Candidato de Serra ameaça Britto no Sul









Candidato de Serra ameaça Britto no Sul
Pesquisa confirma Tarso em primeiro

PORTO ALEGRE - A pesquisa do instituto Cepa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mostrou ontem uma novidade que pode mudar o quadro eleitoral para o governo: o candidato do PMDB, Germano Rigotto, subiu de 11,1% para 17,6% em sete dias.

O candidato do PPS, Antônio Britto, teve queda de 3,9% e aparece com 26%. Tarso Genro (PT) continua líder, com 34,3%. O instituto ouviu 1.755 eleitores, nos dias 18 e 19, em 49 municípios. A margem de erro é de 2,4 pontos percentuais para mais ou menos.

Em relação às eleições presidenciais, Britto é o candidato ligado a Ciro Gomes (PPS), e Rigotto está vinculado ao tucano José Serra, uma vez que o PSDB tem a vaga de vice na sua chapa, com o vereador Antônio Hohfeldt, de Porto Alegre. A tendência de crescimento de Rigotto e queda de Britto, com Tarso estável, já começara a se desenhar na pesquisa do Cepa realizada uma semana atrás: Britto havia caído de 40,6% para 29,9%, e Rigotto subira de 4,5% para 11,1%.

Em um suposto segundo turno, Tarso derrotaria Britto por 46,5% a 39,3%, mas seria superado por Rigotto, dentro do empate técnico (43,9% contra 42,4%). A explicação para isso é destacada nos índices de rejeição. Britto tem 38,8% e Tarso, 27,3%. Rigotto, apenas 4,9%.

Há 15 dias da eleição, Tarso vai apostar no comício que realizará com Lula na capital gaúcha e no corpo-a-corpo em 43 cidades. Britto vai intensificar a campanha nas zonas centrais das principais cidades do interior.


Maluf refuta ação judicial
SÃO PAULO - O candidato do PPB ao governo de são Paulo, Paulo Maluf, distribuiu nota à imprensa ontem, através de seus advogados, se defendendo da decisão da Justiça de tornar indisponível seus bens. A determinação foi do juiz Olavo Sá Pereira da Silva, da 13ª Vara da Fazenda Pública, através de ação proposta pelo Ministério Público.

A decisão judicial saiu na sexta-feira, na qual Maluf é apontado como suspeito de ter praticado improbidade administrativa durante sua gestão frente à prefeitura de São Paulo, no período de 1993 a 1996.

Segundo a nota de Maluf, ''qualquer ação por ato de improbidade administrativa que venha a ser proposta contra Maluf já se encontra prescrita''. Ainda de acordo com a nota, a decisão judicial é ''inusitada'' porque foi decretada ''em pleno período eleitoral''.

Os advogados do candidato vão recorrer da decisão. Outro afetado com a determinação foi o candidato a deputado e ex-prefeito Celso Pitta (PSL). De acordo com a ação, os ex-prefeitos teriam desviado aproximadamente R$ 68,7 milhões da Taxa de Combate a Sinistros. Através da indisponibilidade, a Justiça tem a garantia de eventual ressarcimento da verba aos cofre público.

Paulo Maluf e o governador Alckmin disputam o governo do Estado e, de acordo com a pesquisa Ibope divulgada no dia 16, aparecem em empate técnico. Alckmin tem 29%, contra 28% do ex-prefeito.


PMDB de SC troca Serra por Lula
Ida de tucano a reduto de Esperidião Amim, do PPB, leva senador a anunciar apoio ao petista

SÃO PAULO - A campanha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, sofreu mais um abalo na reta final. O PMDB de Santa Catarina, apesar da coligação nacional, decidiu romper com os tucanos. Mais: o presidente do partido no Estado, senador Casildo Maldaner, anunciou ontem o apoio a Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

A crise no PMDB catarinense foi fruto do primeiro ''super-sabadão'', movimento organizado pelo comitê de Serra para levar o candidato, em um único fim de semana, a várias cidades brasileiras. Em Santa Catarina, porém, a maratona causou choro e ranger de dentes. Além de Maldaner, o ex-prefeito de Joinville e candidato do PMDB ao governo, Luís Henrique da Silveira, e o senador Leonel Pavan não perdoaram a ida do candidato tucano a Chapecó, reduto eleitoral do governador - e candidato à reeleição - Esperidião Amin, do PPB. Serra tem o apoio de Amin no Estado. E não só foi à cidade do governador, como ainda o elogiou publicamente.
- Não perdôo Serra. Vou continuar na campanha tucana só por questões partidárias - anunciou Luiz Henrique, contrariado.

O ex-prefeito, no entanto, comandou pessoalmente o boicote à presença do PMDB à visita de Serra a Joinville, durante o fim de semana. No reduto eleitoral de Luís Henrique, o presidenciável tucano foi recebido pelo candidato a vice de Amin, Eni Voltolini, do PPB, e pelo presidente do PSDB de Santa Catarina, Vicente Caropreso.

De sua parte, o governador não cabia em si de satisfação. Ele lidera a disputa pela reeleição com 46%, mas tem perdido pontos nas pesquisas para Luís Henrique. O candidato do PMDB está com 29% das intenções de voto dos catarinenses, segundo a última pesquisa do Datafolha.

- Isso é traição explícita. O PMDB pegou o horário eleitoral do PSDB e agora está caindo fora - acusou Amin, em Joinville.

Serra não perdeu a pose. Preferiu minimizar a briga local.

- Tenho dois apoios no estado. Mas não posso interferir na briga regional. O problema aqui é abundância e não falta de apoio. Por isso não pude deixar de visitar as cidades catarinenses - alegou o tucano.

A candidata a vice, deputada Rita Camata (PMDB-ES), foi escalada para conter a crise. Não conseguiu, no entanto, impedir que Luís Henrique criticasse Serra publicamente, durante um comício em Tubarão.

- Se ele quer se abraçar aos que lamberam as botas dos generais, é problema dele. Não aceito isso - atacou Luís Henrique, revoltado, referindo-se à ligação de Amin com a ditadura militar (1964-85).

Mais tarde, os peemedebistas tentaram minimizar o fato em nota oficial, assinada por Luís Henrique, Eduardo Pinho (candidato a vice) e Renato Vianna (secretário do partido), dizendo que o rompimento era ''manifestação individual do senador''.


Tucanos não vão dar trégua para o PT na TV
Estratégia do PSDB é poupar Garotinho

A estratégia do PSDB para frear a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, foi discutida ontem em clima de guerra no comitê paulista de José Serra. As mudanças de rumo foram tratadas em uma reunião coberta de sigilo pelos marqueteiros do candidato tucano. Somente um ponto permaneceu intocado: não haverá trégua para o PT.

A idéia de Nizan Guanaes, coordenador da propaganda, e sua equipe é a de apenas mudar o enfoque da campanha. Pretendem mostrar uma suposta inconsistência das promessas e dos programas eleitorais de Lula. O comando do comitê tucano aposta ainda que os adversários históricos do PT vão se unir a tempo de evitar a vitória de Lula no primeiro turno.

Anthony Garotinho também entrou na pauta do PSDB. Apesar de estar crescendo nas pesquisas, o candidato do PSB não vai ser atacado. Os tucanos avaliam que os votos do ex-governador do Rio de Janeiro são importantes para garantir um bom segundo turno para Serra. O deputado Jutahy Junior (PSDB-BA), líder do partido na Câmara, defende mais cuidado nos programas.

- Vamos mostrar que as promessas dos adversários são impossíveis de serem atendidas - defende.

O presidente do PSDB, deputado José Anibal (SP), e os coordenadores políticos José Richa e Milton Seligman insistem na tática de expor Lula e as administrações petistas na TV. Também apostam que o tempo de propaganda gratuita da campanha de Lula - bem menor do que o do conjunto de seus adversários - continuarão estimulando os ataques contra o PT.

Por outro lado, o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva não perdeu tempo, ciente dos próximos ataques na TV contra a sua campanha. Ele entrou, ontem, no Tribunal Superior Eleitoral, com representação pedindo concessão de liminar para exercer o dire ito de resposta no programa de José Serra. Segundo o petista, no programa de sábado, José Serra acusou ele e o PT de serem verdadeiros ''lobos em pele de cordeiro''. O partido também alega, que o tucano usou manchetes de jornais e revistas como se fossem documentos para dar veracidade às acusações que tem feito.


Senado no Rio, um debate vazio
A campanha eleitoral do Rio, excetuando o tema segurança entre candidatos ao governo, ainda não ganhou um debate político mais substantivo, especialmente em relação ao Senado, à altura da importância daquela Casa do Congresso. Raras exceções confirmando a regra, o confronto até agora está infelizmente contido num universo até municipal, quando deveria ser essencialmente nacional.

Além disso, o Senado, como é claro, pertence ao universo parlamentar, não à esfera do Executivo. A responsabilidade por iniciativas administrativas portanto não pertence ao Poder Legislativo, o nome está definindo a diferença. Além disso, ninguém se elege senador para resolver questões menores. Ao contrário: a dimensão da Câmara Al ta é imensamente maior.

Os eleitores estão perplexos com a falta de afirmação e definição e, exatamente, por isso, o quadro está sem nitidez a menos de duas semanas das urnas. É decepcionante. Mas acredito que o contorno mais nítido vai surgir a partir do momento em que o confronto mais nítido vai surgir a partir do momento em que o confronto for concretamente politizado, inevitavelmente vinculado às eleições para o governo estadual e à sucessão presidencial. Não só porque o Rio de Janeiro é o terceiro colégio eleitoral do país, como também permanece como o seu maior centro de repercussão.

O Rio há 42 anos não é mais capital, mas continua sendo o mais forte centro nervoso do sistema político. Irradia mais reflexos do que qualquer outro Estado. E onde estão os nervos, está a emoção. E sem emoção não se faz política. Aliás, não se faz nada na vida.

Temas não faltam para o debate nacional. Estão aí à disposição de todos os candidatos ao Senado. Se não os usarem é porque não têm percepção e informação. Aliás, informação e percepção são os fatores que distinguem uns dos outros. Estou usando o plural por uma razão simples: cada eleitor - se quiser - pode votar em dois candidatos. Mas, se preferir, pode também votar em um só. Inclusive, é isso que vão fazer os candidatos: cada um vota em si mesmo e não devolve voto. Pois todos, no fundo, querem receber os votos dos outros, mas não retribuir a nenhum. Por isso, o pleito para o Senado, na renovação de dois terços, como agora, é bastante sinuoso.

Que fazer? Política é como a vida. E a vida é assim. Em 54 e 62, Gilberto Marinho foi o segundo representante para Caiado de Castro, que tinha sido chefe da Casa Militar de Vargas, e para Aurélio Viana, eleito com apoio de Brizola. Gilberto recebeu os votos das duas correntes. Foi vitorioso. Em 94, Arthur da Távola foi segundo para Benedita da Silva. Recebeu votos dos eleitores dela e de Nélson Carneiro. Nélson Carneiro perdeu a eleição. É isso aí. A eleição para o Senado é uma incógnita.


Garotinho comemora Datafolha
O candidato do PSB à Presidência da República, Anthony Garotinho, disse ontem que, a partir de agora, vai fazer ''um esforço concentrado'' na região Sul do país, por entender que lá está a principal razão da sua diferença de quatro pontos percentuais (15% a 19%) em relação ao candidato do PSDB, José Serra, segundo a pesquisa Datafolha. Garotinho disse ainda que, pela sua pesquisa, a diferença é de apenas um ponto percentual.

De acordo com o candidato, a diferença entre sua pesquisa, cujo instituto não foi revelado, e a do Datafolha está na contagem do voto evangélico. Garotinho disse que o Datafolha considera que o número de evangélicos pentecostais é praticamente igual ao de não pentecostais, que, segundo ele, representam 70% do total.
- Tenho 42% das intenções de voto entre os pentecostais e 28% entre os não-pentecostais - afirmou.

Por considerar que sua diferença para Serra na região Sul (11% a 25%) é a determinante da diferença geral, Garotinho começou ontem mesmo, em visita a Pelotas (RS), a intensificar sua campanha na região. Sua agenda prevê para hoje um comício em Livramento, também no Rio Grande do Sul.

O presidenciável afirmou que o crescimento da sua candidatura nas últimas semanas - passou de 10% na pesquisa Datafolha do dia 30 de agosto para 15% no levantamento divulgado no sábado - ocorreu devido ao horário eleitoral gratuito.

Segundo ele, sua candidatura vinha sofrendo ''um cerco por parte da mídia'', por ter uma postura contrária ao modelo econômico atual. Esse cerco, para Garotinho, teria sido quebrado graças ao horário eleitoral na televisão.


Vice da chapa petista vai a Alagoas
MACEIÓ - Para evitar um possível encontro com a senadora Heloísa Helena em Maceió, o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva enviou o vice na chapa, José Alencar (PL), em visita de campanha à capital alagoana ontem. Com a impossibilidade de contar com a visita do candidato do PT à presidência, que deixou Alagoas fora do roteiro nacional da campanha, Alencar foi incumbido de tentar superar a crise interna na aliança PT/PL e reforçar a candidatura de Judson Cabral, que concorre ao governo.

Atualmente, Judson aparece na quarta posição nas pesquisas eleitorais. Alencar também foi pedir votos para os candidatos ao Senado, a deputados federais e a deputados estaduais da coligação PT/PL/P C do B e PMN.
O presidente do diretório regional do PT, deputado estadual Paulo Fernando dos Santos, o Paulão, garantiu uma boa recepção ao senador no Aeroporto Zumbi dos Palmares, mas não acompanhou o vice.

Os assessores da senadora Heloísa Helena não justificaram a falta dela durante a visita. Com a ausência dos líderes petistas, o deputado federal João Caldas (PL- AL) ficou com toda responsabilidade da campanha de José Alencar pelas ruas. Caldas programou encontros do senador com políticos do Estado, uma caminhada e uma carreata pela orla marítima de Maceió. O vice de Lula deixou Maceió no final da tarde de ontem.


Jader ganha habeas-corpus
Foragido desde quinta-feira, ex-senador tem liberdade garantida até amanhã

BRASÍLIA - O Tribunal Regional Federal (TRF) 1ª Região concedeu ontem habeas-corpus ao ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e ao ex-superintendente da Sudam Arthur Guedes Tourinho. Ambos estavam foragidos da Justiça desde a última quarta-feira.

A decisão do desembargador Plauto Ribeiro só garante a liberdade da dupla até amanhã, quando será julgado o mérito da prisão pela 3ª Turma de Julgamento do TRF. No despacho, o desembargador levou em consideração a lei eleitoral, que proíbe a prisão de candidatos 15 dias antes do dia de votação.

''Sem entrar no exame mais aprofundado do dispositivo (se é ou não recepcionado pela Constituição e se existe alguma importância o fato de um mandado ter sido expedido antes dos 15 dias que antecedem as eleições), penso que por concessão de liminar a simples interpretação literal é mais do que suficiente'', diz o despacho do desembargador.

Tourinho e Jader, respectivamente candidatos a deputado estadual e federal no Pará, tiveram a prisão preventiva decretada pelo juiz da 2ª Vara Federal de Mato Grosso, Jeferson Schneider, a pedido do procurador da República Pedro Taques. O Ministério Público acusa Jader, Tourinho e outros sete empresários de envolvimento no desvio de R$ 180 milhões da extinta Sudam.

Na última quinta-feira, o presidente do TRF, desembargador Catão Alves, havia negado pedido de habeas-corpus feito por Jader Barbalho e remetido à decisão para a 3ª Turma. O desembargador Plauto Ribeiro concedeu a liminar diante do segundo pedido de liberdade dos advogados do e x-senador. Nesta petição, a defesa argumentou com os termos que constam da lei eleitoral, já que o prazo de 15 dias se iniciou no último sábado. Esta foi a segunda vez que a Justiça decretou a prisão preventiva de Jader Barbalho. Da primeira, o ex-senador ficou detido durante seis horas.

O advogado de Jader, José Eduardo Alckmin, não soube informar o paradeiro de seu cliente. O habeas-corpus foi comunicado aos familiares.


O olho virtual dos eleitores
Site acompanha os trabalhos de parlamentares

Na tentativa de aumentar o interesse do cidadão pelos cargos do Legislativo, alguns sites oferecem informações e um serviço de acompanhamento das atividades dos parlamentares. Além do site oficial do Tribunal Superior Eleitoral (www.tse.gov.br), onde se encontra o cadastro de todos os candidatos de 2002 - com foto - o www.democracia.com.br vai além, apesar do número limitado de nomes: a home page, que possui 750 políticos cadastrados, permite ao internauta acessar o currículo dos candidatos, buscar projetos e até opinar em fóruns de debate das diversas propostas.

O site também acompanha as atividades de cada parlamentar no Congresso. Segundo seu diretor, Gilberto Buffara, o objetivo é criar um elo de comunicação entre a população e o Congresso, para que a primeira possa cobrar ações do segundo.

- Há um descrédito do cidadão com relação à instituição política. Você abre o jornal e só vê casos de corrupção e acha que já está fazendo sua parte. Nosso site tenta estimular o debate. O cidadão tem o direito e o dever de saber o que o seu parlamentar está fazendo e discutir a respeito - afirma Buffara.

Para Francisco Fonseca, cientista político da Fundação Getúlio Vargas e da PUC-SP, toda mobilização da sociedade civil é um ganho:
- Quanto mais grupos investigarem o candidato, relembrarem seu passado ao eleitor, menos o marketing político dominará o horário eleitoral - analisa.

Fonseca acrescenta que as instituições e a própria política serão mais fortes quando os grupos sociais autônomos controlarem o Estado e o Parlamento.

- Isso é um grande desafio para a sociedade brasileira - complementa.

Antônio Sérgio Rocha, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, afirma que o eleitorado não tem acesso a esses órgãos de fiscalização e informação do trabalho parlamentar, ou às avaliações que eles realizam.

- Penso que a importância de tais instituições reside mais no esclarecimento que prestam a formadores de opiniões. Sobretudo à mídia, que divulga as avaliações desses grupos, podendo, desta maneira, informar e influenciar eleitores.

Buffara endossa a opinião de Rocha. Para ele, a maioria dos internautas que entram nestes sites é formada por pessoas participantes do processo político.


Artigos

Uma nova Lei Áurea
Flávio Dino

No final deste mês, centenas de agentes do Estado, de todos os poderes, e representantes da sociedade civil estarão reunidos em um seminário inédito, realizado com o objetivo de aperfeiçoar os instrumentos institucionais capazes de levar à total eliminação do trabalho escravo no Brasil. Trata-se de um tema tratado de modo pioneiro e, durante muitos anos, quase solitário, pela Comissão Pastoral da Terra e pela Contag.
É especialmente significativo que essa reunião ocorra a poucos dias da eleição presidencial, porque é importante aproveitar o momento máximo da democracia representativa para o debate de itens da agenda nacional que tendem a permanecer ocultados em decorrência do silêncio conivente, do desconhecimento ou do peso de outros problemas aparentemente mais graves.

Falamos de trabalhadores (aproximadamente 10 mil, segundo as estatísticas mais aceitas) atualmente submetidos a condições de trabalho em que a liberdade individual é totalmente negada, normalmente em razão de dívidas ilegítimas, impossíveis de serem pagas, que servem de ''justificativa'' para brutais atos de violência física e moral. Não é descabido falar-se em uma ''nova lei áurea'' diante de tão frontal agressão ao princípio da dignidade da pessoa humana, elemento fundamental para a coesão social e para a legitimidade do Estado de Direito.

Cuida-se obviamente não de um novo texto legislativo que ratifique o de 1888, mas de um conjunto de medidas (inclusive novas leis) que erradique essa modalidade de exploração do trabalho, identificada predominantemente - porém não exclusivamente - nos Estados que integram a Amazônia Legal. É importante notar que na Justiça Federal temos verificado casos de condenação criminal em Estados que supostamente já teriam superado o trabalho forçado, como São Paulo e Santa Catarina.

Os principais caminhos para o enfrentamento do problema acham-se bem delineados na atualização do Programa Nacional de Direitos Humanos, o chamado PNDH II. São 10 metas, das quais algumas merecem especial destaque.

Em primeiro lugar, o apoio às propostas de emenda constitucional que visam a incluir na Constituição, como hipótese geradora da expropriação de terras sem direito a indenização, a ocorrência de trabalho forçado.

Por segundo, a necessidade de aperfeiçoar-se o sistema de punições nas esferas penal e administrativa, com a redefinição de crimes e o aumento dos valores das multas passíveis de serem impostas pela fiscalização do trabalho. Quanto a esta última, é fundamental mencionar o enorme esforço que os funcionários integrantes do grupo móvel de fiscalização fazem para libertar trabalhadores escravizados. Foram cerca de 3.500 trabalhadores alcançados de 1995 a 2001, número que revela a prioridade que deve ser conferida ao apoio a esses funcionários.

Em terceiro lugar, é imprescindível superar impasses no tocante à definição de qual o segmento do Judiciário é o competente para julgar os crimes relacionados ao trabalho escravo. O PNDH II aponta a direção mais adequada, já que a Constituição estabelece claramente que os crimes contra a organização do trabalho são de competência da Justiça Federal. Apesar disso, uma interpretação jurisprudencial antiga tem causado dificuldades no cumprimento da regra constitucional, levando a que hoje, em muitos casos, gaste-se mais tempo discutindo quem julgará tais crimes do que efetivamente julgando-os.

Essas e as outras metas fundamentais fixadas no PNDH II podem ser atingidas a curto e médio prazos.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Cabeça de eleitor
Os programas eleitorais da semana passada inauguraram mais uma das diversas fases desta campanha: o debate - aqui entendido como o confronto não só de idéias mas de personalidades, biografias, carreiras e procedimentos - entre os candidatos de fato, começou.

Até então o que vimos foi apenas a afirmação pontual de cada um daqueles itens cujo conjunto orienta, ou pelo menos deveria orientar, a escolha do futuro presidente da República. Agora serão cotejados de acordo com a ótica exclusiva do eleitor.

Ou seja, a brincadeira acabou: estreita-se o espaço dos marqueteiros, amplia-se o campo para o embate político, entram no jogo os critérios práticos do cidadão, e as possíveis alterações no cenário, não mais poderão ser atribuídas a artificialismos de recursos meramente propagandísticos.

Pelo simples fato de que o eleitorado pode até parecer pouco esperto aos olhos de candidato, senão de todos. Mas, quatro eleições presidenciais, 18 anos de liberdade de imprensa e a progressiva democratização da informação, deram à sociedade brasileira instrumental suficiente para que não caia em engodos e saiba onde está pisando.

Nesse sentido, uma das grandes vantagens da eleição de 2002 é que ela acontece mais de uma década após o pleito de 1989, o primeiro depois de uma interrupção de 29 anos. Em 1960, o Brasil elegeu Jânio Quadros, que renunciou sete meses depois e jogou o país na crise que antecedeu a ditadura.

Sem democracia, destreinados, os brasileiros na primeira oportunidade de voto caíram no conto de Fernando Collor, um produto construído e amoldado pelo marketing à luz daquilo que as pesquisas indicavam ser a vontade do país.

Á época mostraram que o brasileiro estava carente de proteção, com a auto-estima destruída, as energias consumidas e os sentimentos ávidos por um super-herói depois de cinco anos de convivência com a figura pouco vigorosa de José Sarney. Collor prestou-se ao papel, o eleitorado também e, dois anos depois, lá estava o Brasil de novo às voltas com um mandato interrompido.

Daquela vez, porém, o desfecho foi a consolidação da democracia. E exatamente por isso é que o eleitor, mais maduro, criterioso, confiante, capaz de contabilizar por antecipação suas perdas e ganhos, não se deixará levar por aquilo que os candidatos querem mostrar, mas pelos atributos que neles o cidadão será capaz de perceber.
Daí a importância do acirramento do embate com cobranças entre os candidatos, o que os obrigará a se explicar minuciosamente. E que não cometam o equívoco de pensar que o farão para o adversário. Porque o destinatário real de seus recados será a sociedade, cujo interesse agora se estreitará sobre cada um deles. Prudente será quem entender que o jogo não é mais entre os partidos e os políticos, mas destes com a população votante que não hesitará em rejeitar mercadorias com explícitos ou implícitos defeitos graves de fabricação.

Duas semanas é pouco tempo? Talvez seja o tempo certo para as definições levando-se em conta que um terço - 32% - do eleitorado ainda declara-se indeciso ou disposto a anular ou deixar em branco o voto.

Na geladeira
Personagem de honra no primeiro programa do horário eleitoral de José Serra, o presidente Fernando Henrique tomou um chá de sumiço da campanha. No início, avisou que não iria a comícios mas seria presença constante nos programas de televisão.

É óbvio que houve uma mudança de planos e a explicação pode estar nos números revelados na última pesquisa da CNI. Sem que tenha acontecido nenhum fato marcante, desabaram os índices de avaliação de FH. Aumentou cinco pontos percentuais a avaliação negativa de seu governo e positiva reduzida em sete pontos.
O desempenho do presidente também foi ruim nos itens aprovação e confiança. Os que não confiam nele são hoje 61% contra 56% da pesquisa anterior e os que desaprovam passaram de 53% para 58% . Nada que recomende um excesso de exposição.

Obituário
Quarta-feira agora está marcada uma sessão solene no Congresso para relembrar os dez anos do processo de impeachment que resultou na renúncia de Fernando Collor.

Não apenas pelo fato de ele estar de novo na política, disputando o governo de Alagoas, mas também porque estão na ativa vários de seus fiéis aliados, a sessão dificilmente deixará de produzir constrangimentos eleitorais.

Independentemente disso, porém, o evento traz embutida uma mórbida coincidência de datas. A autorização para abertura do processo de impeachment foi votada pela Câmara num 29 de setembro. Mesmo dia da morte de Arnon de Mello, pai de Collor, cuja missa de sétimo dia realizou-se num 6 de outubro quando, este ano, Alagoas decidirá o destino do primeiro presidente constitucionalmente expulso da vida pública.


Editorial

HORA DE AVANÇAR

Não param de surgir boas notícias em relação à agricultura e à pecuária. Se a economia brasileira dependesse apenas da indústria, o país certamente estaria em maus lençóis. O que mantém a economia em movimento hoje é sem dúvida a produção agropecuária. As exportações de carne e de soja este ano já ultrapassam US$ 1 bilhão. E as perspectivas são auspiciosas. Ainda há enorme área agriculturável a ser explorada. Hoje são utilizados 220 milhões de hectares de pastagens e o plantio não ocupa sequer um oitavo da área disponível.
O Brasil é a última fronteira agrícola do mundo e a primeira em termos de produtividade. Existe muito campo pela frente. Mas há também problemas crônicos a resolver. Um dos mais conhecidos refere-se às rotas de escoamento e aos canais de distribuição. A estrutura existente é precária, deixa muito a desejar. Parte da produção sequer chega aos consumidores por falta de estradas de transporte e de armazenamento adequados. Os sistemas de comercialização também não funcionam como deveriam.

Outro problema grave prejudica especificamente a pecuária e tem a ver com a sanidade do rebanho e a qualidade da carne oferecida ao mercado. Nosso gado se alimenta de ração vegetal e nossa carne é de primeira. Porém, apesar de todos os esforços, o abate clandestino não foi eliminado. O que prejudica a imagem do produto nacional. Não por acaso, a discussão comercial da pecuária brasileira continua a girar em torno dos assuntos sanitários.

O desempenho da agropecuária é excelente e o câmbio favorável ajuda. Mas é preciso ir em frente. No caso das exportações, o Brasil deve abrir o leque de sua ação comercial. Seria um erro, um desmazelo, satisfazer-se com as novas conquistas na Europa e nos Estados Unidos. Diante do notável crescimento do consumo na China, na Rússia e no Leste europeu, há que romper as barreiras zoofitossanitárias e aumentar as exportações para os países nos quais a renda do povo está melhorando. A colheita tem sido generosa, mas não é hora de descansar.


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09/23/2002


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