Agripino diz ter sido mal interpretado ao citar declaração de Dilma



O senador José Agripino (DEM-RN) afirmou em Plenário, nesta quinta-feira (8), ter sido mal interpretado pela imprensa ao mencionar, durante a exposição da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) em audiência pública na Comissão de Serviços de Infra-Estrutura (CI) nesta quarta-feira (7), declaração em que ela afirma ter mentido sob tortura durante a ditadura militar.

- Deixei clara a minha solidariedade por ela ter sido presa e torturada durante o regime que eu combati. Num momento importante de minha vida pública, fui o primeiro governador do Nordeste a declarar que não votaria no candidato do meu partido porque ele não tinha compromisso com as eleições diretas. Rasguei as minhas carnes em nome do interesse do Brasil. Com o meu gesto, garantiu-se a vitória de Tancredo. Depois de mim, vieram todos os outros - ressaltou Agripino.

O senador se referiu ao seu rompimento com o PDS durante a transição para o regime democrático, no início da década de 1980. À época, Agripino era governador do Rio Grande do Norte.

A menção à declaração dada por Dilma ao jornal Folha de S. Paulo foi feita quando o senador questionava a ministra sobre as denúncias de elaboração de um suposto dossiê sobre gastos sigilosos com cartões corporativos do governo Fernando Henrique Cardoso. O governo alega que não existe dossiê, mas, sim, um banco de dados sobre gastos com suprimento de fundos da gestão anterior, cujas informações vazaram para a imprensa.

Ao responder à intervenção de Agripino, a ministra disse que mentir sob tortura não era fácil e que o fizera para salvar a vida de companheiros. Também frisou que se orgulhava de seu passado.

- Ela pegou o gancho. Mas eu disse o que disse com a autoridade de quem se move contra o regime de exceção. Paguei um preço alto por me posicionar, mas abri perspectivas para que a democracia brasileira ao longo dos anos se consolidasse - sustentou.

Agripino disse ainda que seu temor é que "casos como o do caseiro Francenildo se repitam no caso do dossiê".

- Esse foi o teor do meu pronunciamento. Fui mal interpretado. Faz parte da vida pública - lamentou.

As investigações sobre a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, em 2006, levaram à queda do então ministro da Fazenda e hoje deputado federal, Antonio Palocci (PT-SP). Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, à época, Francenildo afirmou ter visto Palocci em mansão usada por lobistas, em Brasília, para fechar negócios suspeitos.

Desagravo

Antes que Agripino se pronunciasse, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) havia pedido a palavra em Plenário para se retratar por um comentário feito durante a audiência da CI, reproduzido pelo jornal O Globo. Segundo explicou o parlamentar por Goiás, ao ser questionado por Agripino sobre a conveniência da intervenção que acabara de fazer, teria considerado, em tom de galhofa, que o correligionário havia cometido um erro e que "só podia estar dopado" ao fazer a citação referente a Dilma.

- Agripino combateu o regime militar ao criar a Frente Liberal, que possibilitou a eleição de Tancredo Neves. Sua carreira parlamentar é ilibada, mas ninguém é obrigado a acertar o tempo todo. Peço desculpas, porque fiz um comentário leviano, que não reflete o que penso de Vossa Excelência. A Casa inteira o respeita - declarou Demóstenes.

O senador Tião Viana (PT-AC), que presidia a sessão naquele momento,juntou-se à manifestação de desagravo.

- Não será um momento de confronto aparentemente desfavorável a Vossa Excelência que irá diminuí-lo na vida pública - observou.



08/05/2008

Agência Senado


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