ALCÂNTARA: BRASIL AINDA TEM PRÁTICAS ESCRAVAGISTAS



O senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), por ocasião das comemorações da abolição da escravatura, afirmou que ainda convivemos com as práticas escravagistas no Brasil, conseqüência de um regime que "impregnou de tal forma a sociedade, a ponto de, mais de um século depois da Lei Áurea, materializar-se em persistentes comportamentos de discriminação racial e exclusão dos mais pobres".

- Somos o país de maior população negra fora da África e, no entanto, a ela historicamente recusamos a afirmação de sua identidade cultural - afirmou Alcântara, destacando que a luta por democracia e direitos iguais de Zumbi dos Palmares, desaparecido em 1695, ainda prossegue.

Além dos negros, o senador considerou que também são discriminadas outras minorias raciais, como os indígenas, ou as crianças pobres, as mulheres, os analfabetos e os deficientes. "Se pretendemos de fato construir uma nação justa, democrática e solidária, devemos garantir a real inclusão de todos os brasileiros em nosso convívio social, com igualdade de direitos e integral exercício da cidadania," argumentou.

O senador lamentou a remoção do cidadão negro para plano secundário, nos meios de comunicação social, na vida escolar e no cotidiano, lembrando a opressão que sofre no trabalho e vítima que é do abuso da atividade policial. Ele apontou o surgimento de novos contingentes de explorados, substituindo os escravos negros: "a mulher brasileira, constituindo maioria da população, está longe de alcançar, pelo menos, a metade das vagas do mercado de trabalho, recebendo salário mensal de um terço do que é pago aos homens; indicadores do governo e do Unicef estimam em cem mil as crianças vivendo e trabalhando nas ruas das cidades brasileiras".

Lúcio Alcântara citou informações - divulgadas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e publicadas pelos jornais do país - segundo as quais homens, mulheres e crianças são obrigados a trabalhar em até três jornadas ininterruptas, desprovidos de equipamentos de segurança e mantidos sob vigilância permanente de pistoleiros.

A utilização da mão-de-obra formada por crianças menores de 14 anos

foi criticada por Alcântara, que citou exemplos como o corte de cana, o transporte de sal e o tear de algodão. Relatou ainda a denúncia feita pelo jornalista Roberto Pompeu de Toledo, na revista Veja, sobre a exploração de trabalhadores em carvoaria de Jataí, Goiás.

Contemplados três vezes por dia com "o prêmio de dois terços de um copo de cachaça" esses homens são devedores das despesas de transporte, alimentação, vestuário e calorias que consomem em forma de aguardente, lamentou Alcântara. "Em débito para sempre, os que ousam reclamar ou ameaçam abandonar o serviço são impiedosamente surrados", protestou o senador. E citou Joaquim Nabuco quando disse que não basta acabar com a escravidão, mas que é preciso, em definitivo, "destruir a obra da escravidão".



14/05/1998

Agência Senado


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