Afegãos reclamam de tratamento no RS









Afegãos reclamam de tratamento no RS
Refugiados exigem ar-condicionado

O Ministério Público Federal assumiu ontem o papel de intermediador na crise existente entre as famílias de afegãos exilados em Porto Alegre e a Cenoe (Central de Orientação e Encaminhamentos), uma ONG dedicada a tratar desse tipo de caso, mas que, segundo os afegãos, não estaria lhes dando a devida atenção.

Em um debate durante audiência pública, o procurador-regional dos Direitos do Cidadão, Paulo Cogo Leivas, afirmou que haverá nova reunião na semana que vem, em dia a ser marcado, e criticou a falta de diálogo das entidades responsáveis com os afegãos, na cidade desde abril.

Os afegãos enviaram carta à ONU e ao Ministério da Justiça se dizendo deprimidos e ameaçando cometer suicídio. ""Se o Brasil acha difícil atender aos pedidos, solicitamos que nos mandem para um país que possa", disse a carta. São 25 os refugiados. A Cenoe admitiu que está havendo essa dificuldade de diálogo.

Os afegãos querem aumentos salariais em relação aos R$ 520 que recebem por família. Pedem emprego, intérprete para conseguirem se comunicar melhor enquanto não aprendem o português, TVs, transporte, eletrodoméstico e aparelhos de ar-condicionado em seus apartamentos.

O entendimento do governo federal é de que não há motivos para modificar as condições de vida dos afegãos no Brasil.


Motorista denuncia cobrança de propina
Servidor afirma que havia esquema durante governo de Britto

Em meio ao clima de acusações mútuas na disputa eleitoral no Rio Grande do Sul, polarizada entre Antônio Britto (PPS) e o candidato do PT, Tarso Genro, surgiu, ontem, a denúncia de um esquema de propinas no governo quando Britto foi governador.

O motorista João Pedro de Oliveira denunciou a existência de um esquema de propinas no departamento de desporto da Secretaria da Educação do governo gaúcho entre setembro de 1996 e dezembro de 1998 -durante a administração do ex-governador.

De acordo com JP, como ele é conhecido, o "staff" do departamento comandado pelo diretor José Loureiro Gomes, o Arataca, superfaturava eventos, criava competições, levava atletas a Porto Alegre superfaturando patrocínios e falsificava notas fiscais.

Para não se comprometerem, o dinheiro resultante dos eventos -um total de cerca de R$ 1 milhão- ia parar na conta bancária de JP, que disse não ter conhecimento de vínculos do ex-governador com o esquema.

A Agência Folha ouviu JP por mais de uma hora, assistiu a um vídeo no qual ele conta o esquema para se preservar das ameaças de morte que diz ter recebido e teve acesso a extratos bancários do motorista na época, com altos valores para seus padrões.

Logo após a entrevista, JP seguiu até o Ministério Público Estadual, onde apresentou documentos como extratos bancários e conversou com o promotor João Nunes Ferreira durante aproximadamente três horas.
A Agência Folha procurou entrar em contato com o promotor para saber as medidas que ele tomaria em relação ao caso, mas ele respondeu, por intermédio da assessoria de imprensa do órgão, que não comentaria o caso.

Com salário de R$ 747,83, JP recebeu em sua conta valores de R$ 14.500 no dia 16 de abril de 98 e de R$ 50 mil em 4 de junho de 98. Movimentou valores como R$ 22 mil, R$ 18 mil e R$ 30.800.

"Resolvi contar tudo porque estou sendo ameaçado e porque fiquei com uma dívida de R$ 108.400. Não sei se o Arataca era usado pelo seu "staff" ou por outras pessoas, ou se o dinheiro ia para ele mesmo. Eu passava cheques que seriam cobertos depois para pagar algumas despesas, incluindo até boates. Havia lavagem de dinheiro, com compra de material esportivo para doação. O dinheiro parou de entrar na minha conta. As dívidas ficaram", diz.


Britto não fala, e diretor afirma estar tranqüilo
O ex-motorista do departamento de desporto da Secretaria da Educação gaúcha João Pedro de Oliveira, o JP, tem uma extensa ficha na polícia, segundo informou ontem o PPS para tentar desqualificar a denúncia do ex-servidor.

Constam contra ele inquéritos policiais abertos por estelionato, lesão corporal na Delegacia da Mulher, ambas em 88, e outras três passagens lesão corporal e duas ameaças.

De acordo com a assessoria de Antônio Britto, ele não falaria. O diretor do departamento de desporto, José Loureiro Gomes diz que está "tranquilo".

"Por que só agora ele fala sobre isso? Ele vai ter de provar na Justiça. A Justiça e o tempo serão senhores da razão", disse.

Questionado sobre os extratos, Arataca disse que JP organizava eventos, e valores altos eram depositados na sua conta para cobrir despesas.

A deputada estadual e secretária da Educação na época, Iara Wortmann (PPS), disse desconhecer os fatos.
O ex-servidor não foi localizado após a divulgação pelo PPS de sua ficha policial.


Tucano pede que Tasso vá a Conselho de Ética
Apesar de saber ser difícil obter uma punição, o coordenador do programa de governo do tucano José Serra, o prefeito de Vitória (ES), Luiz Paulo Vellozo Lucas, subiu o tom dos ataques ao ex-governador tucano Tasso Jereissati (CE) a fim de tentar evitar uma debandada no PSDB.

Vellozo Lucas pediu ontem que Tasso seja submetido ao Conselho de Ética do PSDB, por causa da carta que divulgou anteontem se desligando da campanha de Serra. O gesto objetiva intimidar Tasso e conter a dissidência no PSDB a favor de Ciro Gomes (PPS). O ex-governador tem feito articulações políticas e empresariais para o candidato do PPS.

"Se ele [Tasso] tiver dignidade, vai pedir para sair do partido", disparou Vellozo Lucas, já sabendo que o PSDB não convocará o conselho. O prefeito quis apenas marcar uma posição, que, aliás, não é endossada por toda a campanha Serra nem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.

Não interessa ao candidato um enfrentamento interno neste momento. Implementada a estratégia de desconstrução de Ciro, Serra acredita que estará no segundo turno e unirá o partido.

Serra, segundo o líder do PSDB, Jutahy Júnior (BA), considerou até "agressiva" a declaração dada por FHC sobre a dissensão de Tasso, segundo a qual a carta fora uma "punhalada pela frente". O próprio Jutahy avalia a posição do presidente como uma defesa: "Na minha terra, ruim é tomar facada pelas costas. Pela frente é só delito. Por trás, é traição".

Tasso divulgou a carta após consultar o coordenador político de Serra, Pimenta da Veiga (MG), e o presidente da Câmara, Aécio Neves (MG). Eles acharam melhor o tucano do Ceará esclarecer agora sua posição.

Objetivos
O movimento de Tasso também é conveniente para os tucanos que não desejam apoiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT), caso Serra não vá para o segundo turno. Tasso tem dois objetivos imediatos:
1) Tentar impedir que o presidente Fernando Henrique Cardoso apóie Lula na segunda fase. O candidato do PSDB e seu entorno já decidiram que, entre Lula e Ciro, ficarão com o petista.

O presidente será pressionado por Tasso a ficar neutro, assumindo posição de magistrado. O ex-governador também quer inibir eventuais articulações de FHC para avalizar Lula perante o mercado -principal desejo petista em relação ao presidente.

2) Arregimentar apoios tucanos para Ciro já no primeiro turno, pavimentando caminho para abocanhar o máximo possível de adesões no segundo turno.

Caso Serra fique fora do segundo turno, as situações estaduais ditarão o destino das seções regionais do PSDB. Tasso, cotado para ser o principal nome político de um eventual governo Ciro -como ministro da Fazenda, por exemplo-, crê que poderá arregimentar o apoio de grande parte da bancada federal do PSDB e o apoio de caciques importantes.

A inte rlocutores, Tasso disse que estava se sentindo incomodado com a pecha de "traidor" e resolveu assumir de vez sua opção. Na carta, ele não diz que fará campanha por Ciro. Mas alegou questões regionais, sua aliança informal com o PPS do Ceará e a amizade com Ciro para dizer que se retiraria da campanha.

Em conversa com o conselheiro político da Embaixada dos Estados Unidos, William Barr, Vellozo Lucas disse que só 15 dias após o início do horário eleitoral gratuito a campanha terá condições de avaliar as reais possibilidades do tucano na eleição.

O conselheiro norte-americano está conversando com todas as campanhas à Presidência.


"Ele tem um mal-entendido com a vida"
Tucano ironiza presença de rival na derrota da seleção

O candidato à Presidência da República José Serra (PSDB) subiu ontem o tom das críticas a Ciro Gomes (PPS), seu principal adversário na disputa eleitoral.

O tucano afirmou, em campanha no interior de São Paulo, que o presidenciável da Frente Trabalhista "não tem equilíbrio mental" e que "tem um mal-entendido com a vida".

"Ele [Ciro Gomes] tem um mal-entendido com a vida, que é a instabilidade emocional e a facilidade para dizer coisas que ele fez, mas que ele não fez", disse Serra, após ter sido questionado pelos repórteres sobre as declarações do adversário, que o chamou de "ministro da dengue".

Quanto às críticas de Ciro na área da saúde, Serra voltou a repetir que o candidato da Frente Trabalhista foi mal no quesito quando administrou o Ceará.

"Quando ele foi governador do Ceará a dengue atingiu o nível mais alto do Brasil, o cólera também, tanto que ele era chamado de governador do cólera", disse.

Em 1993, o Ceará liderou em números relativos e absolutos na incidência de cólera no país, registrando 22.135 casos e 175 mortes provocadas pela doença.

Segundo Serra, o "apelido" foi dado pelo ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho, hoje no PTB e aliado de Ciro.

Na hora de responder ao ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB) que anteontem, ao lado de Ciro em Fortaleza, declarou publicamente ter abandonado a campanha de Serra, o tucano preferiu lançar mão da ironia.

"Ontem [anteontem], de fato, em Fortaleza, a grande tragédia foi o gol do Paraguai. Eu não creio que essas outras questões afetem o rumo da nossa campanha."

Em Orlândia [366 km de São Paulo], onde apresentou seu plano para a agricultura ao lado dos representantes da bancada ruralista no Congresso Ronaldo Caiado (PFL-GO) e Chico Graziano (PSDB-SP), Serra não comentou a decisão do TSE, que deu duas vitórias a Ciro contra ele ontem.

Apesar de ter atacado Ciro na estréia do horário eleitoral na TV, o tucano creditou a "agressividade" da campanha ao rival. "Não sei como um homem que não tem equilíbrio mental pode querer fazer equilíbrio econômico no Brasil, francamente."

Caiado, ex-presidente da UDR (União Democrática Ruralista), fez discurso em que elogiou a atuação de Serra no setor e foi o orador mais aplaudido pelas cerca de 300 pessoas que assistiam ao discurso em uma cooperativa. Graziano disse que Serra tem que se preocupar com os sem-terra, "sem se esquecer dos com-terra".


"Se é para rasgar roupa, vamos rasgar"
Para candidato, tucano o ataca porque "está desesperado"

O presidenciável do PPS, Ciro Gomes, mandou um recado em tom de ameaça ao seu adversário tucano, José Serra, em resposta aos ataques que está sofrendo no horário eleitoral gratuito.

"Eu vou dizer claramente, com todos os "esses" e "erres", quem é que é ladrão, quem roubou, quem vai pagar cada um dos escândalos. Cada escândalo vai ser apurado, e os responsáveis serão indicados à Justiça, seja quem for, ministro, seja quem for", disse Ciro durante caminhada em Fortaleza.

Ele deixou claro que o "recado" era para o ex-ministro da Saúde: "Se é para rasgar roupa, vamos rasgar, se é para lavar roupa suja, vamos lavar, e quem for podre que arrebente, que eu não sou. Isso é um aviso para o ministro da dengue, isso é um aviso para aquele que está mandando grampear telefone, para aquele que está mandando espionar a vida alheia, para aquele que não tem proposta e que está desesperado."

O candidato não esclareceu quais escândalos mandaria apurar nem quando. Participaram do evento de ontem cerca de 3.000 pessoas, segundo a Polícia Militar.

Em entrevista, Ciro estendeu as críticas a outros tucanos, em resposta às críticas a seu aliado Tasso Jereissati (PSDB-CE), após o ex-governador ter deixado oficialmente a campanha de Serra. "Algumas dessas pessoas apodreceram moralmente", disse o candidato, sem citar nomes.

"Irmãos"
Com discurso afinado ao de Tasso, Ciro negou que a atitude do ex-governador seja demonstração de apoio à sua candidatura. "O que o Tasso fez foi um ato de nobreza e de ética, de que esses poderosos brasileiros perderam há muito tempo a noção. Sabe quando existem duas pessoas muito amigas, que não são irmãos porque não nasceram da mesma mãe, mas que se fizeram irmãos pelo mesmo ideal? É mais ou menos isso entre mim e o Tasso."

Durante a caminhada, Ciro beijou lojistas, tomou cafezinho em um bar e mediu a pressão arterial -12 por 8- em uma barraquinha por R$ 1, no centro da cidade. A namorada Patrícia Pillar não participou do evento.
O presidenciável disse que, se eleito, fará a transposição dos rios São Francisco e Tocantins.

Sobre os ataques de Serra a ele, Ciro disse à noite, em Juazeiro (CE): "Não vou responder a esse senhor. Como disse Jorge Bornhausen [presidente do PFL], depois de [Serra] virar nanico eleitoral, virou laranja do Lula. Ele não é problema meu. É problema do Garotinho". Ciro fez comício em Crato.


Maluf ignora questões e diz que 'Rota vem quente'
O candidato do PPB ao governo de São Paulo, Paulo Maluf, 70, foi evasivo e lacônico ontem ao abordar o endividamento a que submeteu a Prefeitura de São Paulo.

Quase sempre refratário a questões objetivas, o ex-prefeito elegeu como proposta para reduzir a violência um vago "princípio da autoridade" e criticou o que chamou de "imobilismo" do governador Geraldo Alckmin (PSDB) no Estado. "Problema de segurança não é investimento. É autoridade", disse. Em outro momento, afirmou que, se eleito governador, "a Rota vem quente".

Munido de recortes de jornais, Maluf atacou seguidas vezes a gestão Alckmin. Disse que no seu eventual governo os "corruptos" do governo tucano serão investigados.

O pepebista negou novamente que mantenha dinheiro em bancos no exterior, em especial na ilha de Jersey. A Folha revelou que Maluf teve bloqueados há mais de um ano US$ 200 milhões naquele protetorado britânico. "Abriram o meu sigilo bancário. Eu só tenho conta aqui e em mais lugar nenhum", declarou o candidato pepebista.

Questionado, Maluf tergiversou ao responder quem são os detentores de fundos de investimento em Jersey que aplicaram US$ 89 milhões na Eucatex em 1997. "Está tudo registrado na CVM", disse.

Maluf, que participou da série "Candidatos na Folha", foi entrevistado pelo secretário de Redação da Folha, Fernando Canzian, pelo editor de Brasil, Fernando de Barros e Silva, pelo editor de Cotidiano, Nilson de Oliveira, e pelo editor do Painel, Rogério Gentile, além de leitores convidados pelo jornal.

O candidato Paulo Maluf abriu sua apresentação apontando as diferenças entre o Estado de São Paulo hoje e aquele que administrou entre 1979 e 1982. "O Estado que eu governei não existe mais. O Banespa era de São Paulo. O governador tinha o poder político para promover financiamentos para instalação de indústrias do segundo maior banco do país naquela época. Hoje o Banespa não é mais de São Paulo. É da Espanha. A Eletropaulo é dos franceses. A CPFL, que é maior distribuidora de energia elétrica existente no interior, não é mais de São Paulo, é de banqueiros e empreiteiros", exemplificou.

"Ciro Gomes perguntou para José Serra, no debate: o que foi feito da montanha de dinheiro das privatizações? Serra fugiu da resposta. A mesma pergunta foi feita para Geraldo Alckmin no debate da Bandeirantes. Onde é que está a montanha de dinheiro das privatizações? Este dinheiro ninguém sabe onde foi. E a dívida do Estado de São Paulo, na administração direta, que era R$ 12,9 bilhões, aumentou sete vezes e está em R$ 92 bilhões", expôs.

MALUF E PITTA
O secretário de Redação Fernando Canzian, moderador do debate, fez a primeira pergunta lembrando declarações de Maluf, como "sujei, deixa eu limpar", a respeito da administração do ex-aliado Celso Pitta, e "escreveu, não leu, o pau comeu", sobre a questão da segurança. O jornalista questionou se o atual estágio da democracia brasileira não dispensaria afirmações como essas.

Maluf começou a resposta explicando o apoio a Pitta. "Eu errei. Quis trazer um novo quadro. São Paulo deu uma demonstração linda de que não tem preconceitos. Elege uma Luiza Erundina, nordestina, elege um Paulo Maluf, filho de libaneses, e elege também um afro para prefeito de São Paulo", afirmou, sem justificar as demais declarações.

REDUÇÃO DA VIOLÊNCIA
Canzian perguntou como Maluf pretendia reduzir a criminalidade em seis meses como promete em sua campanha. O ex-governador começou a ler uma tabela com o aumento do número de homicídios em várias cidades de São Paulo. "O nível de violência chegou a tal ponto que não dá para crescer mais, a não ser com um governador fraco e frouxo, que não é o meu caso", declarou.

O editor de Brasil, Fernando de Barros e Silva, pediu que Maluf respondesse objetivamente como reduzir a criminalidade em seis meses. "Para você começar a andar 100 quilômetros você precisa dar o primeiro passo. Vou agir a médio prazo, longo prazo e curto prazo. A longo prazo: justiça social, tentar dar emprego para todos, combater o tráfico de drogas nas escolas, onde for, e também acabar com esse problema da progressão continuada, que nós não estamos formando ninguém nas escolas. Isso aqui vai ajudar a combater a violência a longo prazo", discursou.

"A médio prazo, com Paulo Maluf, vai ser diferente. Não vamos ter uma rebelião. Bandido queimou colchão, bandido vai dormir no chão. Não vou fazer acordo com bandido, bandido é bandido e polícia é polícia. E a curto prazo quero dizer o seguinte: a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, grupo de elite da Polícia Militar) vai para a rua mesmo. E vem muito quente. O problema de segurança não é investimento. O problema de segurança é a autoridade do governador e do secretário", afirmou.

Para exemplificar sua tese, criticou a entrega de carros de polícia que vem sendo feita pelo governo do Estado, que comparou ao "Show do Milhão", programa de televisão do SBT, e afirmou que houve 20 mil fugas em presídios de São Paulo.

"Eu vou colocar a Rota na rua. Meu projeto é que em todas as cidades acima de 300 mil habitantes haja um pelotão da Rota, com soldados que vão ser recrutados na própria cidade para que conheçam as ruas da cidade, as praças, as pessoas e que vão fazer o policiamento ostensivo 24 horas por dia", declarou.

APOIO A FHC
Barros e Silva lembrou que, em 1998, Maluf apoiou a candidatura de Fernando Henrique Cardoso à reeleição e hoje se tornou crítico do modelo econômico implantado pelo governo que apoiou. "Uma coisa é ser base, como nós fomos, do Brasil. Outra coisa é ser base do governo . Ajudamos o governo Fernando Henrique Cardoso. Agora vaquinha de presépio não sou e nunca serei, porque até no meu partido fui oposição a muita coisa que aconteceu."

APOIO A LULA
O editor do Painel, Rogério Gentile, perguntou se Maluf apoiaria Lula para presidente e lembrou que já o chamou de "ave de rapina" e "falso Papai Noel".

"Meu partido não tem candidato. Agora, no segundo turno, já digo desde já minha exigência. São Paulo paga índice 100 de impostos federais e recebe de volta 8. Vou colocar uma exigência: devolva no mínimo 40% de investimento do governo federal em São Paulo ou não vou apoiar ninguém no segundo turno."

Sobre seu posicionamento contrário à emenda que estabelecia eleição direta para presidente da República em 84, disse: "Apenas obedeci a posição do partido".

CONDENAÇÕES
O editor Fernando de Barros e Silva lembrou que Maluf repete que, em 35 anos de vida pública, não teve nenhuma condenação judicial definitiva. O jornalista lembrou de sentença na qual ele foi condenado por ter mandado pagar com dinheiro público anúncio que foi interpretado como de benefício pessoal.

"Eu disse condenação criminal, porque essa é cível. Eu repeti e repito: nenhuma condenação criminal. Esta é cível. Se eu for condenado, vou ter que pagar o anúncio, mais nada."

Maluf mudou de assunto em seguida, mostrando um exemplar antigo da Folha. "A Folha tem um jornalismo investigativo maravilhoso. Faz um ano, dia 18 de agosto de 2001: "Obra do Rodoanel vai ter estouro de 70% no custo". Ou seja, aqui não é pagar um anúncio. É uma obra que, em vez de custar R$ 270 milhões, vai custar R$ 600 milhões. Vejo nos jornais hoje que o Ministério Público abriu um processo contra o PT porque meia dúzia de carros oficiais foram lá no comitê do Genoino. Quer dizer, gastaram 15 litros de gasolina. Aqui gastaram 2.000 petroleiros e o Ministério Público não abre processo contra isso", afirmou.

O editor de Cotidiano, Nilson de Oliveira, citou que a juíza Simone Gomes Rodrigues Casoretti, da 14ª Vara da Fazenda Pública, condenou Maluf a devolver R$ 1,2 bilhão, em razão do endividamento feito para obras que ele realizou quando era prefeito de São Paulo em 1996.

"Todas as minhas contas estão aprovadas pelo Tribunal de Contas [do Município]", respondeu o pepebista.

DINHEIRO NO EXTERIOR
Fernando Canzian referiu-se a uma reportagem da Folha que revelou o bloqueio de contas de Maluf nas Ilhas de Jersey, no valor de US$ 200 milhões há um ano. Disse que, há dois meses, foi revelado que, em 1997, três fundos do Deutsche Bank em Jersey compraram 36% das ações ordinárias (com direito a voto) e 29% das ações preferenciais da Eucatex S.A. Indústria e Comércio. A empresa pertence à família do ex-prefeito paulistano. Os fundos constituídos pelo Deutsche Bank compraram US$ 89,3 milhões em ações da Eucatex.
Canzian disse que a operação seria, em tese, extremamente desvantajosa para os fundos, porque era um momento em que os investidores estavam tirando dinheiro do Brasil, com medo de uma crise cambial, em vez de colocar recursos, como fizeram os fundos.

"Já desmenti mil vezes [que tenha contas no exterior". Vou desmentir 2.000 vezes, 10 mil vezes, porque não tenho contas. Não tenho nenhuma conta fora do Brasil, não tenho. A minha empresa, graças a Deus, tem 50 anos, 3.000 trabalhadores diretos, 5.000 indiretos. Plantei na minha vida 80 milhões de árvores. Sou o maior reflorestador privado aqui do Estado de São Paulo. Eu produzo oxigênio contra a poluição. Então, uma legislação na Alemanha, do Partido Verde, dá prioridade para investimentos em empresas que reflorestam. Eles vieram em 97. Estávamos precisando de capital de giro. Vendemos um pedaço da empresa. Está tudo registrado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), tudo absolutamente normal", respondeu o ex-governador.

Canzian perguntou quem são os proprietários dos fundos do Deutsche Bank. "Está lá na CVM", disse Maluf. O jornalista afirmou que nos registros não constam o nome dos proprietários do dinheiro, mas apenas uma conta numerada e pediu que revelasse os nomes.

"Os fundos estão todos registrados na CVM. Tudo absolutamente registrado. Tanto é que não corre nenhuma ação no Ministério da Fazenda, que seria o órgão para isso", respondeu Maluf.

Canzian lembrou que o procurador-geral de Genebra mandou uma carta ao Brasil na qual afirma que ordenou a apreensão preventiva de diversos documentos bancários da família Maluf. Citou que o Ministério Público suspeita de que o dinheiro bloqueado no exterior tenha origem em obras superfaturadas em São Paulo.

"Abriram o meu sigilo bancário, eu só tenho conta aqui e em lugar nenhum. A Folha publicou uma inverdade um dia. Publicou que eu tinha uma conta em Genebra. O meu sigilo telefônico foi quebrado -20 números telefônicos, durante 9 anos- e havia uma ligação para Genebra. Perguntei para minha secretária e ela me mostrou: está aqui uma ligação. Foi o fax que o senhor mandou pelo falecimento do presidente do Banco Safra, Edmond Safra", disse Maluf.

Segundo o Ministério Público, a quebra do sigilo telefônico da família de Paulo Maluf mostrou a existência de 15 ligações dos telefones de sua filha Lygia para o Citibank de Genebra, entre abril de 1994 e março de 1996, que somaram 332 minutos.

Depois da sabatina, em entrevista, Maluf questionou a duração dos telefonemas. "O Ministério Público cometeu um crime funcional. Enviou dados [que estavam" sob segredo de Justiça para as redações e com os dados errados sobre o número de minutos, que eram segundos", afirmou.

TERRORISMO ECONÔMICO
Rogério Gentile citou declarações de Maluf sobre mudanças de empresas para outros Estados e leu nota na qual uma delas (a Tilibra, de Bauru) nega a informação dada pelo ex-prefeito. Perguntou se ele não estava fazendo "terrorismo econômico".

"Quero dizer para você que foi um engano meu sim. O deputado estadual Carlos Braga, de Bauru, me deu essa informação. Por um pedido do governador, vão esperar a eleição. Se eu dei a informação errada eu quero me penitenciar", afirmou. "Mas não há que se negar que o Covas e o Alckmin promoveram o maior desemprego e a maior fuga de indústrias da história de São Paulo."

DÍVIDA
Nilson de Oliveira afirmou que a administração de Maluf na Prefeitura de São Paulo fez com que fosse reduzida substancialmente a capacidade de investimento da cidade.

Lembrou que Maluf assumiu com uma dívida de R$ 3 bilhões e a entregou com uma dívida de R$ 7 bilhões.
"É o mesmo juro pornográfico que aumentou a dívida interna brasileira de R$ 70 bilhões, herdada do governo Itamar Franco, para mais de R$ 700 bilhões para o sucessor de Fernando Henrique. Posso dizer o seguinte: eu deixei ativos na cidade. Eu mudei a cara de cidade de São Paulo."

"Eu não aumentei a dívida, ao contrário. Eu deixei para a cidade oito túneis, três grandes avenidas, quase mil ruas asfaltadas", elencou o ex-prefeito.

Canzian lembrou que o colunista José Simão chama Alckmin de "picolé de chuchu diet" e diz que Maluf deveria virar comediante da "Zorra Total", programa de humor da TV Globo.

"Pessoalmente, acho que o homem público tem que ser respeitado, seja o Alckmin, seja o Lula, seja o Ciro, seja o Garotinho, seja o Serra", disse.

"O Zé Simão pode ter certeza: se eu for governador, São Paulo vai mudar para melhor. Vou ser o melhor governador."


Ciro e Serra acirram duelo com acusações e disputa na Justiça
Candidatos trocam insultos e recorrem ao TSE para barrar iniciativas do adversário na TV

Ciro Gomes e José Serra protagonizaram ontem a mais intensa troca de ataques desde o início da campanha eleitoral. Pela manhã, em Fortaleza, o presidenciável do PPS definiu seu adversário, sem citar seu nome, como "aquele que não tem proposta e que está desesperado". Chamou-o da de "ministro da dengue", em referência à epidemia registrada no início do ano, quando o tucano ainda era titular da Saúde.

Serra retrucou à tarde, em Orlândia, interior de São Paulo. Disse faltar a Ciro "equilíbrio mental" e chamou-o de "governador do cólera", em alusão ao alto índice da doença no Ceará em 93, durante a gestão do atual candidato do PPS. O confronto entre os dois também foi intenso na Justiça, onde Ciro obteve vitória parcial. O TSE concedeu liminar proibindo a campanha de Serra de usar no horário eleitoral a imagem e a voz de Ciro no episódio em que ele chamou de "burro" um ouvinte de uma emissora de rádio -a cena foi ao ar no horário eleitoral do tucano anteontem e apareceu ainda ontem nas inserções de TV. O tribunal, entretanto, não julgou o pedido de direito de resposta no horário do PSDB solicitado pelo PPS. Em contra-ataque, os tucanos enviaram representação contra a presença de Ciro na propaganda dos candidatos ao Senado e ao governo de São Paulo apoiados por ele.

Os tucanos partiram ainda para nova ofensiva contra o ex-governador cearense Tasso Jereissati (PSDB), que deixou a campanha de Serra para apoiar Ciro


TSE proíbe Serra de usar imagem de Ciro
Liminar do tribunal veta repetição da entrevista em que candidato do PPS chama ouvinte de "burro"

O Tribunal Superior Eleitoral concedeu ao presidenciável Ciro Gomes (PPS) liminar que proíbe o candidato do governo, José Serra (PSDB), de usar em sua propaganda gratuita o áudio e a imagem do adversário na entrevista em que Ciro chamou de "burro" um ouvinte de rádio da Bahia.

A liminar, concedida pelo ministro auxiliar Caputo Bastos em representação movida por Ciro, tem efeito direto apenas sobre essa declaração.

Mas, em sua decisão, Bastos criticou duramente o uso do horário eleitoral na televisão e no rádio para desqualificar adversários. Sua posição poderá ser explorada politicamente na campanha.

"Creio que o eleitor não espera que o horário eleitoral seja utilizado para agressões, intrigas e/ou qualquer outra hipótese que desborde dos fins a que se destina o precioso tempo reservado pela Lei Eleitoral", disse o ministro.

O horário, completou, "não deve ser utilizado para shows pirotécnicos e/ou competição de recursos tecnológicos".

A liminar vale para os programas e para os comerciais inseridos ao longo da programação.
Durante todo o dia de ontem, no entanto, continuaram a ser veiculadas as inserções com a entrevista em que Ciro chamou o ouvinte da rádio de "burro".

Depois de ouvir a campanha de Serra, caberá a esse ministro examinar o mérito do processo e decidir se o governista deve ou não perder um minuto de seu programa para direito de resposta do adversário. Qualquer que seja o resultado, o perdedor poderá recorrer ao plenário do TSE.

Em razão dos prazos estipulados para os recursos e seu exame, o direito de resposta, caso seja concedido, não deverá ir ao ar antes da próxima quinta-feira.

Serra fez vários ataques a Ciro no programa de terça-feira, mas os advogados Torquato Jardim e Hélio Parente Filho só contestaram a veiculação da resposta ao ouvinte da rádio "Metrópole".

O argumento, aceito por Caputo Bastos, foi que, ao omitir a pergunta, a propaganda distorceu o sentido da frase e fez montagem de áudio, o que é proibido.

Os programas de Serra exibidos ontem à tarde e à noite não mencionaram Ciro. Nelson Biondi, publicitário do tucano, diz que o material foi entregue às 7h, antes, portanto, da decisão do ministro.

De acordo com Biondi, não houve mudanças na propaganda em razão da liminar. Segundo ele, o material não continha ataques por decisão da campanha tucana.

O áudio do "burro" foi utilizado nos programas de rádio de Serra da manhã e da hora do almoço. Depois da fita entrou o personagem Tony Show da Paraíba, âncora do horário tucano: "O pior é que ele não vai mudar. Vamos repetir para o povo não esquecer".

Ontem à tarde, a campanha de Ciro planejava recorrer contra a utilização do material no rádio.
No contra-ataque à movimentação judicial de Ciro, o advogado Eduardo Alckmin, de José Serra, entrou com nova representação no TSE contra a aparição do candidato do PPS no horário dos candidato s ao governo de São Paulo e ao Senado apoiados por ele.

Alckmin já havia contestado essa participação em outro processo, movido anteontem. O ministro auxiliar do TSE Peçanha Martins pediu informações a Ciro para decidir se concede a liminar.

Desde anteontem, são quatro processos: direito de resposta de Ciro contra Serra, representação do tucano contra a aparição de Ciro nos programas paulistas, direito de resposta da Petrobras contra Lula (PT), sem decisão, e uma representação de Serra contra a aparição de Lula na propaganda de Pernambuco. No último caso, o pedido de liminar foi negado.


Livre, Tasso pavimenta apoio da "direita" a Ciro
A oficialização da saída do ex-governador cearense Tasso Jereissati da campanha presidencial de José Serra (PSDB) e seu aceno público em direção ao afilhado político Ciro Gomes (PPS) tiveram como objetivo consolidar o apoio de setores da direita ao candidato da Frente Trabalhista.

Segundo integrantes da coordenação da campanha de Ciro, os recentes enfrentamentos do presidenciável com parte do empresariado e a turbulência no mercado levaram o ex-governador tucano a praticamente assumir em público o trabalho que já vinha executando nos bastidores da campanha do PPS à Presidência.

Diante do fraco desempenho de Serra na disputa, havia, entre os aliados de Ciro, o temor de que empresários e banqueiros acabassem optando pela candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por causa dos ataques do pepessista ao mercado financeiro nacional e internacional.

Peito aberto
Figura de destaque no mundo empresarial e político brasileiro, Tasso passa a atuar, agora de "peito aberto", como definiram integrantes da Frente, na cooptação de empresários, de políticos de partidos como o PSDB e o PFL, e de representantes do mundo acadêmico, como o economista José Alexandre Scheinkman.

A adesão do economista à candidatura Ciro, tida como fundamental para diminuir a desconfiança do mercado em relação ao candidato, foi acertada após reunião de cerca de nove horas. Além de Ciro e do próprio Scheinkman, apenas Tasso e um empresário participaram das negociações.

Estiveram também ligados ao tucano os rumores sobre a possibilidade de manutenção de seu amigo pessoal e presidente do Banco Central, Armínio Fraga, no comando da instituição durante parte de um eventual governo Ciro Gomes.

Embora hoje mais distante, a hipótese chegou a ser cogitada no auge da crise cambial que tomou conta do país nos últimos dias.

A expectativa na Frente Trabalhista é também a de que pefelistas até hoje alinhados a Serra migrem para a candidatura do pepessista com a "chegada" do tucano. Para os próximos dias, dão como praticamente certa, por exemplo, uma declaração favorável a Ciro do governador do Piauí, Hugo Napoleão (PFL).

PSDB
Avaliam que a presença de Tasso deverá facilitar ainda a construção de uma ponte com o PSDB. Uma estimativa otimista da Frente Trabalhista prevê que, com Tasso, Ciro terá o apoio de cerca de 85% do PSDB para o segundo turno da eleição.

Alguns apostam que uma debandada tucana poderá ser iniciada até mesmo antes disso, caso Serra não consiga melhorar sua posição nas pesquisas de intenção de voto após cerca de 10 dias de exposição no horário eleitoral gratuito. A adesão dos governadores trará como benefício adicional, acreditam, também a vinda de deputados ligados aos mesmos partidos em vários Estados.

Com isso, os aliados de Ciro esperam não só consolidar a ida do pepessista para o segundo turno, como também responder com atitudes às afirmações de Serra de que ele não seria um candidato confiável. A partir daí, pretendem concentrar atenções em Lula, atual líder nas pesquisas.


Garotinho diz que PT também recebeu verba
O candidato do PSB à Presidência da República, Anthony Garotinho, disse que foi democrático no repasse de R$ 59,5 milhões em verbas para prefeituras do interior do Rio durante os três últimos meses do seu governo, como acusou a assessoria da governadora Benedita da Silva (PT). "Liberei para prefeituras do PFL, do PSDB, e do próprio PT", disse, em entrevista em São José do Rio Preto (SP), onde fez campanha ontem à tarde. "Quem tinha os melhores projetos recebeu, o critério foi técnico e não eleitoral."

O ex-governador atribuiu a acusação ao insucesso do governo de Benedita, que seria responsável pela fraca performance eleitoral da petista na disputa estadual. Segundo as pesquisas, Rosinha, mulher do candidato do PSB à Presidência, lidera a corrida.

"Desse jeito tem que arrumar algum defeito no Garotinho", alegou, falando na terceira pessoa, vício comum nas entrevistas dos jogadores de futebol. "Fui 100% PT na liberação de verbas, pois a única prefeitura do partido também foi atendida no Estado."

Cercado por evangélicos, eleitores mais entusiasmados na visita à cidade, o ex-governador negou que usasse a religião como arma de campanha. "Eu tenho uma vida certinha, sou casado há 20 anos com a mesma esposa, sou pai de nove filhos, aí têm que botar um defeito nele: "é crente'", disse. "Eu não acho que isso é defeito. Melhor ser cristão do que ser ladrão."

Segundo Garotinho, sua campanha sofreu com o "boato" permanente de que renunciaria. Agora, com o programa do horário eleitoral, suplantou de vez essa "onda de intriga", avaliou.

O candidato do PSB visitou ainda ontem a tarde a cidade de Bebedouro, na região de Rio Preto. Hoje continua viajando pelo interior de São Paulo, onde conta com estrutura frágil de campanha, como reconhece a própria direção do partido.


PT utiliza cinegrafista para espionar campanha de Ciro
Presidenciável discute com pessoa contratada pelos petistas para filmá-lo

O PT do Ceará utilizou ontem uma prática da qual o partido sempre se considerou vítima: contratou um cinegrafista para filmar as ações de Ciro Gomes (PPS), adversário do candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva.

O cinegrafista do PT foi descoberto na Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará, que Ciro visitou para gravar parte de seu programa eleitoral. O coordenador da campanha de Lula no Estado, o deputado José Nobre Guimarães, assumiu a idéia da filmagem, que visaria provar que Ciro estava cometendo crime eleitoral ao fazer campanha dentro de prédio público, o que é vedado por lei.

"Recebemos um telefonema anônimo informando que as aulas da Escola de Saúde Pública tinham sido suspensas e que todos os alunos estavam lá vendo a campanha do Ciro", disse Guimarães -que é irmão do deputado federal José Genoino, candidato do PT ao governo paulista: "Eu mesmo fui impedido de entrar outro dia no Detran para fazer campanha por causa da lei, e isso tem de ser respeitado por todos".

A escola é mantida pelo Estado com cursos de especialização para médicos e enfermeiros. O deputado Guimarães afirma que a direção nacional do partido não sabia da filmagem, mas disse que já mandou uma cópia da fita para a coordenação geral da campanha de Lula. Guimarães nega que a filmagem tenha sido "clandestina".

Durante as gravações, Ciro empurrou a câmera do cinegrafista Pedro Paulo e chegou a xingá-lo: "Seu pilantra, você está sendo pago pelo [José] Serra".

A discussão começou quando Ciro percebeu que havia um cinegrafista sem crachá entre a equipe de filmagem de sua campanha e o cinegrafista de uma emissora de TV. O candidato, então, perguntou para quem ele trabalhava. Ele não se identificou: "Trabalho para mim mesmo. Aqui é um lugar público e tenho o direito de filmar o que quiser". A partir daí, começou uma discussão ríspida. Ciro afirmou que ele não tinha o direito de filmar sem se identificar.

No meio da discussão, Ciro, exaltado, colocou a mão na lente da câmera e empurrou o equipamento. O cinegrafista deixou o local em um carro com um adesivo de Lula. Logo após o incidente, Ciro disse que "só podia ser uma provocação a serviço da candidatura de algum outro candidato".

Em Porto Velho (RO), Lula ironizou a acusação de espionagem: "Ciro foi vítima do Paraguai, e não de espionagem, porque a seleção brasileira foi fazer o jogo lá [em Fortaleza], ele assistiu e a seleção perdeu." Segundo Lula, ele próprio está se policiando para ser "mais comedido" nas entrevistas pois "espiões existem em todo lugar".


O malufista que vota em Lula
O advogado Cláudio Augusto Ferreira di Marco, 24, é eleitor fiel de Maluf (PPB) e votou em Ciro (PPS) para presidente em 1998, mas este ano votará em Lula atraído pela "equipe" do petista. "Não é só o programa de governo do Lula que é interessante mas também as pessoas que estão com ele. No caso de Ciro, os apoios à sua candidatura surgiram agora. Já Lula está formando sua equipe há pelo menos seis anos."


'Propaganda ofensiva atrai mais o público'

Folha - Qual é o papel da propaganda política televisada numa campanha presidencial nos EUA?
Paul Waldman - Seu papel é enorme. Ela representa ao menos a metade do dinheiro gasto pelos candidatos nas campanhas. Os políticos têm em mente dois tipos de veiculação na mídia: o pago e o gratuito. Este é tudo o que sai nos jornais ou na cobertura feita pela televisão e pelo rádio.

A mídia paga é aquela que demanda dinheiro para ser veiculada. Ou seja, nos EUA, a propaganda na TV. Para os candidatos, o problema da mídia gratuita é que sempre há alguém entre eles e os eleitores, como os repórteres. São pessoas que filtram as informações que chegam ao público.
Ademais, em grandes países, como os EUA e o Brasil, o eleitorado raramente tem contato direto com os candidatos, o que reforça a importância da mídia.

Folha - É possível analisar a eficácia da propaganda política na TV?
Waldman - Há algumas variáveis que determinam seu grau de eficácia. No sistema americano, os candidatos vivem lutando contra a falta de atenção do público em relação às eleições. Eles sabem que a maioria das pessoas não pensa realmente no pleito e buscam atingi-la via televisão.

Num caso como o brasileiro, em que há horário gratuito na TV, as pessoas que assistem à propaganda eleitoral são de certo modo mais politizadas. Isso faz com que as mensagens passadas ao público sejam relativamente diferentes.

Aqui tudo é muito simples porque cada propaganda política só dura 30 segundos. No Brasil, em tese, como podem ter mais tempo, alguns candidatos têm a possibilidade de passar uma mensagem mais complexa, desenvolvendo um raciocínio elaborado.

Folha - As propagandas que surtem mais resultados positivos são as em que há ataques aos adversários ou aquelas em que os candidatos apresentam suas propostas?
Waldman - As duas formas não se excluem mutuamente. É possível que um candidato ataque seu oponente sem entrar no âmbito pessoal. Ele pode ser contrário a tópicos do programa de seu adversário e, assim, buscar atacar esses aspectos na televisão.

Se diz respeito a questões importantes, a crítica ao oponente é perfeitamente válida. Porém, se é gratuita, a acusação tende a aborrecer o eleitorado. É legitimo dizer: creio nisso e quero fazer aquilo enquanto meu oponente pensa isso e pretende fazer aquilo, mostrando aos eleitores que há verdadeiras diferenças de opinião.
Segundo estudos, as propagandas políticas que realmente marcaram os eleitores foram aquelas em que havia ataques. De acordo com psicólogos, tendemos a prestar mais atenção às coisas negativas. Do ponto de vista da evolução da humanidade, um homem das cavernas provavelmente ficasse mais preocupado com a presença de um tigre por perto do que com a de um belo pássaro.

Assim, a propaganda ofensiva tende a ser mais lembrada do que aquela em que um candidato expõe idéias. Se prestarmos atenção às propagandas eleitorais recentes, veremos que as que são positivas raramente falam de questões programáticas. Elas mostram o candidato com sua família, brincando com seu cachorro etc.
Normalmente, diferenças de conteúdo são tratadas em propagandas em que há verdadeiros ataques. O problema é que esse tipo de propaganda pode provocar o repúdio de uma parcela do eleitorado. Com isso, os candidatos procuram tomar cuidado, pois, às vezes, o feitiço vira contra o feiticeiro, o que nenhum marqueteiro quer que ocorra com seu cliente.


César, Tancredo, Collor, FHC e ...Ciro?
Tornou-se óbvio, após 20 anos de sucessões políticas conturbadas por crises econômicas recorrentes, que os partidos e mesmo a democracia brasileira não conseguem escapar do liquidificador eleitoral, de modo que são reduzidos a geléia.

Cristalizada, a geléia política costuma tomar a forma de um personagem que parece surgir acima das divisões políticas ou sociais. Ou parece o representante da vontade geral da nação, o homem de confiança das massas ou até o herói carismático.

A ficção se ancora na idéia de que esse "tertius", figura além da esquerda ou da direita, do povo ou da elite, é capaz de promover o bem geral sempre equilibrando todas as forças sociais e econômicas contrastantes. Considere os presidentes eleitos nos nossos 20 anos de crise: Tancredo Neves (85), Fernando Collor (89), Fernando Henrique Cardoso (94).

Foi preciso que a viga política da ditadura, o PDS, rachasse na forma do PFL para que Tancredo criasse sua coalizão, a suposta cola de um país fraturado pela crise econômica horrível e por protestos de massa por eleições diretas.

Tancredo morreu antes que se pudesse saber se conseguiria uma concertação à moda de FHC. O que se viu a seguir foi uma confusão de demagogia econômica e salve-se quem puder político, de fundo vulgarmente eleitoreiro, resultado de uma profunda crise de hegemonia política e social.

O fracasso da Nova República e de seus partidos (PMDB-tucanos, PFL) deu espaço para o então socialista PT e para um líder carismático, Collor, e seu salvacionismo cesarista ("deixar a esquerda perplexa e a direita indignada").

Com seu desdém pelas instituições políticas, foi o que mais encarnou o que a ciência política chama de cesarismo ou bonapartismo, vestindo até o figurino descrito por Marx em seu estudo clássico sobre o assunto: "a necessidade de executar diariamente um golpe de Estado em miniatura"; "provoca a confusão na economia" e "viola tudo o que parecia inviolável".

Collor recompôs a geléia política na sua pessoa, atraiu partidos da ordem (PFL), mas ofendeu interesses demais de uma vez só, sem bem atender a nenhum.

FHC foi o mais brilhante dos nossos "césares". Mudou o país a fundo, mas foi conservador. Concertou organizada e antecipadamente a política do centro à direita, que soldou com seu plano de estabilização instável e de "conflito social mínimo". A tática acabou por represar problemas (déficits e miséria) que resultariam em situação econômica explosiva.

Tais "césares" compõem nosso calidoscópio conservador. Os vidrinhos são sempre os mesmos, mas as imagens parecem sempre diferentes a cada giro eleitoral.

Nesta eleição, o caso mais interessante por ora é o de Ciro Gomes. O outsider da pequena candidatura, o herói popular que teria o dom do novo e de enfrentar os mercados, logo foi absorvido por um braço do polvo gelatinoso de um partido da ordem (PFL). Os cacos do centrão que governa o país há 17 anos, rachados entre José Serra, Ciro e estilhaços ainda soltos, começam a se colar.

Ciro agora tenta se conectar à tecnocracia (economistas) respeitável, já têm base empresarial e negocia com parte dos líderes da finança a chancela final para entrar no clube da ordem, ainda que com sua fachada populista.

A maior parte da sociedade civil assiste a tudo bestializada. Líderes políticos, e não partidos, lançam suas ima gens ao léu a fim de obter capital midiático e servir de rótulo a outra coligação acima do bem do mal. Mas conservadora.


Artigos

Em busca de candidato
Clóvis Rossi

MONTEVIDÉU - Cruzei na noite de terça-feira com dois reluzentes nomes do "business" tupiniquim que vieram a Montevidéu para uma reunião com seus congêneres uruguaios e cujas identidades preservo.
Tentei fazer perguntas, velho e insuperável hábito profissional, mas nem tive tempo para sacar do coldre a primeira questão. Um depois do outro, os empresários perguntaram o que deveriam fazer no segundo turno da eleição presidencial brasileira (ficou claro, embora implícito, que, no primeiro turno, estão com José Serra e não abrem).

Disse-lhes que, perdidas as ilusões de que alguém consiga resolver os problemas da pátria no que me resta de vida útil, passei a votar pragmaticamente (ou fisiologicamente, dirão os inimigos, com certa razão): o candidato que me oferecer a melhor chance de atender o telefone, se e quando eu telefonar para o Palácio do Planalto, leva meu voto.

Não resolve os problemas do país, mas resolve o meu, que é o de obter informações e/ou opiniões e repassá-las para o leitor.

Acrescentei que nenhum dos quatro candidatos principais me assusta, diferentemente do que ocorria na eleição de 1989, na qual Fernando Collor era, visivelmente, um perigo público e, não obstante, tivera o apoio em massa do empresariado.

Não creio que meu critério de seleção de candidato entusiasme empresários. Eles historicamente tiveram acesso fácil ao rei e nada leva a crer que será diferente a partir de 2003. Não é por aí que se inquietam.
Mas a conversa foi muito reveladora do estado de ânimo dos homens de negócio. A grande maioria tem um candidato (Serra), mas parece já não acreditar nas suas chances. E, embora Luiz Inácio Lula da Silva ainda lhes provoque urticária, já não o rejeitam tanto quanto antes a ponto de sustentarem qualquer anti-Lula que se apresente.

Por fim, não conseguem confiar em Ciro Gomes o suficiente para votar nele ou para apoiá-lo.
Parece uma situação inédita -e rica do ponto de vista político.


Colunistas

PAINEL

Medida preventiva
Tasso Jereissati, que declarou apoio a Ciro, afastou Nizan Guanaes da campanha do PSDB-CE. Na avaliação do tucano cearense, o marqueteiro, que comanda a publicidade de Serra, poderia virar uma espécie de espião serrista em seu grupo político.

Quintal tucano
Outro motivo para o afastamento de Nizan da campanha do PSDB-CE foram os ataques da publicidade de Serra a Ciro, considerados "baixos" por Tasso. Oficialmente, o tucano rompeu com o marqueteiro porque teria havido "atrasos na entrega do material de campanha".

Outro lado
A assessoria de Nizan nega que ele tenha sido dispensado por Tasso. Diz que não havia contrato assinado para que o marqueteiro fizesse a campanha do PSDB-CE. O que estava previsto seria a produção de jingles e outdoors. O que teria sido feito e entregue no prazo combinado.

Pequena vingança
Serra irá ao CE em 5 de setembro, em comício organizado em Crato por Sérgio Machado, candidato do PMDB à sucessão estadual. Após Tasso ter rompido oficialmente com a campanha do PSDB, o presidenciável não vê mais constrangimento em subir no palanque do PMDB.

Querido mestre
ACM envia diariamente várias reportagens por fax a Ciro. Por meio de bilhetes, tem aconselhado o candidato a ler sobre temas de relevo na campanha, principalmente na área econômica.

Café pequeno
A promessa feita por Ciro no horário eleitoral de construir 300 mil casas populares por ano representa apenas 5% do déficit habitacional no país, segundo estudo de 2000 da Secretaria de Política Urbana da União.

Fica para depois
Preocupado com as brigas internas em sua aliança, Ciro pediu para ACM não responder aos ataques de Roberto Freire.

Promessa virtual
O PT prometeu há um mês colocar no site de Lula balanço das doações recebidas para a campanha presidencial. Mas até ontem não havia nada na internet.

Agenda própria
Em pleno calor da disputa eleitoral, Nelson Jobim, presidente do TSE, tirou dez dias de licença. Foi à China participar de um seminário sobre legislação eleitoral. Volta apenas em setembro.

Barba e cabelo
Flávio del Comuni, que havia deixado o cargo de representante de Pedro Malan (Fazenda) em SP após ter organizado uma reunião de empresários com Ciro (PPS), agora também foi exonerado do cargo de assessor especial de Everardo Maciel (Receita). Novamente, "a pedido".

Idéia fixa
Questionado por repórteres sobre quem é o melhor candidato a presidente, Maluf (PPB-SP) não se conteve: "A modéstia me impede [de responder]".

Memória seletiva
O vereador Antonio Goulart (PMDB-SP) cobra de Marta (PT) que reconheça publicamente que ele é o autor das leis que instituíram a distribuição obrigatória de material escolar e uniformes para estudantes. Diz nem ter sido convidado para o ato de lançamento dos kits.

É dando que se recebe
Candidato a deputado federal, Carlos Quirino (PMDB-SP) foi claro no programa eleitoral no rádio: "Trabalharei para as cidades que me elegerem".

Visita à Folha
Armando Monteiro de Queiroz Neto (PMDB-PE), deputado federal e presidente eleito da Confederação Nacional da Indústria, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Luiz Sales, diretor da LMS Counseling, e de Iris Campos, diretora-executiva da FSB Comunicação.

TIROTEIO

De Antônio Cabrera (PTB), candidato ao governo de São Paulo, sobre Serra entrar no TSE contra uso da imagem de Ciro no seu programa eleitoral:
- Serra está com inveja. Geraldo Alckmin preferiu esconder que ele é seu candidato a presidente. Só com lupa é possível enxergar o nome de Serra no material de Alckmin.

CONTRAPONTO

Morro em festa
O candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes (PPS), foi na última terça-feira à favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, para gravar comerciais de TV para o horário eleitoral.
Quando o presidenciável se posicionou para dar um depoimento para a equipe de filmagem, começaram a espocar vários fogos de artifício. A polícia diz que essa é uma estratégia que os traficantes usam para anunciar a presença de policiais ou autoridades na favela.
Ciro esperou que o barulho parasse. Quando ia gravar, tudo começou de novo. O presidenciável interrompeu novamente a gravação. Um dos líderes da comunidade, cicerone do candidato, comentou:
- O pessoal está fazendo uma homenagem ao senhor.
Ciro respondeu, sorrindo:
- Então eles podiam me homenagear menos, porque eu preciso trabalhar...


Editorial

CANDIDATOS RASTREADOS

Este jornal publica hoje a primeira de uma série de pesquisas que o Datafolha fará para acompanhar a opinião de uma parcela de pessoas que alcança metade do eleitorado. Conhecida como "tracking" (rastreamento, em inglês), o seu objetivo principal será o de monitorar, através de entrevistas telefônicas feitas com o eleitor em sua residência, o desempenho dos presidenciáveis no horário eleitoral gratuito.

No Brasil, quando se faz rastreamento telefônico, lida-se necessariamente com uma fatia da população com maior acesso a bens de consumo e a informações e regionalmente mais concentrada no Sudeste. Apesar da extraordinária ampliação do acesso ao telefone fixo nos últimos anos, a porção do eleitorado que dispõe desse bem em seu domicílio ainda se limita a 54%. Fica de fora do "tracking", portanto, cerca de metade do eleitorado, de perfil socioeconômico menos privilegiado.

Nesse segmento mais elitizado, tendo a sondagem sido feita por telefone, o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, fica com 32% das intenções de voto; o petista Lula amealha 27%; o governista José Serra, 17%; e Anthony Garotinho, 11%. A margem de erro é de quatro pontos percentuais, para cima ou para baixo. Como esta Folha publicará resultados novos a cada dia, será possível identificar quase instantaneamente tendências de mudança -sempre nesse universo parcial.

Mas o trunfo imediato da publicação dos resultados do rastreamento do Datafolha será o de, ao democratizar o acesso a informações, ajudar a sanar uma distorção. Bancos, corretoras e assessorias de candidatos já têm acesso cotidiano a dados desse tipo, embora não os divulguem. Muitas vezes eles são usados como informação privilegiada para especular no mercado financeiro. Esse tipo de expediente ficará mais difícil a partir de agora, com mais esse serviço que a Folha oferece ao leitor.


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08/23/2002


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