope, teria caído um ponto e Lula subido outro, mas o fato é que o bolo cresceu muito e rapidamente, mais até do que esperavam seus próprios correligionários.

Carreiras são carreiras, costumam dizer os turfistas, para justificar os imprevistos nas disputas. E eleições, são eleições, também elas repletas de imprevistos. De súbito, um fator inesperado poderá alterar o jogo e os resultados. Os políticos experimentados sabem disso e daí o cuidado nas declarações, evitando escorregadelas desastradas, e levando os cuidados a tal ponto que chegam ao anedótico. De Antônio Carlos (não o atual ACM), presidente da segunda Constituinte republicana, contava-se diálogo anedótico:
- Quando encontrar seu pai, diga-lhe que lhe mandei um abraço.

- Meu pai, infelizmente, morreu, presidente.

- Morreu para você, filho ingrato. Homens como aquele não morrem nunca!

Portanto, há candidatos que morrem pela boca. O que acha realmente o eleitorado de um que anuncia refazer a Sudam e a Sudene, de triste memória; de outro que declara que os funcionários elegerão os diretores das estatais; ou daquele que pretende alongar a dívida interna sem nos dizer de que maneira? A resposta virá das urnas, e essas podem ser surpreendentes e traiçoeiras para os adeptos do ''já ganhou''.

O que poderá acontecer se Lula - ou Ciro - chegar ao poder, no que concerne ao item governabilidade? Presidentes voluntariosos com minoria parlamentar não têm funcionado no caso brasileiro; mostram os exemplos de Jânio e Collor, que terminaram por renunciar, por motivos diversos.

Ora, nenhum dos dois finalistas dá mostras de poder contar com fácil maioria congressual, o que indica problemas, não insolúveis mas prenunciantes da necessidade de difícil resolução, em face de carência de governabilidade. O primeiro, líder de um partido ideológico de rígidos princípios; e o segundo, à frente de uma coalizão heterogênea e com alguns componentes no mínimo suspeitos, não serão docilmente enquadrados pelo fisiologismo do sistema. Suas promessas, algumas utópicas, embora bem-intencionadas, só se tornarão realidade se aprovadas pelo Congresso, já que hoje é bem limitado o uso das medidas provisórias pelo Poder Executivo. Há que negociar, e isso, entre nós, é quase símbolo do velho ''toma lá, dá cá'' tão condenado por todos, e por todos praticado por ser próprio da atividade política. Portanto, seja qual for o vencedor, há crise à vista. E das boas.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Freire quer união de centro-esquerda
O senador Roberto Freire, presidente do PPS e adversário explícito de correligionários de seu candidato à Presidência, Ciro Gomes, anuncia desde já que, se depender dele, gente como Antonio Carlos Magalhães, Roberto Jefferson e José Carlos Martinez, ficará à margem do governo caso Ciro seja eleito.

Freire defende uma coalizão de centro-esquerda, cujo eixo seria formado pelo PPS, PT, PDT e PSDB. O PFL e o PTB seriam, nessa concepção, meros coadjuvantes. A fim de isolar o conservadorismo, o senador acha que seu candidato deve buscar parcerias e diálogos no campo mais progressista.

Lá atrás, antes mesmo da filiação de Ciro Gomes ao PPS, Roberto Freire defendia a tese da união de ''uma nova formação'' que desse cara mais moderna à esquerda e acreditava que esse grupo deveria ter uma candidatura única à Presidência da República.

Como se viu, não foi possível, os maiores não abriram mão de seus projetos - o PSDB de continuar no comando e o PT de manter a hegemonia na oposição - e cada um saiu para a disputa como pôde.

Assim, Roberto Freire justifica, embora com nítido desconforto, sua aceitação às companhias que se juntaram à candidatura de Ciro Gomes. ''O mais importante foi impedir uma coligação formal com o PFL'', diz ele.

Mas, de qualquer forma, as grandes figuras do PFL aderiram e agora entram em confronto com o projeto original de Freire, dando sinais evidentes de que pretendem impor suas próprias regras.

Isso, assegura o senador, não conseguirão. ''Eu não vou jogar fora a minha história'', afirma, sem constrangimento de continuar no ataque. ''Não fiz política tanto tempo para agora ser atacado por um arrivista qualquer e me deixar levar por isso'', diz numa referência dupla a Roberto Jefferson e Antonio Carlos Magalhães.

Há chance de, persistindo o embate, o PPS abandonar o barco de Ciro?

''Nenhuma, inclusive porque foram eles que pularam no nosso barco.'' E, pelo visto, arriscam-se a ser jogados fora dele em caso de vitória. ''Antonio Carlos deveria ter sido expulso da política com Jader Barbalho. Mas, se isso não aconteceu na época, sempre é tempo de acontecer.''

Muito bem, mas como isolar um partido do tamanho do PFL, com mais de 100 deputados na Câmara?

''Já fizemos isso no governo Itamar Franco e faremos de novo'', garante Roberto Freire que foi líder de Itamar na Câmara e lembra que foi perfeitamente possível governar deixando o PFL à margem do processo.

''Se Antonio Carlos imagina que estará no centro das decisões, engana-se. Ele já disse que Ferna ndo Henrique é um sedutor. Pode até ser. Mas isso o coloca na posição de quem foi seduzido e abandonado. Não será seduzido outra vez.''

Ele acha normal a pressão dos aliados, mas vira fera diante dos insultos. Chamado pelo ex-senador baiano de ''fujão'' por ter desistido de concorrer ao Senado, lembra que foi Antonio Carlos quem fugiu da Comissão de Ética ao renunciar ao mandato antes do início do processo de cassação.

Satisfeito com o afastamento de Martinez da linha de frente da campanha, Roberto Freire considera que o caso de Paulo Pereira da Silva, o vice, é diferente. ''Com o Martinez nem conversei, mas do Paulinho estou neste exato momento recebendo informações que indicam que as denúncias contra ele são vazias.''

Freire está inclusive começando a suspeitar de que as acusações têm origem ''nos setores da aliança comprometidos com o atraso e interessados em afastá-lo da chapa.''

O senador não vê motivo para Ciro trocar de vice.

Como também não vê razão para duvidar do destino da candidatura por causa dos questionamentos a respeito de aliados de conduta duvidosa. ''Isso só está ocorrendo porque uma situação prevista para acontecer no segundo turno, foi antecipada para o primeiro. Infelizmente, a adesão em massa veio antes da consolidação total de nossas posições. Mas, já que o jogo é esse, temos de saber administrar e driblar as dificuldades.''

Leite derramado
Tasso Jereissati saiu de recente conversa com Fernando Henrique dizendo que a aproximação do presidente com Ciro Gomes é questão de tempo. Deu a entender que construiria a ponte.

Louvável a disposição, mas ficou faltando explicar porque não promoveu esse entendimento quando FH pediu a ele que impedisse Ciro de sair do PSDB.

O então governador do Ceará assegurou que o faria, mas o tempo correu e, quando o rompimento configurou-se inevitável, informou que não tinha poder sobre as decisões políticas do amigo.


Editorial

TRUNFO NA MESA

Tenso mas com visão positiva sobre o futuro da economia, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, garantiu, em entrevista na noite de quarta-feira, que o novo acordo com o Fundo Monetário Internacional está prestes a ser firmado. Não antecipou valores nem exigências mas afirmou que a direção do FMI não tem feito maiores reparos aos fundamentos da economia brasileira. Ontem, o porta-voz do Fundo, Thomas Dawson, confirmou a urgência das negociações e a boa vontade em relação ao Brasil. O resultado não poderia ser outro: o dólar caiu para R$ 3,15.

O governo, na verdade, exibiu seu principal trunfo. Estima-se que, com o novo acordo, algo entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões ficará à disposição do BC. É chumbo grosso capaz de aplacar a falta de dólar físico no mercado, o que certamente resultará no recuo das atuais cotações. Armínio Fraga, na TV, recomendou que os agentes econômicos não se precipitem. Tem razão. O ideal é esperar a pressão voltar ao normal.

Para evitar impasses futuros, o Fundo está exigindo que a classe política dê respaldo ao acordo. A não ser por cegueira ideológica, não existe motivo para os candidatos de oposição negarem o seu aval. É do interesse dos favoritos ao Planalto e do país como um todo que a transição aconteça de forma tranqüila.

Só um insensato abriria mão de crédito externo em início de governo. E, definitivamente, não é hora de cometer loucuras.


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08/02/2002


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