ACM integra lista dos homens públicos que fizeram história no Brasil
Um dos maiores políticos brasileiros a partir da segunda metade do século 20, Antonio Carlos Magalhães figura, na lista dos homens públicos que fizeram história no Brasil, ao lado de nomes como Luiz Viana Filho, Juracy Magalhães, João Mangabeira, Ulysses Guimarães, Miguel Arraes, José Sarney, Tancredo Neves, Thales Ramalho e Leonel Brizola. Foi talvez, depois de Rui Barbosa, o maior político baiano de todos os tempos.
Polêmico, colecionador tanto de amigos quanto de inimigos, soube encarnar como poucos a cultura baiana. Criticado por todos os lados, transitou com facilidade da amizade com o compositor Caetano Veloso, passando por uma afável convivência com o comunista Fernando Santana (ex-deputado federal), até o exclusivo respeito dos maiores líderes do candomblé baiano. Nenhum outro homem público soube, como ele, encarnar o sincretismo religioso da Bahia.
Apesar de destacar-se desde os tempos de estudante, fortaleceu-se politicamente durante o regime militar brasileiro. Foi durante esse período que exerceu mais poder, sabendo depois adequar-se a fim de transitar preservando seu prestígio na democracia. Sua primeira morte, como ele mesmo dizia, aconteceu em 1998, quando enterrou o filho Luís Eduardo Magalhães, a quem desejava ver no Palácio do Planalto.
Nomeado em 1975, por Ernesto Geisel, presidente da Eletrobrás, conduziu nessa empresa a meta de suprir a carência de eletrificação rural do país. Iniciou a hidrelétrica de Itaparica no Rio São Francisco e tornou possível a execução do primeiro complexo petroquímico planejado do país, no município de Camaçari, a 50 quilômetros de Salvador, hoje com mais de 60 empresas químicas e petroquímicas.
Também em Camaçari, em 1999, conseguiu instalar um complexo automobilístico da Ford, consolidando ali a integração do segmento petroquímico com a industria de transformação. Esse pólo industrial resultou de uma briga fiscal. A Ford tinha contratado a localização da fábrica no Rio Grande do Sul, mas o governo gaúcho quis rever os termos da negociação. A Ford ameaçou transferir o projeto para outro estado. Antes de desfazer-se o impasse, Antonio Carlos Magalhães conseguiu atrair o projeto para a Bahia.
Aproveitar oportunidades foi a maior característica de Antonio
Carlos Magalhães. Na agonia do regime militar, quando o brigadeiro Délio Jardim de Mattos, na inauguração do aeroporto de Salvador, fez um discurso atacando os dissidentes do regime que apoiavam a candidatura oposicionista de Tancredo Neves, Antonio Carlos fez uma nota violenta contra o governo, dizendo que traidor era quem apoiava Paulo Maluf para suceder João Baptista Figueiredo no poder.
Com essa atitude, Antonio Carlos Magalhães qualificou-se como um dos principais apoios da candidatura Tancredo Neves e do processo de redemocratização do país. Ele conseguiu ser influente em todos os governos que se seguiram ao regime militar, com exceção do governo de Itamar Franco e do governo de Luiz Inácio Lula da Silva a partir de 2005. Nenhum político da historia recente do país talvez tenha revelado tanto senso de oportunidade e sido, ao mesmo tempo, tão ousado para atingir seus fins.
No ano 2000, horas antes da votação em que os senadores acabariam cassando o mandato do então senador Luiz Estevão (PMDB-DF), foi acusado de ter ordenado a violação do painel de votações do Plenário. Pressionado pelas investigações conduzidas por uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), renunciou ao mandato de senador para não ser cassado. Foi também um homem que marcou sua carreira organizando dossiês e ameaçando adversários com denúncias de corrupção. Era um estilo de fazer política.
Presença marcante em Plenário, Antonio Carlos Magalhães sempre participou dos grandes debates políticos e suas intervenções eram aguardadas com expectativa por parte dos senadores e do conjunto da mídia credenciada na Casa. Foi responsável por várias iniciativas, como a criação do Fundo de Combate à Pobreza, um programa que não conseguiu se firmar, e autor de muitos projetos, abrangendo sobretudo as áreas da Justiça e da segurança pública. Na presidência da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), teve papel relevante na tramitação de matérias que acabaram se convertendo em lei.
Antonio Carlos Magalhães nasceu em 4 de setembro de 1927, em Salvador (BA). Era casado com Arlete Maron de Magalhães, com quem teve quatro filhos. Formou-se médico em 1952 e, por muitos anos, foi redator do jornal Estado da Bahia. Em 1954, elegeu-se deputado estadual pela UDN. Elegeu-se deputado federal em 1958, reelegendo-se em 1962 e 1966. Em 1967, foi nomeado prefeito de Salvador. Também por nomeação assumiu o governo da Bahia de 1971 a 1975.
Em novembro de 75, foi nomeado por Geisel presidente da Eletrobrás, passando também a integrar o conselho de administração da Itaipu Binacional. Em 1979, voltou ao governo do seu estado por nomeação, ficando no cargo até 1983, quando, na agonia do regime militar, resolveu apoiar a candidatura Tancredo Neves e ajudar a fundar o PFL (hoje DEM), o partido que, junto com o PMDB, deu sustentação à redemocratização do país.
Em 1985, morto Tancredo Neves, assumiu o ministério das Comunicações no primeiro governo que sucedeu o regime militar, o de José Sarney, de quem foi grande amigo. Ali ficou até 1990, quando voltou ao governo, desta vez por eleição direta. Em 1994 e em 2002, elegeu-se senador. Nos biênios 1997/1999 e 1999/2001, presidiu o Senado, assumindo interinamente a Presidência da República de 15 a 22 de maio de 1998. Seu último cargo no Senado foi a presidência da CCJ, onde atuou até momentos antes de seguir para o Incor.
São suplentes de Antonio Carlos Magalhães o seu filho Antonio Carlos Magalhães Júnior e Elio Correia de Mello.
20/07/2007
Agência Senado
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