APARTES A ARLINDO PORTO APONTAM CARÊNCIAS NA AGRICULTURA



O senador Pedro Simon (PMDB-RS) até pediu desculpas ao senador Arlindo Porto (PTB-MG) pelo longo aparte que fez a seu discurso, que chamou de "desabafo". Simon somou-se a Porto na crítica à excessiva importação de produtos agrícolas pelo Brasil.Para Simon, a globalização prega como moderna a abertura econômica, mas a prática nos países desenvolvidos é diversa.- Por que não se olha para como os países desenvolvidos tratam a agricultura deles? Porque não se olha como a Europa e os Estados Unidos tratam as importações agrícolas brasileiras? - indagou Simon.O parlamentar afirmou que a agricultura foi o setor que sempre pagou o preço para a sustentação dos planos econômicos, como aconteceu agora no Plano Real. Segundo ele, abriram-se as portas para as importações, às quais os produtos brasileiros não conseguem fazer frente. Assim, o leite que sobra no Mercado Comum Europeu é colocado no Brasil a qualquer preço, para escoamento de estoque.Simon lamentou a saída de Porto do Ministério da Agricultura, e lembrou seus próprios tempos de ministro. Naquela época, o Brasil produzia 5,5 milhões de toneladas de trigo e importava um milhão. Hoje, a balança é inversa. Simon ressaltou ainda que o trigo argentino é vendido aos moinhos brasileiros com prazo de dois anos para pagamento.O senador espera que a agricultura seja verdadeiramente a meta prioritária no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Para Simon, a agricultura é a principal forma de combater o desemprego. Ele lembrou que o país tem a maior área agrícola cultivável do mundo - cerca de 150 milhões de hectares -, assim como a maior reserva de água potável disponível.- Ou damos importância à agricultura, em um país que tem 35 milhões de pessoas que passam fome, ou vamos continuar importando até pipoca dos Estados Unidos - finalizou.O discurso de Arlindo Porto motivou outros apartes. O senador Jonas Pinheiro (PFL-MT) pediu a aprovação, nesta quarta-feira (25/11), na sessão do Congresso Nacional, da Medida Provisória (MP) 1.715, de autoria do próprio Porto, que revitaliza o setor cooperativista de produção agropecuária e cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Cooperativa. O pedido, que Jonas Pinheiro já formulara ao presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães, foi reforçado pelo senador por Minas Gerais.Já o senador Odacir Soares (PTB-RO) criticou a MP da securitização da dívida agrícola brasileira, por não contemplar os pequenos agricultores que tomaram empréstimos dos Fundos Especiais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Segundo ele, os recursos estão se acumulando nos bancos, já que os produtores estão inadimplentes e, por isso, impossibilitados de renovar seus créditos.O senador Andrade Vieira (PTB-PR) condenou a política governamental de concentração de renda. Também criticou os projetos de assentamentos rurais - em que as famílias são levadas depois a abandonar os seus lotes - e os minguados recursos destinados a financiar a agricultura.

25/11/1998

Agência Senado


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