Brasil foi o melhor de 2013 em maratonas aquáticas



Tamanho foi o sucesso dos brasileiros nas maratonas aquáticas em 2013 que países de tradição na modalidade já estão interessados em conhecer os métodos de treinamento dos nadadores daqui e até mesmo passar períodos mais extensos de intercâmbio na cidade de Santos, em São Paulo, por exemplo.

Em 2013, o Brasil foi o campeão por equipes das maratonas aquáticas no Mundial de Desportos Aquáticos, disputado entre julho e agosto, em Barcelona, na Espanha.

Além disso, entre outras medalhas conquistadas no ano em etapas da Copa do Mundo, Samuel de Bona conseguiu o primeiro ouro da equipe masculina na história, em Hong Kong, em outubro.

Em Barcelona, Poliana Okimoto conquistou o ouro na prova de 10 km (olímpica) e foi prata na de 5 km. De quebra, ainda ajudou a equipe do Brasil a faturar o bronze no revezamento de 5 km, quando somou forças com Allan do Carmo e Samuel de Bona.

Fechando a campanha marcante do país no Mundial da Espanha, Ana Marcela Cunha foi prata na prova de 10 km e bronze na de 5 km. As cinco medalhas garantiram o primeiro lugar para o Brasil na classificação geral.

Igor de Souza, diretor de maratonas aquáticas da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), lembra que no Mundial anterior, disputado em Xangai, em 2011, o Brasil tinha sido apenas o 13º. “Assim, sinceramente, eu pensava que se a gente ficasse em quinto, brigando com a França e a Rússia, já seria ‘um estouro’!”, confessa. Segundo Igor, o nível do Mundial da Espanha foi muito elevado, o que só reforça o tamanho da conquista do Brasil. “Fomos para Barcelona cientes de que nós iríamos enfrentar a Alemanha, a Itália, os Estados Unidos, a Grécia, com medalhista olímpico...”, enumera.

O dirigente diz que a preparação dos brasileiros está mais focada na prova dos 10 km, que é olímpica. “Daí, esperava-se que na primeira prova, de 5 km, mais rápida e mais acirrada, se as meninas ficassem entre as oito primeiras já seria um sucesso. E nós ganhamos duas medalhas. Mas o que ajudou mesmo foi a evolução do masculino. Esperávamos no máximo um entre os 16 melhores e tivemos todos entre os oito. Depois, nos 10 km masculino, o Allan foi sétimo. Ele tinha sido 18º em Xangai. Somamos pontos importantes”, ressalta.

Veio, então, a esperada prova dos 10 km. E as meninas do Brasil brilharam intensamente, conquistando o ouro e a prata, um feito inédito na história. “Na última volta, com 15, 20 minutos de prova, eu já tinha certeza de medalha quando as duas, a Poliana e a Ana Marcela, apontaram na reta. Elas ‘fecharam a porteira’, como a gente diz. Na prova dos 5 km, a norte-americana (Harley Anderson) atacou no fim. Ficou difícil para a Poliana, que é menor que ela, em altura e peso (a brasileira tem 1,65m e 49 kg).”

Fazendo contas

Na prova dos 10 km, as brasileiras emparelharam e conseguiram se defender da adversária. “Podia ser uma ou outra. Estavam jogando limpo, mas a Poliana defendia pelo lado direito e a Ana pelo esquerdo. Estrategicamente, conseguimos um xeque-mate. Era nosso sonho de consumo”, comemora Igor, que, após o sucesso na prova, recomeçou a fazer as contas. “Eu sabia que a gente tinha chance de ser campeão por equipes se ficássemos entre os quatro primeiros do revezamento e na frente dos alemães”, recorda.

No revezamento, as equipes saem a cada minuto e conta o tempo de chegada do terceiro nadador — a garota, normalmente, vai “puxada” no vácuo dos dois nadadores de sua equipe. O Brasil ficou em terceiro. Igor, então, sacou a calculadora para a prova dos 25 km. Uma alemã desistiu e Ana Marcela, que tinha sido ouro em Xangai, foi a quinta colocada. Diogo Vilarinho ficou mais para trás, em 20º (a pontuação vai até 16º). Mas o que o Brasil precisava era de pelo menos dois atletas entre os oito primeiros, no feminino e no masculino. Um alemão também desistiu e Allan foi quinto.

“Brasil e Alemanha empataram, mas eu tinha visto o critério de desempate e, no Mundial, não conta o revezamento, prova na qual eles foram campeões e, nós, terceiro colocado. Assim, eles perderam mais pontos do que a gente”, explica Igor de Souza. “Além da nossa performance, tivemos todos esses fatores. Mas o importante é que fomos campeões.”

Retaguarda e mar o ano todo

Igor atribui à equipe multidisciplinar, de retaguarda, boa parte do sucesso do Brasil nas maratonas aquáticas em 2013. “São profissionais trabalhando com as famílias, com a auto-estima dos atletas, com os problemas alimentares, com as lesões crônicas. Com os recursos do Ministério do Esporte para estruturarmos tudo, fomos nos organizando. Para mim, é o principal fator de sucesso.”

 As equipes multidisciplinares foram divididas em grupos específicos, para o time feminino e o masculino. “Os atletas ganharam confiança. E, com aparelhagem específica, descobrimos coisas importantes para a alimentação, como a intolerância a amido por parte da Poliana, por exemplo, que perdia peso e energia para treinos e competições. Conseguimos que a Ana Marcela também mantivesse a regularidade no peso. Ainda temos planos de conseguirmos mais equipamentos agora, com os recursos do Plano Brasil Medalhas para 2014, como um laboratório ambulante que faz 114 tipos diferentes de exames.”

Com tanto sucesso em 2013, o país tornou-se referência nas maratonas aquáticas. Antes, observa o diretor da CBDA, o Brasil procurava no exterior suas bases de treinamento. “Hoje, invertemos a situação. Todo mundo quer saber do nosso trabalho. Rússia, França, Estados Unidos, Hungria... Todo mundo quer vir treinar aqui. Mas eles ficam o quê? Quinze dias? Eles não têm o mesmo apoio governamental que nós”, comemora.

Simulação por GPS

“O Brasil tem uma vantagem que ninguém tem”, lembra Igor. “Trabalhamos o ano inteiro. Temos mar o ano inteiro. Eles, no hemisfério norte, só têm entre junho, julho e agosto (verão). Depois, treinam em piscina ou vêm para cá. Mas nós temos nove meses a mais do que eles para treinar em mar”, celebra.

E Igor vai além: “Para uma prova em qualquer lugar do mundo, com mar agitado, calmo, frio, quente, mais ou menos correnteza, represa ou rios nós podemos fazer simulação aqui no Brasil. Temos tudo isso! Com ajuda do GPS, montamos raias idênticas, em lugares muito similares àqueles onde que vamos competir. O Hyde Park, de Londres, dos Jogos Olímpicos de 2012, por exemplo. Encontramos similaridade na represa Billings, em São Paulo”, exemplifica.

Segundo o coordenador, o que os atletas precisam ter em mente de agora em diante — e isso terá de ser ainda mais trabalhado psicologicamente para o Mundial de 2015 — é que, agora, por conta do sucesso em Barcelona, eles estão “sob os holofotes”, ao contrário do que tinha ocorrido até então. “Antes, éramos flechas. Com o que conseguimos em 2013, o Brasil agora é alvo nas maratonas aquáticas. Vamos trabalhar sob muita pressão”, adianta.

Fonte:
Brasil 2016 



10/12/2013 18:35


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