Bustani diz que Brasil perdeu espaço na crise da Opaq
O embaixador José Maurício Bustani disse nesta terça-feira (7), em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), que o Brasil, por não marcar uma posição, perdeu espaço político e diplomático na crise gerada com a sua destituição do cargo de diretor-geral da Organização para Proscrição de Armas Químicas (Opaq). Bustani defendeu um esforço de mobilização internacional para se opor à política internacional norte-americana e rejeitar qualquer atitude semelhante à ação desenvolvida na Opaq para afastá-lo do cargo.
Evitando criticar a falta de apoio por parte do Itamaraty, Bustani afirmou que o presidente da República "foi extremamente amigo" e lembrou que foi escolhido duas vezes por Fernando Henrique para representar o Brasil na Opaq. O embaixador reiterou informações já tornadas públicas em entrevista concedida à revista Veja, principalmente sobre as pressões que sofreu da parte do subsecretário norte-americano para o desarmamento, John Bolton. Segundo Bustani, o subsecretário exigiu que ele renunciasse ao cargo e se retirasse de Haia em uma semana porque Washington não gostava do seu estilo.
O autor do requerimento para a realização da audiência, senador Roberto Saturnino (PT-RJ), disse que a destituição de Bustani é um "marco na história da evolução da humanidade" e, por abrir um precedente muito grave, certamente terá repercussões nos demais organismos internacionais. Saturnino propôs ainda que seja dado um voto de louvor ao embaixador e um voto de protesto aos Estados Unidos em nome da defesa da do caráter multilateral de instituições como a Opaq.
Távola disse ainda que, em circular dirigida aos países membros da Opaq, o Itamaraty declarou que não apoiava o afastamento de Bustani e que a delegação brasileira votaria contra. Bustani relatou que as delegações africana e asiática o procuraram para saber qual seria a posição da delegação latino-americana e que a acompanhariam na votação. Ele também afirmou que não recebeu nenhuma cópia das circulares distribuídas pelo Itamaraty.
07/05/2002
Agência Senado
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