Brasil deve liderar atualização do Protocolo de Kyoto, sugere Goldemberg
O Brasil deveria usar o seu peso político na área ambiental para garantir o início das negociações destinadas a atualizar o Protocolo de Kyoto, recomendou nesta quarta-feira (14) o físico José Goldemberg, durante audiência pública promovida pela Subcomissão Permanente de Acompanhamento do Regime Internacional de Mudanças Climáticas, ligada à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Ele recordou que as metas do atual protocolo esgotam-se em 2012.
O Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005, ainda não foi ratificado pelos Estados Unidos, responsáveis - como lembrou o físico - por 23% das emissões globais de gases que causam o efeito estufa e o conseqüente aquecimento do planeta. O governo norte-americano resiste ainda a aceitar metas para a emissão desses gases enquanto países como a China - atualmente responsável por 17% das emissões - também não o fizerem. Por outro lado, a própria China e outros países em desenvolvimento evitam falar de metas enquanto os Estados Unidos não fizerem o mesmo.
- Estamos no pior dos mundos, em que um lado culpa o outro. O Brasil pode exercer um papel de liderança e tentar quebrar essa dicotomia de posições para que se estabeleça uma discussão conseqüente - sugeriu Goldemberg.
Na opinião do professor, é urgente que se renegocie e se estenda o raio de ação do atual protocolo de mudança climática. Segundo o texto em vigor, deve ser promovida até 2012 uma redução na emissão dos gases para 5,2% abaixo das emissões em 1990 - o que corresponderia a uma redução real de 20% das atuais emissões. Alguns movimentos ambientalistas defendem a redução em 60% das emissões até 2050. Embora considere essa meta improvável, Goldemberg defende que se adote uma meta ao menos próxima dessa.
Logo em seguida de Estados Unidos e China, informou o físico, um grupo de cinco países - Brasil, Rússia, Japão, Índia e Alemanha - divide o terceiro lugar na emissão de gases do efeito estufa, cada um com aproximadamente 4% do total. Dos 4% referentes ao Brasil, 3% estão ligados ao desmatamento da Amazônia. Ou seja, a destruição da floresta responde por três vezes a emissão de gases por todo o resto do país. Sem contar com o desmatamento na região - disse Goldemberg em resposta ao senador Augusto Botelho (PT-RR) - o Brasil seria o 18º maior emissor de gases do efeito estufa.
- O Brasil não pode ficar em uma posição imobilista. O desmatamento da Amazônia causa prejuízos e muda o clima do próprio país, a exemplo do Nordeste, que ficará mais seco - disse Goldemberg.
Segundo o professor, foram criados recentemente grupos de trabalho internacionais para elaborar até 2010 propostas que possam entrar em vigor em 2012. Na sua opinião, o Brasil poderia convocar uma conferência dos dez maiores emissores de gases e dar início à discussão do tema. Mesmo que o Brasil não aceite metas gerais de emissão de gases, propôs, poderiam ser adotadas metas de redução do desmatamento da Amazônia. Por outro lado, sugeriu, a China poderia comprometer-se a aumentar a eficiência de suas usinas de produção de eletricidade a partir do carvão.
Durante o debate, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) advertiuque, sem uma redução dos índices de desmatamento, o Brasil pode não ser capaz de manter a soberania sobre a Amazônia. Por sua vez, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) defendeu a adoção, para a região, de um zoneamento econômico-ecológico, capaz de indicar as áreas que deverão permanecer protegidas.14/03/2007
Agência Senado
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