Clube de Seguros recolhia doações à campanha do PT







Clube de Seguros recolhia doações à campanha do PT
A movimentação financeira do Clube de Seguros e Cidadania, criado em 1998, em Porto Alegre, mostra que a principal atividade da empresa era arrecadar dinheiro para a campanha de Olívio Dutra (PT). O trabalho no ramo de seguros era secundário.
O clube é presidido pelo economista Diógenes de Oliveira, pivô da denúncia levantada pela CPI da Segurança Pública sobre supostas doações do jogo do bicho à campanha de Olívio ao governo.
Diógenes sempre teve estreita ligação com o PT. Foi secretário de Transportes na primeira administração petista em Porto Alegre, quando Olívio era o prefeito.

O Clube de Seguros e Cidadania foi criado por petistas e simpatizantes do PT. No primeiro ano de existência, arrecadou cerca de R$ 20 mil com suas atividades no ramo de seguros coletivos e outros R$ 300 mil provenientes de doações, que foram repassados ao PT.
Os valores foram revelados após a CPI quebrar o sigilo bancário, fiscal e telefônico de Diógenes e do clube. Segundo Vieira da Cunha (PDT), relator da CPI, o clube presidido por Oliveira funcionava como "empresa de fachada" para "doações que o PT não podia ou não queria receber diretamente".

Ele cita o caso de doações feitas por entidades patronais. Como a lei eleitoral proíbe que sindicatos financiem campanhas, a maneira encontrada pelo PT, segundo Vieira da Cunha, foi receber doações por meio do clube, o que não é ilegal: "Do ponto de vista moral, isso é condenável", disse Cunha.
Na sexta, Oliveira divulgou uma gravação na qual pede ao ex-chefe de Polícia Luiz Fernando Tubino, em nome de Dutra, que amenize a repressão ao jogo do bicho. No fim de semana, Oliveira desvinculou Olívio do episódio. Disse que deu "um carteiraço" em Tubino, mas não tinha autorização para usar o nome do governador.


Governo gaúcho pede processo contra Diógenes
Miguel Rosseto (PT), governador interino, defendeu ontem abertura de processo no PT para punir Diógenes de Oliveira por ter falado, sem autorização, em nome do governo.
Em nota oficial distribuída ontem, Rosseto disse que o PT espera um processo rigoroso e democrático: "O filiado Diógenes de Oliveira em nenhum momento teve autorização partidária, governamental ou pessoal para estabelecer este padrão de diálogo seja com o chefe de polícia ou com qualquer outro responsável do governo. Esta é uma conduta que o nosso partido não aceita".
Olívio Dutra está em Dacar (Senegal) participando de reunião do Fórum Social Mundial. A Agência Folha não conseguiu localizar o economista Diógenes de Oliveira ontem.


Amigo de lobista, assessor de Malan pede demissão
O assessor parlamentar do Ministério da Fazenda e amigo do lobista Alexandre Paes Santos, Hugo Wolovikis Braga, pediu demissão na última sexta-feira alegando motivos de saúde.
A saída estava prevista para as próximas semanas, mas foi acelerada devido à publicação de notas na imprensa na semana passada apontando a ligação entre o assessor e o lobista, segundo a assessoria do ministro Pedro Malan (Fazenda). Santos, o APS, é considerado o maior lobista de Brasília e pivô de inquérito sobre uma suposta tentativa de extorsão no Ministério da Saúde,

Além disso, a iminência da divulgação na revista "Época" de reportagem sobre um suposto motorista que APS cedia a Braga apressou a decisão pelo afastamento. O estado de saúde do assessor vinha se deteriorando por problemas de obesidade.
Braga já teria, inclusive, encaminhado documentos médicos para realizar uma cirurgia para redução do estômago.

Em carta encaminhada ao ministro Malan na sexta-feira, o assessor admitiu uma antiga amizade com o lobista, mas negou que estivesse sendo favorecido com o serviço do motorista.
Na versão de Braga, ele pagava o motorista, apesar de o empregado ter sido recomendado por APS e manter vínculo empregatício com a empresa do lobista.
Para não enfrentar um desgaste na imprensa por sua ligação com APS, teria decidido antecipar sua saída do ministério.

Ontem, o ministro Malan enviou uma carta formal e de agradecimento ao assessor, cuja demissão ainda deverá ser publicada no "Diário Oficial" da União. O ministro classificou o trabalho de Braga como "zeloso e marcado pelo espírito público". Durante o tempo em que esteve no ministério, não houve nada que pudesse desaboná-lo profissionalmente, avaliou Malan.

Origem
Funcionário aposentado do Banco Central, Braga é de família rica do Rio de Janeiro, segundo a assessoria do ministério. Do pai falecido, um empresário do setor de transporte urbano, recebeu uma herança.
Em 1995, começou a trabalhar como assessor parlamentar do ministério, função que desempenhava no Banco Central quando Malan presidiu a instituição. A convite do ministro passou a ocupar o cargo de chefe da assessoria.
Era considerado um assessor próximo de Malan e muito conhecido no meio parlamentar.
A Folha procurou Braga para se manifestar sobre o assunto, mas não conseguiu encontrá-lo. Empregados do assessor disseram que ele viajou com a mulher Maria Alice e não souberam informar o destino.


Maluf volta a depor sobre crime eleitoral
Uma semana depois de ter sido levado à força à Casa de Custódia da Polícia Federal, em São Paulo, para prestar depoimento, o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) voltou ao prédio na manhã de ontem para "limpar a pauta" e evitar novos constrangimentos. Em pouco mais de uma hora, depôs em cinco inquéritos que apuram crimes eleitorais supostamente cometidos durante a disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 2000.

No único caso em que é investigado, Maluf é acusado pelo então candidato tucano a prefeito de São Paulo, Geraldo Alckmin, de articular o apoio de quatro adversários nanicos em favor do pepebista, durante a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. O ex-prefeito negou seu envolvimento, dizendo conhecer somente José Maria Marin dos quatro nanicos citados na denúncia.

Marin foi vice-governador de São Paulo na gestão Maluf e assumiu o governo durante dez meses, quando Maluf renunciou ao cargo para disputar uma vaga de deputado federal.
Maluf é o denunciante em quatro inquéritos. Em um, acusa militantes do PT de danificar cartazes da campanha do PPB. Noutro, pede a investigação da identidade do homem que se passava por seu filho Flávio pedindo dinheiro para a campanha municipal. Em dois inquéritos as denúncias são de invasão do site www.maluf.com.br.

Formuladas pelos advogados de Maluf, as denúncias precisavam ser ratificadas por ele para que os inquéritos prosseguissem.
Maluf foi ouvido pelo delegado Almir Otero, o mesmo que determinou sua condução coercitiva à PF no último dia 22 e o indiciou sob a acusação de crime eleitoral e de desobediência, justamente por Maluf não ter atendido a intimações anteriores. O ex-prefeito é suspeito de não ter declarado ao Tribunal Regional Eleitoral doações à campanha de 1998, quando disputou o governo do Estado. Ele ameaça processar Otero por abuso de autoridade.


Marco Aurélio nega ter alterado decisão
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Marco Aurélio de Mello, negou ontem ter alterado decisão do tribunal no caso do militar acusado de tráfico internacional de drogas e rejeitou veementemente afirmação de que a sua atuação nesse episódio poderia justificar a abertura de processo de impeachment.
"Alterar é adulterar e, na hipótese, não houve adulteração, mas sim a simples evolução de entendimento no curso do julgamento de um habeas corpus", disse.

Segundo o ministro, o que houve foi a concessão por ele de uma liminar e, depois, a sua concordância em cassá-la, quando o mérito do habeas corpus foi julgado, na última quinta-feira.
"Se isso for alteração de ato processual que se enquadre na Lei de Impeachment, vamos fechar o Judiciário", disse Marco Aurélio.

O ministro disse que liminares são decisões "precárias e efêmeras" e que, por isso, é natural que sejam derrubadas no exame definitivo do caso. Para ele, a maior "virtude" de um juiz é justamente a capacidade de mudar de entendimento sempre que se convencer da tese que havia rejeitado.
A liminar mantinha em liberdade o coronel aposentado da Aeronáutica Washington Vieira da Silva, condenado a 17 anos de prisão sob acusação de participar de tentativa de transportar 33 quilos de cocaína em avião da Força Aérea Brasileira.

Na última quinta-feira, Marco Aurélio fez um relato minucioso no plenário sobre todos os passos desse caso para esclarecer as razões de sua decisão libertando o militar. Com base nesse pronunciamento, o Supremo negou o habeas corpus de Silva e cassou a liminar de março deste ano.
Reportagem publicada pela Folha ontem levantava a hipótese de que a atuação do ministro poderia se encaixar em um dos crimes de responsabilidade previstos na Lei de Impeachment: "alterar, por quaisquer formas, exceto por via de recurso, decisão ou voto já proferido em sessão do tribunal".


PSDB teme que processo sobre lobista afete partido
O PSDB está apreensivo com o processo a ser aberto pela Corregedoria da Câmara para apurar as relações de sete deputados e um ex-deputado com um dos maiores lobistas de Brasília, Alexandre Paes Santos, conhecido por APS. Quatro deles são tucanos.
Os tucanos temem sobretudo que a oposição aproveite a situação para explorar ao máximo o suposto envolvimento de funcionários do Ministério da Saúde num esquema de arrecadação de fundos para a candidatura presidencial do ministro José Serra.

Serra e o ministro Pedro Malan (Fazenda) deverão ser convocados para explicar a atuação do lobista APS em seus ministérios. O pedido de convocação deve ser votado amanhã na Comissão de Fiscalização e Controle, presidida pelo petista Wellington Dias (PI).
Hugo Braga, assessor de Malan que pediu demissão na sexta-feira, teria seu motorista particular pago pela empresa do lobista. O diretor de Políticas Estratégicas do Ministério da Saúde, Platão Fischer, e o secretário de assistência à Saúde, Renilson Rehen, aparecem na agenda de Santos apreendida pela Polícia Federal.

O pedido de convocação dos ministros será apresentado pelo líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), que tentará ouvir os funcionários dos ministérios.
O PT vai ampliar o pedido de investigação encaminhado ao corregedor da Câmara, Barbosa Neto (PMDB-GO), na sexta-feira passada. No primeiro pedido, o PT pede que os deputados José Carlos da Fonseca (PFL-ES) e Sebastião Madeira (PSDB-MA) sejam investigados por suposto envolvimento com o lobista. O partido vai incluir na representação outros deputados que aparecem na agenda de Santos: Robson Tuma (PFL-SP), Zulaiê Cobra (PSDB-SP), Carlos Mosconi (PSDB-MG), Luciano Pizzatto (PFL-PR) e Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).

A linha de investigação do Ministério Público Federal tenta relacionar o envolvimento de funcionários do Ministério da Saúde com APS e a campanha presidencial de Serra. O inquérito foi aberto a pedido do próprio Serra.
O ministro soube, por meio de uma jornalista, que APS comentara que pessoas do ministério tentaram achacá-lo a fim de arrancar contribuições para a campanha do ministro. Serra entendeu que poderia estar sendo vítima de uma "tentativa de chantagem" e pediu a investigação.

No escritório do lobista, a PF apreendeu uma agenda que revelou os contatos de APS na Câmara e nos ministérios. Na Câmara, três tucanos aparecem: Carlos Mosconi (MG), Sebastião Madeira (MA) e Zulaiê Cobra (SP). Ao lado de alguns nomes, como os de Mosconi e Madeira, aparece uma referência em código: "50K". Há outro tucano citado, o ex-deputado Jaime Santana, que preside o diretório do PSDB do Maranhão.
A suspeita é que o código se refira a quantias pagas pelo lobista. "K" seria uma referência a quilômetro (mil metros) e 50K o equivalente a R$ 50 mil. Os dois tucanos negam ter recebido dinheiro.

Mosconi diz que intermediou um encontro de APS e representantes de uma importadora de remédios, a Meizler, com o diretor de Políticas Estratégicas da pasta da Saúde, Platão Fischer. "Ele [APS" me procurou dizendo que a Meizler havia vencido uma concorrência para fornecer hemorivados para o ministério, o contrato não era efetivado e que não conseguia conversar com alguém da Saúde para saber o porquê". Mosconi disse que só acertou o encontro. Ele foi procurado outras vezes por APS e representantes da Meizler, mas não os atendeu. O contrato não foi assinado.

Madeira fez discursos e entrevistas defendendo a adoção do Glivec pelo Sistema Único de Saúde. O Glivec é fabricado pelo laboratório Novartis, cliente de APS. Há cerca de dois meses Serra ameaçou quebrar a patente do remédio, e o laboratório reduziu em 40% o valor. O PSDB avalia que Serra se livra facilmente das denúncias, mas até lá a oposição terá feito barulho bastante para tentar desestabilizar sua candidatura.


Vitorioso, Genoino já articula alianças
Vencedor da prévia que definiu o candidato do PT ao governo do Estado de São Paulo, o deputado federal José Genoino, 55, pretende dar início imediatamente à composição de uma frente de centro-esquerda.
O resultado oficial da prévia será divulgado hoje de manhã. O Diretório Estadual do PT já adiantou que Genoino obteve de 80% a 90% dos votos, vencendo com tranquilidade o deputado estadual Renato Simões, 39, representante da ala radical do PT.

O resultado fortalece a facção moderada do partido e ajuda Luiz Inácio Lula da Silva a adotar um discurso menos radicalizado e mais voltado para o centro.
Esta semana, em Brasília, Genoino deverá conversar com a deputada federal Luiza Erundina (PSB), a quem os petistas sonham oferecer a vaga de vice. Erundina, no entanto, resiste à proposta e prefere sair candidata a deputada federal.

Haverá ainda contatos com representantes do PDT e do PC do B. "Quero conversar sobre vários pontos, desde a elaboração conjunta do plano de governo, passando pela campanha e, finalmente, pela administração do Estado de São Paulo, em caso de vitória", declarou Genoino.
A candidatura do deputado ainda terá de ser oficializada na Justiça Eleitoral em convenção a ser realizada no próximo ano. O quórum mínimo, que o PT temia não obter, acabou sendo alcançado.
De acordo com Paulo Frateschi, presidente do PT paulista, votaram na eleição interna cerca de 25 mil filiados, proporcionando comparecimento mínimo de 15% em mais de 200 cidades, o suficiente para validar a prévia.

"O comparecimento foi maior do que esperávamos. Esta eleição já tinha um claro favorito havia muito tempo, o que poderia desestimular a militância", disse Frateschi. O partido tem no Estado 220 mil filiados.
Além dos contatos com siglas de esquerda, Genoino disse que sua prioridade nos próximos meses será visitar as pequenas cidades de São Paulo.
Até julho, data oficial do início da campanha, o pré-candidato pretende priorizar cidades com menos de 20 mil habitantes, onde avalia que seu nome seja menos conhecido. Este, segundo ele, será o caminho para crescer nas pesquisas.

"É preciso que as pessoas liguem meu nome ao meu rosto e ao que faço", disse o deputado, que obtém menos de 10% das intenções de votos nas sondagens eleitorais. A partir do segundo semestre do próximo ano, Genoino visitará com mais força os grandes centros urbanos.
O deputado afirmou que seus pontos vulneráveis são as regiões noroeste do Estado, a Alta Paulista e o Pontal do Paranapanema. Os pontos fortes do partido, segundo ele, estão nas regiões de Campinas, Ribeirão Preto, Santos e Grande São Paulo.

Genoino também já começou a formar sua equipe de campanha. Ontem, ele anunciou o prefeito de Piracicaba, José Machado, como o coordenador de seu programa de governo. O programa de TV poderá ser comandado pelo publicitário Duda Mendonça, que já trabalha para o partido nacionalmente.


Deputado diz que folha custa ao mês R$ 400 mil
O presidente da Assembléia, Welington Landim (ex-PSDB e atual PSB), admite que existe a "Folha 8", destinada ao pagamento de serviços prestados à Assembléia, e afirma que ela é legal e que gasta R$ 400 mil por mês.
"Estranho que o governador Tasso [Jereissati" tenha dito isso, porque a prestação de contas da "Folha 8" está com a Secretaria da Fazenda do Estado e com o Tribunal de Contas do Estado", disse Landim.
Segundo o presidente da Assembléia, essa folha de pagamento existe há 12 anos e está enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal.
As desavenças entre Tasso e o ex-aliado Landim começou quando o presidente da Assembléia demonstrou o interesse em concorrer ao governo do Estado. Tasso se manifestou contrário a essa idéia.
Segundo o governador, foi nesse momento que ele percebeu que Landim estava usando a presidência da Assembléia para se beneficiar.

CPI
O confronto entre Tasso e Landim foi o principal responsável pela instauração da CPI que vai investigar supostos empréstimos irregulares feitos pelo BEC (Banco do Estado do Ceará) a empresários e políticos entre 1995 e 1998, na gestão Tasso, e pelas derrotas que o governador vem sofrendo na Assembléia nos últimos dias.
Na semana passada, a Procuradoria da Assembléia Legislativa do Ceará considerou constitucional o requerimento para a instauração da CPI.
Há um mês, a oposição já tinha conseguido o número mínimo de assinaturas para aprovar a CPI, que deve ser instalada nesta semana.


Garotinho prepara ação pré-eleitoral
Para consolidar seus planos eleitorais para 2002, o governador Anthony Garotinho (PSB), pré-candidato à Presidência, montou uma estratégia em que busca aumentar seu prestígio na região metropolitana do Rio.
Só nesta semana, ele inaugurará 132 ruas na Baixada Fluminense, em intensa programação, na qual promoverá festas políticas em cinco cidades, com shows de pagode e música gospel. O lote de obras faz parte de um pacote maior em que são estimados R$ 1 bilhão de investimentos.

Para o governador, sua pré-candidatura só será viável se o seu partido tiver candidatos próprios aos governos do Rio, Minas e São Paulo, que concentram cerca de 45% do eleitorado nacional.
Os investimentos na Baixada têm a pretensão de garantir a Garotinho mais condições de fazer o seu sucessor, ou de lhe facilitar a vitória, caso decida disputar a reeleição, embora ele venha publicamente negando a possibilidade.

O apreço de Garotinho pela Baixada é explicado pela análise de seu desempenho eleitoral em 98, quando conseguiu na região 454 mil votos a mais que Cesar Maia (PFL), neutralizando a vantagem de 200 mil votos que o adversário havia obtido na cidade do Rio.
Na época, Garotinho tinha uma aliança com o PT, união rompida no ano passado após uma série de crises. Os petistas o ajudaram a conquistar votos na capital e na região metropolitana, retirando-o da condição de político identificado apenas com o interior do Estado -ele é originário de Campos.
Ao investir na Baixada e em obras no Rio, o governador quer conquistar autonomia em relação ao PT e neutralizar adversários regionais, que pretendem disputar o governo, como os prefeitos de Niterói e Duque de Caxias.


PPS e PTB querem Ciro mais visível em SP
O PPS e o PTB formaram uma coordenação política para cuidar da divulgação da pré-candidatura de Ciro Gomes (PPS) em São Paulo. Um dos objetivos é fazer com que o presidenciável se exponha mais no Estado, maior colégio eleitoral do país.
Na verdade, a estratégia dos dois partidos, que formaram uma aliança em maio deste ano, é uma resposta ao avanço da pré-candidatura do governador do Ceará, Tasso Jereissati, em São Paulo, liderado pela família de Mário Covas, morto em março deste ano.

Na semana passada, o nome de Tasso foi lançado à corrida presidencial de 2002 com o respaldo dos filhos e da mulher de Covas, Lila Covas. No evento, o governador recebeu apoio de deputados estaduais e prefeitos paulistas.

Ciro Gomes, que foi governador do Ceará, é afilhado político de Tasso. Os dois defenderam durante 14 anos a mesma política para o governo do Estado, mas Ciro é oposição aos tucanos na esfera federal. No momento, os dois parecem mais distantes.

Exposição
As principais ações da coordenação política da campanha de Ciro em São Paulo foram definidas ontem em um almoço -do qual participaram, entre outros, o presidente do PPS, Roberto Freire, os deputados federais do partido Arnaldo Jardim e Emerson Kapaz, e o líder do PTB na Assembléia Legislativa de São Paulo, Campos Machado.
No encontro ficou resolvido que os trabalhos de coordenação política em torno de Ciro entrarão em uma nova fase. Como os líderes do PPS sustentam que Ciro já divulgou seu projeto em meio aos "formadores de opinião", com a visita a empresários e líderes sindicais, a nova fase contemplaria uma maior exposição do candidato à população, comparecendo a atos públicos, por exemplo.
"Até agora Ciro aparecia em encontros para 200 ou 300 pessoas. Agora ele deve comparecer a eventos com mais de mil pessoas", afirmou Jardim.

Deve ser definida ainda a formação de um escritório operacional para a candidatura Ciro e o marqueteiro que cuidará da campanha. Na próxima semana, o presidenciável do PPS deve jantar com Campos Machado. O líder petebista esteve na homenagem da família Covas a Tasso.

Tucanos
Os trabalhos do PTB e do PPS para fortalecer Ciro em São Paulo vão respingar nas eleições para o governo do Estado, nas quais os petebistas já estão fechados com o PSDB, do governador Geraldo Alckmin. Freire afirmou que o partido ainda não decidiu se apoiará os tucanos no Estado.
"Posso até definir aliança com o PSDB em outros locais, mas aqui é sempre mais preocupante", disse o presidente do partido, em referência a uma possível divisão de palanques eleitorais no Estado com o presidenciável tucano.
Campos Machado, um dos maiores entusiastas de uma candidatura Alckmin ao Estado, afirmou que o PPS deve estar com os tucanos em São Paulo. "Já estamos bem articulados por todo Estado. Isso é bem importante."

O PTB reivindica a posição de vice-presidente na chapa encabeçada por Ciro. O principal nome proposto pelo partido é o do sindicalista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que também esteve presente ao almoço de ontem.
"Ninguém faz eleição sozinho. Veja o PT buscando aliança com o PL", afirmou Jardim, rebatendo as críticas pelo fato de o partido ter feito aliança com o PTB -cujos líderes apoiaram, por exemplo, o governo do ex-presidente Fernando Collor.


Artigos

FHC for export
CLÓVIS ROSSI

PARIS - O leitor Wasley de Santana Bessa (Duque de Caxias) ironizou ontem, no "Painel do Leitor", o que chama de retorno do sociólogo Fernando Henrique Cardoso à pele do presidente homônimo, a partir de suas mais recentes declarações.
Se Wasley leu a entrevista que o jornal espanhol "El País" publicou ontem com o presidente brasileiro, tem motivo adicional para festejar a "revisita" do sociólogo ao presidente.

FHC definiu o papel do Estado, por exemplo, como "ser ecológico". E traduziu o "ecológico": "(O Estado) deve ocupar-se da vida. A vida, as pessoas, a saúde, a educação, a segurança, o meio ambiente. O mercado não se ocupa disso. Nunca se ocupou nem vai ocupar-se". Mais: "O Estado deve ser o gestor da vida e o mercado, o gestor dos bens. E a vida tem que prevalecer sobre os bens".

Não que haja alguma fundamental revelação. É basicamente social-democracia em pílulas. O p roblema é que a percepção do público brasileiro, a julgar pelas pesquisas, é a de que o FHC presidente não revela a preocupação com a vida das pessoas que o FHC travestido de sociólogo demonstra ao falar a "El País".
É até possível que a percepção do público interno seja incorreta, mas é, ao fim e ao cabo, o que conta política e sociologicamente.

É formidável notar como a percepção do público externo é diferente. José Manuel Calvo, que entrevistou FHC para o jornal espanhol, descreve o presidente brasileiro como "uma das figuras intelectuais e políticas de referência na reflexão social-democrata e de esquerda".

A entrevista ocupa toda uma página de "El País. Hoje, o jornal francês "Le Monde" repete a dose. Não tive acesso à conversa com o vespertino francês, mas sou capaz de apostar que o tratamento a ser dado ao presidente (e as idéias que ele verterá) transitarão mais ou menos pelo mesmo caminho.
Não seria o caso de FHC governar o Brasil do exterior?


Colunistas

PAINEL

Ganhar tempo
Presidente do PMDB, Michel Temer discutirá hoje com Itamar Franco em Brasília o adiamento das prévias do partido para a eleição presidencial, previstas para janeiro. A proposta é fazer as primárias em março.

Questão de princípio
O governador mineiro é simpático à idéia de adiar as prévias para março. Mas pode bater o pé apenas porque ela tem sido defendida por Jarbas Vasconcelos, o principal adversário de sua candidatura no partido.

Simples turismo
De Michel Temer, sobre Itamar e Pedro Simon dizerem que ele não deve aceitar o convite de FHC para acompanhá-lo à Europa: "É intolerável que alguém me diga com quem devo falar. Não aceito ser patrulhado".

Impunidade parlamentar
O senador Luiz Otávio (PPB-PA), que admitiu ter assinado notas frias para receber um financiamento público, não deverá sofrer processo de cassação. Para muitos membros da Comissão de Ética do Senado, como o senador não mentiu, não quebrou o decoro parlamentar.

Censura prévia
Advogados de Maluf pressionam o procurador Jean-Louis Crochet, de Genebra, a não dar informações ao Brasil sobre as contas que o ex-prefeito manteve na Suíça entre 85 e 97. Dizem que as informações prestadas pela Suíça ao Brasil acabam publicadas pela imprensa.

O dono do mar
Sarney volta hoje ao Brasil, após receber homenagens na Europa por sua obra literária. O senador já não está tão convencido de que Itamar seja um nome forte para 2002. E está bem menos cauteloso quando fala das chances de Roseana.

Nova investida
A oposição a José Ignácio na Assembléia do ES apresentará nos próximos dias novo pedido de impeachment do governador

Cara a cara
Depois de responsabilizar o PSTU pela radicalização da greve dos professores universitários, o ministro Paulo Renato recebe hoje o líder sindical dos funcionários das universidades, Aguinaldo Fernandes. O líder jamais aparece no ministério sem o broche do PSTU.

Desculpa esfarrapada
O evento do Paraná usado por José Serra para justificar sua ausência no ato pró-Tasso Jereissati em SP foi marcado na última hora. Apenas na sexta-feira a Prefeitura de Quatro Barras foi informada de que o ministro estaria ontem na cidade para lançar o Bolsa-Alimentação.

Madrugada adentro
O fax enviado pela equipe de Serra deixou o prefeito de Quatro Barras (PR), Roberto Adamoski, em polvorosa. Seus assessores passaram o final de semana arrumando para o evento o salão paroquial da cidade.

Força de expressão
Lula (PT) esteve na última sexta-feira com executivos do BankBoston. O petista disse a eles que foi um exagero de retórica a declaração de que o Brasil não poderia exportar enquanto houvesse pessoas com fome.

Serviço privado
Ex-assessora do gabinete de José de Abreu (PTN), Aldrin Buttner entrou na Justiça contra o deputado. Ela recebia pela Câmara, mas prestava serviços à Rádio Atual, ao Centro de Tradições Nordestinas e à indústria Lani, controlados por Abreu.

Visita à Folha
Ciro Mortella, presidente-executivo da Abifarma (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica), visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Omilton Visconde Júnior, presidente do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo), e de Luiz Roberto Serrano, da Serrano & Associados.

TIROTEIO

Do deputado Ricarte de Freitas (PSDB-MT), que promoverá amanhã um jantar em Brasília de apoio à candidatura Serra:
- Não vejo empolgação na base parlamentar com a candidatura Tasso. Ainda está muito forte no partido a lembrança de que o nome foi citado primeiramente por ACM. O nome dele atende aos interesses do PFL.

CONTRAPONTO

Técnicas de ensaboar
Na semana passada, José Aníbal, presidente do PSDB, pediu à sua secretária que ligasse para o gabinete do ministro Pimenta da Veiga (Comunicações).
Minutos depois, a secretária o avisou de que Pimenta estava no "palácio" e que não poderia atendê-lo naquela hora. Mais tarde, Aníbal pediu que a secretária insistisse na ligação. Como da primeira vez, Pimenta não estava em seu gabinete:
- Está no palácio...
No fim do dia, Pimenta ligou de volta. Bem-humorado, o presidente do PSDB não perdoou:
- Você me faz lembrar o Humberto Lucena [senador do PMDB, morto em 98".
Certa vez, contou Aníbal, um correligionário disse a Lucena:
- O senhor deve ser o homem mais limpo do mundo...
Lucena sorriu amarelo. O correligionário então explicou:
- Toda vez que eu ligo, o senhor está no banho...


Editorial

MERCOSUL ESVAZIADO

O Brasil retomou as negociações para criar uma área de livre comércio com o México. Impasses setoriais fizeram com que 18 meses de discussões fossem interrompidos em junho passado, quando expirou o prazo para que os membros do Mercosul fizessem acordos comerciais isoladamente.
A retomada das negociações partiu do México. O governo brasileiro afirmou que, apesar de desejar voltar às negociações em conjunto com os demais sócios do bloco do Cone Sul, há a possibilidade de fazê-lo bilateralmente, o que significaria contrariar regra do Mercosul.

O México tem um nível de desenvolvimento industrial semelhante ao do Brasil. Há multinacionais que têm subsidiárias nos dois países, o que facilita as trocas entre essas companhias. Esse comércio tenderia a criar uma sinergia entre as estruturas produtivas brasileira e mexicana.
Além disso, produtos brasileiros poderiam ganhar espaço nos mercados dos EUA e do Canadá por meio das maquiladoras mexicanas -fábricas que importam produtos, fazem pequenas modificações e em seguida os exportam. Assim, o México pode se tornar um parceiro comercial estratégico para o Brasil.
A retomada das negociações com o México é mais uma indicação de que o Mercosul poderá se tornar um projeto menos importante para o país.

Antes, o ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, tinha afirmado que o Brasil poderia aceitar a suspensão da Tarifa Externa Comum (TEC), hipótese que reduziria muito a importância do Mercosul.
Durante muitos anos, o Mercosul foi mais do que um projeto econômico para o governo brasileiro, foi um ambicioso projeto político. Ambicioso e discutível, já que não parece legítimo que o objetivo de exercer uma liderança regional se sobreponha às necessidades de desenvolvimento interno. Por isso, é bom que o pragmatismo tenha ganhado força e feito o governo acordar para as dificuldades de um projeto "Mercosul Grande".


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10/30/2001


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