Agricultores familiares gaúchos pedem perdão de dívidas em debate na CRA
A negociação das dívidas dos pequenos produtores rurais dominou o debate realizado na tarde esta sexta-feira (13) pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). A sexta audiência pública do ciclo de debates sobre a situação da agricultura brasileira teve como tema o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). O debate, mediado pela senadora Ana Amélia (PP-RS), reuniu representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Banco do Brasil e dos agricultores do Rio Grande do Sul.
João Luiz Guadagnin, diretor do Departamento de Financiamento e Proteção de Produção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), apresentou dados para comprovar o investimento do governo na agricultura familiar. Ao tratar das dívidas dos agricultores do Rio Grande do Sul, Guadagnin observou que o estado sofreu com fenômenos climáticos importantes, como secas e enchentes. Segundo ele, o MDA tem se empenhado em socorrer esses produtores, mas há limitações técnicas para o alongamento de dívidas.
Guadagnin descartou o plano apoiado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag) que prevê perdão a todas as dívidas de até R$ 12 mil dos pequenos produtores. Para ele, o perdão cobriria "praticamente 83% dos financiamentos do Pronaf" e, em escala nacional, resultaria num custo de R$ 20 bilhões à União. Ele, porém, reconheceu que os dirigentes de movimentos de pequenos agricultores procuram estimular a adimplência.
- A prioridade de qualquer sistema de crédito é o adimplente - argumentou.
Airton José Hochschid, assessor de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), citou números do recente Censo Agropecuário destacando a importância da pequena propriedade rural para a soberania alimentar do Brasil e como geradora de postos de trabalho, salientando a posição de liderança do Rio Grande do Sul em agricultura familiar. Hochshid defendeu o alogamento de dívidas dos agricultores familiares.
Hochschid apontou o alto grau de endividamento dos agricultores gaúchos, lembrando que o Banco do Brasil tem no Rio Grande do Sul R$ 450 milhões a cobrar ou em negociação e R$ 180 milhões já lançados a prejuízo pela instituição.
- Chegamos numa bolha que está prestes a estourar se a gente não encontrar uma alternativa para alongar esses débitos dos produtores - alertou.
Por sua vez, Frei Sérgio Görgen, coordenador do Movimento dos Pequenos Agricultores do Rio Grande do Sul, lembrou recentes problemas com perdas de safras e previu que as mudanças no clima do mundo agravarão os riscos para a agricultura. Görgen contestou Guadagnin quanto ao sistema de crédito e aos subsídios do MDA. Segundo ele, os números do governo são "irreais" e o governo federal precisa cumprir os compromissos de campanha para com os agricultores.
Já Álvaro Tosetto, gerente executivo da diretoria de Agronegócios do Banco do Brasil tratou a respeito do papel do banco no segmento da agricultura familiar. Tosetto destacou os mecanismos de garantia aos produtores, especialmente a proteção contra intempéries que afetem a produtividade. Em sua opinião, a assistência técnica é essencial no campo, mas o país ainda tem muitas limitações nesse setor.
Paulo Cezar Barreto / Agência Senado
13/05/2011
Agência Senado
Artigos Relacionados
Perdão de dívidas de agricultores da Região Norte passa na CRA
EMILIA DIZ QUE AGRICULTORES NÃO QUEREM PERDÃO, MAS RENEGOCIAÇÃO DAS DÍVIDAS
Rosalba defende perdão de dívidas de pequenos e médios agricultores nordestinos
Agricultores do Nordeste reivindicam perdão de dívidas e fundo para perdas com seca
Produtores rurais pedem perdão de dívidas e política de crédito para semiárido
Eunício Oliveira pede a Dilma perdão das dívidas de agricultores afetados pela seca