Bancadas se fortalecem na Câmara









Bancadas se fortalecem na Câmara
Governo e oposição articulam seus aliados para dar mais consistência ao debate político dos vereadores

A primeira semana de trabalho na Câmara do Recife mostrou que a atuação da bancada oposicionista e da base aliada ao Governo João Paulo será bem diferente do que o ano passado. Estimulados pelo período eleitoral, os dois blocos demonstraram claramente que estão dispostos a defender os palanques que representam. A oposição, que no ano passado atuou desarticulada, começa a dar sinais de unidade dentro do grupo. Já os governistas estão bem mais sintonizados com a PCR. Os ataques dos adversários estão sendo rebatidos com informações oficiais, o que dificilmente ocorria na legislatura passada.

As articulações no plenário deixaram evidente a preocupação das lideranças em unificar suas bancadas. Os dois blocos marcaram reuniões logo no início da semana para tentar unificar o discurso. Os encontros também serviram para que cada um apontasse as falhas que resultaram em desavenças e desencontros de idéias em 2001.

Segundo o vereador José Neves (PMDB), a oposição conseguiu reunir, nesse primeiro encontro, 14 vereadores dos 15 que formam o bloco da situação. "Iremos reverter o que aconteceu no ano passado. Vamos atuar unidos e não isolados. Essa é a opinião de todo grupo", disse. José Neves chegou a admitir, inclusive, a participação do vereador Sílvio Costa (PSD). "Ele será bem vindo, desde que não cause problemas", ressaltou Neves. No ano passado, os dois chegaram bater-boca e até hoje não se falam. Alguns episódios protagonizados por Costa no plenário também desagradaram os demais vereadores, que o acusaram de ser o desarticulador do bloco oposicionista.

Para Romildo Gomes, líder do PFL na Câmara, a intenção do grupo é de realizar um trabalho político-administrativo. "Queremos mostrar que o Recife está sem comando. Nada do que foi anunciado na campanha de 2000 foi cumprido. E o pouco que está sendo feito deixa muito a desejar", avaliou. Para municiar o grupo - segundo Gomes - deverá ser contrato o serviço de uma assessoria técnica, que ficará responsável pela o acompanhamento de todos as ações do Governo João Paulo. "Enquanto eles estão preocupados em eleger Humberto Costa (secretário de Saúde do Recife) governador do Estado, nós estamos interessados em mostrar à população os desmandos da administração petista", retrucou Roberto Andrade (PFL).

No comando da bancada governista, vereador Jurandir Liberal (PT), diz não estar preocupado com os adversários. "Eles não chegarão a lugar nenhum. A oposição não tem argumento para contestar a administração João Paulo. Eu até gostaria que tivesse, pois isso enriqueceria o debate na Câmara", comentou.


Transporte será o primeiro confronto
Veto do prefeito João Paulo promete gerar polêmica

O veto do prefeito do Recife, João Paulo (PT), ao projeto de lei, de autoria do vereador Clóvis Correia (PSB), que propõe a regulamentação do transporte alternativo na cidade, é a votação mais esperada na Câmara do Recife, nesse início de trabalho no Legislativo Municipal. A votação vai marcar o primeiro confronto entre a bancada de oposição a base aliada do Governo. Os dois lados têm a vitória como certa e não admitem nem sequer falar em derrota.

"Vamos conseguir os votos necessários para derrubar o veto", anunciou o vereador José Neves (PMDB). A luta da oposição conta com o apoio de Clóvis Correia que, apesar de fazer parte da base governista, não esconde a insatisfação com a decisão do prefeito. Ele acusa João Paulo de descumprir as promessas de campanha, quando afirmou que iria regulamentar o transporte alternativo, sem grandes prejuízos para os kombeiros.

"Ao contrário disso, o prefeito vetou meu projeto, cuja proposta é exatamente de acabar com o caos que o Recife vive por conta da desordenação desse tipo de transporte", reclama. A estratégia governista para evitar uma derrota no plenário é manter guardado a sete chaves o dia da votação. Segundo informações de bastidores, a tática do sigilo é para evitar a convocação de pessoas para encher as galerias da Câmara.

O líder do Governo na Casa, Jurandir Liberal (PT), nega a manobra. "Nossa bancada está articulada para votar em favor do veto. Não precisamos usar esse tipo de artifício para vencer essa batalha", garantiu. Na última quinta-feira, durante a reunião da bancada, Liberal conversou com um grupo de 18 vereadores para definir estratégias de atuação em plenário. Uma das principais queixas do grupo - conforme revelou uma fonte ao DIARIO - foi a falta de tato da PCR para tratar os aliados.

No ano passado, o problema causou insatisfação. Um bloco de vereadores ameaçou deixar a base aliada, caso seus pleitos não fossem atendidos. "Essa situação foi contornada. Hoje, eles estão tendo mais espaço para conversar com o Governo", amenizou Jurandir. Nos bastidores, no entanto, corre uma outra versão. A informação é de que a insatisfação continua e isso pode refletir na votação do veto ao projeto dos kombeiros.


E não é só com esse problema que o líder do Governo deve se preocupar. A bancada governista também deve ser estimulada para defender o prefeito João Paulo nos ataques em plenário. Durante o ano passado, essa missão coube, quase que exclusivamente, aos petistas. Das demais legendas que compõem a base aliada apenas os vereadores Sileno Guedes (PSB) e Paulo Dantas (PCdoB) fizeram pronunciamentos em defesa da administração do PT. (R.R.)


O jogo das alianças avança no Estado
Tribunal superior eleitoral decidirá, até 5 de março, se os partidos devem ou não reproduzir nos estados as coligações nacionais, mas quadro em Pernambuco começa a se definir

Quem é candidato na campanha deste ano admite: hoje não se faz mais nada em Pernambuco a não ser quebrar a cabeça com contas eleitorais e aguardar o Tribunal Superior Eleitoral, que até o dia 5 de março vai baixar uma resolução obrigando ou não os estados a reproduzir as alianças nacionais. O efeito imediato dessa decisão seria favorecer a candidatura presidencial do senador José Serra (PSDB) e forçar a unidade da aliança PMDB/PFL/PSDB/PPB. Seja qual for a decisão do TSE, aqui a situação está mais ou menos encaminhada.

Pelo menos é o que governistas e oposicionistas concluem ao analisar os partidos e as coligações possíveis, considerando as expectativas locais e nacionais. De uma maneira geral, a conclusão é essa: quem tiver mais de 50 mil votos se elege logo. O restante, a grande maioria, disputa a sobra dos votos. Isto porque o quociente eleitoral, isto é, a quantidade mínima de votos necessários para um partido ou coligação eleger um deputado, é calculado em 130 mil.

No campo governista, a situação doPFL e do PSDB é considerada boa. No caso do PFL, boa apenas para deputado federal, porque a situação dos seus deputados estaduais é tida como bastante delicada sem coligação. No campo oposicionista, PT e PSB aparecem no primeiro patamar. O PMDB e o PPB, que integram o palanque jarbista, estariam apertados. A chamada turma do desespero estaria representada por partidos da oposição como PPS, PTB e PDT.

Esses são vistos hoje como extremamente vulneráveis e dependentes de decisões nacionais sobre as quais ninguém tem muita clareza. Como, por exemplo, se o presidenciável Ciro Gomes continua candidato, se ele cresce ou declina nas pesquisas. Partidos menores como PL e PSL, além do PCdoB, também estariam numa situação muito difícil e sem autonomia na eleição de deputado federal ou estadual. Não só por não terem cauda (candidatos pouco expressivos, mas que somam votos para se atingir o quociente eleitoral), como por seus candidatos tomarem a vaga de outros.

Marcos de Je sus (PL), que teve 35 mil votos em 1998 e -mais do que ele - Luciano Bivar (PSL), que ultrapassou os 78 mil, são temidos por candidatos do PT e do PSB, que têm 30 mil votos em média. Sem falar de Clementino Coelho (PPS), que conquistou 60 mil votos quando o irmão Fernando Bezerra Coelho (PPS) ainda não tinha sido eleito novamente prefeito de Petrolina. Este é o motivo real de Luciano Bivar já ter se anunciado como candidato a senador.

Se esta candidatura for confirmada, se dará numa chapa encabeçada pelo deputado federal Eduardo Campos (PSB), neto de Arraes. Isto porque, independente da decisão do TSE a política da oposição vai ser a da pulverização de candidatos, com dois ou três palanques como aconteceu na campanha de 2000. Segundo especialistas, a oposição deve fazer, no barato, 800 mil votos na eleição de deputado federal.

Elegeria, portanto, de 7 a 9 deputados. O palanque jarbista deve fazer 1,6 milhão de votos, elegendo 16 deputados federais. A bancada federal de Pernambuco tem 25 deputados. Se essas previsões se confirmarem, será mantida aatual correlação de forças.


Dez anos sem Cristina Tavares
Fundadora do PSDB em Pernambuco, ex-deputada faleceu em fevereiro de 1992, nos EUA, vítima de câncer

Mulher guerreira, ousada, irreverente, atrevida. Dez anos depois da sua morte, que ocorreu no dia 23 de fevereiro de 1992, Cristina Tavares parece estar viva na memória dos políticos, que não poupam adjetivos para falar da ex-companheira. Natural da cidade de Garanhuns, filha do médico José Tavares Correia e sua mulher Mercês, Maria Cristina de Lima Tavares Correia teve uma atuação importante na política e no jornalismo. Nos anos 60 começou a participar, ao lado do ex-governador Miguel Arraes, do movimento popular e cultural do Estado. Como profissional da Imprensa, na mesma época passou a trabalhar nos jornais da cidade, destacando-se como repórter da Editoria de Política do DIARIO DE PERNAMBUCO, do Jornal do Commércio e da Sucursal da Folha de São Paulo.

Em 1978, incentivada pelo presidente do então MDB, Ulisses Guimarães, do qual era assessora, Cristina candidatou-se a deputada federal e foi eleita. Teve uma atuação marcada pela luta contra o colégio eleitoral, que "elegia" o presidente da República. Cristina queria eleições diretas. O deputado estadual Pedro Eurico (PSDB) conta que na época eles fizeram um enterro simbólico da ditadura. "Pegamos um caixão, enchemos ele de pedra e jogamos no rio Capibaribe".

O empenho de Cristina fez com ela se reelegesse. A partir daí cresceu ainda mais o combate à ditadura. "Cristina apoiou as Diretas Já e depois, quando o Congresso vetou a emenda à Constituição que permitiria a volta das eleições, ela passou a se empenhar na candidatura de Tancredo Neves", lembra Pedro Eurico. Em 1986 novamente Cristina é reeleita deputada federal. Como constituinte notabilizou-se pela defesa da reserva de mercado da informática, dos direitos da mulher e de uma revisão do Código Civil.

Em uma atitude ousada, em 1988 Cristina deixa o PMDB para fundar junto com o hoje deputado estadual pelo PV, João Braga, o PSDB. Partido que pregava a social-democracia. No mesmo ano ela se candidata a vice-prefeita do Recife, na chapa encabeçada por Marcos Cunha (PMDB). Apesar do apoio do prefeito da época, Jarbas Vasconcelos, os dois perdem a eleição para Joaquim Francisco (PFL).

Em 1989, achando-se traída pela direção nacional tucana, Cristina Tavares deixa o PSDB por discordar da filiação do ex-governador Roberto Magalhães à legenda. Magalhães chegou a formar a chapa do candidato do partido a presidente da República, Mário Covas, como vice, mas devido a Cristina, renunciou. A deputada não aceitou a indicação e saiu do partido, se dizendo traida, para ingressar no PDT de Leonel Brizola.

Na eleição de 1990, a cosntituinte nota 10, não conseguiu se reeleger. Seus 14.903 votos não foram suficientes por causa do coeficiente eleitoral que acabou beneficiando o PSB e o PCdoB que integravam a chapinha.


Palanque eletrônico motiva aliança entre ex-adversários
Tempo na TV força partidos a se coligarem

BRASÍLIA - O petista Luiz Inácio Lula da Silva corre atrás do PL. Quer o senador José Alencar (MG) como vice e os 46 segundos diários do partido no período de propaganda eleitoral na TV. O tucano José Serra, com 7% nas pesquisas, persegue PMDB e PPB, de olho nos dez minutos que, juntos, eles têm para a propaganda na televisão. Ciro Gomes (PPS), por sua vez, costurou uma frente com ex-comunistas, PDT e PTB. Isso lhe deu cinco minutos e 16 segundos diários, tempo quatro vezes maior do que lhe foi destinado na eleição de 1998.

Cientistas políticos e publicitários concordam que a televisão é hoje o principal instrumento para tornar um candidato conhecido e determinar a escolha do eleitor. Com isso, o tempo que cada partido tem para fazer propaganda na TV virou a principal moeda de troca nas negociações políticas.

"Os partidos e candidatos dão grande importância ao tempo de propaganda na televisão. Cada um quer fazer a coligação mais ampla, pois isso significa termais tempo", afirma o cientista político e professor da Universidade de Brasília, David Fleischer.

Os partidos costumam falar muito no peso simbólico das alianças que fazem e na estrutura partidária dos aliados, mas estas questões perderam espaço para o tempo de televisão. Sobretudo devido à experiência política brasileira: em 1989, Fernando Collor foi eleito presidente sem apoio partidário, se valendo quase que exclusivamente da TV.

"A estrutura dos partidos é importante, mas é a TV que mobiliza os militantes. Eles acompanham os programas como se fossem uma novela", diz o publicitário Paulo de Tarso, que trabalha para o PSDB. No Brasil, segundo especialistas, a campanha só começa para o grosso dos cidadãos com o início do horário eleitoral gratuito. É nessa fase que os eleitores podem comparar os candidatos. As pesquisas de audiência mostram ainda o peso que a televisão tem para formar a opinião e determinar o voto da maioria.

AUDIÊNCIA - Nos primeiros dias de propaganda na TV, os programas chegam a ter uma audiência de 80%. Após 20 dias, ela cai para 30%. Na última semana, volta a subir para cerca de 60%. O presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE), afirma que a aliança com PTB e PDT deu a Ciro mais condições de se viabilizar. Mesmo reconhecendo a importância do palanque eletrônico, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, minimiza seu peso. Sua avaliação é de que levaram vantagem os candidatos, como Roseana, que usaram de forma antecipada os programas partidários na TV. No horário eleitoral gratuito, segundo Bornhausen, todos os programas terão a mesma qualidade, diminuindo as distâncias entre os candidatos. Mas muitos políticos duvidam que esta projeção se aplique num pleito até agora marcado pela indecisão e por um número grande de candidaturas com alguma viabilidade.


Consumidor promete manter economia de luz
SÃO PAULO - Pesquisa realizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostra que cerca de 80% dos consumidores entrevistados pretendem manter os atuais níveis de economia de energia ou até aumentar essa economia, informou na última sexta-feira o ministro-chefe da Casa Civil e presidente da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (CGCE), Pedro Parente.

Para ele, os níveis de economia registrados pelo Governo têm sido "sucessivamente surpreendentes". O ministro disse que os próprios agentes do setor elétrico, que trabalhavam com a tese de que o racionamento proporcionaria um atraso de um ano no setor - ou seja, o nível de consumo de energia em 2002 seria o equivalente ao de 2001 -, "já acreditam que se poderá ser registrado um atraso de dois anos".

ALÍVIO - Parente lembrou que, quando a CGCE determinou um primeiro alívio das metas, no final do ano pa ssado, a expectativa era a de que o consumo nas regiões Sudeste e Centro-Oeste atingisse a marca de 23,5 mil megawatts (MW). "O consumo ficou, porém, abaixo disso", disse. Neste ano, mesmo com uma nova flexibilização das metas, que incluiu consumidores eletrointensivos, esta marca não foi atingida.

Parente destacou o papel dos consumidores residenciais na economia de energia. Segundo ele, embora o total de economia no Nordeste e Sudeste, entre junho e dezembro, tenha sido inferior à meta geral de 20%, a redução média do consumo nas residências foi de 24,4%.



Artigos

Direito à verdade
Cristovam Buarque

Ex-governador do Distrito Federal e professor da Unb
Depois de mantê-lo confinado contra a vontade por 53 dias,os seqüestradores do publicitário Washington Olivetto defendem-se por meio de parentes e advogados, dizendo que são revolucionários e o seqüestro teria sido político. Em uma democracia, todo seqüestro é crime hediondo.

Durante a guerra que uma ditadura representa, o enfrentamento militar se justifica na política, mesmo assim, jamais contra inocentes. Nem em regimes militares se justifuca abrandar o crime de seqüestro contra cidadãos inocentes, mesmo quando se alegue o enfrentamento pela violência dos ditadores. É como se os políticos estivessem em guerra militar.

No caso do Brasil de hoje nada justifica o uso desta violência, e o crime deve ser tratado como coisa de bandido.

Mas não se pode descartar o risco de que o seqüestro do Olivetto, como o do empresário Abílio Diniz em 1989, possa vir a ser usado politicamente: o crime comum e hediondo sendo politizado. A insistência em lembrar que os seqüestradores foram militantes de partidos de esquerda, em vez de tratá-los pura e simplesmente como bandidos, é prova do risco de um seqüestro do próprio seqüestro, transformando-o de crime comum em instrumento de manipulação da opinião pública contra os partidos congressistas. Na véspera da eleição de 89, os seqüestradores de Abílio Diniz foram apresentados como se fizessem parte de um movimento progressista mundial, com a insinuação de que todos os políticos progressistas, de esquerda, seriam aparentados ideologicamente e, portanto, sócios diretos ou indiretos daquele seqüestro. Não se pode negar que essa manipulação teve um efeito nos resultados das eleições. Ao calarem-se diante dos fatos ou não condenarem enfaticamente o uso da violência de bandidos que se afirmam como revolucionários, as forças de esquerda terminam colaborando para justificar a manipulação do seqüestro.

A História já viu muitas vezes a manipulação de crimes, cometidos por pequenos grupos radicais, como forma de isolar os grupos progressistas e revolucionários democráticos. Às vezes, a própria direita cometia crimes para jogar a culpa na esquerda - como foi o caso da Noite dos Cristais, que permitiu a Hitler usar a violência cometida por seu próprio partido como argumento para reprimir todos os demais partidos, acusados como culpados.

Nesta quarta eleição presidencial no Brasil, não será fácil manipular crimes de alguns para roubar a eleição de outros. A democracia ensina. A repetição de eleições forma o cidadão para entender melhor a realidade e separá-la das jogadas de cada grupo. Mas, neste ano, mais do que em qualquer outra eleição, corre-se o risco de seqüestros políticos, realizados pelas campanhas de marketing eleitoral.

O processo eleitoral deste momento passa a impressão de que grupos de seqüestradores de consciência estão armando cuidadosamente estratégias para o seqüestro da cabeça do eleitor brasileiro. Vendem-se ilusões,escondem-se indicadores, falseiam-se propostas; tudo com o objetivo de aprisionar a consciência do eleitor.

O leitor que perde o contato com a realidade está seqüestrado. Este, sim, é um seqüestro político.
Na Argentina, seqüestro como este durou 10 anos. Durante todo esse tempo, a consciência do argentino foi seqüestrada. O povo argentino perdeu o contato com a realidade, tanto quanto um seqüestrado fica isolado da realidade do mundo. A única diferença é que a prisão era o paraíso artificial da convertibilidade do dólar, dos salários elevados pelos padrões internacionais, do deslumbre do consumo de bens importados e do mundo irreal das jogadas financeiras em escala mundial.

Como todo seqüestro,um dia ele acaba com a liberdade ou com a morte do seqüestrado. Na Argentina aconteceu um pouco de cada: morreram os sonhos e a liberdade mostrou-se intolerável. ao ponto de que ninguém quer aceitá-la.Porque a imaginação, de tanto tempo prisioneira das ilusões, não consegue aceitar a triste realidade que lhe foi escondida.

Por mais dura que seja ela, os argentinos têm tanto direito à verdade quanto uma pessoa seqüestrada tem direito à liberdade. E deve aprender a viver com ela e os limites impostos pela realidade. A verdade das limitações de recursos, das dificuldades de importação e das filas é melhor do que a curta mentira da última década.

E o Brasil está ingressando em um processo eleitoral à sombra não de uma, mas de duas mentiras: a das falsas promessas, impossíveis, mas sedutoras; e do marketing manipulador. Juntas, estas mentiras são capazes de aprisionar a imaginação e a consciência dos eleitores, com o risco de fazer repetir o mesmo fracasso que o neoliberalismo vem vendendo como sucesso no Mundo inteiro.


Colunistas

DIÁRIO POLÍTICO – Divane Carvalho

Um clássico vale-tudo
O PSB de Arraes se prepara para colocar Eduardo Campos na corrida pelo Palácio do Campo das Princesas, mesmo que o tenha afastado, por uns tempos, da arena onde lutam os petistas de todas as tendências e os demais partidos da oposição. E apesar de ser cedo para dizer quem vai enfrentar quem na eleição de outubro, não se deve acreditar que Eduardo Campos desistiu de disputar o Governo do Estado. A primeira oportunidade de enfrentar Jarbas Vasconcelos que quase o destruiu politicamente em 98, por conta dos precatórios do governo Arraes, do qual ele foi secretário da Fazenda. De lá pra cá, o deputado não tem feito outra coisa a não ser preparar sua artilharia contra o governador. Além de ter na ponta da língua um discurso sobre os precatórios, capaz de colocar Jarbas Vasconcelos na defensiva, ele vem fazendo dossiês sobre a atual administração para usar no momento certo. Aos 36 anos, com muita estrada pela frente, Eduardo Campos é o adversário que não interessa aos jarbistas. Não porque derrotaria o governador, hoje numa situação tão confortável que tem condições de conseguir um segundo mandato sem transtornos. Porque certamente imaginaram que nunca mais o PSB cruzaria o caminho deles, tamanha a derrota que sofreu na última eleição. Mas do jeito que os socialistas estão trabalhando, tudo indica que eles acreditam na possibilidade de um segundo round dessa briga, que começou quando Arraes foi nocauteado. Seria um clássico vale-tudo, daqueles com muita emoção, como os eleitores tanto gostam.

Os adversários do presidenciável José Serra (PSDB-SP) são cruéis. Andam dizendo que o vice ideal para compor a chapa do tucano seria Pedro Parente, da Câmara de Gestão da Crise Energética. A união da dengue com o apagão, ou seja, a derrota dos dois

Testamento 1
José Marcos (PFL) desistiu de disputar um novo mandato mas não tem sossego. O deputado se dedica, agora, a uma tarefa complicada: fazer o testamento dos seus votos espalhados pelo Pajeú, Moxotó, Arcoverde, Alagoinha, Pedra, Venturosa, Caruaru, e por aí vai.

Testamento 2
Tem muita gente querendo herdar os votos mas ele avisa que o testamento terá uma cláusula pétrea: só pefelistas e aliancistas podem ser herdeiros, com o compromisso de fazer parte da base eleitoral de Inocêncio Oliveira (PFL-PE). Mais pragmático, impossível.

Eleição
Luiz Vidal, do PSDC, está eufórico porque seu partido terá candidato a presidente. José Maria Eymael disputa pela segunda vez e a estratégia de campanha será traçada dia 28, no Hotel San Raphael, São Paulo, na reunião com representantes dos diretórios da legenda.

Eleição 2
Vice-presidente do PSDC em Pernambuco, Vidal coordenará a campanha de Eymael também na Paraíba, Ceará, Rio Grande de Norte, Alagoas, Bahia e Piauí. E diz que o partido reivindicará ao governador, de quem é aliado, uma vaga no Senado. É complicação pra ninguém botar defeito.

Manifesto
Carlos Lapa anuncia que os prefeitos do PSB estão fazendo um manifesto para entregar a Eduardo Campos, pedindo que o deputado seja o candidato do partido ao Governo do Estado. A velha e esgarçada história de pressão das bases.

Palestra
Joaquim Francisco (PFL-PE) fala sobre O Momento Político-Social Brasileiro nessa segunda-feira, às 19h30, no auditório da Aeso, em Olinda. A palestra é aberta ao público.

Propostas
Roberto Freire, do PPS, vai ao Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco, segunda-feira, às 15h, conversar com Henrique Leite (PT). O senador, que faz parte da Comissão Mista de Segurança do Congresso, quer discutir com os policiais civis propostas para combater a violência.


Editorial

O APARTHEID ISRAELENSE

Mediante a criação de zonas de segurança nos territórios ocupados na Cisjordânia e Faixa de Gaza, o primeiro-ministro Israelense, Ariel Sharon, acaba de segregar em espaços sob controle militar a população palestina. É o apartheid. A recorrência a uma das formas mais brutais de violação aos direitos humanos não pode provocar no mundo civilizado senão reações de espanto e repúdio. Reproduz-se ali a política segregacionista que infelicitou a África do Sul desde os idos de sua colonização européia, com o sacrifício de milhões de pessoas.

O conflito no Oriente Médio, agravado com a nova intifada palestina iniciada em setembro de 2000, avança sobre os planos de uma barbárie próxima à demência. Há agora entre israelenses e palestinos um estado belicoso de extermínio mútuo. É uma violência que se faz cega diante dos mais elementares princípios humanos e de valores morais situados acima de hostilidades levadas adiante pelas armas.

De um lado, Israel movimenta um dos mais pujantes aparatos bélicos do planeta para quebrar a resistência adversária. De outro, palestinos recorrem aos braços militares de organizações políticas, como o Hamas, para semear o terror em Israel. No período, 1.267 pessoas (65 só nos últimos dez dias) foram trucidadas. Centenas de outras sofrem os efeitos de mutilações graves. A causa essencial da escalada no conflito é a ocupação israelense dos territórios palestinos na Cisjordânia e Faixa de Gaza.

A devolução das áreas à Autoridade Palestina ficou pactuada nos chamados Acordos de Oslo (1993) como meio de pôr fim ao conflito. Algo que tomou como fundamento básico a fórmula terra por paz. Não vingou, contudo, porque Israel tomou a oposição palestina às conversações de Camp David, patrocinadas pelo então presidente Bill Clinton, como pretexto para rasgar os Acordos de Oslo. A situação já de si sombria assume agora dimensões truculentas poucas vezes registradas na crônica das hostilidades de fronteiras entre países ou em conflagrações intestinas.

Não basta a Israel manter confinado em Ramallah, sob a mira de blindados, o líder palestino com quem deveria negociar a paz, Yasser Arafat. Em intensificação progressiva das retaliações, passou dos tanques de assalto ao uso de helicópteros, bombardeios aéreos e disparos de mísseis de suas forças navais. Destruiu parte do quartel general de Arafat em Ramallah. O líder palestino escapou por milagre. E, desde quinta-feira, submete os palestinos da Cisjordânia e Gaza ao regime do apartheid.

Sharon faz pouco caso das reiteradas exortações da União Européia para que cumpra as resoluções da ONU no tocante à devolução dos territórios ocupados. É a condição essencial para o estabelecimento da paz. Mas Israel segue adiante com a política de terra arrasada até que os Estados Unidos recriem para a região diplomacia baseada no bom senso. E o bom senso manda, antes de tudo, retirar apoio aos extremismos belicosos.


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02/24/2002


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