ALCÂNTARA SUGERE COMBATE AO RACISMO SILENCIOSO



Referindo-se à passagem do Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado no último dia 20, o senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) alertou que as pesquisas recentes demonstram que a população negra brasileira vive sob condições desiguais de emprego e segurança. Ele defendeu a denúncia constante do mito de que não há segregação racial no Brasil.
Um dos levantamentos, orientado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mostrou que existe um significativo preconceito contra os negros no mercado de trabalho, evidenciado por um elevado índice de desemprego entre os trabalhadores negros. Eles também têm salários menores que os dos brancos, menor estabilidade em suas vagas e maior distância dos cargos de chefia, relatou Alcântara. De acordo com a pesquisa, cerca de 50% dos desempregados do Brasil são negros; aqueles que estão empregados recebem metade da média salarial que os brancos recebem - como é o caso de São Paulo - e apenas 8,7% da população ativa que ocupa cargos de direção é composta por negros, enquanto entre os brancos esta proporção sobe para 18%.
Outra pesquisa, esta realizada pela Ouvidoria da Polícia de São Paulo, apontou que os negros são as maiores vítimas de violência policial. Somente no terceiro trimestre deste ano, das 202 pessoas assassinadas naquela capital, 125 eram negras (62%). O senador observou ainda que a população negra tem que conviver com o "emblema da marginalidade construído no imaginário nacional sobre o indivíduo negro".
- Diante dessas pesquisas, não nos resta outra tarefa senão a de desmitificar, de uma vez por todas, o romântico postulado de que não há segregação racial no Brasil. Ela existe e deve ser diariamente denunciada por todos aqueles que prezam minimamente, o respeito pelos direitos humanos, pela dignidade e pelos valores de justiça e igualdade - sintetizou.
Ao afirmar que a reversão desse quadro depende da aplicação de políticas sociais concretas, Lúcio Alcântara elogiou ações empreendidas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, tais como a delegação de prerrogativas ao ministério da Cultura, via Fundação Palmares, para conferir título de propriedade de terra aos afro-brasileiros remanescentes dos quilombos.
Ele ressaltou as propostas já em tramitação no Congresso que instituem reserva de vagas a negros para os cargos e empregos públicos e em universidades públicas. "Parece-me muito transparente a necessidade imediata de deslocar a imagem do homem e da cultura negra para espaços hegemônicos de visilibilidade, para além dos nichos que lhes são tradicionalmente reservados, como o do desemprego, o das delagaciais policiais, o da miséria e o da ignorância", concluiu o senador.

26/11/1999

Agência Senado


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