ACM, um político que sabia diferenciar fato e notícia



Em uma tarde de sábado, em 1993, o jornalista Geraldo Sobreira, que passou por várias redações do Distrito Federal, foi assessor de comunicação da Liderança do PSDB na Câmara dos Deputados e hoje é jornalista da Agência Senado, esteve no Palácio de Ondina, em Salvador, para entrevistar Antonio Carlos Magalhães. Objetivo: colher material para a feitura do livro Como Lidar com os Jornalistas - Manual da Fonte, lançado no mesmo ano e que passou a ser utilizado em cursos de Comunicação.

Alcunhado por muitos profissionais da imprensa em Brasília como "fonte-editor", ACM manteve com o mundo da comunicação uma relação forte, chegando a ser reverenciado em alguns casos. Fonte principal para muitos jornalistas, criticado por outros, durante anos o político baiano foi tema de notícia ou fonte geradora dela. Sabia diferenciar fato e notícia.

Na entrevista abaixo, publicada na íntegra no livro de Sobreira, e que abrange um período em que a internet e as novas tecnologias ainda não se apresentavam com a onipresença dos dias atuais, é possível compreender um pouco mais como ACM compreendia a liberdade de imprensa e também o papel da mídia e dos jornalistas. Por meio de suas respostas, percebe-se um ACM apaixonado pelo jornalismo impresso.

É bom frisar que, médico por formação, ACM aventurou-se pelo jornalismo em sua juventude, aos 17 anos, no jornal Estado da Bahia, que pertenceu aos Diários Associados.

Segue a entrevista na íntegra:

Pergunta - O que faz de Antonio Carlos Magalhães uma "boa fonte" de informação para os jornalistas: o talento de político ou a experiência jornalística?

Antonio Carlos Magalhães - Então diria que é o talento de político. Talvez um pouco de prática e convivência com os jornalistas, além da experiência de ter trabalhado em jornal na minha juventude. O importante é lidar com o repórter, com o editor e dar a cada um o que interessa ao profissional da notícia.Mas o ponto básico é a confiança mútua.

P - O que se deve fazer quando se tem interesse bem específico na publicação de uma notícia?

ACM - Não adianta tentar passar uma notícia disfarçando seu interesse. Quando você tem um interesse especial numa notícia, deve confessar ao repórter, ao editor. Se você não fizer isso, ele desconfia, descobre e sente-se traído. É muito melhor falar claro do que tentar passar como uma coisa boa para o jornal ou para o jornalista a notícia que, na verdade, é boa para você mesmo. Se tentar disfarçar, isso será logo descoberto, ou pelo jornalista ou pelo leitor. Então, para ser boa fonte tem que ser confiável, principalmente.

P - O Jornalista Arthur Pereira, ex-secretário de redação do Jornal do Brasil, em Brasília, disse que uma das características do seu comportamento é que ACM como fonte, não mente.

ACM - O que eu posso garantir é que eu nunca dei uma notícia errada a um jornalista. Se ele me pergunta, eu posso dizer: "Bom, eu acho que está acontecendo isso, acho que vai acontecer assim, cheguei a esse raciocínio por esse e esse fato". Geralmente tem dado certo, e se der errado é porque eu errei, não porque eu menti ou tentei induzir um jornalista a seguir por um caminho errado.

P - Alguns jornalistas recebem da fonte ACM um tratamento especial?

ACM - Não tenho hora para atender, atendo a todos. É claro que cada um tem uma predileção de amizade, mais para um do que para outro, como em qualquer outra relação humana. Isso facilita a relação com algumas pessoas e cria problemas com outras. Tem uma pessoa a quem eu quero um bem enorme, que é o Elio Gaspari. Através de jornal fiz bons relacionamentos com jornalistas e políticos. Vejo que uma pessoa que também está fazendo isso é o Antonio Britto, agora mais político do que jornalista.

P - Quantas horas do seu dia são despendidas no atendimento de jornalistas?

ACM - Só para ler jornal gasto duas horas de manhã e mais duas horas à noite. Mas se tenho uma folga no horário do almoço, dou uma olhada nos jornais do Rio e São Paulo, que vou terminar de ler mais atentamente à noite. Essa meia hora é para saber o que tem de importante para se ler e já conversar com os jornalistas à tarde sabendo o que saiu. Eu levo muito tempo lendo jornal. De manhã leio os quatro jornais da Bahia - os adversários e os que me apóiam. Todos, até os de pequena circulação. Recebo um clipping dos jornais de Brasília. Depois, no horário do almoço e à noite, leio os quatro ou cinco jornais nacionais - Folha, Estadão, JB, O Globo. E as revistas, no fim de semana; à noite vou ler a Veja; de manhã já passei a vista na IstoÉ. Sou um leitor que vai até aos classificados quando é necessário. Além disso tem alguns dias que tomam mais tempo, como a sexta-feira.

P - Por quê?

ACM - A sexta-feira é o dia do fechamento das revistas e das edições de fim de semana dos jornais. É o dia em que os repórteres e os editores mais telefonam para checar notícias e saber de novidades. Antes de fechar uma matéria da revista ou do jornal de fim de semana, eles ligam para três ou quatro fontes para checar as informações. Eles não se valem somente de uma fonte, falam com três ou quatro. Algumas fontes são procuradas mais nas sextas-feiras exatamente para isso, para checar informações. Isso também acontece na quarta e na quinta-feira.

P - Há também uma solicitação maior dos que trabalham na produção de colunas de notas nas sextas-feiras?

ACM - O jornalista, para fazer as colunas do sábado, domingo e segunda, com tantas notas, tem que trabalhar muito, tem que armazenar informações. É um esforço muito grande. Se é assinada e se é de comentários, já é complicada, mas se é coluna de notas, fica muito mais difícil ainda. São muitas notas com informações que têm que ser feitas todos os dias. Eu ajudo, passo notas.

P - Gosta de ler as colunas de notas?

ACM - Leio tudo. Leio crônica social, lido com esses jornalistas que fazem crônica social. Eles produzem muitas notas políticas. As colunas são muito lidas porque são leves e informativas, atraem o público por isso. O público, por uma questão de tempo, vai ver o que diz a coluna da Cristiana Lôbo, o "Informe JB", o "Zózimo", Ary Cunha, do Correio Braziliense, todas.

P - O seu fim de semana também é dividido com os jornalistas?

ACM - Você está me entrevistando num domingo [a entrevista foi em um sábado]. Uma coisa que você pode fazer nesse livro, que é importante: um alerta para os políticos que não são ainda fontes profissionais. Quando quiserem dar destaque a uma notícia, o domingo e a segunda são os melhores dias, porque são os dias de vacas magras.

P - Qual a estratégia quando não se quer atender um jornalista?

ACM - Uma coisa importante de assinalar, para quem quer ter um bom contato com jornalistas, é não fugir quando se é procurado pelos repórteres. Você tem que atender, mesmo que para dizer: "Olha, hoje eu não posso falar sobre isso". Mas não fica mandando dizer que está em reunião, que saiu, viajou etc. O repórter descobre se você viajou ou não. Esse é um dos comportamentos que fazem com que a pessoa perca a credibilidade junto aos jornalistas. Você pode dizer: "Olha, eu estou com uma pessoa aqui e não posso falar com você. Só vou poder falar com você às 11 horas da noite". O melhor mesmo é ser sincer o e dizer que não pode falar daquele assunto naquele dia.

P - O senhor consegue atender oito ou dez repórteres e editores de revistas por semana e mais de cinco de jornais por dia, sem falar de rádio e televisão. Alguma técnica especial?

ACM - Isso exige também paciência. Você está aqui para sair e abrir uma solenidade do governo, uma inauguração, um evento, e chega um telefonema de um repórter de uma revista. Ou você atrasa a solenidade ou atende ao repórter. Você tem que saber se ele pode esperar para depois da solenidade ou se você tem que atrasar a solenidade para atendê-lo.

P - Atrasa-se a solenidade?

ACM - Depende. Tem gente que é autoridade e diz: "Oh, eu não vou atrasar a solenidade para atender a um repórter". Esse vai se dar mal. Muitos não sabem que o Jornal Nacional fecha às 7 horas da noite, ou que as colunas de notas políticas fecham entre 6 e 8 horas da noite, dependendo do jornal. Você não pode deixar para passar uma informação à edição do domingo da Folha no sábado à tarde, se a edição do domingo daquele jornal, como a do Estadão,está nas bancas às 7 horas da noite do sábado. Quem sabe bem o que é imprensa já marca suas solenidades no horário apropriado para os jornais Se você marca uma solenidade importante para a noite, já sabe que vai ter noticiário pequeno ou nenhum, porque os jornais estarão fechados. E a notícia, em muitos casos, é mais importante do que o fato.

P - O amigo de Roberto Marinho e de Roberto Civita, da Veja, resiste à tentação de falar com o dono do jornal da revista ou da emissora quando o repórter "pisa no seu calo"?

ACM - Uma recomendação para os políticos e empresários: nunca tentar entrar no jornal de cima para baixo. Entrando pelo dono de jornal, você consegue as notas uma ou duas vezes, mas ganha a antipatia dos repórteres para sempre. Queira estar sempre bem com os donos e diretores, mas faça o seu trabalho direto com os repórteres e com os editores que lhe procuram. Falo de cadeira, porque sou amigo de vários donos de jornais. Se o jornalista me criticar, eu não vou me queixar com o Frias, com o Júlio. Vou me entender com os repórteres mesmo. Não vou nunca dizer ao meu amigo dono do jornal: "Diga a fulano que não faça isso comigo". Essa história de "sabe com quem está falando?" é péssima. Não se ganha a atenção e a confiança dos jornalistas assim. Todos têm o seu valor na publicação da matéria, do repórter ao editor. Quem está na linha de frente é o repórter, e você precisa contar com sua boa vontade. Mas precisa também da boa vontade do editor. A boa vontade só do dono não resolve, afinal quem escreve as matérias são os jornalistas.

P - Para informar os jornalistas o senhor precisa estar bem informado não só sobre o seu partido, sobre sua área. Como funciona sua rede de informações no governo federal e nos outros partidos?

ACM - Não há rede de informações. Claro que eu tenho que conversar com amigos que gostam de política e que não têm nada a ver com jornal. E as coisas, as informações de uns somam-se às de outros e vão se acumulando. E quando você tem informação você atrai mais informação, todo mundo lhe conta fatos, notícias. Isso acontece com um repórter, com um deputado. Se um repórter faz uma matéria denunciando um escândalo, ele vai ser procurado todo dia por quem quer denunciar um outro escândalo. O mesmo acontece com um deputado, ou um político Ele pode ficar tranqüilo de que vai ser procurado por outros que têm outras informações. As coisas chegam normalmente. Caem por gravidade na sua mesa. Mas isso é um patrimônio a administrar e exige experiência.

P - Que sugestão daria para um amigo político que não tem a sua experiência?

ACM - Mais uma: quem quiser se relacionar bem com os jornalistas não dê a mesma notícia para dois profissionais, mesmo que sejam do mesmo jornal. Menos ainda para dois jornais concorrentes. Aprenda a escolher a notícia para a coluna A, para a coluna B, para a coluna C. A notícia que não deve ser de coluna, você dá para o repórter político. Saiba que aquela deve ser do JB, aquela do Estadão, aquela é no estilo da Folha, aquela, do Globo. No momento em que você der ao colunista uma matéria e sair a mesma notícia em outra coluna, os dois colunistas vão se sentir logrados, porque eles desejavam notas exclusivas. E os dois ficam com raiva de você. Na segunda vez não dão a sua matéria.

P - Ao passar uma informação ao jornalista a fonte tem, no mínimo, o interesse em que aquela informação seja publicada?

ACM - É verdade. Mas para que esse interesse do político coincida com o do jornalista a informação tem que ser notícia, tem que interessar também ao jornalista. Mas não vou botar a cabeça do jornalista no pelourinho, literalmente, com mentiras.

P - Mas como é que o político aprende o que é notícia, do ponto de vista jornalístico?

ACM - Aprender o que é notícia tem muito de vocação jornalística. Também se aprende com a convivência e com a experiência. Nem tentar agradar com coisas falsas que não são notícias. O que interessa ao bom repórter é a notícia. O relacionamento se faz através da notícia. A mercadoria dele é a notícia. Ele faz amizade com o portador da boa notícia. Quantas amizades eu fiz por dar notícias!

P - Já deu alguma dessas sugestões sobre esse assunto para o deputado Luís Eduardo Magalhães, seu filho?

ACM - O essencial ele aprendeu pela observação. Ele já sabe, mas o estilo dele é outro. Ele transita muito bem com os jornalistas mais jovens. E transita melhor em alguns casos do que eu com os políticos. Ele tem uma convivência muito mais agradável com os contrários do que eu. Até por ser mais moço, não criou as arestas que eu criei e que tento aparar, embora seja difícil. Esse estilo o torna também uma fonte razoavelmente boa. Os jornalistas que cobrem Câmara dos Deputados, os mais jovens, se dão mais com ele. Ele já aprendeu um jeito muito especial de tratar a notícia e o jornalista.

P - Os jornalistas às vezes exageram na agressividade?

ACM - Você pode ser agressivo na busca da notícia, isso é uma coisa. Outra coisa é você ser agressivo no desrespeito à autoridade. Aí a autoridade não deve se deixar desrespeitar. Claro, esse é um assunto do "Manual da Autoridade", não do "Manual da Fonte" (risos). Em quem tem autoridade, ela está intrínseca, é nata. Eu posso brincar com você, tocar na sua cabeça e você não bate na minha cabeça nem vai me agradar como eu estou lhe agradando. É uma distancia natural que você não sente. Eu lhe dou um tratamento de carinho, mas você não toma as mesmas atitudes em relação a mim. Mas pessoas que não se respeitam, o jornalista também não respeita, como também ninguém em casa respeita. Um olhar resolve mais da metade desse problema. A maneira como você olha já responde, e o jornalista não insiste com uma pergunta desrespeitosa. Acho que, quando o jornalista entra na questão da honra pessoal, a pessoa tem que ter uma reação mais enérgica, fazer valer seus direitos.

P - Como escolher um assessor de imprensa?

ACM - O meu assessor de imprensa, aqui, por exemplo, deve ter sido contra mim em outras eleições. Mas teve um bom desempenho profissional na minha última campanha e hoje é meu assessor, goza da minha intimidade, e somos amigos. Ele costuma dizer que eu faço minha própria assessoria de imprensa e que ele é apenas o veíc ulo dela. Ele é muito bom. Mas esse é um problema. Para o assessor, se facilita por um lado trabalhar com um político experiente com a mídia, um homem da notícia, homem que conhece jornal, por outro lado também é um problema. Toda hora ele está a reclamar: "Isso não deveria ter sido feito assim, isso deveria ter sido feito assado. Por que não falou com fulano, por que não falou com sicrano?" Eu discuto até peças publicitárias. Digo: "Não gostei disso assim, quero assado".

P - Se fosse sugerir a um amigo que tivesse acabado de assumir um ministério como escolher um assessor de imprensa...

ACM - Tem que ter trânsito nos jornais e conhecer bem a máquina do lugar em que trabalha. Se ele é um jornalista experimentado, já conhece o meio, mas, se ele é novo, precisa de humildade. Porque de um modo geral quando um jornalista vai para um cargo de assessoria importante, os colegas o olham com uma certa desconfiança, até que ele ganhe a confiança no exercício da função. Ele tem que ganhar a confiança justamente dos colegas jornalistas.

P - Qual o papel do assessor de imprensa?

ACM - Ele tem que trabalhar para que os jornalistas tenham acesso à autoridade. Não fazer da autoridade a quem está servindo monopólio dele. Tem que ser um agente de agregação, de acesso ao chefe. Não ser o único a conversar com o chefe. Os jornalistas, ele conquistará com notícias, e o assessor de alguém importante tem notícias à vontade para dar. Outra recomendação é não trabalhar com press-releases, porque isso é a coisa que mais chateia os jornalistas. E, se tiver confiança em determinados jornalistas, dar a todos, sempre que possível, notícias exclusivas.

P - A Bahia, só nos três primeiros meses de 1993, teve uma capa da Veja, e mais duas páginas sobre a restauração do Pelourinho, matéria na IstoÉ sobre Porto Seguro. Isso só para falar das revistas. Qual o segredo?

ACM - A Bahia está vivendo uma boa fase. Eu aproveito meu bom relacionamento com os jornalistas para divulgar a Bahia. Eu tenho assessores, mas os jornalistas falam comigo diretamente. Eu arranjo tempo para isso. Faz parte do meu trabalho político. Isso faz com que eu projete a Bahia. Mas a divulgação das minhas atividades administrativas, eu faço de outra maneira.

P - Dá uma notícia sobre o governo federal e pede uma nota sobre a Bahia?

ACM - Você sabe que não é assim. Não vou encher a paciência de um editor de uma coluna de notas políticas que liga para mim na hora do fechamento e falar sobre uma estrada e um projeto de turismo que estou fazendo na Bahia. Mas como sempre dou boas notícias sobre política, a maioria delas nem envolvendo meu nome, os jornalistas passam a ter boa vontade para conversar comigo. Aí eu posso falar em outros horários, em momentos oportunos, sobre a administração, isso se houver notícia. Tem que ser profissional como fonte. Bom profissional. Para divulgar a Bahia, vou procurar, por exemplo, o editor de turismo, ou de cidades de uma revista no dia certo e na hora certa.

P - Como é o telespectador Antonio Carlos Magalhães?

ACM - Não vejo muito televisão. Vejo basicamente o Jornal Nacional e, se possível, o jornal local, aqui da Bahia. Mas não vejo os jornais do meio-dia, nem os da meia-noite, e muito menos os da manhã que é um horário em que estou ocupado com a leitura dos jornais.

P - Aparecer bem na televisão, em entrevista, é resultado da vocação ou do treinamento?

ACM - É uma atividade que depende da vocação. Mas essa capacidade pode ser desenvolvida com um treinamento, um curso. Respostas rápidas, curtas. Se você quiser explicar, perde tempo, não consegue explicar e vai chatear o repórter, o editor e o telespectador. Respostas curtas e objetivas. Se você puder falar tudo sobre uma coisa em 30 segundos, não fale um minuto; se conseguir falar em um minuto, não use um minuto e meio Antigamente havia mais programas de debates, de entrevistas longas. Mas no telejornal a notícia tem um minuto ou meio minuto, e você, o entrevistado, 20 segundos para falar.

P - O Antonio Carlos Ferreira, hoje na TVS, antes repórter especial da TV Globo, disse, quando eu o entrevistei para este livro, que de nada adianta uma pessoa fazer curso para aprender a falar na televisão. O senhor já fez algum curso desse gênero?

ACM - Não fiz. Mas recomendo para quem quiser participar de uma campanha eleitoral. A pessoa aprende com um curso, sobretudo se ele vai fazer uma campanha. Um curso com quem sabe. Isso é profissional e tem que ser feito assim. Eu, por exemplo, não gosto de ler o telepronto. O telepronto me prende, me amarra. Quem tem imaginação precisa saber os pontos: "Eu preciso falar sobre isso". Na hora de falar, de gravar, eu faço a frase. Você, com o telepronto, fica preso, gesticula menos, fica amarrado. Aliás, uma coisa importante na televisão é o gesto, grande força do Carlos Lacerda.

P - O senhor tem alguma recomendação especial para o relacionamento com o pessoal de imagem - fotógrafos e camera-man?

ACM - Não, nada especial. Só cuidado com a cara que se tem num momento grave, a cara de alegria que se deve ter num momento que exija que você esteja alegre. Aí, às vezes você tem que fazer das tripas coração e estar com seu sorriso. Não pode estar rindo ao anunciar o aumento do preço da gasolina.

P - Como é o seu trabalho com o rádio?

ACM - É pouco. Pessoalmente trabalho pouco com rádio. Dou entrevistas, mas esporádicas. Não tenho nenhuma participação permanente em programas de rádio.

P - Alguns especialistas no uso do rádio recomendam que a participação tenha uma periodicidade, para que o ouvinte saiba o dia e a hora e o programa em que ouvirá aquela pessoa

ACM - Vou aceitar sua sugestão.

P - Os jornalistas gostam de dizer que a ascensão do Collor e a sua queda foi um produto da mídia. No Congresso, os deputados reclamavam muito de que ele não sabia fazer política.

ACM - Na campanha ele pegou temas que interessavam ao país na época, como a moralização da administração pública, os marajás (funcionários públicos com salários exorbitantes). Aí, a mídia dava cobertura. Ele também foi derrubado pela mídia, porque também nunca a mídia fechou tanto questão como na derrubada do Collor. Ele sairia com impeachment ou sem impeachment. Se o Congresso não aprovasse o impeachment e Collor não saísse, o país pararia. A força da mídia para tirar Collor do poder foi muito maior. É verdade que a mídia, que o colocou no poder, foi parcial. O Collor não tinha grande base de imprensa, nem boa vontade dos jornalistas. Mas na campanha ele criava fatos. A campanha dele foi um evento importante como a do Jânio Quadros, há 30 anos. Muita gente - políticos - foi para Collor porque o eleitorado iria. Por isso, os políticos foram e saíram pela força da mídia. A mídia expulsou Collor do governo, levou a Câmara, a própria Justiça a tirar Collor do governo. Mas até na produção de eventos ele abusou. Nada estava cansando mais do que Collor fazer cooper, nadar, correr de bicicleta, andar de lancha, jet-ski. Não sei como ele e os assessores não percebiam aquilo. Nós de cá já estávamos cheios. Não sei como os jornais agüentavam. Ele tratava mal os políticos e não tratava bem os jornalistas.

P - Há um episódio, o das denúncias contra o Ministério da Ação Social, em janeiro de 1993, em que o senhor marcou uma audiência com o presidente Itamar, e ele abriu o encontro para toda a imprensa. Esse episódio foi interpretado como uma derrota do campeão da habilidade em lidar com a imprensa, ACM . Como o senhor o interpreta?

ACM - Para mim não foi mal. Na medida em que ele não me recebeu com a discrição necessária com que se recebe um governador, para mim não foi mal. Ele abriu a oportunidade para que se fizesse a campanha com os fatos que eu levei a ele, uma campanha duríssima.

P - O convite que ele fez à imprensa para assistir à reunião foi interpretado como uma defesa para o fato de o senhor sair dali e apresentar a audiência exclusivamente do seus pontos de vista, a sua versão.

ACM - Eu não passaria nenhuma versão na medida em que combinasse com ele. Eu fiquei livre para dizer tudo, denunciar as falcatruas no governo sem dar satisfação a ele. Eu tive a satisfação de mandar para a imprensa todos os fax com denúncias que enviei a ele.

P - O senhor conviveu com a imprensa na época da censura ,e depois, na democracia. Como ocorreu a sua transição?

ACM - Meu relacionamento era com as mesmas pessoas. Eu era muito crítico, e era muito difícil fazer oposição a algumas medidas naquela época. Você não sabe quantas brigas tive com militares, a ponto de responder a IPM.

P - O que mais gosta de ler em jornal?

ACM - O que toda fonte gosta mesmo de ler em jornal é elogio (risos). Por mais que você queira convencer o seu amigo de que aquela crítica não é nada, não significa nada, você não convence.

P - A imprensa esteve muito homogênea na crítica ao governo, não acha que falta pluralismo?

ACM - A imprensa vai voltar ao seu leito normal e a seus pontos de vista não coincidentes. A predominância de um só ponto de vista em toda a imprensa é voltar ao passado que ela própria sempre abominou.



21/07/2007

Agência Senado


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