Araucária não operou com "laranja", diz ex-gerente de câmbio do banco



O Banco Araucária recebeu autorização especial do Banco Central para operar em Foz do Iguaçu com depósitos em espécie acima de R$ 10 mil porque os registros de suas operações eram claros, obedecendo normas expedidas pela autoridade monetária, e nunca abrigou contas de -laranjas-. Essa afirmação foi dada pela ex-diretora e ex-gerente de câmbio do Banco Araucária, já liquidado pelo BC, Ruth Whately Bandeira de Almeida, em depoimento à CPI do Banestado nesta terça-feira (19).

- O Araucária nunca fez operação ilícita - enfatizou, acrescentando que o banco sempre foi muito fiscalizado pelo BC.

A ex-gerente confirmou que a primeira autorização do BC foi concedida quando o Araucária ainda não possuía agência em Foz do Iguaçu. O banco fechava as operações de câmbio a partir de Curitiba entre abril e maio de 1996 e, segundo ela, só depois que foi instalada a agência em Foz foi solicitada a transferência dessa autorização especial.

Ela disse que o Araucária identificava todos os emitentes de cheques naquela cidade fronteiriça.

- Era uma maneira de dar meios ao BC de controlar e reprimir as operações ilícitas - afirmou. O relatório final do liquidante do BC, Rui Ferreira, continuou, -não possui uma linha sequer sobre irregularidades nas suas contas CC-5- e a liquidação do Araucária nada tem a ver com as suas operações de câmbio. O motivo da liquidação, disse, foi a falta de caixa de R$ 1,2 milhão em 2001, que ocorreu quando ela estava em licença-maternidade.

Contas CC-5

Em diversos trechos do seu depoimento, a ex-gerente afirmou que estranhava por que o foco das investigações de remessas irregulares pelas CC-5 por Foz do Iguaçu se voltou para o Araucária, que era uma instituição pequena, com movimentação inferior à média diária de R$ 9 milhões, enquanto os outros quatro bancos que também obtiveram autorização especial do BC possuíam volumes expressivos de transações pelas contas de não residentes.

De acordo com Ruth Whately, o dinheiro do Araucária vinha do comércio paraguaio em Ciudad del Leste. Os reais eram remetidos pelo banco Integración no Paraguai, que os depositava na sua conta corrente no Araucária; na operação de fechamento do câmbio, os dólares eram pagos em conta do Integración no exterior.

Segundo a depoente, a transportadora TGV contava e cintava os reais, atravessava a Ponte da Amizade e depositava-os na conta da reserva bancária do Araucária no Banco do Brasil. A Receita Federal carimbava a guia registrando a passagem do dinheiro e a aduana paraguaia também documentava a saída dos reais, declarou.

A ex-gerente disse que o Araucária comprava os dólares no mercado interbancário de instituições como Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e o próprio Banco Central. Todas essas informações compõem o dossiê da operação que, segundo ela, são apontadas como a descoberta do mapa da mina pelo perito da Polícia Federal, Renato Barbosa.

- Essa mina de ouro é uma informação que está na mão do BC e que faz parte do seu dia-a-dia - desqualificou. O Araucária resolveu transferir sua operação no exterior para o Swiss Bank a partir de 1996 porque -o Banestado demorava a pagar o interbancário-, afirmou Ruth Whately.

Segundo declarou, ela mandou carta ao apresentador do jornal da Rede Record, Boris Casoy, com defesa sobre a gravação divulgada por aquela emissora com uma conversa entre ela e um suposto doleiro paraguaio.

- Todo mercado paraguaio sabia que o Araucária só fazia operações dentro das normas do BC - salientou. Sobre a segunda gravação transmitida pela mesma emissora, a ex-gerente explicou que se tratava de uma brincadeira feita durante um telefonema com sua irmã, que ia investir no Araucária. Ruth Whately disse que tanto ela quanto integrantes de sua família possuem dinheiro retido na massa falida do Araucária, completou que responde a investigações desde 1997 e que nenhum fato concreto foi levantado.



19/08/2003

Agência Senado


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