Brasil deve conhecer mais sobre China, Índia e África do Sul, recomendam especialistas



O Brasil deve investir na ampliação de seu conhecimento sobre a China, a Índia e a África do Sul, segundo recomendaram nesta segunda-feira (16) os participantes de audiência pública sobre a política externa desses três países promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), dentro do ciclo de debates intitulado Rumos da Política Externa Brasileira (2011-2012).

O professor Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, sugeriu que o Brasil promova uma "reorientação estratégica fundamental" para se aproximar dos demais países emergentes e, especialmente, da China, que já se transformou no principal parceiro comercial do país. Ele lamentou que se estude pouco a China no Brasil, enquanto nos Estados Unidos há 120 núcleos de estudos a respeito daquele país. Ao mesmo tempo, ressaltou, existem apenas 11 diplomatas brasileiros na China.

- Existem mais diplomatas brasileiros em Roma do que em Pequim. É mais fácil morar em Roma do que em Pequim ou em Nova Dehli. Nossos alunos precisam ir à China e à Índia, mas não existem bolsas. Um centro de estudos da China acaba de contratar 20 pesquisadores apenas para entender o Brasil. A China é como a menina bonita com quem todos querem dançar, mas o Brasil chegou tarde à festa - afirmou.

Da mesma forma, o professor Ubiratan Castro de Araújo, da Fundação Pedro Calmon, pediu maior aproximação do Brasil com a África. Ele defendeu recentes iniciativas da política externa brasileira em relação ao continente, como o perdão de dividas de países africanos e a cooperação em áreas como a agricultura e a produção de remédios. Mas ressaltou a necessidade de maior aproximação entre as sociedades do Brasil e do continente africano.

- A presença brasileira na África ainda é muito limitada. O Brasil está formando uma elite negra e precisamos ter mais contato povo a povo, mas não temos bolsas ou estímulo para levar os jovens brasileiros a esse contato - lamentou.

Entre as grandes tendências atuais do mundo, apontou o professor Severino Bezerra Cabral Filho, do Instituto Brasileiro de Estudos de China e Ásia Pacífico, está o surgimento do que chamou de "gigantes emergentes", como Brasil e China. Para ele, a estrutura mundial de poder tende a se transformar, com o surgimento de um sistema multipolar.

- Temos que tirar lições do mundo atual. Nessa terceira onda global não haverá como deixar de projetar os interesses vitais desses países. A China é um grande país do centro da Eurásia, nós somos um grande país meridional do Ocidente. O Brasil e a China têm um grande papel a desempenhar nessa nova ordem multipolar que se aproxima - previu.

Ao mostrar uma foto dos líderes dos Brics durante a sua última reunião de cúpula, realizada na cidade chinesa de Sanya, em 14 de abril, o professor Ricardo Sennes, da Universidade de São Paulo, ressaltou aspectos positivos do grupo, como a "rara diversidade étnica". Recordou, porém, que a ascensão desses países ainda esbarra em um quadro global de "claros diferenciais de poder".

- No poder militar, a capacidade de influenciar em escala global ainda é bastante concentrada. O mesmo ocorre em relação à capacidade de inovação - lembrou.

Durante o debate, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) citou a importância dos debates que ocorrerão na conferência Rio+20, sobre meio ambiente e desenvolvimento, prevista para o ano que vem. E disse identificar quatro fragilidades comuns aos países que integram o grupo dos Brics: a desigualdade social, a fragilidade política (marcada, por exemplo, pela "imensa força" do Partido Comunista Chinês), o atraso da educação pública e os riscos ao meio ambiente produzidos especialmente pelo crescimento de China e Índia.

O presidente da comissão, senador Fernando Collor (PTB-AL), disse ter "convicção" de que, na Rio+20, "estaremos muito próximos de um consenso que haverá de nos levar à salvação da vida no planeta". O senador Pedro Simon (PMDB-RS), por sua vez, manifestou sua expectativa de um fortalecimento da Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da inclusão, em seu Conselho de Segurança, de países emergentes como Brasil, Índia e África do Sul.



16/05/2011

Agência Senado


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