Amorim acha possível acordo com Irã e desaconselha sanções da ONU
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou nesta terça-feira (6) que ainda é possível um acordo entre a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) e o governo do Irã sobre o programa nuclear daquele país. Isso poderia evitar a imposição de novas e mais severas sanções econômicas, desta vez com apoio da Organização das Nações Unidas.
- Se as sanções se confirmarem, o presidente Mahmoud Ahmadinejad ficará isolado e haverá uma radicalização, inclusive com o apoio da oposição no país - advertiu Amorim durante em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e defesa Nacional (CRE).
O chanceler brasileiro disse ter "quase certeza" que o Irã não renunciará ao seu programa de enriquecimento de urânio, que Amorim classificou como "para fins pacíficos".
- É um país que tem enormes reservas de urânio. Além disso, não é proibido enriquecer urânio - observou o ministro.
Amorim disse aos senadores que, sem acordo e com radicalização, teme que ocorra com o Irã o mesmo que se deu com o Iraque sob Saddan Husseim, país no qual a população pobre é que pagou o preço das sanções econômicas. O chanceler, entretanto, ponderou que o Irã "precisa cooperar o máximo possível".
PSDB
O grande embate da audiência deu-se entre o ministro e o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que vem mantendo uma queda de braço com o governo, e já anunciou que vai obstruir votações com a indicação de novos embaixadores, em protesto contra a política externa. Neste momento, estão parados na CRE os exames dos nomes de uma dezena de diplomatas indicados pelo presidente da República para representações no exterior.
O parlamentar amazonense sustentou ser "uma ingenuidade achar que o Irã não quer produzir uma bomba atômica", contentando-se apenas com enriquecimento de urânio para fins medicinais. Virgílio apontou uma lista do que considera "erros" do governo Lula na política externa, dando destaque à "aproximação com ditaduras notórias", como o Irã, a Coréia do Norte, Cuba e Venezuela.
O senador do PSDB criticou ainda os "fracassos" do governo ao tentar eleger brasileiros para organismos internacionais ou apoiar "pessoas erradas, com currículos comprometedores". Lamentou a posição do governo no caso da destituição do presidente Manuel Zelaya, de Honduras, observando que "até hoje o Brasil está enrascado" no caso, sem reconhecer o novo presidente eleito, Porfírio Lobo.
Celso Amorim minimizou os "25 erros" apontados por Virgílio, para ele "um número até pequeno" para sete anos de governo.
Novas embaixadas
A audiência pública contou com a presença de quase todos os senadores que integram a CRE. O próprio presidente da comissão, senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), questionou o chanceler sobre a necessidade de se criar sete novas embaixadas em "pequenas ilhas do Caribe" entre as 35 novas representações. Amorim lembrou que "cada país, por minúsculo que seja, tem nos organismos internacionais o mesmo voto de um Japão".
O chanceler argumentou ainda que a abertura de embaixadas acaba gerando negócios para empresas brasileiras. Essa afirmação levou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) a protestar. Para ele, o Itamaraty estaria instalando embaixadas por interesse puramente comercial de empresas privadas.
Jereissati leu ainda notícia de que a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hilary Clinton, teria considerado "risível" a intenção do presidente Lula de intermediar a paz no Oriente Médio, e ouviu do chanceler que "apenas o jornalista" teria ouvido a frase. O senador sustentou ainda que a política externa do governo Lula apresenta"um ranço infanto-juvenil antiamericanista" e que o reconhecimento de que a China é uma economia de mercado permitiu a entrada maciça de produtos chineses no país, afetando a indústria nacional.
Os senadores Heráclito Fortes (DEM-PI) e João Tenório (PSDB-AL), autores dos requerimentos de convite ao ministro, também questionaram a aproximação com o governo do Irã. Tenório disse duvidar "das convicções do governo brasileiro de que o Irã não querfabricar sua bomba atômica". Já Flexa Ribeiro (PSDB-PA) criticou as concessões que o governo Lula fez ao presidente Fernando Lugo, do Paraguai, ao renegociar preços da energia de Itaipu vendida ao Brasil. Para ele, "atacar o Brasil em países da América Latina transformou-se em garantia de eleição".
A política externa do governo foi defendida pelos senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Inácio Arruda (PCdoB-CE). Para Crivella, hoje "nenhuma decisão internacional é tomada sem a participação do Brasil". Arruda, por sua vez, sustentou que o presidente Lula "teve a coragem de não criticar Cuba" quando a mídia nacional e estrangeira se voltou contra o país pela morte de um dissidente em greve de fome. O senador do PCdoB lamentou ainda que, durante a recente viagem de Lula ao Oriente Médio, a imprensa brasileira "tenha dado um tom de que a visita era contra Israel".
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pediu ao chanceler Celso Amorim que use sua influência para convencer o presidente Lula a recomendar ao governo cubano a adoção de uma política de liberdades individuais. Pedro Simon (PMDB-RS) e Cristovam Buarque (PDT-DF) elogiaram a atuação de Celso Amorim.Simon considerou "válida a tentativa" do presidente em favor da paz no Oriente Médio. Ele previu ainda que "vai sair da gaveta" a votação dos novos embaixadores parada na Comissão de Relações Exteriores.
Na avaliação do senador gaúcho, o Brasil evoluiu na área das relações exteriores. O mesmo não teria acontecido com o Senado, pois as indicações dos embaixadores na Venezuela e no Equador foram barradas na comissão.
O senador do PMDB defendeu a política do governo com relação ao Irã.
- A rigor, o que o Irã pretende com referência à energia nuclear é o mesmo que o Brasil, ou seja, desenvolver a pesquisa nesse campo para fins pacíficos - afirmou o parlamentar. Simon acrescentou que a Constituição brasileira é a única do mundo com artigo que proíbe a fabricação da bomba atômica.
Eli Teixeira / Agência Senado
06/04/2010
Agência Senado
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