Argumentos econômicos e políticos marcam divergências sobre ingresso da Venezuela no Mercosul



De um lado, os interesses econômicos do Brasil; de outro, a preocupação com os destinos da democracia venezuelana. No último dia de debates promovido pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) a respeito do ingresso da Venezuela no Mercosul, nesta quinta-feira (9), convidados favoráveis e contrários à adesão reiteraram os dois principais argumentos apresentados aos senadores da comissão sobre o tema nas audiências anteriores.

O presidente da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul, Darc Costa, observou que a indústria brasileira enfrenta hoje uma "ferrenha competição" com a indústria chinesa pelo mercado regional, onde sempre desfrutou de uma condição favorecida. Em sua exposição, ele procurou afastar-se de "questões conjunturais" para defender a construção de um grande mercado sul-americano, uma questão que, em sua opinião, interessa a "nossos netos".

- A elite brasileira tem o mesmo projeto para o país. Não podemos deixar que a nossa elite se divida por causa da divisão das elites dos outros - disse Darc.

Da mesma forma, o deputado federal Neudo Campos, ex-governador de Roraima por dois mandatos, disse aos integrantes da comissão que procurou "intensamente" ampliar as relações de seu estado com a Venezuela, país com o qual o estado faz fronteira. Em sua opinião, o ingresso da Venezuela no bloco poderá ser considerado "emblemático", pois abriria caminho para a entrada de outros países sul-americanos, aproximando os estados do Norte brasileiro do Mercosul.

Os argumentos contrários ao ingresso da Venezuela neste momento ao Mercosul foram, desta vez, apresentados por dois venezuelanos, opositores do regime bolivariano do presidente Hugo Chávez. O escritor Gustavo Tovar-Arroyo disse ser favorável à integração continental, mas pediu que esta seja promovida com respeito aos princípios estabelecidos pelo Mercosul, de respeito à democracia e aos direitos humanos. Ele citou um relatório elaborado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que aponta a existência de um ambiente hostil, em seu país, aos opositores de Chávez.

- O maior problema da Venezuela é a criminalização da oposição política - afirmou Tovar-Arroyo.

Ex-prefeito da cidade de Chacao, Leopoldo López também condenou a falta de liberdade em seu país. Ele criticou o governo venezuelano por haver impedido a sua candidatura à Prefeitura de Caracas. E pediu aos parlamentares brasileiros que não levassem em conta apenas questões econômicas, ao analisar o protocolo de adesão da Venezuela.

- Viemos aqui pedir para que olhem em direção ao Norte com a lente da democracia - disse López.

Rússia

Na mesma reunião, a comissão deu parecer favorável ao Projeto de Decreto Legislativo 498/09, que aprova o texto do acordo entre o Brasil e a Rússia sobre proteção mútua de tecnologia associada à cooperação na exploração do espaço para fins pacíficos, firmado em 2006. Segundo o relator do projeto, senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC), a atuação conjunta dos dois países na área espacial "é uma das mais relevantes, prioritárias e tradicionais linhas de cooperação em ciência e tecnologia mantidas pelo país".



09/07/2009

Agência Senado


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