Análise nuclear ajuda a desvendar segredos do passado
Colaboração entre o Ipen e pesquisadores de arqueologia permite estudo de cerâmicas da ilha de Marajó, no Pará.
Um trabalho de colaboração entre o Ipen e pesquisadores da área de arqueologia está permitindo estudar a composição de cerâmicas originais da ilha de Marajó, no Pará, com o propósito de identificar fraude e comércio ilegal destes objetos de patrimônio histórico. A técnica chamada análise por ativação neutrônica permite estudos sobre as peças, as tecnologias envolvidas na produção, rotas de comércio e interações entre os povos. A área de arqueometria conjuga técnicas modernas de análise ao trabalho dos arqueólogos.
“As observações técnicas e tipológicas devem ser complementadas por técnicas analíticas”, explica o pesquisador do Ipen Casimiro Munita, que se dedica ao estudo no Centro do Reator de Pesquisas. As análises em laboratório utilizam métodos matemáticos e estatísticos. O projeto em questão tem o apoio da Agência Internacional de Energia Atômica e da Fapesp e envolve os professores Eduardo Neves e Cristina Demartini, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, e Denise Schann, curadora do Museu do Marajó e professora da Universidade Federal do Pará. Foi iniciado em 2004 e tem término previsto para 2008.
As cerâmicas em estudo são peças de alta resistência, preparadas com argila que recebe um aditivo chamado tempero ou antiplástico, composto de casca de árvore, areia, quartzo, conchas moídas, entre outros. São conhecidas cerca de 15 diferentes técnicas de acabamento. Nas diferentes regiões da ilha encontram-se sub-tipos diferentes. São cerâmicas utilitárias e de adorno, como urnas, vasos, tigelas, garrafas, inaladores, pratos, banquinhos, estatuetas, tangas, pingentes, adornos labiais, utilizados especialmente em rituais funerários e festas. Uma das perguntas que os cientistas querem responder diz respeito à produção e distribuição das peças.
“Queremos saber quem as produzia e utilizava. Se em cada local faziam sua própria cerâmica ou se havia centros de produção a partir dos quais a cerâmica era distribuída. Isso nos informa sobre divisão do trabalho, trocas, etc”, afirma Schaan. Ela explica que a cerâmica integra um dos estilos mais sofisticados da pré-história das Américas e era produzida por especialistas.
O Ipen também desenvolve pesquisas na área de arqueometria com a professora Cleonice Vergne, do Museu de Arqueologia de Xingó, sobre a interação sócio-cultural e o desenvolvimento tecnológico das comunidades que habitaram o rio São Francisco, em Xingó, Sergipe.
Método
Para analisar peças ou fragmentos são feitos pequenos furos em diferentes partes, com uma broca especial. O pó é peneirado e depositado em uma estufa. São utilizadas quantidades mínimas, de 200 a 300 miligramas. A amostra é irradiada no núcleo do reator de pesquisas IEA-R1 por um período pré-definido. Podem ser analisados, em média, de 20 a 30 elementos. Ao irradiar amostras padrão, com massa conhecida, é possível estabelecer com precisão a constituição do material.
A caracterização química das cerâmicas é realizada, principalmente, pela presença dos elementos-traço, que são específicos de cada região, assinala Munita. Ele afirma que trabalhar em grupo é fundamental em projetos complexos. Só quando todos, historiador, físico, químico, geólogo e arqueológo analisam os resultados juntos é possível interpretar tudo e chegar a conclusões.
Com o reconhecimento do trabalho do instituto na área de arqueometria, a Comissão de Pós-Graduação da USP aprovou a proposta de ministrar a disciplina de arqueometria, no MAE, a partir de agosto, pelo pesquisador do Ipen.
O ramo da arqueometria é praticamente desconhecido no Brasil. Surgiu com a técnica de datação por carbono-14, em 1949. Um dos grandes centros mundiais nessa área está localizado no Museu do Louvre, em Paris, que utiliza alta tecnologia para resolver problemas ligados à alteração, conservação e restauro de obras de museus da França.
Do Ipen
(L.F.)
11/25/2007
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