Pesquisa da Poli/USP reaproveita areia e brita usadas na construção civil



Material obtido atende aos requisitos e normas técnicas vigentes e abre novas perspectivas para as usinas de reciclagem

Pesquisa da Escola Politécnica da USP conseguiu reaproveitar areia e brita utilizadas na construção civil em aplicações de concreto armado. No processo, são obtidos materiais mais resistentes e com qualidade superior ao agregado reciclado, matéria-prima de origem mineral comum em construções.

Uma das possibilidades do trabalho é substituir o agregado reciclado. Este composto tem baixo desempenho mecânico e é atualmente usado para pavimentar ruas e fabricar blocos. Segundo a pesquisadora responsável, Carina Ulsen, do Laboratório de Caracterização Tecnológica da Poli, a nova técnica torna mais rápida a produção de areia e brita recicladas de baixa porosidade.

“No entulho da construção civil, a rocha geralmente está contaminada por pasta de cimento de alta porosidade e baixa resistência, o que torna o agregado reciclado impróprio para concreto estrutural. Já a areia pode ter solo como contaminantes, inutilizando-a para argamassa”, observa.

Obstáculo superado foi conseguir separar os materiais de acordo com as características físicas e químicas, de modo a atender às exigências de cada aplicação na construção civil. Segundo a pesquisadora, a técnica de reaproveitamento é segura e atende aos requisitos das normas técnicas vigentes.

Cuidado especial foi adotado, ou seja, empregar amostras diversificadas, provenientes de aterros de três capitais: São Paulo, Rio de Janeiro e Maceió. O objetivo era comprovar a eficiência do método independentemente da origem do resíduo.

Expansão do mercado

Atualmente, a maioria das usinas de reciclagem limita-se a moer todo o entulho (telhas, tijolos, rochas, metais, madeira, concreto, plástico, gesso) e peneirá-lo conforme a granulometria desejada.

Com o estudo da Poli, abre-se a possibilidade de se expandir no País o mercado de reaproveitamento dos resíduos de construção civil e demolição. Este é um caminho para aumentar a sustentabilidade do setor da construção civil. E uma alternativa para diminuir a extração de minerais não-renováveis na natureza e o depósito dos restos em aterros e rios.

A próxima etapa da pesquisa será fazer o levantamento de custos e a adaptar o projeto para instalação em escala comercial. Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), há potencial no mercado para o produto.

No Brasil, o consumo de agregados é de 400 milhões de toneladas por ano, enquanto que a geração de resíduos da construção civil e demolição (RCD) é de aproximadamente 70 milhões. Considerando somente a fração mineral do entulho (75% a 90%, segundo a pesquisadora), a reciclagem do resíduo com agregados poderia atender até 17% do mercado.

Estima-se que 20% dos RCD produzidos no Brasil sejam depositados em aterros ilegais, nas margens de rios, córregos, estradas ou em terrenos baldios.

Sustentabilidade para o setor

A pesquisa realizada por Carina Ulsen reuniu profissionais dos departamentos de Engenharia de Minas e Petróleo e de Construção Civil da Poli com o Centro de Tecnologia Mineral e a Universidade Federal de Alagoas. Foi bancada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes).

“Nossa expectativa é que essa pesquisa contribua para a sustentabilidade do setor de construção civil, para diminuir a extração de bens minerais não-renováveis”, prevê a pesquisadora. “Agora, o desafio é produzir uma areia reciclada para compor a argamassa usada em acabamentos finos”, conclui. 

Da Escola Politécnica / USP

(I.P.)

 



02/27/2008


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