Brasil tem de ser mais flexível no Mercosul, diz Celso Amorim



Em reunião nesta quarta-feira (19) com os senadores que integram o bloco de apoio ao governo, o ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, num claro recado à classe empresarial do país, disse que o Brasil tem de adotar uma posição mais flexível com o Mercosul, notadamente com aqueles países de economia mais frágil. Se o Brasil quer exercer a liderança no bloco, tem de assumir posições que favoreçam as economias mais fracas, afirmou.

Após a crise econômica da Argentina, Amorim disse que o Mercosul quase deixou de existir, mas foi salvo a partir da iniciativa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva de priorizar aquele bloco, realizando novos entendimentos e fazendo concessões. Essa iniciativa, que incluiu visita do presidente do Brasil aos outros três membros do bloco (Argentina, Uruguai e Paraguai), -conseguimos preservar a unidade do Mercosul- que, para Amorim, será fundamental nas discussões com a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) propostas pelo governo norte-americano.

Numa crítica à posição de alguns empresários brasileiros contra novas aberturas no âmbito do Mercosul, Celso Amorim disse que recentemente as cervejarias brasileiras se uniram contra a concessão de uma cota para a exportação de cerveja da Bolívia (país que integra o Mercosul ampliado) para o Brasil, equivalente ao consumo de um sábado da cidade do Rio de Janeiro. Para o ministro, é vital que o Brasil faça mais concessões no sentido de apoiar as exportações dos parceiros de economia mais fraca. Foi desse modo, afirmou, que a Alemanha e a França conseguiram ganhar a confiança dos seus parceiros e viabilizar a União Européia.

Celso Amorim abordou ainda várias questões ligadas à Organização Mundial do Comércio (OMC), com destaque para a redução das barreiras impostas ao setor agrícola e para as questões da propriedade intelectual no que se refere a medicamentos, em que o Brasil conseguiu notáveis progressos no capítulo das licenças compulsórias para os casos envolvendo a saúde pública. Ele também se queixou da posição dos Estados Unidos, de darem sempre um tratamento pior para os países do Mercosul nas negociações comerciais.

Sobre o ingresso permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, Celso Amorim disse que isso será inevitável, se houver uma reforma do colegiado, como tudo indica que haverá. -Quando ocorrer essa reforma, é claro que o Brasil, a Índia e a Alemanha (país derrotado na Segunda Guerra) serão contemplados-, previu.

Na conversa com os senadores, Celso Amorim criticou a administração anterior do Itamaraty, que fechou dez embaixadas e consulados do país no exterior. -A função de um chanceler é abrir, e não fechar embaixadas-, opinou. Nesse sentido, anunciou estar abrindo a Embaixada do Brasil em São Tomé e Príncipe e recriando o Departamento da África no Ministério das Relações Exteriores.



19/02/2003

Agência Senado


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