Adeus a Utzig paralisa campanha










Adeus a Utzig paralisa campanha
Velório de líder petista reúne companheiros de partido, adversários de Tarso Genro no segundo turno e candidatos derrotados

Dezenove dias antes da batalha política mais importante de sua trajetória de militante – a que oporá o candidato presidencial do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, a José Serra, do PSDB –, o sociólogo e coordenador da campanha de Tarso Genro ao governo do Estado, José Eduardo Utzig, morreu às 23h15min de terça-feira.

Fulminado por um enfarte, na sala de seu apartamento, em Porto Alegre, caiu nos braços da mulher, Ana Carolina Escosteguy, 40 anos, e da filha, Elisa, oito anos, e não reagiu à tentativa de socorro de vizinhos e paramédicos.

A morte repentina, aos 42 anos, deixou desolados familiares, amigos e ativistas políticos, e abriu uma fenda de dúvidas sobre como o PT irá compensar a ausência daquele que era considerado o principal estrategista político do candidato a governador Tarso Genro. A despedida de Utzig, velado, ontem, na Câmara de Porto Alegre por quase sete horas, cobriu de luto e abateu o partido no Estado.

O próprio Lula cancelou ontem a agenda de campanha e aterrissou de jatinho em Porto Alegre pouco antes das 14h. Acompanhado do deputado federal e candidato ao governo de São Paulo, José Genoino, de quem Utzig foi assessor por oito anos, Lula permaneceu cerca de uma hora no velório e se negou a falar de qualquer outro assunto.

– Vamos levantar a cabeça e continuar lutando, até para homenageá-lo – disse o candidato do PT à Presidência antes de embarcar de volta para São Paulo, resumindo o tom comovido das declarações dos petistas na homenagem final.

Cercado por uma multidão, Genoino fez um emocionante discurso de despedida, falando como se estivesse a sós com o amigo:
– Seus pais disseram muito bem: você morreu lutando e fazendo o que gosta. Onde você estiver, não vamos decepcioná-lo. Quero dizer, em nome dos teus amigos e companheiros, que você está vivo. Você vive, entre nós, neste projeto de futuro.

A fala de Genoino provocou 40 segundos de aplausos e lágrimas dos presentes. Tarso Genro foi lacônico na única declaração oficial do dia (leia ao lado). Tentava controlar a emoção. Não conseguia.

Quando o candidato do PT ao Piratini encontrou o prefeito de Gravataí, Daniel Bordignon – um dos artífices, junto com Utzig, da sua vitória nas prévias –, abraçou-o e chorou. Ao receber os pêsames do empresário Mauro Knijnik, desabafou:
– Eu tinha uma amizade muito grande por ele. Vou redobrar o meu esforço.

A morte de Utzig paralisou a campanha do PT no Estado. Para o instante em que se iniciou o velório, às 9h30min, estava programada uma reunião da cúpula que teria duas missões: analisar as resoluções da terça-feira – quando a Frente Popular fez um balanço do primeiro turno e costurou as estratégias para a segunda fase da disputa – e estudar como o núcleo central receberia o reforço dos deputados eleitos Raul Pont, Paulo Pimenta, Henrique Fontana e Adão Villaverde.

– Planejaríamos como aglutinar os novos companheiros. Já iríamos mesmo reforçar a coordenação – assegurou David Stival, presidente estadual do PT.

Tarso perdeu o seu general na campanha. Segundo o deputado federal eleito Paulo Pimenta, Utzig era um articulador hábil e necessário entre as correntes. Paulo Ferreira, companheiro do PT Amplo, também mencionou a idéia de que o próximo desafio é manter a capacidade de diálogo na coordenação. Os nomes de Estilac Xavier e Cézar Alvarez são apontados como prováveis sucessores na tarefa de movimentar a máquina eleitoral do PT até 27 de outubro.


Morte súbita após um dia tenso
Amigo de José Eduardo Utzig há exatos 10 anos, o presidente estadual do PDT, Pedro Ruas, foi o último político a conversar pessoalmente com ele na noite de terça-feira. Por volta das 22h, Utzig deixou o comitê central, na Rua Duque de Caxias, para se encontrar com Ruas no bar Taberna, na Avenida São Pedro. Utzig tomou meio copo de chope e comeu amendoins, no balcão.
A conversa durou menos de 30 minutos. Ruas teria dito que gostaria de abrir logo seu apoio pessoal a Tarso, mas que esperava um sinal verde do presidente nacional do PDT, Leonel Brizola. No bate-papo, Ruas ainda teria dito que Brizola viria ao Estado na primeira visita de Lula e que subiria no palanque com os petistas.

A conversa foi relatada pelo próprio Utzig ao presidente estadual do PT, David Stival, num contato por telefone por volta das 22h30min. Stival foi o último companheiro de partido a conversar com o sociólogo, antes de sua morte, às 23h15min.

Havia sido um dia tenso. Após a reunião no Hotel Embaixador com o diretório e deputados eleitos – que terminou por volta das 19h30min, depois de 39 militantes discursarem sobre os rumos da campanha, em um típico e acirrado debate entre as correntes do PT –, Utzig foi caminhando da Rua Jerônimo Coelho até o comitê central, na Duque de Caxias, acompanhado de Vitor Labes, Paulo Ferreira e Cézar Alvarez.

Lá, o grupo se reuniu com o vereador Estilac Xavier para tratar de um encontro da coordenação da campanha marcado para ontem. Durante a reunião, a filha Elisa ligou para Utzig, e o amigo Vítor Labes chegou a comentar seu silêncio incomum.

– Só estou pensando – desconversou.

Depois do encontro com Ruas, Utzig foi para casa. Não quis jantar. Indisposto, ficou brincando com a filha. Ao perceber que o pai passava mal, Elisa gritou para a mãe, Ana Carolina, acudi-lo. Os vizinhos também tentaram reanimá-lo. O Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) chegou às 22h50min, e o atendimento se estendeu até as 23h15min, quando a morte foi constatada.

Ao meio-dia da terça-feira, acompanhado do coordenador de produção dos programas de rádio e TV, Jairo Jorge, Utzig procurou atendimento médico, pois não se sentia bem. Houve uma recomendação de repouso, não seguida pelas exigência da reta final da campanha. Hipertenso, consultava o cardiologista periodicamente e só comia carnes brancas. Em um almoço, quatro dias antes do primeiro turno, zombou da saúde dos colegas que comiam entrecot com fritas, enquanto ele preferiu peixe com legumes.


A traição do mal silencioso
José Eduardo Utzig era um homem jovem, de peso proporcional à altura e sem histórico de problemas cardíacos. Segundo assessores, até o início da campanha praticava natação com regularidade. O único fator de risco conhecido, que pode ter contribuído para o enfarte que causou a morte do coordenador da campanha de Tarso Genro, aos 42 anos, é chamado pela medicina de mal silencioso: a pressão alta.

Utzig não reclamava do ritmo exigido pela campanha. Envolvido desde a juventude com a política, estava acostumado ao grande volume de trabalho e à dedicação em tempo quase integral. Não era considerado um fumante pelos amigos, mas vez ou outra pedia um cigarro, apagado após duas ou três tragadas.

O presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul, Oscar Pereira Dutra, afirma que a hipertensão, o colesterol alto e cigarro formam uma combinação mortal para doenças cardiovasculares. Segundo o cardiologista Renato Vaz, do Instituto de Cardiologia de Porto Alegre, homens na faixa dos 40 anos estão mais predispostos ao risco de doenças coronárias. Nas mulheres, o risco é maior após menopausa. A causa mais comum é a formação de placa de gordura na parede das artérias.

– Pode ocorrer morte súbita em situações de estresse, pois ele descontrola a hipertensão – explica Vaz.


O séquito do doutor Enéas
Parlamentares eleitos com menos de 700 votos são maioria na bancada do Prona na Câmara

Em uma saleta acanhada do edifício Gisela, dois andares acima da Av enida Brigadeiro Luiz Antonio, na região central de São Paulo, o Prona fez a sua festa. Foi uma comemoração diferente daquela que os outros partidos fazem nessas ocasiões – não há gritos, tapinhas nas costas, multidão à porta e nem composição ao pé-do-ouvido com políticos da velha guarda. Serve-se café e água.

No recinto, estavam alguns diretores do partido e os dois sucessos políticos do momento: Enéas Ferreira Carneiro e Havanir Tavares de Almeida Nimts, que somam mais de 2,2 milhões de votos. Ele, com 1.573.112 milhão de votos para deputado federal. Ela, com 681.991 mil para estadual. Enéas e Havanir arrasaram: são os mais votados da história da Câmara e da Assembléia paulista. Deixaram para trás nomes consagrados da política nacional.

O fenômeno Enéas provocou uma situação sem precedentes. Por conta de uma estranha matemática eleitoral que disciplina o voto proporcional, a fantástica votação do presidente do Prona puxou com ele mais quatro candidatos do partido, ilustres desconhecidos que ficaram longe da modestíssima casa dos mil votos (ou, porcentual correspondente a 0,00%). São outros quatro médicos e um advogado: Irapuan Teixeira, Ildeu Araújo, Elimar Damasceno e Vanderlei Assis de Souza. Também vai fazer parte do séquito do doutor Enéas em Brasília o médico Amauri Robledo Gasques, que teve um melhor desempenho nas urnas.

No pequeno escritório, doutor Enéas não parecia surpreso com a expressiva votação e não admite que a ascensão do bloco que teve menos de mil votos receba a pecha de injusta.

– O conceito de justo em política é extremamente estranho. É justo, por exemplo, que um indivíduo que nunca fez nada tenha chance apenas porque é um baderneiro, grevista ou porque é líder sindical? Para mim é justo que indivíduos preparados estejam comigo para que a minha voz possa ecoar.


Eleição de nanicos pode antecipar reforma política
Uma das explicações para que nomes tradicionais da política tenham ficado fora, enquanto anônimos conquistaram uma cadeira no Congresso, tem nome de regra matemática: quociente eleitoral.

Mecanismo tradicional nas eleições brasileiras, esse sistema gerou polêmica com a ascensão do Prona, em São Paulo, e pode até levar à antecipação de uma reforma política.

O quociente eleitoral é o mecanismo utilizado para a distribuição das vagas na Câmara dos Deputados, proporcional à votação dos partidos ou das coligações. No sistema eleitoral brasileiro, os políticos mais votados em cada partido ou coligação acabam puxando votos, porque aumentam o número de votos para a sigla, garantindo a eleição de correligionários que tiveram pouca votação.

É o caso do líder do Prona, Enéas Carneiro, que recebeu 1.573.112 milhão de votos. Ele assegurou seis lugares na bancada federal, até mesmo para Vanderlei Assis, que ganhou apenas 275 votos.

– Pela Constituição, o nosso sistema é proporcional. Quer dizer, o que conta são os votos do partido. Na verdade, todos esses votos foram para o Prona – analisa o consultor legislativo Márcio Rabat, envolvido nos projetos de reforma política em tramitação no Congresso.

O presidente do Congresso, senador Ramez Tebet (PMDB-MS), porém, considera esse sistema uma distorção que precisa ser corrigida, para evitar que candidatos com poucos votos – menos do que um vereador – assumam uma vaga na Câmara. Tebet defende que ainda no primeiro semestre do próximo ano a reforma política volte a ser debatida no Congresso, aproveitando a distância das próximas eleições municipais. Financiamento público de campanha, representatividade e número de partidos são assuntos que também devem estar na pauta.
– Para isso é preciso vontade política. Não vejo por que não debater a legislação eleitoral – afirmou ontem, em seu gabinete no Senado.


Deputados do PDT descartam apoio a Tarso
Se depender de deputados estaduais e federais do PDT, Tarso Genro (PT) não contará com o apoio do partido no segundo turno.

Os parlamentares estão divididos entre aderir à candidatura de Germano Rigotto (PMDB) ou liberar a escolha dos filiados.

Entre os sete deputados estaduais e dois federais ouvidos ontem por Zero Hora, três declararam apoio a Rigotto, cinco se mostraram indecisos entre a liberação de voto e a adesão à candidatura do peemedebista e um, Adroaldo Loureiro, se mostrou favorável à liberação.

Na terça-feira, o presidente estadual, Pedro Ruas, anunciou que o partido apoiaria Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial e liberaria o voto para o pleito no Estado.

Ontem, reunidos em Porto Alegre, parlamentares do PDT exigiram que o assunto seja discutido.

– O PDT tem que começar a exercitar sua democracia interna – afirmou Pompeo de Mattos .

O PDT realiza às 9h, no diretório estadual, um encontro da executiva regional e do conselho político para, segundo Ruas, “comunicar e esclarecer a decisão nacional”.


Federasul aplaude Rigotto
Realizada sempre na segunda quarta-feira de cada mês, a reunião da diretoria da Federação das Associações Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) foi interrompida ontem no final da manhã por cerca de 20 minutos com a visita do candidato ao governo do Estado pela coligação União pelo Rio Grande, Germano Rigotto (PMDB).

Aplaudido de pé pelos representantes de 199 municípios presentes à reunião no Palácio do Comércio, o candidato foi recebido pelo presidente da entidade, Paulo Afonso Feijó, que fizera o convite na véspera, à tarde, durante encontro casual.

Saudado aos brados como “nosso governador” por alguns dos participantes, ao deixar a reunião o candidato ainda conversou pessoalmente com empresários antes de chegar ao elevador de saída.

– Foi uma visita de cortesia para agradecer o apoio da categoria no primeiro turno, e, com humildade e carinho, reforçar a importância desse apoio para atingir a vitória no segundo turno das eleições – avaliou Rigotto.

A parceria com os dirigentes empresariais foi fundamental para ir ao segundo turno, ressalta o candidato do PMDB, enfatizando que está aberto ao diálogo com todos os setores da sociedade, de associações de empresários a trabalhadores.

– O encontro com Rigotto foi satisfatório e de extrema valia, porque novamente tivemos a oportunidade de ouvir seus planos e verificar onde podemos ajudar na hipótese de vencer as eleições para governador – salientou o presidente da Federasul.

Ontem à noite, Rigotto reuniu prefeitos da coligação que lhe dá sustentação política para discutir a campanha para o segundo turno.


A nova cara do Congresso Nacional
O PT terá a maior bancada na Câmara, com 91 deputados, enquanto o PMDB manterá a maior representação no Senado

O PT terá a partir de janeiro de 2003 a maior bancada da Câmara dos Deputados, e o PMDB ocupará o maior número de cadeiras no Senado.

Com a eleição de 91 candidatos para deputado federal, o PT ganha mais 33 vagas em relação às 58 conquistadas nas eleições de 1998. Ontem, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou os números finais do primeiro turno. Os resultados mostram que 19 partidos serão representados na Câmara. Em 1998, 18 elegeram deputados.

Na Câmara, os quatro partidos com maior número de deputados eleitos em 1998 – PFL, PSDB e PMDB e PPB – perderam cadeiras. O PFL passará de 106 (eleitos em 1998) para 84 deputados, e o PSDB cairá de 99 para 72 parlamentares. O PPB perderá 12 vagas, passando de 61 para 49.

Mesmo mantendo a maior bancada no Senado, o PMDB perderá oito postos e empossará apenas 19 senadores – em 1999 foram 27. O PFL terá o segundo maior número de representantes, ocupando 18 cadeiras, e o PT virá em seguida, com 14 vagas.

Na Câmara, 277 deputados foram reeleitos. A taxa de renovação ficou em 46%. A apuração total dos votos durou 62 horas e computou a participação de 94.780.248 eleitores que compareceram às urnas no domingo. Nos válidos, 84.928.134 pessoas votaram em um dos seis candidatos à Presidência.

Ontem, o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), afirmou que o partido terá direito de indicar o próximo presidente da Câmara, pelo fato de ter eleito a maior bancada, mas aceita a possibilidade de negociar a entrega do cargo, se isso for melhor para um eventual governo Lula.

O PT poderia entregar o cargo a partidos que não fazem parte da aliança formada para eleger Lula como o PMDB e o PSDB, em troca do apoio parlamentar desses partidos.


A fé que se transformou em 94 mil votos
Vilson Covatti atribui eleição para a Assembléia ao trabalho de oito anos no parlamento, dedicado à defesa dos produtores

A cada frase, expressões de fé, devoção e amor ao próximo. Quem ouve o católico Vilson Covatti falar sobre si poderia até imaginar que, para quem já ficou fora da Assembléia Legislativa por apenas 121 votos, em 1986, transformar-se no deputado estadual mais votado do Rio Grande do Sul só poderia ser um milagre.

Mas Covatti tem outra explicação. Eleito com 94.083 votos, ele atribui a retumbante vitória ao reconhecimento do trabalho de oito anos no parlamento, especialmente na defesa dos produtores gaúchos. Também credita o desempenho ao apoio da mulher, Silvana, à estrutura de seu partido, o PPB, e – é claro – à fé.

– Somos muito de oração. A oração é tudo – afirma.

A religiosidade vem de berço, dos tempos em que morava com os pais, na localidade de Barra do Suco, interior de Frederico Westphalen, hoje integrada a Palmitinho, mas aprofundou-se depois do casamento. Com Silvana, Covatti freqüenta o Encontro de Casais com Cristo, movimento da Igreja Católica. É também fundador do bloco parlamentar católico na Assembléia.

Devotos de Nossa Senhora Aparecida, o deputado e a mulher dedicam-se ao que consideram um hobby: a ação beneficente. Exemplo disso são três pousadas criadas e mantidas por eles para hospedar gratuitamente pessoas que vão acompanhar parentes internados em hospitais de Porto Alegre, Passo Fundo e Ijuí. Covatti afirma gastar praticamente todo o salário de deputado – cerca de R$ 4 mil – para manter as pousadas, que contam ao todo com camas, sete funcionários e toda a estrutura de uma casa – dormitórios, cozinha, área de serviço:

Madrugador, Convatti não abre mão do chimarrão com a mulher, cedo da manhã. Gosta de música tradicionalista – “quem canta reza duas vezes”, diz – e, diante do Gre-Nal estabelecido entre os filhos Viviana, 18 anos, Luiz Antônio, 15, e Franciele, 13, busca guarida na diplomacia.

– Fico do lado de quem perde – brinca.

A partir da agricultura, o jovem Vilson Luiz começou a vida em um supermercado de Frederico Westphalen. Levantava cedo, degolava galinhas da colônia e seguida para o estabelecimento. Sem largar os estudos, fazia de tudo: do atendimento no balcão à entrega de rancho. Aos 23 anos, formou-se em Direito, Administração de Empresas e Ciências Naturais.

– Aí, veio o chamado de Deus – conta.

Em 1981, um acidente de moto na BR-386 mudou radicalmente a vida de Covatti. Após permanecer 11 dias em estado de coma no Hospital São Vicente de Paula, de Passo Fundo, as seqüelas o deixaram preso a uma cadeira de rodas por mais de um ano. O jovem que passara em três vestibulares enfrentava sua prova mais difícil.

– Aquilo foi a faculdade da sensibilidade, o chamado a uma missão. Eu era um jovem formado, ativo e, de repente, via o mundo andando e eu parado. Aprendi o valor da vida, das pessoas – lembra.

A política foi o caminho encontrados para dar resposta ao destino. Covatti elegeu-se vereador em Frederico Westphalen em 1983. Em 1986, concorreu a deputado estadual pela primeira vez, mas ficou como suplente da bancada. O fato se repetiu quatro anos depois. Em 1994, no entanto, os 21.603 votos conquistados na terceira tentativa foram suficientes para lhe assegurar uma cadeira na Assembléia. Em 1998, mais do que duplicou sua votação anterior e reelegeu-se com 51.766 votos espalhados por 342 municípios do Estado:

– Eu valorizo muito o voto, porque sofri muito para me eleger a primeira vez. Duas vezes me faltaram pouquíssimos votos. Um voto para mim é uma procuração.

Líder da bancada do PPB nos últimos dois anos, o deputado, hoje com 45 anos, presidiu a CPI do Leite – que indiciou cinco empresas por práticas abusivas contra o produtor e o consumidor. O trabalho, segundo ele, ainda não está concluído, “falta atingir seus objetivos”. Foi também presidente da Comissão Especial da Bacia do Alto Uruguai, responsável pela atração de investimentos para a Região Norte do Estado, e um dos articuladores da instalação da CPI da Segurança Pública. Atualmente, preside a Frente Parlamentar de Apoio à Micro e Pequena Empresa e a subcomissão da suinocultura, que investiga as causas para o baixo preço pago ao criador de suínos.


Líderes tentam evitar debates
Tarso e Serra propõem o maior número de confrontos, Lula e Rigotto impõem resistência

A 17 dias do segundo turno das eleições, os candidatos mais votados na disputa ao governo do Estado e à Presidência da República evitam participar de debates.

Tanto Germano Rigotto (PMDB) quanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) consideram exagerados o número de embates e pedem a limitação dos confrontos na TV.

A exemplo de Lula, que afirma estar se preparando para “um último debate”, Rigotto sugere a realização de apenas dois confrontos neste segundo turno. No Estado, pelo menos sete encontros entre os dois candidatos estavam previstos nas agendas das emissoras. Muitos deles, marcados inclusive com antecedência pelas redes de rádio e TV, estão atualmente sem data definida, tendo até a sua realização considerada sub judice, em razão da falta de entendimento entre as assessorias dos concorrentes e os veículos.

O candidato Tarso Genro, da Frente Popular (PT-PCB-PC do B-PMN), manifestou a intenção de aceitar todos os convites formulados. Tarso tem acusado seu oponente de estar fugindo do debate. Rigotto alega que a realização de seis confrontos na TV atrapalharia a agenda de campanha nas próximas duas semanas e prejudicaria os roteiros pelo Interior. Para escapar das cobranças de Tarso, ele tem dito que participará de tantos programas quanto Lula.

Na terça-feira, a coligação de Rigotto chegou a enviar um documento à Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert), pedindo que a entidade interviesse no diálogo com as emissoras. No entanto, ouviu uma negativa do presidente da associação, Paulo Sérgio Pinto.
No embate nacional, as estratégias de José Serra (PSDB) e Lula são diferentes. Enquanto os tucanos planejam explorar ao máximo a imagem do candidato nos embates na TV, o PT procura delimitar a participação de Lula. Já os assessores do petista adotam o mesmo discurso de Rigotto, dizendo que não haveria tempo suficiente para manter os roteiros de campanha com a preparação para os debates.

O presidente nacional do PT, deputado federal José Dirceu (SP), chegou a propor que ocorra um único debate nacional, transmitido por um pool de emissoras. No entanto, as direções das três emissoras que haviam agendado debates entre os candidatos a presidente – Rede Globo, Bandeirantes e Record – descartam a possibilidade e insistem em confirmar a realização dos programas.


Olívio destaca crescimento de Frente Popular
O crescimento dos partidos que integram a Frente Popular – PT, PSB, PCB e PC do B – em todo o país foram destacados ontem pelo governador Olívio Dutra.

– Isso potencializa a vitória nas duas dimensões – afi rmou.

Em entrevista coletiva, o governador destacou o aumento da bancada petista no Senado e a eleição de Paulo Paim:
– Nosso partido aumentou de oito para 14 o número de cadeiras, temos a maior bancada em nível federal e disputamos segundo turno em vários Estados. Aqui no Rio Grande do Sul os companheiros Tarso Genro e Miguel Rossetto têm condições plenas, num bom e qualificado debate que compare as experiências de projeto.

O governador ainda criticou o candidato Germano Rigotto (PMDB) e disse que o Estado já experimentou o projeto representado pelo candidato:
– Nosso projeto está em andamento. A comparação será importante porque temos certeza de que, divulgados os números, a vantagem é evidente.

O governador afirmou que todos os secretários de Estado que concorreram serão bem-vindos de volta às funções que ocupavam. Três se elegeram para deputado federal e dois para a Assembléia. Segundo ele, só não retornarão os que tiverem outras funções políticas nos partidos, como, por exemplo, Beto Albuquerque (PSB).


Só, somente só
Lembra que Fernando Collor – aos tempos da Casa da Dinda, em Brasília – dizia e repetia a frase “Não me deixem só”?

Pois é, agora ele mudou.

Em entrevista em Maceió, na terça-feira, comentando o resultado das eleições, o ex-presidente prometeu manter-se próximo aos eleitores:

– Sou eu que tenho a dizer que não os deixarei sós.

Mesmo não tendo chegado ao segundo turno das eleições para o governo de Alagoas, Collor avalia que se saiu bem. Diz que os 420 mil votos recebidos nas urnas o animam a continuar na vida pública.
– Vou passar 2003 me preparando para as eleições de 2004 – avisa.

O Brasil é notícia
O jornal The New York Times publica em sua edição de ontem um perfil de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O correspondente Larry Rohter diz que o candidato “está a um passo de se tornar o primeiro operário a ser eleito presidente do Brasil” e destaca a infância difícil do retirante pernambucano:

– Lula parece ser o pára-raios do descontentamento dos 175 milhões de habitantes do Brasil. A economia estagnou, o desemprego está em alta, o valor da moeda está em baixa, e ele argumenta que seu passado e ponto de vista o ajudarão a ter sucesso onde todos os administradores, tecnocratas e especialistas fracassaram.


O argentino Clarín diz que a aposta de José Serra (PSDB) é derrotar Lula nos debates, mas não deixa de observar que, na primeira coletiva do tucano após as eleições, a vice Rita Camata “transparecia um incipiente desencanto”.

Em outra reportagem, o Clarín afirma que “para os investidores argentinos, o triunfo do PT é positivo”, já que vários empresários da Argentina “concordam que um governo Lula pode melhorar a distribuição da riqueza e, assim, aumentar o volume de exportações argentinas ao Brasil”.


O jornal Página 12, também de Buenos Aires, dá destaque ao sistema eleitoral brasileiro, que permitiu a eleição de um deputado federal que recebeu menos de 300 votos. É o médico homeopata Vanderlei Assis, beneficiado pela incrível votação de Enéas Carneiro, da mesma legenda.

O jornal chama Enéas de “excêntrico” e ressalta que ele é “a estrela do ultradireitista Prona, cuja proposta se reduz a que o Brasil construa a bomba atômica para ser respeitado no mundo”.

Tira-dúvidas
Quem não votou no primeiro turno das eleições, no dia 6, pode votar no segundo turno, no próximo dia 27?

Claro que sim. Quem não votou no dia 6 tem até o final de dezembro para justificar o voto. Independentemente disso, pode e deve votar no dia 27.

Da série
votos-que-a-gente-nunca-chega-a-entender. Em São Paulo, Márcia Cippe, que almejava uma vaga de deputada estadual, desistiu de concorrer, retirou sua candidatura e mesmo assim recebeu 43 votos.

Números
O Nordeste foi a região brasileira com maior índice de votos nulos no primeiro turno das eleições presidenciais, no dia 6 de outubro.

12,38% dos eleitores entre os Estados da Bahia e do Maranhão anularam o voto para presidente.
A média nacional foi de 7,36%.


Artigos

Proteção às crianças e adolescentes
Mariza S. Alberton

Até amanhã estará acontecendo em Porto Alegre o Seminário da Região Sul sobre Diretrizes Socioeducativas. Este evento, promovido pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), tem a participação do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Rio Grande do Sul como anfitrião e um dos organizadores.

O seminário dá continuidade a uma discussão em pauta há pelo menos três anos e tem por objetivo aprimorar a Lei Federal nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – existente desde 1990, e disciplinar a execução das medidas sócio-educativas aplicadas aos adolescentes em conflito com a lei, em todo o país. A ausência de políticas públicas satisfatórias e de programas que assegurem efetivamente a inclusão das famílias e de suas crianças e adolescentes no sistema de garantia, promoção e defesa de seus direitos fundamentais é a grande responsável pela escalada da violência atribuída à infância e juventude em nossos dias.

A situação dos adolescentes em conflito com a lei, na maioria dos Estados brasileiros, é caótica. Os “velhos hábitos” aliados aos vícios das grandes instituições, ainda não reordenadas segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, propiciam, constantemente, a violação dos direitos humanos.

A situação dos adolescentes em conflito com a lei, na maioria dos
Estados brasileiros, é caótica

Felizmente, no Rio Grande do Sul, avançamos satisfatoriamente. A antiga Febem foi extinta, dando lugar à Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), com uma nova filosofia de gerenciamento, e a concepção de política de atendimento ao adolescente privado ou restrito de liberdade, dentro do que estabelece o ECA, privilegiando as ações pedagógicas. Novas relações estão sendo construídas, com metodologia diferenciada, respeito e dignidade – verdadeiro exercício de cidadania – promovendo a inclusão de egressos do sistema na sociedade, através de ações que possam assegurar a sua permanência com sucesso na rede escolar, qualificação profissional e acesso a programas de emprego e geração de renda.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, no que se refere às medidas socioeducativas, é de natureza sancionatória e conteúdo prevalentemente pedagógico. Por isso, temos a convicção de que a correta aplicação dos princípios nele contidos é o único caminho para a solução dos problemas que afligem a sociedade com relação ao adolescente que teve a infelicidade de se envolver em atos infracionais. Assim, a discussão do tema, motivo destes seminários realizados em todas as regiões do Brasil, pretende responder aos anseios dos operadores de direitos e do povo brasileiro em geral, efetivando, de forma mais conveniente, a aplicação das medidas sócioeducativas aos adolescentes em conflito com a lei.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Agricultura e política
Nos países ricos, a força política do agronegócio é inquestionável. Por causa disso o governo de Jacques Chirac inviabilizou a reforma da política agrícola européia porque eliminaria subsídios aos agricultores franceses. Espanha, Portugal e Itália seguiram na mesma direção, para proteger seus agricultores. Nos Estados Unidos, o lobby agrícola é poderosíssimo. Conseguiu aprovar uma lei agrícola que preserva e amplia subsídios. No caso brasileiro, os produtores rurais começaram a entender que, sem apoio político, pouco conseguiriam.

Na eleição de 1998, trataram de apoiar candidatos identi ficados com as causas de interesse do agronegócio. Em todos os Estados, os parlamentares assim identificados obtiveram expressiva votação, que se renova, agora, em 2002. No caso de Santa Catarina, o ex-secretário Odacir Zonta (PPB) foi o terceiro mais votado, com mais de 120 mil votos. No Paraná, Abelardo Lupion (PFL), Dilceu Sperafico (PPB) e Moacir Micheletto (PMDB) receberam apoio dos agricultores. No Rio Grande do Sul, o ex-ministro Francisco Turra (PPB), com mais de 100 mil votos, reforçará a bancada que contará também com o estreante Erico Ribeiro (PPB), além dos reeleitos Augusto Nardes (PPB), Luiz Carlos Heinze (PPB) e Cesar Schirmer (PMDB), ex-secretário de Agricultura, e Darcisio Perondi (PMDB).

Nomes como Carlos Melles, Odelmo Leão e Silas Brasileiro, em Minas, ou Ronaldo Caiado e Roberto Balestra, em Goiás, Delfim Netto e Nelson Marchezelli, em São Paulo, e Katia Abreu, em Tocantins, voltam reeleitos. Todos identificados com o agronegócio.

Os trabalhadores rurais vinculados aos movimentos sindicais elegeram três deputados estaduais e um federal, entre os quais está o gaúcho Heitor Schuck (PSB). Já o MST reelegeu Adão Pretto (PT-RS) e Luci Choinacki (PT-SC). O ex-secretário da Agricultura José Hermetto Hoffmann, identificado com as causa do MST, não conseguiu chegar à Câmara Federal. Em outros Estados, o MST também tem presença política, com seus representantes na Câmara Federal e no Senado.


JOSÉ BARRIONUEVO

Resultado das urnas preocupa PT
As avaliações da coordenação da campanha de Tarso são bastante realistas, contrastando com o tom ufanista da equipe palaciana. Os números das eleições no RS são contundentes e quase todos os aspectos, decorrentes do mau desempenho do governo Olívio, que será deixado de lado no segundo turno. O marketing será acoplado todo ele à campanha de Lula, em sintonia com o marketing montado por Duda Mendonça. Também está sendo reforçada a equipe que produz os programas de TV, com a participação de outros integrantes da Casa de Cinema.

Nova pesquisa traduz dificuldade
A serem verdadeiros os números da pesquisa do Cepa/UFRGS divulgados nesta edição, prossegue a migração de votos para o lado de Rigotto, que conquistou 14 pontos, enquanto Tarso apenas 2,5, quase estagnado. Rigotto, com 58,8%, Tarso com 35,8%, retrata apenas o quadro da largada numa campanha curta, de 15 dias.

Um desafio para a equipe da Casa de Cinema, colecionadora de sucessos eleitorais, que desta vez tem pela frente o talento demonstrado no primeiro turno pela equipe da Fisher, que transformou Rigotto em terceira via.

Agora tudo recomeça da estaca zero. Tarso tem a seu lado a simpatia de Lula enquanto Rigotto carrega o fardo de Serra e FH.

PDT aceita melhor Rigotto do que Britto
O apoio do PDT a Germano Rigotto foi imediato e uníssono. Todos os deputados que compareceram ao almoço de ontem no Restaurante Copacabana já abraçaram a candidatura do PMDB (não compareceram Enio Bacci, que já antecipou posição favorável, e Paulo Azeredo, que sexta-feira fará uma reunião com as bases par decidir). Há expectativa de que até alguns prefeitos que apoiaram Tarso no primeiro turno, na polarização com Antônio Britto, assimilem Rigotto no segundo turno. Vieira da Cunha relatou a conversa que teve com Brizola, liberando os filiados.

Aldo Pinto convoca
Um dos principais líderes do partido, Aldo Pinto está convencido de que o PDT inteiro apoiará Rigotto sem qualquer contrapartida, pela necessidade de acabar o que define como “orgia administrativa, intolerância, arrogância e prepotência” do governo Olívio.

Eleitor derrotou o OP
Principal instrumento de marketing do PT no Estado, no país e no Exterior, o Orçamento Participativo foi desaprovado pelo eleitor, o que ficou estampado na insignificante votação obtida por Ubiratan de Souza, homem forte do governo Olívio, que comanda o Gabinete de Orçamento e Finanças.

Nas previsões do PT, o homem do OP só seria superado pelo ex-prefeito Raul Pont, que faria mais de 150 mil votos para se credenciar como candidato a prefeito em 2004 ou a governador em 2006. Pont fez 60 mil votos, quase a metade de Wilson Covatti, do PPB, um neoliberal, e Ubiratan ficou com 8 mil, próximo de Nelson Vasconcelos, que concorreu por um partido nanico, o PV.

O mesmo OP, que utiliza viaturas da Emater, que aproveita centenas de detentores de cargos de confiança, que recebeu um investimento de algo próximo a R$ 30 milhões em propaganda, está deixando de ser a fórmula mágica de envolvimento das comunidades – pela escassa participação – e de repressão de demandas.

O eleitor identificou como um artifício. É a leitura que se faz da manifestação das urnas. A não ser que o que foi expresso no domingo não tem valor, por não ter passado pelo crivo do OP.

Exemplo
Eleito deputado com 47.383 votos, Fernando Zachia dá um bom exemplo recolhando a propaganda que deixou pelas ruas da cidade. Como dizia na campanha contrta os pardais, o que mais importa é educar.

Por um ideal
Tive oportunidade de conhecer mais de perto José Eduardo Utzig, um idealista, apaixonado por política, estudioso, conciliador, que respeitava a divergência. Um homem que lutou por um ideal ao ponto de dar a vida. São figuras assim que fazem a diferença na história política de uma comunidade, de uma cidade, de um país.

Utzig integrou um grupo que, desde Santa Maria, irradiava o pensamento da esquerda mais intelectualizada, reunindo nomes como Marcos Rolim, José Genoino, Tarso Genro, José Fortunati, Adelmo Genro e Carlos Alberto Grassi.

O mais jovem
O colunista errou. Márcio Biolchi (PMDB), com 23 anos, é três anos mais jovem do que Jerônimo Goergen (PPB) apontado ontem na coluna como o benjamim do Palácio Farroupilha na próxima legislatura. Estudante de Direito em Passo Fundo, com 35 mil votos, Biolchi, medindo dois metros, será também o mais alto do plenário.

Outro jovem, caçula na atual legislatura, Luis Augusto Lara (PTB), retorna à Assembléia consagrado pelo voto. Subiu de 16.222 obtidos em 1998 para 38.327 este ano. Com 33 anos, Lara será o terceiro mais jovem. Antes dele, vem Jamir Branco, de Rio Grande, com 29 anos.

IPÊ
O Hospital de Caridade de Santa Maria parou de atender os servidores públicos vinculados ao IPE. Carlos Alberto Pacheco, diretor administrativo do instituto, teme um efeito cascata. Há um superávit todos os meses na assistência médica, que arrecada R$ 35 milhões a cada mês e gasta R$ 29 milhões.

Lamenta que os recursos estão sendo desviados para pagamento de pensões, diante da grave crise das finanças do Estado.

Mirante
• Além de ficar em sexto colocado como candidato a senador, Brizola conseguiu eleger apenas seis deputados pelo Rio (três estaduais e três federais).

• O deputado Adolfo Britto obteve uma votação consagradora, alcançando 50.061 votos para um terceiro mandato. Partindo de um município de porte médio (Sobradinho), elegeu-se a primeira vez em 1994, na carona de Antônio Britto, por ter o mesmo sobrenome e por ser o primeiro da lista, antes da urna eletrônica. Fez 28.880. Construiu uma imagem sólida, passando para 34.097 em 1998.

• A vitória de Tarso em Bagé tem dois motivos: o prestígio do prefeito petista Luis Mainardi e o desgaste de Carlos Azambuja (PPB), duas vezes prefeito, que fez apenas 5.335 votos.

• Outro que enfrentou desgaste foi Telmo Kirst (PPB), que fez apenas 5.959 votos em Santa Cruz depois de exercer sete mandatos consecutivos. Wenzel (PSDB) obteve 19.824 e Osmar Severo (PTB), 15.857. Heitor Shuck (PSB), da Fetag, com 6.234, fez mais votos no município que durante duas décadas foi o principal reduto da Arena e seus sucedâneos (PDS, PPR, PPB).

• Cézar Schirmer, derrotado na disputa da prefeitura de Santa Maria, ganhou a queda-de-braço com Paulo Pimenta. Foi o mais votad o na cidade (21.787 contra 20.804). Pimenta levou a melhor na soma geral, com 128.495.

• Zambiasi vestiu a camisa do Leão da Fronteira e com três visitas a Livramento derrotou Emília na sua terra natal. Fez 28.529 (51,25%), 5.975 votos a mais dos 22.554 (40,52%). Para governador, outro desastre: Britto, conterrâneo de Emília (16.165) perdeu para Tarso (18.422).

• José Antônio Pinheiro Machado volta a combater o regime. Desta vez não é o militar. Lança hoje, às 18h, dois livros: Mais Receitas do Anonymus Gourmet e Anonymus Gourmet em Histórias de Cama & Mesa. Na Siciliano do Shopping Moinhos, às 18h.

• Ibsen Pinheiro (PMDB) não concorda com o colunista sobre a exposição de seu nome como candidato, observando que “trinta e cinco mil gaúchos aprovaram” sua atitude com seu voto”. Comenta: “Numa campanha relâmpago recebi carinho e solidariedade que me devolveram o sentido da participação integral na vida do Rio Grande”.


ROSANE DE OLIVEIRA

Abalo no PT
A morte prematura de José Eduardo Utzig deixa o PT órfão de um dos seus principais estrategistas no momento mais delicado da campanha. Por mais que durante o velório os líderes e os militantes falassem em “transformar a dor em energia para vencer a eleição”, a perda do coordenador da campanha deixou atônitos os principais assessores de Tarso Genro. No velório do amigo, o candidato era um homem arrasado.

Abalados, os petistas tentam encontrar o rumo da campanha numa corrida contra o tempo. Restam duas semanas para tentar reverter o favoritismo de Germano Rigotto, que chegou em primeiro lugar no primeiro turno e, de acordo com a pesquisa Cepa-UFRGS, absorveu a maioria dos eleitores de Antônio Britto, Celso Bernardi e Aroldo Medina. A pesquisa indica que só Rigotto cresceu entre o dia da eleição e terça-feira: os índices de intenção de voto em Tarso são praticamente idênticos aos obtidos nas urnas – 34,33% do total, o que equivale a 37,25% dos válidos.

O horário eleitoral gratuito, que começa amanhã, é a oportunidade vislumbrada pelo PT para recuperar terreno. Mesmo não sendo homem de comunicação, o sociólogo Utzig tinha papel importante na definição da estratégia no horário eleitoral. Os colegas sabem que ele vai fazer falta.
Os debates, a outra oportunidade com a qual Tarso contava para conquistar eleitores, estão ameaçados diante da disposição de Rigotto de restringir sua participação nesse tipo de confronto. O candidato do PMDB usa os mesmos argumentos de Luiz Inácio Lula da Silva, que deseja participar de apenas um debate no segundo turno: diz que é humanamente impossível atender a todos os pedidos de emissoras de televisão. Pelo menos seis, no caso do Estado.

Tarso, a quem interessa o debate, se propõe a participar de todos. Rigotto alega que como os debates exigem preparação, teria de cancelar atos de campanha previstos para cidades do Interior, dos quais não está disposto a abrir mão.

O debate é a alma do segundo turno. Se não puderem assistir ao confronto de idéias, os eleitores serão os grandes derrotados.


Editorial

DEBATES E DEMOCRACIA

Em um país com um território mais de duas vezes superior ao da União Européia e mais vasto do que a extensão continental dos Estados Unidos, os meios eletrônicos de comunicação social assumem importância decisiva para o fortalecimento das instituições democráticas. Por isso mesmo, são insubstituíveis como canal difusor de idéias em uma eleição. Nenhum outro instrumento é capaz de levar mais eficazmente a cidadãos de todos os quadrantes as propostas dos que aspiram chegar quer à Presidência da República, quer à chefia dos Executivos estaduais, nesta fase derradeira da campanha brasileira.

É certamente natural que alguns candidatos, pela vantagem que alcançaram no primeiro turno, se mostrem agora resistentes aos debates pela televisão e o rádio. Há, aliás, exemplos históricos desse comportamento, a começar pelo do próprio chefe da nação. Fernando Henrique Cardoso recusou-se quase sistematicamente a participar desses confrontos nos pleitos de 1994 e 1998. Agora é o concorrente situacionista, José Serra, que se posiciona a favor do maior número possível de encontros com seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva, que se mostra algo refratário à sugestão. É de se reconhecer no entanto que este último, ainda que muito bem posicionado em termos de apoio popular, esteve presente até aqui a todos os debates com seus oponentes. Foi uma conduta exemplar.

Este é o momento de os candidatos discutirem suas propostas, de modo respeitoso, maduro e civilizado

O desejável é precisamente que os dois homens públicos que disputam o Planalto não cedam a considerações menores e participem de novos programas, da mesma forma que os postulantes aos governos dos Estados. Evidentemente, não se está defendendo aqui uma avalanche de cotejos. Seu número deve ser racional e corresponder à disponibilidade dos concorrentes, tanto no âmbito federal, quanto no regional. O essencial é que todos tenham em mente uma realidade singela. Nenhum dos eleitos encontrará um mundo cor-de-rosa. Assim, os cidadãos têm o direito de esperar que expliquem os ingentes desafios sociais e econômicos com que se defrontarão.

Há outra circunstância que não pode ser esquecida. Especialmente em nível estadual, o grande número de concorrentes esvaziou em muito os debates do primeiro turno. Agora surge a oportunidade do confronto entre os dois mais votados e não deve haver cadeiras vazias. Será em boa parte fruto do contraditório que se estabelecer que grande número de votantes formará suas convicções, revisará conceitos ou consolidará escolhas. Mais do que nunca, portanto, é este o momento por excelência de que os candidatos exponham e discutam propostas e filosofias de ação, de forma respeitosa, madura e civilizada.

Ganharão com isso os eleitores, que decidirão com base no que virem e ouvirem e não aleatoriamente, ao sabor de imagens fabricadas por marqueteiros. E ganhará a nação, que assim robustecerá sua decidida opção pela causa da liberdade e da democracia.


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10/10/2002


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