Brasil tem sido 'tolerante' com Bolívia, afirma Azeredo



O governo brasileiro tem sido "muito tolerante" em relação à Bolívia, disse nesta quinta-feira (27) o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ao comentar declarações feitas no dia anterior pelo ex-governador José Serra, pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, segundo as quais o governo boliviano seria "cúmplice" do tráfico de cocaína para o Brasil.

De acordo com o senador, o tráfico de drogas tem aumentado muito no Brasil, o que tem representado "um drama para milhares de famílias". Ele observou ainda que grande parte da cocaína chega ao país proveniente da Bolívia e sustentou a necessidade de o governo brasileiro ter uma posição "mais dura" em relação ao país vizinho.

- O presidente Lula (da Silva) não tem uma posição mais dura por afinidades ideológicas com o presidente da Bolívia, Evo Morales. E nós precisamos ter uma política externa mais objetiva e menos ideológica - sustentou Azeredo, em entrevista à Agência Senado.

As críticas à suposta cumplicidade do governo boliviano ocorreram duas semanas depois de um longo debate, no Parlamento do Mercosul, a respeito de outras declarações de Serra sobre países vizinhos. O motivo da polêmica foi a sugestão do ex-governador paulista para que o Mercosul voltasse a ser apenas uma zona de livre comércio, o que permitiria ao Brasil celebrar, individualmente, acordos comerciais com outros países.

Segundo o deputado Dr. Rosinha (PT-PR), ex-presidente do Parlamento do Mercosul, as palavras de Serra causaram apreensão junto aos países vizinhos, e presidentes de outros países da América do Sul estariam "muito preocupados" com a possibilidade de mudança da atual política de integração continental adotada pelo Brasil. Para o deputado, as novas declarações a respeito da Bolívia poderiam contribuir para essa preocupação.

- Se Serra ganhar as eleições, vai governar de costas para a América do Sul - previu o deputado.

O senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB, não crê na possibilidade de as recentes declarações do ex-governador de São Paulo virem a prejudicar as relações com a Bolívia. Na sua opinião, o problema no relacionamento bilateral refere-se exatamente ao tráfico de drogas.

- A Bolívia não é um país sério. O que atrapalha as relações é o tráfico - afirmou.

O senador Alvaro Dias (PSDB-PR), membro suplente da CRE, lembrou ter feito pronunciamento na tribuna do Senado de crítica ao presidente Lula, por este ter-se deixado fotografar, em visita à Bolívia em agosto do no ano passado, com um colar feito à base de folhas de coca, ao lado de Morales. "Não me parece ser uma postura didática", disse Dias em seu pronunciamento. "Ao contrário, parece ser um estímulo às drogas".

Também suplente da CRE e membro do Parlamento do Mercosul, o senador Romeu Tuma (PTB-SP) relatou ter apresentado uma proposta, no parlamento regional, de criação de um grupo comum de inteligência, com o objetivo de combater o tráfico de drogas na região.

- Precisamos promover uma troca de informações - sugeriu.



27/05/2010

Agência Senado


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