Ana Amélia questiona capacidade do Brasil para enfrentar crise
Diante da atual conjuntura econômica mundial é impossível não indagar: o Brasil está preparado para enfrentar essa crise? O questionamento foi feito nesta quinta-feira (25) pela senadora Ana Amélia (PP-RS), ao observar que o país precisa encontrar saídas para amenizar os efeitos da crise, diante das incertezas que podem levar a uma crise econômica mundial.
Para a senadora, o governo deveria aproveitar o momento atual, em que desfruta de popularidade, para reduzir a taxa de juros e fazer os devidos ajustes no câmbio, além de combater as barreiras impostas por parceiros comerciais como a Argentina e adotar mecanismos de proteção mais eficientes como forma de evitar a desindustrialização.
Para responder ao seu próprio questionamento, Ana Amélia recorreu a artigo do ex-ministro Delfim Netto, publicado na Folha de S. Paulo do último dia 24. Segundo ele, o Brasil também sentirá os efeitos da crise mundial, embora sua situação seja melhor do que a da maioria dos países. O ex-ministro, porém, reitera que o problema dos juros tem que ser resolvido pelo Brasil, que hoje teria a maior taxa de juros real e a moeda mais sobrevalorizada do mundo.
A atual taxa de juros no Brasil, segundo Delfim Netto, gera problemas para as finanças do Estado. Ao mantê-la elevada, o Brasil capta dinheiro no exterior, pagando caro por isso. O dinheiro que os brasileiros pagam com os juros estimula a entrada de dólares no país, o que contribui para a desvalorização do dólar e a valorização do real.
Ana Amélia observou que os juros altos, além de atingirem as empresas, prejudicam diretamente as famílias brasileiras. Dados do Banco Central citados pela senadora indicam que a taxa do cheque especial atingiu em julho o maior patamar em 12 anos: 188%. Como consequência das altas taxas de juros ao consumidor, o próprio Banco Central registrou que a taxa de inadimplência atingiu o maior patamar nos últimos 14 meses, chegando a 6,6%.
Desindustrialização
Ana Amélia lembrou ainda que o problema do câmbio continua sendo também a principal causa da desindustrialização brasileira, de acordo com o que foi exposto no último dia 22 na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) pela professora de Política Internacional Vera Thorstensen, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Segundo a professora, os limites das tarifas de proteção impostas pelo Brasil à entrada de produtos estrangeiros são anulados pelo real, valorizado em 30%, frente ao dólar, desvalorizado em 10%, o que indicaria um déficit de 40% na eficiência das restrições utilizadas pelo Brasil.
Além de conviver com os problemas do câmbio, disse Ana Amélia, a indústria brasileira ainda sofre com concorrência desleal de países asiáticos, como é o caso da China, que promovem a "triangulação" para burlar as barreiras comerciais brasileiras. Sofre também com as dificuldades impostas pela Argentina à entrada de mercadorias brasileiras que ferem o tratado que rege as relações comerciais no âmbito do Mercosul.
Ana Amélia citou dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), segundo os quais as dificuldades artificiais impostas pela Argentina atingem 80% das empresas gaúchas que exportam para aquele país. Hoje, a lista de mercadorias que precisam de licenças não automáticas para entrar na Argentina chega a 683 produtos. Dos exportadores gaúchos, cerca de 59,1% perderam clientes por causa dessas barreiras e 7,4% já cogitam se transferir para o país vizinho.
A senadora lembrou de episódios em que caminhões com produtos brasileiros foram retidos na fronteira Argentina.
- É inaceitável continuar com esse estado de coisas. O mínimo que se pode exigir de um mercado com uma união aduaneira com a do Mercosul é um pouco de solidariedade, já que o Brasil tem sido e tem agido sempre assim com todos os parceiros do Mercosul, em todos os momentos. Veja-se o acordo que foi feito com o Paraguai em relação à energia de Itaipu - afirmou.
25/08/2011
Agência Senado
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