Agenda dos candidatos à presidência
Agenda dos candidatos à presidência
GAROTINHO (PSB)
RIO DE JANEIRO. O ex-governador apresenta às 15h o bônus de campanha de R$ 1 no escritório do comitê eleitoral, no Centro.
CIRO (FRENTE TRABALHISTA)
RIO DE JANEIRO. O candidato será entrevistado no Jornal Nacional, da Rede Globo. Às 21h, janta na Churrascaria Tourão.
LULA (PT-PL)
GOIÂNIA. O petista participa às 17h de reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
SERRA (PSDB-PMDB)
SÃO PAULO. O tucano passa o dia reunido com assessores.
‘NYT’: Novo perfil de Lula é recebido com ceticismo
NOVA YORK. A imagem mudou, mas a ideologia talvez tenha mudado, talvez não. O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, foi tema da principal reportagem da seção internacional da edição de ontem do jornal “The New York Times”. Sob o título “Remodelação de esquerdista no Brasil é recebida com ceticismo”, a reportagem destaca o fato de que, após três derrotas eleitorais, “um candidato deriva para o centro”, mas “investidores estrangeiros e a classe média brasileira, de cujos votos ele precisa para vencer, continuam a se perguntar se a remodelação é apenas cosmética”.
O texto é acompanhado de uma foto de Lula conversando com o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Fernando Bezerra, e de um gráfico sobre a evolução dos números nas pesquisas eleitorais.
Frases de Lula publicadas na imprensa brasileira foram pinçadas pelo correspondente do jornal no Rio, Larry Rohter, como “Eu penso que mudei, mudei muito, e penso que o Partido dos Trabalhadores também está mais maduro, muito mais consciente”. Mas, segundo Rohter, “as razões do ceticismo que tanto exasperam o sr. Silva são fáceis de discernir”. O correspondente cita um artigo publicado pela revista “Veja” em que as posturas de reformulação do candidato são seguidas de uma “cláusula de restrição” que “parece pretender reassegurar a base esquerdista do partido de que Lula não a trairá”.
Jornal vê guinada do PTem relação à dívida externa
A estrutura expositiva das idéias moderadas de Lula é acompanhada por senões do autor. O candidato “agora promete que, se eleito, nada fará para abalar a confiança dos investidores. Mas seu partido é uma aglomeração esquerdista fracionada que vai de uma facção trotskista a um grupo de socialistas de estilo europeu. Sua plataforma exige uma ‘ruptura necessária com o atual modelo econômico europeu’, para evitar ‘subordinação aos interesses e humores do capital financeiro globalizado’”. Lula também diz que não dará calote na dívida externa, “uma mudança das posições que o partido tomava tão recentemente quanto no ano passado. Ele, porém, promete ‘renegociar’ essas obrigações”. E, enquanto o candidato afirma que não é contra uma zona de livre comércio nas Américas, “diz que o Brasil só se juntará a ela se ele a considerar justa e se não excluir Cuba.”
Rohter descreve José Alencar, escolhido para candidato a vice-presidente, como “um magnata têxtil e senador que pertence a um pequeno partido de direita afiliado a grupos de protestantes evangélicos”. A escolha, escreve o correspondente, foi mal recebida pelos “fiéis do PT” que compareceram à convenção de homologação da chapa.
O correspondente do “New York Times” salienta que Lula evita as situações em que poderia esclarecer as contradições de sua mensagem. O próprio Rohter fez mais de 20 pedidos de entrevista, ao longo de dez meses. Nem ele nem Duda Mendonça, assessor de marketing do candidato, aceitaram ser entrevistados.
O presidente do PT, José Dirceu, é citado por Rohter, dizendo que os objetivos do partido permanecem: apenas os métodos mudaram. O principal objetivo continua sendo um novo contrato social. Lula “não está propondo um socialismo no Brasil”, segundo Dirceu, para quem a ascensão ao poder de alguém cujo sobrenome é Silva é “uma ruptura cultural muito importante no Brasil”.
A reportagem conta a origem humilde de Lula, desde Pernambuco até a conquista da liderança sindical em São Paulo. Contra a biografia, para quem deseja administrar um país de dimensão continental, está o fato de Lula nunca ter tido cargo executivo, “levando oponentes a questionarem sua habilidade para governar uma nação complexa de 175 milhões de habitantes”.
Mulheres em maioria nas urnas
Os candidatos à Presidência têm razão em apostar no voto feminino e procurar mulheres para serem parceiras de chapa. Desde 1932, quando um decreto-lei do presidente Getúlio Vargas autorizou o voto feminino, pela primeira vez em uma eleição presidencial o número de mulheres que comparecerão às urnas em 6 de outubro será superior ao número dos homens. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), deverão votar este ano 58,752 milhões de mulheres, contra 56,450 milhões de homens: 2,3 milhões de votos femininos a mais.
O TSE estimava para este ano um total de apenas 114 milhões de eleitores. No entanto, em todo o país 115,2 milhões de leitores, nove milhões a mais que em 1998, vão eleger deputados federais e estaduais, senadores, governadores e o presidente da República. Os eleitores já representam 67,76% da população do país.
— Chegou a hora de as mulheres chegarem ao poder! — disse ontem o candidato tucano José Serra, após o discurso da candidata a vice em sua chapa, Rita Camata (PMDB), no comício de Ceilândia, cidade-satélite do Distrito Federal.
O cientista político Paulo Kramer acha que a supremacia do eleitorado feminino vai influenciar o comportamento dos candidatos a presidente, levando-os a serem mais sensíveis em relação à área social.
— Nesse sentindo, a candidatura da ex-governadora Roseana Sarney era perfeita para o governo. Ela representava a compaixão social, a capacidade administrativa, que toca o eleitorado feminino. O homem é monotarefa e a mulher se liga em várias tarefas ao mesmo tempo — disse.
Aumenta número de eleitores jovens
No dia 20 o TSE divulga os números definitivos e detalha o perfil dos eleitores, inclusive por região. Mas já se sabe que, devido a uma ampla campanha entre os jovens, feita principalmente por líderes de igrejas evangélicas, o número de eleitores entre 16 e 17 anos pode ter crescido em, no mínimo, 1,2 milhão, em relação à eleição passada.
No Distrito Federal, dezenas de jovens evangélicos percorreram durante vários meses escolas, parques de diversões, shows e cultos religiosos à caça de eleitores jovens. Foi um movimento silencioso feito em diversas capitais e cidades grandes que acabou tendo um bom retorno e um aumento expressivo de novos eleitores nesta faixa etária.
Os números mostram ainda que as estatísticas sobre melhoria no nível de educação da população já refletem no perfil dos eleitores. Nas eleições de 1998, as pessoas que tinham o Primeiro Grau completo ou incompleto e os analfabetos representavam 44% do universo dos eleitores. Este ano, o percentual caiu para 40%. Os eleitores de nível médio representavam 23% e, agora, este percentual deverá se elevar para 28%. Já os eleitores de nível superior completo e incompleto deverão ficar entre 9% e 10%.
Segundo Paulo Kramer, isso leva a um perfil do eleitorado que será mais reflexivo, que pensará mais na hora de escolher o seu candidato, e as conseqüências desta escolha:
— As pesquisas qualitativas encomendadas pelos candidatos mostram que o eleitor está mais interessado naquele que se preocupa mais com a área social. E não quer saber do candidato que faz promessa da boca para fora. Quer saber daquele que diz que vai fazer, e como fazer, de onde vai tirar os recursos e que será capaz de administrá-los.
Ciro faz comício para 60 mil pessoasno Ceará e se diz decepcionado com FH
SOBRAL (CE). O candidato da Frente Trabalhista (PDT, PTB e PPS), Ciro Gomes, deu a largada na noite de sábado na sua campanha à Presidência num comício que reuniu 60 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, em Sobral, cidade onde ele passou a infância e a adolescência. O palanque de Ciro teve de tudo: a família reunida, a atual mulher, Patrícia Pillar, a ex-mulher Patrícia Gomes, show do conjunto Asa de Águia, candidatos dos três partidos da Frente — e não faltou espaço nem para políticos do PSDB, partido do presidenciável José Serra.
Além de prefeitos tucanos, também esteve presente o líder do governo na Assembléia Legislativa do Ceará, Moésio Loiola, maior aliado do ex-governador Tasso Jereissati no Legislativo local. Moésio não só subiu no palanque como usou o microfone para pedir votos para Ciro.
A retribuição de Ciro foi imediata. No final do seu discurso, depois de pedir votos para Patrícia Gomes, candidata ao Senado, pediu também para que o povo de Sobral ajude a eleger Tasso Jereissati para a outra vaga de senador. Só evitou pedir votos para o candidato ao governo do PSDB, Lúcio Alcântara, porque a Frente Trabalhista tem outros dois candidatos ao governo — do PDT, Pedro Albuquerque, e do PTB, Claudia Brilhante.
— Já deixei bem claro para todo mundo que eu voto no Lúcio, só não citei o nome dele para não ser indelicado com meus colegas da Frente — explicou o presidenciável.
Candidato critica ingerências do mercado
Num discurso rápido, Ciro criticou o atual governo, disse ter se decepcionado com a atuação do presidente Fernando Henrique e prometeu que, se eleito, não vai permitir que o mercado internacional dite regras ao Brasil como o percentual de investimentos na área social, a taxa de juros e o modelo de controle da inflação.
Ciro prometeu ainda a retomada do desenvolvimento, uma melhor distribuição de renda e a melhoria da saúde, da educação e do valor da aposentadoria pago pela Previdência Social.
— Não vai acontecer mais, quando eu me tornar presidente, de as nações e as potências estrangeiras virem aqui dizer quanto o Brasil vai gastar com a educação das nossas crianças, quanto vai gastar com a saúde do nosso povo. E não serão os agiotas internacionais que definirão a taxa de juros e a forma de o Brasil praticar o controle da inflação — prometeu.
O candidato da Frente Trabalhista lembrou as promessas feitas por Fernando Henrique na campanha de 1994, expressas pelo símbolo da mão espalmada representando os cinco principais pilares (saúde, educação, segurança, emprego e agricultura), e destacou que todos os itens pioraram no atual governo.
— Eu ajudei a implantar o Real quando o plano tinha um crescimento do 6% ao ano, com a menor taxa de desemprego dos últimos 30 anos. Depois me decepcionei com o governo Fernando Henrique. Eu acreditei que era verdade a promessa de melhorar emprego, segurança, agricultura, saúde e educação.Todo mundo se lembra daquela mão espalhada pelos cartazes, e todas essas áreas pioraram.
Numa crítica indireta ao adversário, o ex-ministro da Saúde José Serra, o candidato lembrou o retorno de epidemias de doenças que chamou de medievais, como dengue e malária, e apontou como causa a falta de cuidado com a saúde pública.
Antes do comício, Ciro recebeu a visita do ex-campeão de Fórmula-1 Nélson Piquet, que lhe declarou apoio e colocou à disposição da campanha seu jatinho particular.
Estiveram ainda no comício de Ciro o presidente do PPS, Roberto Freire (PE), o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ), e o líder do PPS na Câmara, João Hermann (SP).
Jingle de Serra destaca defesa do Plano Real
BRASÍLIA e TERESINA (PI). Em ritmo de samba, o novo jingle de campanha do candidato tucano José Serra estreou ontem em Ceilândia, cidade-satélite a 33 quilômetros de Brasília, num comício organizado pelo governador Joaquim Roriz, candidato do PMDB à reeleição. Foi o segundo evento de rua do tucano, após uma estréia pouco animada no sábado, no Piauí, onde participou de dois comícios que não reuniram mais de cinco mil eleitores.
O jingle apresentado em Brasília abandona as referências à crise econômica e as comparações com a combalida Argentina, usadas na primeira versão, apresentada na convenção tucana. Enfatiza o currículo de Serra e sua ligação com o governo, vinculando-o ao Plano Real.
Agora, o samba que anima os comícios do candidato diz no refrão: “Foi deputado, senador; o seguro-desemprego foi o Serra quem criou/economista internacional, foi ministro duas vezes; trabalhou pelo real”.
Apesar da mudança de tom, Serra não deixou de mencionar, ainda que rapidamente, o país vizinho.
— O Brasil tem rumo. Se sair, pode descarrilhar, como a Argentina — disse, prometendo crescimento econômico.
O tucano arriscou desajeitados passos de dança, ao lado de Roriz, de Rita Camata, sua companheira de chapa, e de Maria de Lurdes Abadia, candidata a vice do governador. Começou o discurso com a promessa de, se eleito, empenhar-se para levar para Brasília os Jogos Olímpicos de 2012.
De acordo com a PM, havia cerca de dez mil pessoas no comício, no momento dos discursos de Serra, Rita e Roriz. Mais tarde, durante o show da dupla sertaneja Rio Negro e Solimões, a PM corrigiu a estimativa e disse que o público era de 50 mil pessoas, exatamente a expectativa inicial dos organizadores que, no entanto, calcularam o público em cerca de 25 mil.
Roriz: “Nesta cidade ninguém passa fome”
Primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto em Brasília, Roriz usou o prestígio junto ao eleitor para pedir votos para Serra. Chegou a dizer que só decidiu concorrer à reeleição porque teria um aliado como Serra no Planalto. Roriz assumiu o estilo paternalista de fazer política, com distribuição de cestas básicas, leite e pão aos carentes, dizendo-se um discípulo de Betinho, o sociólogo Herbert de Souza, que criou a campanha contra a fome.
— Posso ser paternalista, mas nesta cidade ninguém passa fome — disse Roriz.
A aliança entre ele e Serra é inédita. Em 1998, o tucano declarou sua preferência pelo petista Cristovam Buarque, adversário de Roriz.
Rita lembra sua origem humilde e rural
Rita Camata dirigiu-se principalmente às mulheres. Contou sua origem humilde no Espírito Santo, quando plantava feijão com o pai . E fez uma promessa, em nome de Serra: universalizar a pré-escola.
No comício que inaugurou sua campanha, em Teresina, Serra afirmou que era o candidato do governo, mas será o presidente que mais vai mudar o Brasil. Com o governador Hugo Napoleão (PFL) e o prefeito Firmino Filho (PSDB) ao seu lado no palanque, o tucano falou para cinco mil pessoas. Ele lembrou que foi pelo Piauí que Juscelino Kubitschek começou sua campanha para a Presidência da República.
Primeiro comício de Garotinho só reúne cem
RECIFE. O PSB de Pernambuco impôs ontem um vexame ao candidato do partido à sucessão presidencial, Anthony Garotinho: depois de prometer reunir cinco mil pessoas no evento “Vamos abraçar o presidente”, os socialistas não conseguiram juntar mais de cem naquele que seria o primeiro comício oficial do ex-governador do Rio no estado. Programado para a manhã de ontem, o encontro terminou com cinco versões diferentes para explicar o fracasso. Sem esconder o desapontamento, Garotinho afirmou que “em campanha o importante é caminhar”.
O candidato chegou a Recife na noite de sábado e participou de um show gospel no Marco Zero, no bairro Recife Antigo. A direção local do PSB calculou que o evento, que teve a participação da cantora Mara Maravilha, chegou a reunir à tarde cerca de 20 mil pessoas. Mas a Polícia Militar estimou o público em sete mi l até o início da noite.
Discurso no sábado foi para cerca de mil pessoas
Como o desembarque de Garotinho sofreu atraso, ele discursou para cerca de mil pessoas às 22h40m. Em seguida, recolheu-se ao hotel onde estava hospedado, na Praia de Boa Viagem, e amanheceu ontem numa igreja evangélica.
No fim da manhã, dirigiu-se a Jaboatão dos Guararapes, a 18 quilômetros de Recife. Participou de uma carreata, seguindo depois para uma quadra de esportes, onde esperava falar para no mínimo cinco mil pessoas.
O número fora calculado pelo coordenador da campanha em Pernambuco, Dilton da Conti. Ex-secretário de Administração do ex-governador Miguel Arraes (PSB), Dilton é o vice do candidato do partido ao governo estadual, Humberto Barradas. Ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Barradas foi o principal organizador do comício que não houve. As bandeiras vermelhas com o número 40 sobraram por falta de militantes para agitá-las, e centenas permaneceram enroladas.
Organizadores dão diferentes explicações
Dilton atribuiu o tamanho do público a uma falha dos carros de alto-falantes que circularam em Jaboatão convocando o povo: o locutor teria se enganado quanto ao local do comício. Já Barradas disse que o pequeno número de pessoas deveu-se a um “desencontro da militância”. Dez minutos depois, ao discursar, afirmou que seus adversários “enviaram 40 ônibus e levaram os militantes para piqueniques”. Não citou nomes.
Uma de suas assessoras, Socorro Rigaldi, explicou que cerca de 1.500 pessoas teriam sido retiradas da quadra e levadas em coletivos para a eleição do Conselho Tutelar da Infância e Adolescência. Mas moradores da rua onde ocorreu o evento informaram que os únicos ônibus que estacionaram em frente à quadra ontem foram os dois que estavam lá no momento em que Garotinho chegou. Já o deputado Eduardo Campos (PSB-PE) disse que o comício foi substituído pela carreata, mas que militantes insistiram para Garotinho ir até a quadra de esportes onde não havia palanque. O candidato usou o microfone no primeiro degrau da arquibancada, e o som falhou diversas vezes.
— A campanha está apenas começando. Não houve fracasso nenhum, importante foi a carreata. Em campanha importante é caminhar, e isso estou fazendo — disse Garotinho.
A carreata também teve falhas: Garotinho só contou com serviço de carro de som a menos de 300 metros do bairro de Cajueiro Seco, onde deveria ter feito seu primeiro comício, já que o do sábado foi considerado um show gospel.
Quando o ex-governador desembarcou em Recife, os repórteres perguntaram se não seria um erro estratégico dirigir sua campanha só a evangélicos já que o eleitorado brasileiro tem diferentes religiões:
— Mas hoje (sábado) não vou a um comício. Vou participar de um show gospel, organizado pela Rede Melodia de Rádio. O primeiro comício quem sabe quando será é o presidente nacional do PSB, Miguel Arraes.
Ao ser indagado sobre a data do comício, Arraes respondeu com outra pergunta:
— E isso de hoje (sábado) não é comício não?
Arraes participou do show de sábado, mas ontem não foi a Jaboatão porque estava gripado, segundo seu neto.
Ontem mesmo Garotinho viajou para Santarém (PA).
Artigos
Na penúria
Luiz Carlos Gonçalves Lucas
Dados recentemente divulgados pela Andifes compõem um retrato da educação pública federal brasileira muito diferente daquele que nos é apresentado pela propaganda governamental. Representam o reconhecimento de uma realidade há muito percebida por todos que, no cotidiano de nossas escolas e universidades, defrontam-se com prédios, instalações, bibliotecas, laboratórios, equipamentos insuficientes e malconservados, com a escassez de recursos humanos e com a proporção crescente de docentes substitutos e servidores técnicos administrativos terceirizados nos quadros de pessoal.
A expansão das vagas nos estabelecimentos públicos tem sido modesta, se comparada com a multiplicação de fabriquetas privadas de diplomas induzida pelas práticas permissivas do atual governo. Essas práticas consolidam uma rede de interesses que tem colocado sob suspeita o Conselho Nacional de Educação e o próprio MEC. Delas decorre uma situação extremamente grave, na qual a melhora de alguns índices referentes ao aumento das matrículas (ainda baixíssimo, segundo padrões internacionais) tem como contrapartida a perda de qualidade ou mesmo o estímulo governamental à proliferação de cursos aligeirados e de iniciativas com finalidades meramente comerciais.
O que preocupa, hoje, não é unicamente saber que um contingente cada vez maior de pessoas esteja sendo levado a comprar a preços altos uma mercadoria educacional lastimável. É também o fato de que as próprias instituições federais estejam sendo submetidas a uma política de deterioração programada. Elas têm resistido, e são ainda capazes de oferecer, em muitos de seus cursos, uma formação comparável à de alguns bons centros mundiais. Considerada a penúria em que se mantêm, fazem um trabalho comparável ao de artistas plásticos capazes de transformar sucata em obras de talento. Mas têm dependido crescentemente da produção de recursos próprios.
Evidentemente, nem todo autofinanciamento das universidades públicas é ética ou legalmente questionável.
Mas a experiência tem mostrado que, enquanto diminuem as dotações da União, aumenta a realização de convênios que transferem para a órbita privada a capacidade de decisão sobre a educação pública. Estamos diante de um processo que poderá alterar significativamente a natureza das universidades.
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO - Ilimar Franco
O terror no vazio
O chamado terrorismo econômico não mudou o ânimo dos eleitores. O sentimento de mudança persiste conforme os dados da recente pesquisa Datafolha. A pregação da argentinização e a profecia de que com a oposição virá o caos não empolgaram. A população, que deu um voto de confiança ao governo na crise pré-eleições de 1998, parece não estar disposta a conceder novo aval.
A estratégia eleitoral defensiva adotada por todos os candidatos de oposição funcionou, até agora, como uma blindagem contra o discurso do pânico. Todos eles assumiram compromisso com o controle da inflação e a austeridade fiscal. Ficou mais complexo para o eleitor associar o alerta do governo com o discurso da oposição.
— O terrorismo econômico não vai colar desta vez. O governo teve quatro anos para consertar a economia. O presidente Fernando Henrique pediu para ser reeleito para dar um jeito na crise. O problema não foi resolvido e agora estão pedindo mais quatro anos — resume o cientista político, Paulo Kramer.
Apenas 34% dos entrevistados, segundo o Datafolha, estão dispostos a mudar o voto no caso de agravamento da crise econômica. Esse percentual não é desprezível. Mas é inquietante para o candidato do governo, José Serra, o fato de que deste percentual 26% mudariam o voto para Ciro Gomes. Enquanto o tucano é a opção para apenas 19% desses entrevistados.
Para explicar por que o terrorismo econômico não vingou há ainda a própria realidade. O governo garante que a inflação está sob controle, que a tendência é de equilíbrio das contas externas e que a economia do país é mais forte do que a da Argentina. Assim, quando o JP Morgan faz sua análise de risco, está se referindo apenas a uma parte da economia, a que está relacionada com o desempenho dos títulos da dívida pública brasileira negociados no mercado externo. Os investidores não têm a mesma percepção do risco Brasil. Há ainda outro dado surpreendente na pesquisa Datafolha: o pessimismo quanto ao crescimento da inflação e do desemprego. Pelo visto, as pessoas es tão esperando pelo pior, independentemente de quem seja o eleito em outubro.
O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), anuncia amanhã em Uberaba (MG) que vai se engajar na campanha do candidato do PPS, Ciro Gomes.
Sestroso
Candidato à reeleição no Piauí, o governador Hugo Napoleão (PFL) tomou duas decisões: não usar na campanha o avião Xingu II do governo e conceder o mínimo de entrevistas para a televisão. A primeira delas foi adotada apesar de a legislação, no caso de reeleição, permitir que o governante use a aeronave oficial pagando o combustível e a diária dos pilotos.
— Poderia, mas não vou usar o avião para não dar o gosto de me fotografarem. Poderão me acusar injustamente de usar a máquina e ficará a dúvida na cabeça do eleitor — explica.
Numa campanha, todos os candidatos querem aparecer na mídia. Por isso, a assessoria de Napoleão quis agendar uma entrevista coletiva para marcar o início da campanha. O governador desmarcou e avisou que quer distância das câmeras. Ocorre que as emissoras devem dar, pela lei, o mesmo tratamento a todos os candidatos. Se um deles dá entrevista é preciso ouvir os outros também.
— Como sou o mais conhecido, se der entrevista na TV vou dar vez aos outros também — explica.
Autocrítica
As investigações do Ministério Público em prefeituras petistas e a ação da Polícia Federal em Santo André trincaram as relações do PT com as duas instituições. O deputado José Genoino (PT-SP) reconhece que seu partido foi ingênuo e diz que os dois órgãos não têm controle público. Os petistas votaram contra a chamada Lei da Mordaça, que pretendia justamente coibir o abuso de poder do qual se queixam agora.
Desencanto
Todos os partidos tiveram problemas para conseguir candidatos a deputado federal. O mandato já foi um dos mais cobiçados, mas hoje não é mais atraente. Para o secretário-geral do PSDB, deputado Márcio Fortes (RJ), há várias razões para o desinteresse. O salário não compensa, a campanha eleitoral é muito cara, os políticos não têm boa imagem e o denuncismo provoca calafrios em muita gente boa.
A EXPECTATIVA entre os serristas é de que o presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Itamar Franco se reaproximem na terça-feira durante as comemorações pelos oito anos do Real e pelos 182 anos da Associação Comercial do Rio de Janeiro. O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), está empenhadíssimo na reconciliação.
O LÍDER do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP), estará em Brasília esta semana para divulgar o dossiê das promessas não cumpridas pelo governo Fernando Henrique. Os destaques são o não-cumprimento das metas de emprego e de exportação.
O DESEMPENHO do ex-prefeito Paulo Maluf nas pesquisas de intenção de votos para as eleições ao governo paulista inspirou o deputado Heráclito Fortes (PFL-PI). Ele diz que, quando se trata de política, o fundo do poço tem mola.
Editorial
NOVO COMEÇO
O economista Carlos Lessa assume oficialmente, esta semana, o cargo de reitor da UFRJ. Promete planos emergenciais para o que considera ser uma situação de calamidade no campus universitário.
As universidades públicas estão, mesmo, em mau estado. Pesquisas da associação de docentes sustentam que, enquanto aumenta o número de vagas oferecidas, diminui o apoio oficial, inclusive financeiramente.
O MEC contesta: explica que, se a crise econômica pode ter provocado o encurtamento de recursos diretos, isto foi compensado por convênios feitos pela Secretaria do Ensino Superior para projetos específicos.
O distinto público, na verdade, está cansado de uma discussão que pode ser bizantina. Que as faculdades oficiais não estão no melhor dos mundos, ninguém ignora. Mas também é verdade que elas sofrem de padecimentos auto-infligidos, como as greves intermináveis que abalaram a confiança do público e até a procura por essas instituições.
Mesmo sabendo que vem aí uma troca de governo, é mais que hora de acertar os ponteiros no ensino superior, minimizando lutas políticas que foram levadas a extremos deletérios.
A comunidade acadêmica pode e deve ter as suas aspirações, e discutir abertamente os rumos que lhe são propostos; mas não pode ignorar que faz parte de um contexto mais amplo, num país onde a crise mais grave é a do ensino fundamental. A tão famosa autonomia universitária não elimina a necessidade de uma discussão mais profunda sobre o papel da universidade na melhoria da nossa república pedagógica.
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07/08/2002
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