Bioenergia inspira futuros engenheiros da Poli na construção de robôs



O robô condutor de cana-de-açúcar, permitia que a coleta fosse mais rápida e de longo alcance

Projetar e construir robôs em 14 dias foi uma das missões dos estudantes de engenharia que participaram da 19ª edição da Robocon, competição internacional realizada no mês de julho, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Os universitários foram desafiados a simular a produção de biocombustível, desde a colheita da cana-de-açúcar, a sua transformação em etanol e o seu transporte por navio. Distribuídos em oito equipes de seis participantes, cada grupo teve a tarefa de construir três robôs, aplicando na prática os conhecimentos recebidos em sala de aula.

Ganchos, ímãs, garras, antenas, rodas de madeira entre outros materiais, acrescidos de criatividade, formaram os elementos para a confecção dos 24 robôs da competição. Um dos destaques, o robô condutor de cana-de-açúcar, permitia que a coleta fosse mais rápida e de longo alcance. Muito parecido com um guindaste, possuía um gancho de 60 centímetros de comprimento, facilitando o transporte. Esse pequenino demonstrou eficiência por conseguir colher o maior número de objetos, em comparação com os outros robôs. Enquanto as outras unidades recolhiam uma ou duas, ele abastecia com três.

Origem nipônica – Outro momento importante foi a disputa entre os carregadores de barris de etanol, que funcionavam como se fossem navios em alto-mar. Foi o ponto decisivo da disputa. O carregamento deveria chegar até uma balança para que a pontuação fosse concluída. Nessa fase, uma das equipes teve muita dificuldade na movimentação do “navio”, que nos segundos finais apresentou problemas, permanecendo isolado no corredor de água.

Desde 1990, o evento, que teve origem no Japão, possibilita aos acadêmicos de engenharia de todo mundo desenvolverem sua capacidade criativa. A partir de 1993, a Poli/USP passou a representar o Brasil nas competições internacionais. Os temas e as tarefas são executados de acordo com as características e os fatores específicos de cada país, por isso a edição deste ano teve como tema a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar.

O professor de projetos de máquinas da Poli/USP e um dos coordenadores do evento, Gilberto Francisco Martha de Souza, explica que a Robocon não é uma competição entre países, nem comercial, mas uma forma de estimular o aprendizado. “Desenvolver o relacionamento humano e o pensamento inovador são os grandes objetivos.” Para ele, “o profissional de engenharia não basta ser bom tecnicamente, é preciso saber se comunicar, expor suas idéias para resolver os problemas e os desafios do dia-a-dia”.

Construção e prática – Os 48 alunos do segundo ano de engenharia selecionados para o evento foram mesclados e os grupos se formaram com representantes de diferentes países – Estados Unidos, Japão, Coréia, Tailândia, França e Brasil. “Os jovens só se conhecem no dia das primeiras atividades de construção das máquinas, uma forma de exercitar ainda mais o senso criativo e de comunicação”, informou Gilberto.

Após a divisão em grupos, os universitários recebem os mesmos materiais para a construção dos robôs: madeira, alumínio, plástico, motores elétricos e cilindros pneumáticos. Depois são encaminhados para as oficinas mecânicas da Poli/USP para dar início aos trabalhos. A partir daí, restam duas semanas até o dia da competição. Segundo o professor Gilberto, os próprios alunos são os responsáveis pelo projeto e pela criação. “Eles devem desenvolver três robôs para realizar as tarefas previstas no desafio. Os professores e instrutores responsáveis apenas auxiliam quando necessário, não interferindo na idéia de criação dos grupos”, afirma.

Depois da longa jornada de trabalho de oito horas diárias, os alunos finalizaram no tempo previsto a construção de todas as máquinas. Foi preparado um circuito onde os robôs guiados pelos estudantes simulariam as etapas de produção de etanol, conforme os objetivos estipulados pelos organizadores.

Três integrantes do grupo operavam as máquinas para a realização das tarefas; os outros três eram auxiliares. As operações foram fiscalizadas por juízes e pelo público presente. Gilberto lembra que para ganhar uma rodada as equipes deveriam atingir o maior número de pontos em cada etapa. “A primeira é a coleta da cana-de-açúcar, depois ela deve ser levada até a usina e transformada em etanol. Cada coleta de cana habilita o transporte dos barris de etanol, que por sua vez são encaminhados até uma estação, como se fosse um porto de carregamento”. explicou o professor.

Robocon facilita participação de estudantes em estágios fora do País

Larissa Dreimeier, professora de Engenharia Mecatrônica da Escola Politécnica da USP (Poli/USP), ressaltou que “depois de todo o trabalho de criação realizado pelos estudantes é gratificante observar os resultados que obtiveram e a felicidade de ver as suas idéias na prática”. E destacou: “Além da fluência em inglês e na melhoria dos currículos, a competição internacional da Robocon facilita ao aluno participar de estágios em outros países, o que contribui para a formação de um profissional mais qualificado”.

Eduardo Tannuri, 31 anos, professor de engenharia mecatrônica da Poli/USP, foi participante no tempo de estudante. “Participar de competições como essas garante, além do convívio com alunos de outros países, crescimento e maturidade pessoal. O universitário percebe que a engenharia requer muito trabalho em equipe”.

Os integrantes do grupo brasileiro estavam satisfeitos. Rodrigo Eiji Yamagata Diana, de 20 anos, estudante do terceiro semestre, comemorou: “É gratificante pertencer a esse grupo de futuros engenheiros e poder aprender cada vez mais cedo sobre a profissão que escolhemos”. Outro aluno que fez parte da equipe da Poli/USP, a estudante do terceiro semestre Renata Prata Ferreira, de 21 anos, lembrou: “Desde criança sempre gostei de brinquedos que tivessem segredos para serem descobertos. Desmontar e remontar eram as atividades que eu mais gostava de fazer. Nunca quis brincar com bonecas. Quando meus pais me presenteavam com uma, eu logo a recusava”.

Depois de três horas de disputa, apenas as equipes azul e amarela foram para a final. O campeão seria revelado numa melhor de três partidas. A primeira foi vencida pela equipe amarela e a segunda, pela equipe azul. Uma final emocionante marcou a terceira e decisiva etapa, consagrando o time azul como vitorioso da 19ª edição da Robocon. Após a cerimônia de entrega das medalhas aos participantes, a diversão ficou por conta das crianças que puderam aproveitar para pilotar os robôs.

O surgimento dos robôs e os biocombustíveis

O termo robô tem origem na palavra tcheca robota, que significa trabalho forçado. O robô é um dispositivo ou grupo de dispositivos eletromecânicos ou biomecânicos capazes de realizar trabalhos de maneira autônoma, pré-programada, ou através de controle humano. O primeiro robô industrial surgiu na década de 1960, porém os robôs móveis começaram a aparecer somente dez anos depois. Mas foi na década de 1980 que a tecnologia robótica começou a avançar, com os robôs móveis e autônomos. Além de diversas aplicações, eles podem ser empregados em outras tarefas, que vão do transporte de peças em uma indústria até a substituição do ser humano na execução de tarefas perigosas.

Os biocombustíveis são materiais biológicos que, quando queimados, geram energia. Praticamente isso ocorre com todo material biológico. O tipo mais difundido de biocombustível no Brasil é o álcool, proveniente da cana-de-açúcar. Sua principal vantagem é emitir menos poluição na atmosfera terrestre em comparação aos combustíveis derivados do petróleo como gasolina e óleo diesel.

Além do álcool, da cana se obtém açúcar e bagaço, que também pode ser transformado em energia. Atualmente, o Brasil e os Estados Unidos são responsáveis por 70% do etanol produzido no mundo. O Brasil prod uz a partir da cana-de-açúcar; os EUA, do milho.

Destaque da competição

O robô que recebeu a missão de coletar barris de etanol ganhou aplausos e despertou curiosidade nos visitantes, destacando-se como modelo inovador e mais eficiente. Tinha 40 centímetros de comprimento, 60 centímetros de altura e uma haste móvel para coleta dos barris, de 30 centímetros. Equipado com duas rodas de madeira de aproximadamente 20 centímetros de diâmetro, dois motores elétricos alimentados por uma bateria com autonomia de 10 minutos, esse robô era extremamente ágil e rápido nos movimentos.

Da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



08/02/2008


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