Brasil perdeu a vez em alta tecnologia
Brasil perdeu a vez em alta tecnologia
Faltou uma política, diz especialista. O Brasil não soube aproveitar as oportunidades criadas pelo comércio globalizado. Ao contrário. Reduziu a sua participação no mercado mundial, ficando à margem das exportações de alto conteúdo tecnológico, o segmento que mais cresce no mundo.
O alerta é do professor da Universidade de Oxford, o indiano Sanjaya Lall, especialista em investimentos e desenvolvimento industrial. Lall, que participou do seminário internacional Novos Rumos de Desenvolvimento, promovido pelo BNDES. Para Lall, a questão é que o Brasil não desenvolveu uma política industrial de atração de investimentos para exportações. Assim, apesar das vendas dos aviões da Embraer, o Brasil mal aparece nas estatísticas de participação mundial no mercado de alta tecnologia. Caminho diverso adotou a China: somente em microcomputadores, os chineses exportam US$ 14 bilhões por ano.
O professor da Universidade de Columbia, Albert Fishlow, também presente ao seminário do BNDES, disse que as exportações brasileiras precisam crescer a taxas constantes de 6% a 8% ao ano e que o País tem de aumentar para até 20% a participação de suas vendas externas no PIB. Caso contrário, segundo ele, o Brasil não resolverá a vulnerabilidade de suas contas externas e tampouco experimentará crescimento econômico sustentado.
O vestibular pelo primeiro emprego
Vaga de trainee numa grande empresa é mais disputada do que em grande universidade. Os programas de trainees e estagiários tornaram-se a principal porta de entrada para a carreira nas maiores empresas do Brasil. Com a oferta cada vez maior de profissionais graduados, os processos seletivos têm gerado uma elite de alta capacitação técnica e gerencial, de jovens com até 26 anos de idade.
A conquista de um posto como o de trainee da Rhodia, que recebe salário de R$ 2.350,00, não é fácil. A empresa é uma das poucas que aumentaram o número de vagas em seu programa deste ano - de 80 para 100 -, mas a disputa continua apertada. Cerca de 16 mil estudantes no último ano de graduação superior ou com até dois anos de formados candidataram-se, pela internet, a uma das vagas. No ano passado, foram 14 mil.
Os programas de trainee de Unilever, Basf, Brasil Telecom, Alcoa, ALL-Delara e Natura também têm altíssima relação de candidatos por vaga. Em comum, oferecem mais um ciclo de formação técnica, vivência prática nos diversos setores da empresa e boa remuneração inicial, além da possibilidade de uma carreira promissora. Destas, a operadora de logística ALL-Delara diferencia-se por não limitar o número de vagas, que fica vinculado ao número de candidatos que tenham o perfil desejado, segundo Márcia Baena, coordenadora da "área de gente" da empresa.
Em muitos casos, os programas de trainees são assistidos por empresas especializadas em recrutamento de jovens valores. A Companhia de Talentos, divisão da DM Recursos Humanos, acompanhou o processo seletivo de 49 grandes empresas no segundo semestre de 2001.
Recebeu mais de 180 mil inscrições para 300 vagas, um índice de aprovação de apenas 0,16%.
Segundo Sofia Esteves de Almeida, diretora da empresa, mais de 70% dos currículos - todos enviados por e-mail - caem antes de chegar à fase de testes, também pela internet."Somente 7% chegam à fase presencial, em que são feitas dinâmicas de grupo, provas situacionais, "games" de negócios e entrevistas", diz.
Deicmar exporta mais carros por Santos
A Deicmar, operadora logística, nascida como despachante aduaneira, vai embarcar neste ano pelo seu terminal privativo do porto de Santos um total de 115 mil veículos - crescimento de 20% sobre o volume de 2001, de 95,4 mil unidades.
O acréscimo de volume se dará porque a Deicmar passou a operar os embarques de exportação da Ford e pelo incremento das vendas externas de veículos para o México.
Dos 115 mil carros previstos para ser embarcados pelo terminal de Santos, cerca de 50% são da marca Volkswagen. Outros 25% são veículos da Ford. A General Motors entra com 15%. "Outros 10% são exportação de carros de outras marcas, incluindo Fiat (1,5% do total)", diz o diretor comercial Omar Passos.
"O porto de Santos melhorou, está com custos competitivos. Pretendemos aumentar nossos volumes. O problema é que o pátio de estacionamento retroportuário não comporta volume acima de 200 mil unidades por ano", afirma Richard Schues, diretor da Volkswagen Transport, braço de transporte da empresa alemã, que opera um terminal privativo para embarque de carros no porto de Paranaguá.
Aumenta demanda por lazer no Brasil
Uma população com jornada de trabalho crescentemente reduzida, mais idosa e com o consumo básico atendido, tem ampliado a demanda por lazer nos países desenvolvidos. No Brasil, as camadas de renda mais alta, guardadas as proporções, repetem o comportamento e fazem crescer o movimento dos serviços em geral e do turismo em particular - excetuados tropeços de curto prazo, como a retração mundial provocada pelos atentados de 11 de setembro.
Biagi Filho constrói nova usina em S. Paulo
Depois de dois anos de negociações, o empresário Maurílio Biagi Filho, presidente do conselho da Usinas Santa Elisa e integrante do segundo maior grupo do setor, acaba de constituir, com sócios e parceiros paulistas, uma nova empresa sucroalcooleira: a Usina Vertente, a ser implantada em Guaraci, no noroeste de São Paulo. Com investimentos previstos em mais de R$ 35 milhões, a Vertente tem uma partipação de 20% da Santa Elisa , 40% da Usina Moema e 40% da Cleel Empreendimentos.
A sociedade envolve uma parceria inédita com os dois principais fornecedores de cana da Santa Elisa - a Humus Agropecuária e a Agropecuária CFM -, além de famílias tradicionais ligadas ao setor na região, como Biagi, Junqueira, Marchesi e Lunardi.
Franquias para vender roupas infantis
Fabricantes de vestuário infantil estão reforçando a estratégia de abrir lojas em shopping centers com marca própria ao partirem em busca de novos franqueados. O objetivo é aumentar a exposição das roupas para públicos das classes A e B. Em contrapartida, diminuem as vendas a antigos clientes, principalmente as lojas de departamentos. A Marisol abrirá somente neste ano 22 Lilica & Tigor. A Hering segue o mesmo caminho e inaugurará 10 lojas em 2002. A Green fechará o ano com mais seis franqueadas.
Colunistas
US$ 500 mi com a suspensão de cotas da UE
Maria Helena Tachinardi
O Brasil espera uma receita adicional de US$ 500 milhões, até o final de 2004, como resultado do acordo com a União Européia (UE) assinado em julho, que suspende as cotas de exportação para aquele mercado de 240 produtos têxteis, entre eles camisetas, artigos de cama, mesa e banho, felpudos, tecido tinto e fios de algodão.
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) comemora o acordo porque ele antecipa em dois anos e meio o final das cotas, que seriam eliminadas somente no final de 2004, quando expira o Acordo de Têxteis e Vestuário (ATV). A partir de 2005, os têxteis passarão a ser regidos pelas normas da Organização Mundial de Comércio (OMC). O ATV substituiu o Acordo Multifibras, de 1974.
Agora, o principal mercado contingenciado é o norte-americano, que, individualmente, é o primeiro comprador de têxteis e confecções do Brasil: US$ 215,6 milhões no primeiro semestre, um crescimento de 29,5% em comparação com o mesmo período de 2001.
Conhecido por sua posição favorável à criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e pela agressividade com que vem negociando o fim das barreiras, Paulo Skaf, presidente da Abit, estimula ag ora o setor para novas estratégias em relação ao mercado norte-americano.
Como a negociação da Alca deverá terminar em dezembro de 2004, para a entrada em vigor dos acordos em 1º de janeiro de 2006, depois de um ano de prazo (todo o ano de 2005) para as ratificações pelos congressos dos 34 países, uma alternativa para o setor têxtil será negociar um aumento de cotas no mercado norte-americano.
Ao mesmo tempo, já existe uma reação positiva de algumas empresas, que planejam alianças estratégicas nos EUA. Além disso, o México, com o qual o Brasil deverá negociar um acordo de livre comércio, está sendo visto como porta de acesso para os EUA. "Talvez possamos antecipar a integração com o México antes da Alca. Já há empresas brasileiras visitando o México", diz Domingos Mosca, coordenador da área internacional da Abit.
Empresas dos EUA buscam parcerias, como a Springs Mills, que tem acordo operacional com a Coteminas.
Com o acordo que suspendeu as quotas de exportação de 240 produtos para a União Européia (UE), concluído em 8 de julho, a indústria têxtil brasileira espera uma receita adicional de US$ 500 milhões até o final de 2004, quando expira o Acordo de Têxtil e Vestuário (ATV) e o setor passará a ser regido pelas normas da Organização Mundial de Comércio (OMC), aonde entrará sem qualquer limitação de volumes, somente sujeito a tarifas.
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), antevendo que com o câmbio favorável e o aumento da competitividade, sobretudo em tecidos de algodão, camisetas e felpudos, estava batendo no teto autorizado pela UE, resolveu ir à luta. O resultado da negociação entre São Paulo, Brasília e Bruxelas, segundo o presidente da entidade, Paulo Skaf, foi um acordo que antecipou a liberalização do comércio de têxtil e vestuário entre o Brasil e a UE em dois anos e meio, período em que ainda estará em vigor o ATV.
O Brasil se comprometeu a não aumentar as tarifas de importação, cuja média é de 18% (a alíquota média na UE, para o setor, é de 9%) em troca da suspensão das quotas. Mas, se por algum motivo o próximo governo resolver elevar as alíquotas - o nível consolidado na OMC é 35% -, a UE poderá reintroduzir o contingenciamento.
As novas estratégias
Conhecido por sua posição favorável à criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e pela agressividade com que vem negociando o fim de barreiras, Skaf estimula agora o setor para novas estratégias em relação ao mercado norte-americano, que opera de forma diferente do europeu.
Ao contrário da UE, que já avançou bastante no sentido de adaptar-se ao fim das quotas a partir de 1º de janeiro de 2005, os EUA, que ainda possuem uma indústria têxtil e de confecção de grande porte, preferem alianças estratégicas e usam acordos regionais e setoriais de comércio nesse jogo.
Assim, os EUA se valem da Iniciativa da Bacia do Caribe (CBI, na sigla em inglês) e do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês) para tornar seus produtos mais competitivos. Os produtores norte-americanos enviam tecidos para os países do Caribe, que gozam de benefícios tarifários na CBI, e de lá importam as confecções prontas, feitas com mão-de-obra mais barata.
Da mesma forma, o México, um dos principais fabricantes de têxteis e de confecções da América Latina, beneficia-se da tarifa zero do Nafta para vender nos EUA e no Canadá. As empresas norte-americanas estão buscando alianças estratégicas, como a Springs Mills, que fez um acordo operacional com a Coteminas, pelo qual transfere parte de sua produção para o Brasil.
Como a negociação da Alca deverá terminar em dezembro de 2004 para a entrada em vigor dos acordos em 1º de janeiro de 2006, depois de um ano de prazo (todo o ano de 2005) para as ratificações pelos congressos dos 34 países, uma alternativa para o setor têxtil será negociar um aumento de quotas no mercado norte-americano.
Ao mesmo tempo, já existe uma reação positiva de algumas empresas no sentido de buscar alianças estratégicas nos EUA. O México está sendo visto como uma porta de acesso. "Talvez possamos antecipar a integração com o México antes da Alca. Já há empresas brasileiras visitando o México", disse o coordenador da área internacional da Abit, Domingos Mosca.
Há poucos dias, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Sérgio Amaral, e o secretário mexicano de Economia, Luis Ernesto Derbez, anunciaram o início de conversações para uma área de livre comércio, que poderá ser no âmbito do Mercosul ou entre cada sócio do bloco e o México.
Se as empresas brasileiras não quiserem esperar a Alca - que depois de 2006 poderá tardar entre oito e dez anos para uma queda acentuada de tarifas, como é normal numa área de livre comércio -, poderão antecipar-se e ter acesso ao Nafta via México, mas para isso precisarão produzir no mercado mexicano.
Acesso aos EUA via Nafta
A Alca não assusta o setor têxtil, que tem interesse em uma "desgravação rápida", diz Skaf. Um assessor da Abit completa: "O Brasil tem uma indústria têxtil de algodão poderosa, as fábricas de índigo estão entre as mais modernas e as de camisetas são modelo mundial em escala e qualidade. A Coteminas concorre em preço com camisetas chinesas. O País está bem posicionado para a integração mundial".
O segmento que mais precisa de proteção em acordos de livre comércio - seja na Alca ou bilateral com o México - é o de fibras e filamentos sintéticos. Esses produtos necessitarão de um cronograma de redução tarifária mais lento, mas mesmo assim o segmento está de acordo com a liberalização comercial, segundo fontes da Abit.
Editorial
DE QUE SERVE A AUTO-SUFICIÊNCIA EM PETRÓLEO?
A Petrobras anunciou, nesta semana, um novo recorde na produção de petróleo, que atingiu 1,587 milhão de barris por dia, dos quais 35,8 mil barris no exterior. Isso significa que a empresa tem condições de atender a 83,5% do consumo nacional, estimado em 1,9 milhão de barris por dia. O Brasil está próximo, portanto, da auto-suficiência em petróleo, que pode ser atingida bem antes de 2005, que é a meta do governo.
Em face da recente alta dos preços do petróleo, devido à ameaça de uma guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, que parece iminente depois das últimas declarações do presidente George W. Bush, o que se pergunta é: qual o efeito sobre o Brasil de uma elevação ainda mais pronunciada dos preços do óleo?
É possível que a alta do petróleo prejudique, em certa medida, a obtenção de um superávit comercial de US$ 7 bilhões este ano. Contudo, as grandes preocupações estão ligadas aos efeitos inflacionários de novos reajustes de preços dos combustíveis, se a Petrobras se pautar, como tem ocorrido, pelas cotações internacionais. Dado o conservadorismo do Banco Central (BC), isso pode enrijecer a política monetária justamente em uma fase em que os agentes econômicos anseiam por uma baixa dos juros.
Isso nos leva a indagar: de que adianta a auto-suficiência em petróleo? O fato de o País já estar produzindo mais de 80% do petróleo que consome não deveria levar a uma política de preços que não fosse punitiva para a atividade produtiva e que possibilitasse uma retomada do crescimento?
Não nos convencem os argumentos de que os preços internos dos derivados do petróleo devam se manter em linha com as cotações internacionais, de modo a estimular investimentos nessa área, além de reforçar o orçamento da Petrobras para pesquisas e exploração de petróleo. Ora, a própria Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) considera preços na faixa de US$ 22 a US$ 28 bastante remunerativos e, portanto, em um nível adequado para atrair investimentos.
Em um país como o Brasil, no qual a flexibilização do monopólio do petróleo é tão recente e em que a Petrobras conserva uma posição de virtual monopólio, os reajustes dos derivados, tomando como base as cotações internacionais de petróleo, agem definitivamente em detrimento da economia.
Reconhecemos que o Brasil, diferentemente do que ocorreu na década de 70, não está diante da possibilidade de uma crise de abastecimento de petróleo que poderá paralisar a atividade econômica no País. Com o crescimento substancial da produção da Petrobras, a adição do álcool à gasolina e os estímulos dados aos carros a álcool, o Brasil está em uma situação bastante confortável sob esse aspecto. Mesmo porque membros da Opep e não-membros como a Rússia, o México e a Noruega estão dispostos a garantir o suprimento mundial de petróleo na eventualidade de uma guerra no Oriente Médio.
A alta das cotações internacionais do petróleo deve ter um impacto na balança comercial brasileira, mas essa é uma variável difícil de avaliar neste momento. Pela experiência da Guerra do Golfo, os preços do petróleo, que atualmente beiram US$ 30 o barril, podem ainda aumentar muito. Recorda-se que cotações subiram 30% em 1991 nas semanas subseqüentes ao desembarque de tropas da coalizão anti-Iraque no Kuwait.
As exportações brasileiras também podem ser prejudicadas no caso da possível retração das economias de países industrializados altamente dependentes do petróleo importado. Cautelosa, a União Européia propôs, nesta semana, um sistema de gatilho pelo qual todas as vezes que o petróleo ultrapassar a marca de US$ 30 os países-membros liberariam parte de seus estoques. A UE recomendou ainda que seja mantido em reserva um volume de óleo suficiente para o abastecimento durante 120 dias.
As reservas americanas estão, porém, em nível considerado baixo, segundo o Departamento de Energia dos EUA. O governo Bush confia em que, em uma situação de escassez, muitos países exportadores serão levados a aumentar a oferta, já que a maioria deles está endividada e tem necessidade premente de entrada de moedas fortes.
São conjecturas a conferir. Seja como for, alguns observadores consideram que, por motivos eleitorais, os preços dos derivados no Brasil devem se manter estáveis por algum tempo, o que não serve de consolo. É preciso que a política de reajustes de derivados tenha correlação com a produção interna de óleo e gás. Se assim não for, a auto-suficiência em petróleo, uma antiga aspiração nacional, perderá muito de seu significado.
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09/13/2002
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