Baixo investimento em infraestrutura ameaça crescimento, advertem especialistas



A indústria brasileira deverá enfrentar, em novo ciclo de expansão da economia, um conjunto de importantes restrições físicas e logísticas a seu crescimento, com impacto direto sobre sua competitividade. A advertência foi feita em audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) pelo secretário executivo do conselho de infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Wagner Cardoso.

Outro participante da audiência, o coordenador-geral de Planejamento da Secretaria de Política Nacional de Transporte, Luiz Carlos Rodrigues Ribeiro, explicou que a origem dos problemas está nos baixos investimentos do país em infraestrutura de transportes, que foram reduzidos de 1,8% do produto interno bruto (PIB) na década de 70 para apenas 0,2% do PIB em 2002.

Planejamento

Ribeiro disse que outro prejuízo para a infraestrutura de transporte decorre da ausência de planejamento do setor, problema que teria sido superado com o Plano Nacional de Logística e Transporte. Com base nele, o governo projeta investimentos de R$ 428 bilhões no período de 2008 a 2025.

Grande parte desses investimentos, conforme o coordenador, já está incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, portanto, em execução. Mas Ribeiro não soube responder à senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) quantos dos 12 mil quilômetros de ferrovias, planejados em 2008, já foram construídos.

Rodovias

Um dos problemas atacados por esse plano, segundo o coordenador, é o "desbalanceamento da matriz de transporte". O que se pretende é reduzir, no transporte de cargas, o predomínio do uso de rodovias, dos atuais 58% para 30% em 2025. O plano prevê que 35% das cargas passariam a ser transportadas por ferrovias e 29% por aquavias (hoje, a participação é respectivamente de 25% e 13%).

- Dessa forma, o governo busca um maior equilíbrio na matriz de transportes e dá sua contribuição para a preservação do meio ambiente - afirmou Ribeiro.

Problemas

Mas o representante da CNI disse que, apesar dos avanços do PAC, persiste um elevado déficit na prestação de serviços de infraestrutura, em especial nos setores de transportes e saneamento. O pior, segundo ele, é que os problemas são agravados pelo contínuo aumento da demanda.

Quadro semelhante foi apresentado pelo coordenador do conselho de infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Ricardo Portella Nunes. Ele disse que, apesar dos grandes investimentos do PAC, o Brasil ainda tem uma das piores infraestruturas de logística, comparado com os demais países do Bric, os Estados Unidos e o Canadá.

Ranking

Em quilometragem de rodovias pavimentadas, o Brasil está na última colocação quando comparado com esses países, com 212 mil km, ficando atrás de Canadá (516 mil km), Rússia (655 mil km), Índia (1.565 milhão de km), China (1.576 milhão de km) e Estados Unidos (4.210 milhões de km).

De acordo com Portella, o Brasil também fica em último na extensão de ferrovias, com 29 mil km, perdendo para Canadá (47 mil km), Índia (63 mil km), China (77 mil km), Rússia (87 mil km) e Estados Unidos (227 mil km).

O representante da Fiergs afirmou que o país é também o pior em dutos, com 19 mil km, ficando atrás de Índia (23 mil km), China (58 mil km), Canadá (99 mil km), Rússia (247 mil km) e Estados Unidos (793 mil km).

Hidrovias

Em termos de hidrovias, o Brasil, com 14 mil km, só fica à frente dos 600 km do Canadá, onde muitos rios ficam congelados. As maiores redes de hidrovias estão na China (110 mil km), Rússia (102 mil km), Estados Unidos (41 mil km) e Índia (15 mil km).

A solução dos problemas, conforme os participantes da audiência, passa por elevação do aporte de recursos públicos, aumento da eficiência do setor federal de transportes, ampliação da participação do setor privado no investimento e na gestão dos transportes e maior competição na prestação de serviços de transporte.

Exclusão

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) lamentou a ausência do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que tinha sido convidado para a audiência pública, mas não compareceu.

A parlamentar disse que as soluções para transportes e logística no país, em geral, excluem o Amazonas. Ela disse são necessários os cuidados com a preservação do meio ambiente, mas discordou do isolamento a que o estado é submetido.

Já a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) criticou uma decisão do Ministério Público Federal pela paralisação das obras da ferrovia Oeste-Leste, "essencial para a logística de transportes do país". Ela sugeriu "um grande pacto", envolvendo inclusive órgãos fiscalizadores, para viabilizar obras que possam resolver os gargalos ao desenvolvimento do país.

Obstáculos

A senadora Ana Amélia Lemos perguntou ao representante da CNI se algum obstáculo de ordem ideológico impede as parcerias público-privadas de saírem do papel. Wagner Cardoso disse que o ritmo das decisões oficiais não é o mesmo da iniciativa privada, que tem pressa nas soluções.

Participaram também da audiência pública, presidida pelo senador Benedito de Lira (PP-AL), o vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura, José Ramos Torres de Melo Filho, e o presidente da Associação Brasileira de Logística, Rodrigo Otaviano Vilaça.



04/05/2011

Agência Senado


Artigos Relacionados


Infraestrutura não acompanha crescimento da aviação civil, dizem especialistas

Investimento em infraestrutura é nossa grande aposta para crescimento, afirma Dilma

Casildo Maldaner defende investimento em infraestrutura e reforma tributária para alcançar crescimento

Mudança de indexador de dívidas não amplia capacidade de investimento, advertem governadores

Criação da Emgebio pode afastar investimentos, advertem especialistas

Leis e projetos em excesso podem criar privilégios na saúde, advertem especialistas