Caça às doações de campanha
Caça às doações de campanha
Amigos, correligionários e, sobretudo, empresas estão na mira dos tesoureiros dos candidatos
Enquanto os candidatos ganham as ruas, participam de manifestações e de atos públicos em busca de votos, um seleto grupo de coordenadores se mobiliza para conseguir o dinheiro que vai custear a campanha eleitoral. Desde a última quarta-feira, com o encerramento do prazo para o registro dos comitês financeiros, partidos e coligações estão legalmente autorizados a iniciar a caça às doações. Colaboradores, amigos, simpatizantes, correligionários e, sobretudo, empresas estão na mira dos arrecadadores.
Candidato à reeleição, o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) adota a estratégia política de adiar ao máximo o início de sua campanha eleitoral. Com isso, quer reduzir o tempo de exposição na linha de fogo da sucessão. A equipe financeira do candidato Jarbas, no entanto, já trabalha a todo vapor atrás das doações. "Está tudo pronto e eu já estou agindo", avisa o secretário estadual de Governo, Edgar Moury Fernandes, presidente do comitê financeiro de Jarbas Vasconcelos.
A estimativa do comitê - informada oficialmente ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) - é gastar R$ 7 milhões durante a campanha eleitoral deste ano. Como acontece em todas as campanhas de Jarbas, mais uma vez, caberá a Moury Fernandes a tarefa de procurar os financiadores. A dois meses e meio das eleições, ele afirma que já há dinheiro em caixa e que todos os recibos eleitorais estão prontos. "Sem recursos financeiros não tem como se fazer campanha. Sabemos onde temos maior receptividade e já estamos trabalhando". A equipe de arrecadadores comandada por Moury Fernandes é pequena.
Apenas seis pessoas.
De acordo com a prestação de contas oficial, em 1998, a coligação União por Pernambuco aplicou R$ 2.873.492 no custeio da campanha (ver quadro). Destes recursos, cerca de R$ 2,5 milhões foram doados por empresas e pelo PMDB, através do fundo partidário, que é repassado pela União de acordo com a representatividade de cada legenda. Outros R$ 367 mil saíram do bolso de pessoas físicas. Só o executivo Paulo Sérgio Macedo, proprietário da Nordeste Vigilância de Valores e amigo de Jarbas, contribuiu com R$ 43 mil.
De acordo com a legislação, além de serem obrigadas a registrar as doações, as empresas têm um limite definido para contribuição de campanha. Cada companhia só pode doar até 2% de sua receita bruta verificada no ano anterior ao da eleição. Estes limites legais, entretanto, não afastam a velha polêmica que envolve o assunto. Tanto que no último dia 22 de maio, falando para uma platéia de empresários, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Nelson Jobim, pediu responsabilidade no processo e avisou: "As decisões que os senhores tomarem vão criar ou não o caixa 2. As decisões que os senhores tomarem quanto ao enfrentamento do financiamento de campanha poderá levar ou não à corrupção".
Itamar quer estudar energia nuclear
Se a pretensão anunciada esta semana pelo governador Itamar Franco (PMDB-MG) de abandonar a vida pública ao final do seu mandato e dedicar-se aos estudos sobre energia nuclear se confirmar, o governador estará encerrando uma trajetória de 50 anos, marcada pela controvérsia e um estilo peculiar, que estiveram presentes nos principais acontecimentos políticos das últimas décadas.
BELO HORIZONTE - Se a pretensão anunciada esta semana pelo governador Itamar Franco (PMDB-MG) de abandonar a vida pública ao final do seu mandato e dedicar-se aos estudos sobre energia nuclear se confirmar, o governador estará encerrando uma trajetória de 50 anos, marcada pela controvérsia e um estilo peculiar, que estiveram presentes nos principais acontecimentos políticos das últimas décadas. Aos 72 anos ele recebeu convite para realizar estudos sobre energia nuclear. Engenheiro Civil e Eletrotécnico, já presidiu a CPI sobre o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha e, em 1989, publicou um trabalho sobre o assunto (Energia Nuclear - Sua História).
De 1952 - quando Itamar Augusto Cautiero Franco, foi eleito presidente do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia de Juiz de Fora (MG) -, até ser empossado como vice-presidente da República, em março de 1990, com a vitória de Collor, era um político de expressão regional, que viu frustrada, em 1986, a tentativa de se eleger governador pelo PL, sendo então derrotado pelo atual vice e desafeto, Newton Cardoso (PMDB). Antes, ele havia cumprido dois mandatos (de 1967 a 1971, e de 1973 a 1974) como prefeito de Juiz de Fora e fora eleito duas vezes (em 1974 e em 1982) senador da República por Minas.
Mas a partir do momento em que assumiu a Presidência, as digitais de Itamar ficaram nos principais fatos políticos e econômicos do País. No seu mandato foi lançado o Plano Real, o golpe mais eficaz adotado até agora contra a inflação, que levou o então presidente a fazer o seu sucessor - Fernando Henrique, que era seu ministro da Fazenda.
Para muitos, a participação de dele no plano econômico foi apenas "involuntária", devido ao seu pouco tato com as questões econômicas. Poucos se recordam, que foi criticado pelo relançamento do Fusca, em 1993, que impulsionou a indústria a produzir os carros populares.
Fiel a um estilo que se esforçou para consagrar, não foram poucos os episódios da vida afetiva e privada noticiadas pela Imprensa. No mais bombástico deles, foi fotografado noSambódromo, no Carnaval do Rio, em 94, ao lado da modelo Lilian Ramos, que estava sem calcinhas.
Após o rompimento com FHC em 1998, Itamar voltou a disputar o Governo estadual, saindo vitorioso desta vez. No dia em que tomou posse decretou moratória da dívida mineira com a União, um terremoto político e econômico que ajudou a precipitar a desvalorização cambial de 1999, quando a paridade da moeda com o dólar engessava a economia.
E//es estão de volta
Embora deteste a comparação , Ciro Gomes está ao lado da maior parte dos aliados do ex-presidente Fernando Collor de Mello. A concentração de colloridos é maior no PTB, cujo presidente, José Carlos Martinez, foi investigado por ligações com o esquema PC
Brasília- O candidato da Frente Trabalhista à Presidência da República, Ciro Gomes (PPS), não gosta de ser comparado ao ex-presidente Fernando Collor de Mello, cujo governo terminou com um impeachment e denúncias de corrupção. Mas não é apenas pela juventude, pela origem nordestina e pela campanha agressiva que os dois se assemelham. A maioria da turma collorida, aquela que entre 1990 e 1992 reinou com o ex-presidente ou o acompanhou até o final, está quase toda no palanque de Ciro. A começar pelo próprio Collor que, candidato ao governo de Alagoas, já anunciou apoio a Ciro na sucessão presidencial.
Em Uberaba (MG), importante cidade do Triângulo Mineiro, Ciro recebeu oficialmente o apoio do presidente do PFL, Jorge Bornhausen (PFL-SC), ex-ministro chefe do Gabinete Civil de Collor. No início de 1992, Bornhausen declarou que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra Collor não daria em nada. Mas a história foi bem diferente. Aberta logo depois de uma entrevista de Pedro Collor, irmão do ex-presidente, à revista Veja, a CPI descobriu uma rede paralela de recursos que sustentava a Casa da Dinda, a mansão dos Collor.
Com a ajuda do motorista Eriberto França, que surgiu nesse cenário em reportagem da revista IstoÉ, a CPI conseguiu chegar até as contas fantasmas administradas por Paulo César Farias, o PC, ex-tesoureiro da campanha de Collor em 1989. As descobertas da CPI levaram a Câmara a, no dia 29 de setembro de 1992, afastar o presidente e a dar licença ao Senado para abertura de processo de impeachment.
TRUPE - Naqueles tempos da votação na Câmara, um dos deputados de maior destaque na trupe collorida era o líder do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), hoje um dos maiores entusiastas de Ciro dentro do partido. Junto com Jefferson na defesa de Ciro Gomes estão ainda o presidente do PDT, Leonel Brizola, que, na época, deu uma série de declarações apoiando Collor.
Mas a concentração de colloridos é maior no PTB. O atual presidente do partido, José Carlos Martinez, por exemplo, passou maus bocados na época da CPI do caso PC Farias. Naqueles tempos, Martinez era do PRN. Criara a rede OM de televisão no Sul do País, viu-se enrolado por causa de um empréstimo que fizera junto a PC para quitar as dívidas de compra da TV Corcovado do grupo SBT .
Mera coincidência Quando o processo chegou ao Senado, outro personagem virou peça central em defesa do ex-presidente - o então senador Odacyr Soares (PTB-RO). Soares é candidato ao Senado pelo PTB de Rondônia, numa coligação que reúne ainda PPS e PPB. "Vocês não são brincadeira, né?", responde ele, quando perguntado se essa concentração de colloridos ao lado de Ciro foi combinada ou tudo não passou de mera coincidência. "Sinceramente, não houve nada combinado. Aconteceu. Essa história de o PFL perder a Roseana ajudou Ciro", diz ele, referindo-se, por exemplo, ao apoio do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) ao candidato da Frente Trabalhista, outro que ficou com Collor até o fim e já anunciou apoio a Ciro.
ROMANCE - Quem acompanhou com atenção o governo Collor nos dois primeiros anos da década de 90, deve se lembrar ainda do romance que provocou um frisson na Esplanada dos Ministérios. Da ministra da Economia, Zélia Cardoso de Melo, com o ministro da Justiça, Bernardo Cabral. Zélia está hoje nos Estados Unidos, longe da política. Mas Cabral, candidato ao Senado pelo Amazonas, estará ao lado de Ciro. Lá, o PFL todo decidiu apoiar a candidatura de Eduardo Braga (PPS) ao governo do Estado, inclusive o governador Amazonino Mendes.
Em São Paulo, um outro ex-ministro de Collor é hoje candidato ao governo estadual só para dar palanque a Ciro no Estado. Antônio Cabrera Filho começou na política como ministro da Agricultura do governo Collor, em 1990. Saiu em outubro de 1992. Passou pelo PFL e hoje está no PTB. Foi convocado a disputar o governo estadual nas vésperas do prazo final para realização das convenções partidárias.
Apesar dos aliados em comum, quem conhece Ciro e Collor garante que tudo não passa de mera coincidência. "Eu,particularmente, tenho vontade de votar em Ciro Gomes.
Mas os estilos dele e do Collor são diferentes. A comparação se faz pelo fato de que os dois são jovens e nordestinos", disse o ex-deputado Cleto Falcão. Mais uma coincidência. É exatamente com esse argumento que Ciro reage quando alguém tenta compará-lo com Fernando Collor.
"Dinheiro não tem ideologia política"
Empresário Edson Mororó afirma que faz doações para vários candidatos de diferentes partidos
O empresário Edson Mororó Moura, dono das Baterias Moura, é uma dos maiores contribuintes de campanhas eleitorais em Pernambuco. Sua empresa tem 45 anos de atuação. Há 40 anos, Mororó destina recursos para candidatos e partidos no Estado. "Se você quer falar com um ministro, é bem fácil se você já conhece um deputado", diz, explicando sem demagogia a lógica empresarial do financiamento de campanhas eleitorais.
Mororó defende que empresa não tem partido. Por isso, contribui com vários candidatos, independentemente da matiz ideológica de cada um deles. Em 1998, por exemplo, o empresário, em seu próprio nome, liberou R$ 9 mil para campanha de Humberto Costa (PT) ao Senado. "Tenho interesse direcionado em certas pessoas. Se elas estiverem no PT ou no PFL não significa que não vou ajudá-las. Se for homem de bem, eu ajudo".
Na mesma eleição, Edson Mororó também contribuiu financeiramente o candidato Jarbas Vasconcelos, que disputava o Governo do Estado na chapa contrária à de Humberto Costa. De acordo com as informações prestadas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), a coligação União por Pernambuco recebeu do empresário R$ 16 mil.
Destes, R$ 15 mil saíram via pessoa jurídica - através da Acumuladores Moura - e outros R$ 1 mil foram liberados como sendo de pessoa física.
É natural que o apoio de Mororó ao PFL e à coligação União por Pernambuco seja mais expressivo. Além de ser "um grande amigo" do vice-presidente Marco Maciel, Mororó é cunhado do deputado federal José Mendonça (PFL) e, portanto, tio do vice-governador Mendonça Filho (PFL).
Sobre a polêmica discussão que envolve o processo de financiamento de campanhas eleitorais, o empresário tem uma opinião formada. É contra o financiamento público, idéia tão defendida por especialistas e até pelos próprios políticos. "O setor público é como Deus. É sagrado e por isso deve ser preservado. E o setor privado, como você sabe, não tem esta sacralidade".
Na contramão dos argumentos de Mororó estão, por exemplo, Edgar Moury Fernandes, coordenador financeiro de Jarbas Vasconcelos. "O financiamento público é a melhor alternativa", diz Fernandes. Quem defende o financiamento público alega que este mecanismo - usado nos países mais desenvolvidos da Europa - permite a igualdade entre os candidatos. Além disso, evita-se que, uma vez eleito, o candidato fique preso aos pleitos das empresas que o apoiaram com dinheiro durante a campanha. "O sistema atual é profundamente equivocado, injusto e desigual", opina Humberto Costa, outro defensor do financiamento público.
A luta pelo voto ético e consciente
Entidades da sociedade civil lançam campanhas, cartilhas e tentam estimular o cidadão a combater a corrupção eleitoral. Pela primeira vez, a lei 9840, que é mais rigorosa em relação à compra de votos, estará em vigor numa eleição nacional
Mais do que em todas as anteriores, as eleições de outubro próximo serão alvo de uma maciça campanha em favor do chamado "voto ético e consciente" e contra a corrupção eleitoral. Diversas entidades - entre as quais se destaca a CNBB e todas suas ramificações - estão engajadas no movimento. Por meio de cartazes, panfletos, seminários, debates, vídeos e cartilhas em linguagem popular, elas traçam o perfil do bom candidato e estimulam a população a fiscalizar a lisura do processo eleitoral. Nessa tarefa vão ter um auxílio que nunca tiveram antes: a lei 9840, que é mais rigorosa e tem um trâmite mais rápido do que suas antecessoras, no combate à compra de votos. Foi aprovada em 1999 e já é responsável pela cassação do registro de 15 candidatos a prefeitos e quatro a vereador, em todo o País. Em 2002 será a primeira vez que ela será aplicada numa eleição nacional.
ética na política - Na opinião de políticos ouvidos pelo DIARIO, esse tipo de campanha a favor da "ética na política" tem efeitoreduzido nas eleições de deputados, mas pode ganhar uma dimensão decisiva em campanhas majoritárias, sobretudo naquelas em que a disputa é acirrada. Mas, independente da influência eleitoral, ela se justifica pelo fato de colocar em destaque a necessidade de que tenhamos um processo eleitoral purgado de distorções como a compra de votos e o abuso econômico.
Com uma base de atuação localizada majoritariamente na zona rural, o advogado do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e candidato a deputado estadual João Arnaldo, do PT, ressalva "a fragilidade das populações pobres" para enfrentar a compra de votos e defende uma espécie de mutirão da sociedade em prol da moralização do processo eleitoral. "O TRE (Tribunal Regional Eleitoral), as igrejas, as escolas, as organizações sociais de todos os níveis e o Ministério Público, que hoje atua muito passivamente nessa questão, deveriam assumir uma participação ativa como fiscais da ética na política", afirma ele.
Dois atos de ssa campanha aconteceramsemana passada. Na quarta-feira foi lançada no Rio uma cartilha preparada pela Ação da Cidadania, em favor do voto ético. A entidade faz esse tipo de campanha desde 1996, mas este ano obteve um reforço na mobilização: pela primeira vez será apoiada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. Prevêem a distribuição de um milhão de cartilhas até o final de agosto. Nessa tarefa terão o apoio dos 26 mil colégios que integram o projeto Amigos da Escola, da Rede Globo. Os internautas que desejem obter o texto da cartilha - que enfatiza o problema da fome no Brasil - podem encontrá-lo no site www.votoetico.org.br.
Na sexta-feira também foi lançada - primeiramente em São Paulo, mas com previsão de chegar em Pernambuco na primeira quinzena de agosto - a campanha "Voto não tem preço, tem conseqüência", feita com base na lei 9840.
comitês de denúncias - Entre os seus organizadores estão a OAB e a Comissão Brasileira de Justiça e Paz. Uma de suas propostas é criar comitês que ficarão encarregados de receber denúncias de uso da máquina administrativa e de compra de votos para encaminhá-las ao TRE ou Ministério Público Estadual. O endereço deles na internet é www.lei9840.org.br.
Especificamente no Nordeste está em curso uma "campanha de participação política", que tem o slogan "Seu voto pode mudar o Brasil" e pretende "enraizar a democracia e espalhar a esperança". É realizada por uma dezena de entidades - entre elas a Cáritas Brasileira (Regional Nordeste II), organismo da CNBB voltado para a área social.
De tão antiga e disseminada, a corrupção na política é vista por muitos como um mal impossível de ser erradicado. Talvez seja, mas, como pregava Herbert de Souza, o Betinho (1936-1997), é necessário sempre tentar o impossível, já que o possível, de todo jeito, acontecerá.
Os caminhos cruzados de Carlos Wilson e Roberto Freire
Senadores voltam às urnas em palaques completamente diferentes daqueles que os elegeram em 1994. Os dois inverteram seus caminhos neste ano, quando deixaram os aliados e fecharam acordos com grupos adversários
Oito anos se passaram desde a última eleição para o preenchimento de dois terços das vagas do Senado que cabem ao Estado de Pernambuco. Em 1994, o deputado federal Roberto Freire (PPS) e o ex-governador e ex-deputado federal Carlos Wilson (então do PSDB) foram eleitos. Estavam em palanques apostos. Wilson compunha uma chapa encabeçada pelo ex-ministro Gustavo Krause (PFL) e venceu com 869.457 votos. Freire contou com o apoio do então candidato ao Governo Miguel Arraes (PSB) e saiu vitorioso emplacando 815.644 votos. São duas trajetórias eleitorais marcadas por desencontros e entrelaçadas por uniões temporárias. Nesta eleição estadual, eles estão novamente em lados distintos, fazendo campanhas para candidatos diferentes. O inusitado: Freire e Carlos Wilson inverteram seus papéis no intervalo de 1994 e 2002. Ambos defendem agora palanques aos quais criticaram anos atrás.
Roberto Freire, que aderiu ao partido comunista nos tempos estudantis, não será candidato à reeleição. Ao lado do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que lidera a chapa em que está o PFL de Marco Maciel, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso e o PPB, ele disputará uma das 25 vagas na Câmara Federal. Carlos Wilson, eleito pela primeira vez em 1974 para deputado federal pela Aliança Renovadora Nacional (Arena) - partido de sustentação ao Regime Militar, instaurado no País em 1964 -, é candidato ao Senado pela segunda vez, pelo PTB. Tem seu nome defendido pelo candidato do Governo do PT, o vereador Humberto Costa, e do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva.
Os senadores pernambucanos fizeram movimentos contrários, reconhecem alguns políticos do círculo de amizades dos dois parlamentares. "Carlos Wilson migrou para a esquerda. Freire, apesar de contestar porque vai de encontro ao seu passado, moveu-se para a direita, uma vez que o PFL e o PPB representam essa tendência", disse um deles, sem querer se identificar para não criar arestas. Difícil negar ao eleitor o contrário.
Nenhum político procurado pelo DIARIO quis comentar abertamente a mudançade rumo dos senadores. O assunto, ponderam, é delicado porque "põe em dúvida a coerência" política dos parlamentares.
OS FATOS - A história comprova que a mudança se deu de forma gradativa. A eleição de 1985 revelou opções eleitorais diferentes. Neste ano, Jarbas Vasconcelos disputou - e ganhou - a Prefeitura do Recife pelo PSB e Carlos Wilson era um dos seus aliados. O candidato derrotado: Roberto Freire, na época do PCB, legalizado no mesmo ano. 1989, Freire candidatou-se à Presidência da República e conseguiu 1% das intenções de votos.
Aliou-se a Lula, na sua primeira eleição majoritária, no segundo turno travado com Fernando Collor (PRN).
Em 1994, na eleição que os levou ao Senado, Carlos Wilson, já no PSDB, era companheiro de chapa do também tucano na ocasião Maurílio Ferreira Lima e de Krause. Jarbas, nessa época, era defensor dessa chapa, enquanto começava a articular a aliança União por Pernambuco com o deputado federal José Mendonça, de olho da eleição estadual de 1998. Miguel Arraes, defensor dacandidatura de Lula à Presidência, pregava o voto casado de Freire e Armando Monteiro Filho (PDT), também ao Senado.
Artigos
Brasil, América Latina, Ásia
Clóvis Cavalcanti
Os últimos meses têm sido de recrudescimento de crises na América Latina, com o Paraguai nas manchetes por conta de dificuldades políticas e econômicas sérias. Na Argentina, a situação há algum tempo é de assombroso empobrecimento (em 1999, o produto por habitante argentino era quase o dobro do brasileiro). O Uruguai encontra-se ameaçado por processos análogos. Na Bolívia, a situação de desespero contribuiu para surpreendente avanço de Evo Morales, representante dos cultivadores de coca, nas eleições presidenciais de há pouco (ele vai para o segundo turno). São conhecidos os atropelos do Peru, que ameaça explodir a qualquer momento. O mesmo se passa no Equador, em que a dolarização acoberta lavagem de dinheiro.
Quarenta anos de conflitos internos marcam os sobressaltos de uma Colômbia incapaz de livrar-se da guerrilha. Na Venezuela, país de enormes disparidades, à fenda econômica soma-se o fosso social e político que separa as elites da massa de excluídos. Até o México, que é membro do Nafta acordo de comércio que o liga ao Canadá e Estados Unidos , atravessa turbulências bastante severas. Talvez em todo esse cenário, um país com alguma estabilidade e melhores horizontes seja a Costa Rica, possuidor de duas características muito especiais: inexistência de forças armadas (extintas em 1948, depois de uma guerra civil) e elevado nível de (boa) educação pública.
Toda a América Latina, depois de experiências bem-sucedidas de redemocratização, foi arrastada para reformas econômicas que não parecem surtir o efeito que se desejaria. Nesse contexto, o caso do Brasil reproduz uma conjuntura desfavorável que é desafio sério para quem quer que queira dirigir a nação.
Argumenta-se que não deveria ser assim, porquanto os chamados "fundamentos" de nossa economia não são frágeis. De fato, se a comparação é com a Argentina, vale uma observação da revista The Economist (29.6.02) de que, entre ambos, "As similaridades ... são apenas epidérmicas": a dívida platina é mais externa, a brasileira, mais doméstica; a Argentina foi atadademasiadamente à paridade com o dólar, o Brasil tem uma moeda flutuante que funciona como amortecedor; a economia portenha é pequena e dependente de poucos produtos exportáveis, a nossa possui grande dimensão e diversificação. Contudo, paira no ar o perigo de uma contaminação como a de crises passad as, em que valeu o conceito de "efeito Orloff". É evidente que não se pode viver sob ameaças como a dos ataques especulativos, que amaldiçoam qualquer nação soberana que não se sujeite completamente a regras que têm mais a ver com os interesses de um capital, o financeiro, que não é exatamente aquilo de que necessitamos. Nesse particular, a situação do Chile, que sempre aplicou controles sobre a movimentação do dinheiro especulativo ("hot money"), merece atenção, haja vista que o panorama chileno, na América do Sul, é o menos atribulado no momento.
Igual atenção merecem os "tigres asiáticos", especialmente a Coréia. Em 1997, o primeiro grande ataque especulativo contra países emergentes teve lugar nesse grupo, quando os capitais saíram voando da região.
Houve pânico, resultando no colapso de várias economias, com repercussões em outras partes do mundo.
Parecia uma situação de caos difícil de recuperar a curto prazo. Hoje, no entanto, países como a Coréia do Sul e a Malásia demonstram claramente ter dado a volta por cima. Quem assistiu a transmissões da Copa de 2002, com informes sucessivos sobre a realidade local, pôde ver como a Coréia exibe uma fachada de surpreendente vigor e progresso, de país que se projeta de forma admirável. Essa impressão não é falsa, haja vista que o país figura em 27o. lugar no índice de desenvolvimento humano, possuindo uma esperança de vida de 75 anos e um PIB por habitante de 16 mil dólares (pelo critério do poder de compra de paridade). Enquanto isso, o Brasil fica em 69o. lugar, com esperança de vida de 67 anos e PIB por pessoa de 7 mil dólares (a Argentina é 34o. colocado em IDH e tem esperança de vida de 73 anos). No caso coreano, duas coisas lhe dão relevo marcante. O país, por pressão dos EUA, que temiam uma revolta comunista, fez substantiva reforma agrária há quase cinqüenta anos e dedicou atenção especial à educação, ciência e tecnologia. Como resultado, tem-se uma sociedade bastante mais igualitária do que a brasileira, com elevada qualificação dos recursos humanos.
Por outro lado, o país não abriu mão do controle sobre sua economia. Não existe nele, por exemplo, nenhuma fábrica de automóveis de propriedade de estrangeiros. E os capitais especulativos foram afugentados depois de 1997; a poupança interna, que já era alta, consolidou-se ainda mais.
Na Malásia, que, em setembro de 1998, resolveu adotar rígido controle da movimentação de dinheiro proveniente do exterior, fazendo com que se amaldiçoasse seu governo, a recuperação tem sido também impressionante. Nada das maldições que lhe foram atiradas se converteu em realidade e seu PIB atual é 20% maior do que o de 1998. Os problemas do país, que vive sob mando autoritário do primeiro-ministro Mahathir Mohamad, são mais de ordem política. Tanto a Malásia como a Coréia do Sul constituem referências para quem se debate com tribulações graves. O exemplo coreano é de um desenvolvimento equilibrado de longo prazo (em 1955 sua renda per capita era inferior à brasileira), que se reforçou quando, em 1998, o país decidiu aumentar seus gastos em ciência e tecnologia para 5% do PIB (no Brasil, eles são inferiores a 1%). Mas só cuidar desses setores não basta. É preciso ter a coragem da Malásia, que procurou resguardar a solidez de seus fundamentos (que eram bons). O mesmo tem feito o Chile. Nada disso contribuiu para que seus respectivos riscos-país os transformassem em párias dos mercados financeiros.
Colunistas
DIARIO POLÍTICO - Divane Carvalho
Os rumos do andor
Os marqueteiros ajudam muito os políticos em tempo de eleição mas continuam sem o dom de operar milagres. A candidatura José Serra (PSDB) é um bom exemplo de que, se o candidato não coopera, não tem carisma, não sabe se comunicar com o eleitor, o marketing não vai muito longe. A semana que passou mostrou que o presidenciável tucano precisa, urgentemente, mudar sua estratégia de campanha se quiser continuar na corrida presidencial. Ou terminará seguindo o caminho de Anthony Garotinho (PSB), que só faz descer nos mapas das pesquisas. São muitas as sugestões para melhorar o desempenho de Serra desde que ele caiu na preferência do eleitorado e foi ultrapassado por Ciro Gomes (PPS). Mas a de maior repercussão, sem dúvida, foi aquela que prevê uma presença mais afirmativa do presidente FHC junto ao candidato governista, o que surpreendeu muita gente. Considerando-se que o presidenciável tucano tem assumido posições contrárias a algumas medidas do Governo Federal, como os aumentos de gasolina e gás de cozinha e a não intervenção no Espírito Santo, um discurso de oposicionista. O que deve ter deixado o presidente preocupado com os rumos do andor que ele mesmo criou, ajudou a colocar na ruas e se propõe a carregar para fazer seu sucessor. Mas está difícil encontrar o mote que revigore Serra , capaz de fazê-lo encostar, outra vez, em Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Principalmente porque, a banda do PFL que ainda está ao seu lado, já não esconde que foi enfeitiçada pelo pós-comunista, com raras exceções. E os pefelistas, todos sabem, não resistem a um carro oficial.
João Paulo conseguiu iluminar o Cais José Estelita mas esqueceu de cuidar das espirradeiras que dividem as pistas, danificadas pela PCR por conta do trabalho de iluminação. Elas precisam de cuidados, prefeito, ou vão morrer
Aniversário
André de Paula (PFL), presidente do PFL, faz aniversário nesse domingo e comemora em ritmo de campanha eleitoral. Uma feijoada e muito forró pé-de-serra marcam a largada da campanha do deputado à reeleição. A festa começa a partir das 11h, no Clube Líbano, Pina.
Preconceito
O slogan do PSTU, Quem bate cartão não vota em patrão, foi considerado fora da realidade pelo candidato a vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o empresário e senador José Alencar (PL-MG). Para ele, não há mais esse tipo de preconceito no Brasil. Pois sim.
Mudanças
Edgar Moury Fernandes vai deixar a Secretaria Extraordinária de Coordenação para se dedicar unicamente à campanha de Jarbas Vasconcelos a um segundo mandato. Lúcia Pontes fica no lugar dele, acumulando com a chefia de de Gabinete do governador.
Sabor 1
Os deputados de tudo fazem piada e o mais engraçado, se divertem muito com as brincadeiras que inventam. A mais nova é a comparação que andam fazendo entre os candidatos a governador e os novos sabores da Fanta.
Sabor 2
Explicam que Jarbas Vasconcelos é uva porque nem todo mundo gosta, Fanta cítrica é Humberto Costa (PT), ácido, Humberto Barradas (PSB) é maçã, aguado e o tradicional laranja é Ilo Jorge (PDT), por motivos óbvios.
Tempo
Ao contrário de Jarbas Vasconcelos, Marco Maciel e Sérgio Guerra já colocaram a campanha na rua e com muita disposição. Parece que, só para o governador, continua valendo aquela máxima macielista de que quem tem tempo não tem pressa. Os candidatos ao Senado estão bem apressadinhos.
Eleição
João Bosco de Almeida, ex-presidente da Compesa e ex-secretário de Infra-Estrutura no governo Arraes (PSB), disputará uma vaga na Assembléia. Ele coordena o programa de Governo de Humberto Barradas, o candidato socialista ao Palácio do Campo da Princesas.
Comitê
Joaquim Francisco (PFL) está terminando de montar seu comitê mas avisa que, a partir de terça-feira, já estará trabalhando lá mesmo antes da inauguração marcada para início de agosto. Na rua Buenos Aires, 95, Espinheiro.
Produtora
Responsável pela campanha do presidenciável José Serra, do PSDB, a GW Comunicação abriu escritório no Recife. No mercado há 10 anos, com núcleos em Brasília, São Paulo e Curitiba, a produtora já fez 39 campanhas majoritárias, as últimas para Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e Jaime Lerner.
Editorial
OBSESSÃO AMERICANA
A segurança tornou-se obsessão do governo Bush desde os atentados de 11 de setembro. A perspectiva de existirem inimigos invisíveis espalhados pelo território americano e pelo resto do Mundo levou o medo à população que, até então, imaginava-se viver numa ilha de paz e tranqüilidade. Os aviões que destruíram o Wold Trade Center e parte do Capitólio - símbolos do poder econômico e militar - jogaram por terra, além dos prédios, a certeza da inviolabidade das fronteiras dos Estados Unidos.
Bush aproveitou a oportunidade para obter dividendos políticos. Centrou o discurso no combate ao terrorismo internacional. Promoveu violento ataque ao miserável Afeganistão na tentativa de caçar Osama bin Laden, suposto mandante dos ataques. Classificou os países de amigos ou inimigos, conforme a posição diante das propostas americanas.
Com as ações, o presidente obteve enorme apoio popular. Legitimou a eleição, até aquele momento questionada por causa das irregularidades registradas durante o pleito. E, sempre em nome docombate ao terrorismo, arranhou direitos caros ao povo americano, como a liberdade de expressão e a de ir e vir. Agora, depois de nove meses de elaboração, Bush encaminhou ao Congresso o plano de segurança interna. O projeto prevê a criação do Departamento de Segurança Interna, a reunião de várias agências de segurança (FBI, CIA) e a revisão de leis. Uma das propostas trata da mobilização civil. Porteiros, carteiros, jardineiros seriam recrutados para denunciar à polícia comportamentos que imaginam suspeitos.
As entidades de defesa dos direitos civis estão apreensivas. Preocupa-as não só o projeto, mas toda a orientação de segurança interna do país. Figura importante no esquema é o ministro da Justiça, John Ascroft. Considerado da direita fundamentalista, é acusado de manter, desde 11 de setembro, mil pessoas presas sem acusação formal. Vale o exemplo do brasileiro de origem árabe que ficou nove meses encarcerado sem nenhuma explicação, foi solto sem nenhuma explicação e expulso sem nenhum explicação.
Ascroft comanda a reformulação do FBI, a polícia federal americana, que volta a agir preventivamente. Em outras palavras: abrem-se as portas à infiltração de agentes, comum na época do macartismo. Teme-se que o governo sobreponha o que considera interesse de segurança interna às questões dos direitos civis.
A essência do macartismo era o combate ao comunismo. A de Bush, o terrorismo. Em ambas, os direitos civis ocupam segundo plano. O ataque ao suposto inimigo torna-se mais importante que a preservação de árduas conquistas dos cidadãos. É perigoso. Sobretudo quando se sabe que as políticas internas americanas contagiam o resto do Mundo.
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07/21/2002
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