Câmara apura denúncia contra Roriz









Câmara apura denúncia contra Roriz
Governador é acusado de racismo

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados vai entrar, ainda nesta semana, com representação no Ministério Público do Distrito Federal para que seja apurada a conduta do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz.

Na semana passada, durante um comício, Roriz pediu ao povo que vaiasse uma pessoa, chamada por ele de “crioulo petista”.

Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), a atitude de Roriz é inaceitável para um governador de Estado.

O PT do Distrito Federal já entrou com representação no Ministério Público pedindo que o governador Roriz responda por crime de racismo e incitação à violência.

Ontem à tarde, foi protocolada no STJ uma notícia-crime encaminhada pelo deputado Wasny de Roure (PT-DF) contra o governador Roriz. De acordo com o congressista, o governador incorreu na prática de “preconceito de cor” .

O secretário de Comunicação Social do Distrito Federal, Weligton Moraes, disse na semana passada que as declarações de Roriz foram uma “brincadeira”.
– O governador não imaginava que ia dar uma confusão dessa. Ele sempre brinca desse jeito com as pessoas mais simples. No meio delas, ele se solta. Essas pessoas nem o chamam de governador, só de Roriz. – justificou – Ele me chama de negrão.


Acaba a trégua na disputa interna do PT
Tarso criticou o vice-governador Miguel Rossetto e reclamou de suposta censura da TVE, que não transmitiu seu discurso

A breve trégua entre os grupos que apóiam a reeleição do governador Olívio Dutra e aqueles que apostam no prefeito Tarso Genro foi encerrada ontem, antes mesmo do término do 2º Fórum Social Mundial.

Tarso e Olívio estiveram lado a lado no encerramento do Fórum, chegaram a dançar de mãos dadas, mas os ânimos estão exaltados de parte a parte.

Pela manhã, em entrevistas à Rádio Gaúcha e à Rádio Bandeirantes, Tarso tornou públicas divergências que em geral o partido discute a portas fechadas. Tarso atacou o vice-governador Miguel Rossetto e acusou o governo de utilizar a máquina pública para divulgar a candidatura do governador Olívio Dutra:
– Não se trata de uso ilegal da máquina pública, mas de critérios políticos para favorecer a reeleição. Isso é constrangedor.

A reação veio pelo vice-governador Miguel Rossetto, à tarde. Rossetto disse que o lançamento da candidatura de Tarso era um equívoco que não contribui para a construção da unidade.

Na entrevista em que fez um balanço do Fórum, Olívio mostrou-se irritado ao ser questionado sobre as divergências internas no PT:
– As questões partidárias serão tratadas em outras oportunidades. Estamos aqui para celebrar o sucesso do Fórum – esquivou-se o governador.

No último dia do Fórum, a torcida de Olívio estava mais mobilizada do que a de Tarso. À entrada do Centro de Eventos da PUCRS, um grupo distribuía adesivos com a frase “O Rio Grande já sabia – Olívio governador de verdade”. Quando o governador chegou ao palco para o encerramento do Fórum, acompanhado da mulher, Judite, centenas de pessoas entoaram em coro “Olívio, Olívio, Olívio”. Até os estrangeiros desfilavam com os adesivos do governador.

Nas entrevistas, Tarso não poupou críticas à cobertura feita pela TVE na abertura do Fórum Social Mundial. O prefeito comentou nota publicada ontem na Página 10 de Zero Hora, com a informação de que estaria irritado pela supressão do seu discurso na transmissão da TVE, na quinta-feira à noite. O prefeito e sua equipe não se convenceram com a explicação da TVE de que houve um problema técnico. É que na edição do resumo da solenidade, exibida mais tarde, seu nome também não foi mencionado. Tarso confirmou que suspeitava de censura política de classificou a atitude da TVE como “discriminatória e stalinista”.

À tarde, o presidente da TVE, José Roberto Garcez, e o secretário de Comunicação, Guaracy Cunha, distribuíram cópia de carta enviada a Tarso. Em papel com o timbre do Gabinete do vice-governador, a carta diz que houve um problema técnico e não censura a Tarso.


Palácio oferece cargos ao PT Amplo
O grupo palaciano reunido em torno do governador Olívio Dutra fez ontem um movimento ousado para neutralizar a candidatura do prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, numa possível prévia do PT.

O chefe de Gabinete do governador, Laerte Meliga, telefonou para integrantes do PT Amplo e propôs uma reunião. Na pauta, está a imediata reforma do secretariado, com a destinação de duas pastas ao tarsista PT Amplo – a Casa Civil e a Secretaria-Geral de Governo.

Em contrapartida, o grupo do Piratini exige apoio à reeleição de Olívio e do vice-governador Miguel Rossetto. Os dois cargos oferecidos ao Amplo são hoje ocupados por apoiadores de Olívio. À frente da Casa Civil, está Flávio Koutzii, da Esquerda Democrática, corrente historicamente alinhada à Democracia Socialista (DS), de Rossetto. Koutzii pretende concorrer ao Senado. Já a Secretaria-Geral de Governo é ocupada pelo próprio vice-governador, de acordo com uma tradição inaugurada pelo PT na prefeitura.

Derrotado na disputa interna de 1998, que indicou a chapa Olívio-Rossetto, o moderado PT Amplo ocupa apenas duas secretarias: a do Planejamento, com Adão Villaverde, e a do Meio Ambiente, com Claudio Langone. Integrantes do Amplo garantem que a corrente não detém mais do que 50 cargos em comissão (CCs) no governo do Estado, numa proporção muito inferior ao prestígio público de seus expoentes e ao seu próprio peso interno.

Mas o interesse por cargos não é o principal motivo pelo qual a proposta de diálogo do Palácio pode se tornar atraente para o Amplo. Na cúpula da corrente, à qual Tarso não pertence formalmente, existe a convicção de que uma nova prévia entre o governador e o prefeito seria fatal para as pretensões eleitorais do PT. Ao contrário de 1998, quando Olívio e Tarso não ocupavam cargos públicos, desta vez um enfrentamento entre os dois atingiria em cheio a governabilidade.
No desfecho da negociação terá um peso decisivo a posição da direção nacional do PT – leia-se da Articulação Unidade na Luta, corrente do presidente de honra, Luiz Inácio Lula da Silva, e do presidente nacional, deputado José Dirceu. Neste momento, Lula estaria dividido entre as relações pessoais com Olívio, de quem é amigo pessoal há mais de 20 anos, e o cálculo eleitoral, que o leva a ver em Tarso o melhor candidato. Durante o 2º Fórum Social Mundial, Lula se deixou fotografar ao lado de Olívio em todos os momentos importantes, como no jantar com uma delegação do Partido Socialista francês numa cachaçaria da Capital.

Ontem, os grupos que apóiam Tarso – Movimento de Construção Socialista (MCS), Força Socialista, Movimento Esquerda Socialista (MES) e Rede, além do PT Amplo – oficializaram a candidatura do prefeito perante o presidente estadual do partido, David Stival. À noite, a Ação Democrática (AD), do deputado estadual Ivar Pavan e do secretário da Administração, Marco Maia, aprovou o apoio a Tarso, a rejeição da prévia e a garantia da vaga de vice para o grupo hoje alinhado com Olívio.


Prévia de 1998 deixou trauma
Se disputarem uma prévia em março, o governador Olívio Dutra e o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, estarão reeditando o mais grave confronto da história do PT gaúcho.

No dia 22 de março de 1998, data que boa parte dos petistas gostaria de deletar da lembrança, Olívio e Tarso se enfrentaram numa eleição interna que apontaria o candidato a governador naquele ano. Olívio venceu Tarso por uma diferença de apenas 191 votos (9.469 contra 9.278).
O PT Amplo, grupo que apoiava Tarso, pediu a impugnação de 29 urnas que teriam desrespeitado o regimento da votação. Os votos questionados eram provenientes dos municípios de Hulha Negra, Piratini, Vitória das Missões e Humaitá, área de atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), alinhado com Olívio. Nesses locais, segundo o PT Amplo, dirigentes do partido teriam facilitado o pagamento de débitos de filiados no momento da votação. Nas quatro localidades, Olívio obteve 95% dos votos.

A apuração dos votos se estendeu por 30 horas e deixou cicatrizes. O então vice-prefeito da Capital, José Fortunati, apoiador de Tarso, tornou públicas as suspeitas de irregularidades e agravou os ânimos. O grupo que apoiava Olívio passou a pressionar Tarso a compor a chapa como candidato a vice. O indicado se recusou, Fortunati apresentou sua candidatura à revelia de Tarso e Miguel Rossetto, da Democracia Socialista (DS), acabou sendo indicado.


Público faz o show na despedida do Fórum
Com Olívio e Tarso dançando de mãos dadas, solenidade de encerramento foi ao som de roda de ciranda

Terminou em roda de ciranda, com o governador Olívio Dutra e o prefeito Tarso Genro dançando de mãos dadas, o 2º Fórum Social Mundial (FSM).

A mais bem organizada das quatro festas de abertura e encerramento das duas edições do evento atraiu mais de 6 mil pessoas ao Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), em Porto Alegre.

O roteiro garantiu espaço às autoridades e aos representantes das delegações, mas foram os últimos que brilharam. O governador, o prefeito, os secretários e integrantes dos comitês do Fórum acomodaram-se como espectadores silenciosos nas laterais do palco. Só se manifestaram para dançar, ao final, ao ritmo da cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá.

A festa teve acenos com lenços brancos distribuídos ao público – símbolos da busca da paz –, gente chorando – quando foi lida uma história escrita pelo escritor português José Saramago – e, principalmente, gente dançando. O espetáculo foi aberto com um show de hip hop e rap de um grupo de meninos e meninas da Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem). Depois, o ator Nelson Diniz leu um poema de Piedro Tierra que confronta os fóruns de Porto Alegre e de Davos para dizer que “Nova York é o medo, Porto Alegre, a liberdade”.

Representantes de Brasil, Filipinas, Itália, Equador, Nicarágua, Quênia e Coréia deram depoimentos e apresentaram as estatísticas do Fórum (veja quadro), que recebeu 51,3 mil pessoas este ano. Outro grupo – representando América do Sul, Ásia e África – foi encarregado de saudar as autoridades. Num duelo não previsto de ovações, Olívio repetiu o feito da abertura e foi mais saudado que Tarso pela platéia, quando os nomes dos dois foram citados.

O colombiano José Pereira, representante dos sul-americanos, e Saramago – que que não apareceu mas enviou um texto – garantiram os momentos mais comoventes do encerramento. Pereira pediu que “mudemos nosso mundo interior para que possamos mudar nosso mundo material”, defendeu uma maior participação dos idosos no próximo Fórum e, num ritual indígena de reverência ao céu e à terra, silenciou o auditório com os sons tirados de sopros em uma concha marinha.

Saramago enviou uma história sobre a justiça e a democracia – lida pelos atores Liane Venturella, Celina Alcântara e Zé Ramalho. Conta o caso de um camponês de Florença que, no século 16, perde suas terras para “um ganancioso senhor do lugar” e decide apoderar-se do sino da igreja para badalar a morte da justiça. O texto (leia a íntegra no site clicRBS) denuncia os limites da democracia representativa, critica a dominação exercida pelo poder econômico e financeiro mundial e faz a exaltação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Ségio Haddad, do comitê do Fórum, anunciou que Porto Alegre será sede da terceira edição do encontro, em 2003. Era uma decisão já conhecida, mas também um bom pretexto para o aquecimento no final da festa. O público e as autoridades dançaram ao ritmo do frevo e do maracatu da cantora pernambucana Lia de Itamaracá e sua banda. Em rodas e com as mãos dadas de gente de 131 países, como manda a boa ciranda.


Jovens desfazem acampamento
Cerca de 15 mil pessoas ficaram instaladas no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho

Com a certeza de que “ninguém volta como veio”, o músico goiano Piva Barreto, 27 anos, deixou ontem o Acampamento da Juventude em um dos três ônibus fretados por seu grupo.

Enquanto alguns acampados ainda dormiam, exauridos pela festa da noite anterior no Anfiteatro Pôr-do-Sol, ele e os companheiros estavam entre os primeiros a desmontar as barracas e iniciar a viagem de volta para casa.

Na bagagem, além de “muita informação”, Barreto leva o receio de ter adquirido uma doença de pele qualquer nas instalações sanitárias montadas no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho para atender às cerca de 15 mil pessoas acampadas. À exceção da sujeira dos banheiros, no entanto, o músico só tem elogios: às oficinas e seminários oferecidos pelo Fórum Social Mundial, aos shows e à hospitalidade dos porto-alegrenses.

Vocalista da banda Dominus Tecum, que mistura black music com MPB, Barreto mostrou seu trabalho nas três rádios instaladas no acampamento e vendeu todos os CDs que trouxe. Entre as atividades de que mais gostou, está uma oficina de percussão.
– O Fórum é diferente para cada pessoa, cada um buscou o que está ligado a sua vida – diz Barreto, que pretende voltar para a próxima edição do Fórum.

Seu irmão, Júlio, que resolveu embarcar para Porto Alegre na última hora, fez parte do grupo dos que participaram do acampamento pela aventura. Para ele, ter conhecido o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, pessoalmente foi uma das experiências mais marcantes.


Combatentes criticam terror de Estado
Um seminário do 2º Fórum Social Mundial, na segunda-feira, reuniu na Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) vítimas das ditaduras latino-americanas.

O encontro sobre Terror de Estado reuniu o uruguaio Julio Marenales, o jurista paraguaio Martin Almada, o companheiro boliviano de Che Guevara Osvaldo Peredo e Suzana Lisboa, da Comissão do Acervo da Luta Contra a Ditadura, criada em 1999 por decreto do governador Olívio Dutra na comemoração dos 20 anos da anistia no Brasil.

Ainda sob o impacto do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, o coordenador do debate, Cláudio Gutiérrez apresentou Almada como o descobridor de arquivos secretos da polícia política do ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner.

Almada falou do sonho libertário que terminou em pesadelo, a Operação Condor, cooperação entre as ditaduras militares do Cone Sul, e da repressão na América Latina, do triunfo da revolução cubana à vitória da Frente Sandinista na Nicarágua. O terrorismo de Estado foi denunciado por todos.
– Não existe outro terrorismo, senão o de Estado – afirmou Peredo, acrescentando que os atentados de 11 de setembro foram um subproduto desse terrorismo, do qual os Estados Unidos são os grandes representantes.

Peredo propôs a criação de tribunais para julgar também delitos econômicos.


Tudo se discute no mundo do Fórum
Poucos temas da agenda internacional escaparam à ânsia pelo debate demonstrada durante os seis dias do evento

Pela segunda vez, o escritor português José Saramago não apareceu no Fórum Social Mundial. Mas se desculpou com um texto lido ontem no encerramento do encontro. Um trecho da história – um camponês que toca o sino da aldeia para anunciar a morte da justiça – diz:
– Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito-estufa, do tratamento do lixo às congestões do tr áfego, tudo se discute neste nosso mundo.

Discutiu-se tudo isso e muito mais no 2º Fórum Social Mundial. Em quatro dias, foram 27 conferências, dezenas de seminários e testemunhos, centenas de oficinas. Debateu-se a paz mundial, o comércio, o controle de capitais financeiros, o trabalho, o ambiente, os povos indígenas, a Aids, o militarismo.

A preocupação com o fim do estigma de que o Fórum era um palanque dos que são “contra tudo isso que está aí” produziu centenas de propostas. Todos os painéis tiveram bancas com folhetos, livros, textos avulsos de organizações não-governamentais (ONGs) que têm alguma coisa a dizer sobre os mais variados temas.

O caráter propositivo do encontro também fez com que o tom apenas discursivo – uma característica do primeiro encontro – fosse muitas vezes repreendido. A pesquisadora Sônia Correa, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), chamou a atenção em pelo menos duas conferências.

– No que podemos avançar? Não venham aqui para fazer perguntas, mas apresentar idéias, propor, acrescentar – advertiu ela às pessoas do público que apresentavam depoimentos ao final dos debates.

O maranhense José Vale dos Santos, 45 anos, da cidade de Barreirinhas, representante da Cáritas, encantou-se com uma descoberta:
– Nós, aqui do Terceiro Mundo, estamos propondo coisas para o Primeiro Mundo. As alternativas saem das margens do mundo e vão para o centro.

Santos fez outra constatação:
– O Fórum não debateu só o econômico, a guerra, o consagrado, mas também o que parece subjetivo, como a cultura.

As propostas debatidas estarão a partir da próxima semana no site oficial do evento (www.forumsocialmundial.org.br).


“Governos esqueceram terrorismo de Estado”
Entrevista: Danielle Mitterrand, ex-primeira-dama da França

A ex-primeira-dama francesa Danielle Mitterrand, 79 anos, cumpriu uma agenda movimentada na Capital durante o 2º Fórum Social Mundial. Pela segunda vez em Porto Alegre, a viúva do presidente François Mitterrand participou de debates, conheceu novos projetos e conferiu as ações de sua organização, a France Libertés, voltada para a defesa da cidadania e dos direitos humanos. Danielle costuma vir ao Brasil uma ou duas vezes por ano. No sábado, recebeu Zero Hora para falar sobre seus projetos.

Zero Hora – Sua organização mantém projetos no Brasil. É possível fazer um balanço da evolução dessas ações?
Danielle Mitterrand – Entre o Fórum do ano passado e o deste ano, houve uma evolução considerável. O projeto em Herval (de apoio técnico e financeiro a assentados), por exemplo, foi concretizado no ano passado. Nessa iniciativa, o avanço foi sobretudo pelo intercâmbio entre franceses e brasileiros sobre produção leiteira.

ZH – Há novos projetos?
Danielle – Sim. Os projetos convergem. Não são ações formais. A France Libertés tem parcerias com diversas iniciativas locais.

ZH – A senhora percebeu mudanças no aspecto social desde sua última visita?
Danielle – Voltei a presenciar a ação de pessoas que deixaram sua favela e ocuparam um imóvel abandonado (o edifício Sul América, no centro de Porto Alegre). É o mesmo que vi no ano passado, em Santa Maria, quando famílias ocuparam uma área abandonada (a fazenda Nova Santa Marta) e transformaram o local. Reencontrei o movimento (Movimento Nacional de Luta pela Moradia) agora.

ZH – Como a senhora avalia a situação social brasileira?
Danielle – Não cabe a mim dizer, e sim aos brasileiros. Os testemunhos que recebo indicam uma solidariedade, uma reconstituição do senso de comunidade. Acho que a atmosfera nas ruas é de pessoas que estão confiantes umas nas outras.

ZH – Qual é sua avaliação sobre a participação da França na coalizão antiterror comandada pelos EUA, alvo de protestos no 2º Fórum Social Mundial?
Danielle – Essa é a política de globalização. Acho que esses governos que se uniram para lutar contra o terror se esqueceram de dois tipos de terrorismo: o de Estado e o econômico.


Bernardi descarta aumento de impostos
Candidato do PPB ao Palácio Piratini, o ex-deputado estadual Celso Bernardi reuniu-se ontem com empresários da área de comércio, bens e serviços e afirmou que em seu governo não haverá aumento de impostos.

A declaração foi bem recebida pelos participantes do encontro, que ocorreu na sede da Federação das Associações Comerciais (Fecomércio), em Porto Alegre. O presidente do Sistema Fecomércio, Flávio Sabadini, presente à reunião, afirmou que a carga tributária elevada é a principal causa de empobrecimento das micro e pequenas empresas no Estado. E essas empresas, segundo Sabadini, são responsáveis por 30% da mão-de-obra utilizada no comércio gaúcho.

Durante a reunião, Bernardi declarou que, se for eleito, pretende realizar em seu governo, a cada três meses, fóruns ecônomicos (para ouvir os empresários), do serviço público (para ouvir o funcionalismo) e de desenvolvimento social (para ouvir a sociedade). Antes de se encontrar com empresários do comércio, o candidato do PPB já havia promovido uma reunião com funcionários públicos.


Simon desafia Temer a convocar nova convenção
O senador ataca líderes que se posicionaram contra prévia para eleger candidato presidencial próprio do PMDB

O senador Pedro Simon (PMDB) lançou ontem, em Brasília, um desafio ao presidente do partido, deputado federal Michel Temer (SP).

Por meio de uma carta de quatro páginas com duras acusações, o senador intimou Temer a convocar uma convenção extraordinária no dia 3 de março, a fim de averiguar se as bases da sigla querem ou não a realização da prévia para escolher o candidato presidencial próprio do partido, marcada para o dia 17 de março.

Para Simon, que aposta num candidato próprio do PMDB, essa seria a prova final, além de um cala-boca dirigido aos líderes do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e no Senado, Renan Calheiros (AL). Eles têm dado declarações contra as prévias e manobram em favor da adesão da sigla a uma frente governista.
– Tentar boicotar as prévias é uma provocação, uma imoralidade. Se estivéssemos vivendo um momento sério, Geddel e Renan seriam chamados ao conselho de ética do partido – acusou Simon.

A convenção peemedebista, realizada em Brasília, no dia 9 de setembro do ano passado, decidiu por 98,7% dos votos dos convencionais que na eleição presidencial deste ano o PMDB teria candidatura própria, definida em prévia para escolha do candidato.

Simon, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, se candidataram à prévia, mas os setores governistas do partido não se empolgaram, alegando que nenhum desses candidatos teria potencial de voto. No final do mês passado, até mesmo Temer admitiu que poderia suspender a prévia, diante da pressão dos setores governistas e da postura dúbia de alguns dos candidatos na disputa.

Simon já avisou que não admite essa solução. Em tom de desabafo, o senador reclamou da postura dos líderes, que teriam dado declarações sobre o fato de ser supostamente mais vantajoso aderir agora ao candidato governista para conseguir vantagens mais adiante.

– Não pode haver negociação mais vil. É o quem dá mais – denunciou.

Caso o presidente do partido não atenda ao desafio lançado ontem, e as prévias sofram algum tipo de boicote por parte da ala governista, Simon avisa que disputará a convenção nacional em junho, de qualquer maneira.

O senador só não aceita a possibilidade de fechar um acordo para ser candidato à Vice-presidência de um dos postulantes que despontam nas pesquisas de intenção de voto.
– Eu não posso ser vice porque a convenção decidiu que o PMDB terá candidato à Presidência – sustentou.


Tucanos saem em defesa da candidatura de Serra
Reação foi provocada por declarações feitas pelo governador Tasso Jereissati segunda-feira em Nova York

As críticas feitas pelo governador do Ceará, Tasso Jereissati, ao desempenho nas pesquisas do pré-candidato do PSDB à Presidência, o ministro da Saúde José Serra, repercutiram ontem na reunião da executiva do partido em Brasília.

O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, foi um dos que saíram em defesa da candidatura de Serra. Ao chegar à reunião, ele disse não querer julgar a atitude do governador. Tasso defendeu, durante evento paralelo ao Fórum Econômico Mundial, a aliança com o PFL e disse que se a candidatura de Serra não emplacar isso será uma “dor de cabeça” para o PSDB.

O secretário-geral do PSDB, Marcio Fortes (RJ), respondeu que o crescimento de Serra pode aparecer só em setembro e que a vitória será visível só às vésperas da eleição. O secretário afirmou ainda que a campanha na televisão, que só começa em agosto, é a parte mais importante para medir o crescimento de Serra.

Já o ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo disse que o processo eleitoral está sendo antecipado e isso dificulta uma análise objetiva de todo o quadro. Segundo Azeredo, as definições só acontecerão entre os meses de abril e maio. Na interpretação de Azeredo, as declarações de Tasso foram uma alerta ao partido.

– Tasso não fez uma crítica ao PSDB, ele fez uma alerta para todos nós – afirmou o ex-governador.

Ficou decidido na reunião de ontem que a reunião da executiva nacional que irá oficializar a candidatura de Serra será no dia 24 de fevereiro.

O presidente Fernando Henrique Cardoso não quis comentar as declarações feitas pelo governador.

– O presidente não faz comentários a respeito do quadro eleitoral – disse o porta-voz da Presidência da República, Alexandre Parola.


Denise Frossard é cortejada por candidatos
A juíza aposentada Denise Frossard (PSDB) participou ontem da apresentação de propostas de segurança pública do pré-candidato à Presidência pelo PMDB o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann.

Denise também foi convidada pelo ministro da Saúde, José Serra (PSDB), a discutir a elaboração de um programa de segurança para sua campanha à Presidência.

A juíza aposentada foi a responsável pela condenação de 14 banqueiros do jogo do bicho no Rio, em 1993. A principal proposta defendida por ela é a de transferência do comando da Polícia Civil e da Polícia Federal para o Ministério Público e o Poder Judiciário. Atualmente, as polícias são subordinadas ao Poder Executivo.

De acordo com Denise, a mudança de comando das polícias teria como objetivo levar o Ministério Público e o Poder Judiciário “para a ponta das investigações, trazendo-os para mais perto do cidadão’’.

A juíza aposentada defende que a magistratura tenha o poder para comandar uma investigação. Responsável pela preparação da parte técnica do programa de segurança pública de Jungmann, disse que se for convidada a elaborar também o plano de segurança pública de Serra o faria “com muita honra’’.

Filiada ao PSDB, Denise negou a possibilidade de disputar o governo do Estado. Ela afirmou que se candidatará a deputada federal.

Em 1998, a juíza se aposentou do cargo de juíza para se filiar ao PPS. No mesmo ano, disputou pelo partido a eleição ao Senado pelo Rio de Janeiro.

A juíza aposentada obteve 10,3% dos votos válidos, mas não foi eleita – perdeu para Saturnino Braga (PSB). No mesmo ano, foi consultada pelo governo federal para assumir a Secretaria Nacional Antidrogas, mas não foi indicada para o cargo.

Em 2001, Denise filiou-se ao PSDB. Atualmente, ela é conselheira da Transparência Brasil, ONG que tenta combater a corrupção.


MP sugere criação de superprocuradoria
Procuradores-gerais querem órgão com poderes especiais

Procuradores-gerais de Justiça de todo o país, reunidos ontem em Belo Horizonte, anunciaram o projeto de uma procuradoria especializada no combate ao crime organizado e à corrupção, e na defesa dos direitos humanos.

Eles vão propor ao presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves (PSDB-MG), a criação desse órgão no Ministério Público Federal.

De acordo com o presidente do Conselho Deliberativo da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público, Marfan Martins Vieira, a idéia dos procuradores é que essa procuradoria tenha poderes especiais, como a prerrogativa de quebrar sigilos fiscais e tomar outras medidas cautelares. A criação do órgão depende de uma emenda à Constituição.

A reunião dos procuradores foi motivada pelo assassinato a tiros do promotor de Justiça Francisco José Lins do Rego Santos, 43 anos, ocorrido no último dia 25, em plena luz do dia, no centro de Belo Horizonte. A polícia mineira diz já ter solucionado o crime, que teria sido encomendado pelo integrante de uma máfia de adulteração de combustíveis que o procurador havia denunciado.

De acordo com Vieira, a proposta de criação da procuradoria faz parte de uma série de outras medidas que estariam sendo estudadas para dar maior proteção aos promotores e procuradores e proporcionar meios de investigação mais eficientes. O procurador afirmou que as propostas serão finalizadas em reunião hoje, em São Paulo, e serão levadas no dia 18 à Câmara.


Greenhalgh diz que presos conhecem assassinos
Suspeitos negam participação em crime

Os seis presos sob a suspeita de participação no seqüestro e no assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), disseram à polícia que conhecem os autores do crime.

Os acusados, porém, negaram ter envolvimento com os seqüestradores.
– Eles afirmam que sabem quem participou, mas não confessaram, não assumiram nada – afirmou ontem o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), indicado pelo PT para acompanhar as investigações da polícia.

Essas informações foram repassadas pela polícia a Greenhalgh e, segundo ele, podem ser as principais dicas para resolver esse caso.

Os seis homens foram presos nos últimos dois dias na favela Jardim Pantanal (zona sul de São Paulo), nas proximidades do local onde foi achado um cartão de plano de saúde do prefeito.
Após o rastreamento do telefone celular do prefeito, foi constatado que o aparelho recebeu, na região da favela Jardim Pantanal, duas chamadas telefônicas na noite do dia 18, pouco depois do seqüestro.

O único preso que teve o nome divulgado é Manoel Dantas de Santana Filho, 29 anos, o Cabeção. Ele é apontado como líder de uma quadrilha especializada em seqüestros relâmpago.

Pelo menos outras quatro pessoas, que também são moradores da favela Jardim Pantanal, estão foragidas. A quadrilha, de acordo com uma testemunha preservada em sigilo pela polícia, costumava utilizar como cativeiro o bar abandonado onde foi encontrado o documento do prefeito.
A pedido do delegado Edson Santi, do Deic, a Justiça prorrogou a prisão dos suspeitos. Eles ficarão detidos por pelo menos mais 15 dias.

O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Agílio Monteiro Filho, afirmou ontem que “não existe nenhum dado que comprove a real atuação da Frente de Ação Revolucionária Brasileira (Farb)”. Segundo Monteiro Filho, nenhum órgão de inteligência do governo “encontrou até agora qualquer indicativo” da existência da organização clandestina que, por e-mails e cartas, assumiu a autoria das ameaças a prefeitos do PT.


Justiça extingue 42 CCs em Esteio
A juíza Cleciana Lara Pech, da 1ª e 2ª Varas de Esteio, determinou a extinção de 42 dos 54 cargos em c omissão (CCs) da prefeitura municipal. A decisão, comunicada ontem ao prefeito Vanderlan Vasconselos (PSB), atende a um pedido de liminar impetrado pelo Ministério Público, que questiona o número de cargos.

A medida desagradou ao prefeito, que se reúne às 13h45min com o procurador-geral de Justiça do Estado, Cláudio Barros Silva, para tratar do assunto.

- Foi um golpe de Estado na minha administração. Só pode ser perseguição política por parte do Ministério Público. Eu, nos municípios do porte de Esteio, fui o prefeito que mais cortes fez, que mais enxugou – disse Vanderlan.

De acordo com o secretário estadual dos Transportes, Beto Albuquerque, também do PSB, que acompanhará o prefeito na audiência, o objetivo do encontro é manifestar a inconformidade do partido com a decisão.

– Quando o PSB assumiu a prefeitura, o município tinha 144 CCs e os salários do funcionalismo atrasavam havia três meses. Fizemos uma administração austera e saneamos as contas pú


Câmara homenageia prefeito assassinado
O presidente da Câmara Municipal de Santo André, Carlinhos Augusto (PT), abriu os trabalhos da Casa ontem, após o recesso parlamentar, com uma homenagem prefeito Celso Daniel, assassinado no dia 20 de janeiro. No início da sessão foi apresentada uma gravação em vídeo com imagens do prefeito, do ato ecumênico em sua homenagem, e poemas do poeta Ferreira Gullar e do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Em seguida, os vereadores fizeram um minuto de silêncio em memória de Celso Daniel.

Na próxima sessão de hoje, os vereadores discutirão uma proposta do atual prefeito, João Avamileno (PT), de troca do nome do Parque Duque de Caxias para Parque Engenheiro Celso Daniel.


Artigos

Porto Alegre, tchau...
Zacharias Bezerra de Oliveira

Uma primeira viagem a Porto Alegre não poderia ser realizada em ocasião mais propícia. As pessoas, naturalmente simpáticas da cidade, ficam de espírito mais aberto para receber-nos e nós ficamos todos mais felizes. Falhas aconteceram, porque isso é inerente ao ser humano e, por isso, não poderia ser diferente, mas não tira o brilho da festa....

Vir até aqui, participar desse mundo de propostas bonitas, alegres, utópicas até, mas que precisam ser realizadas, sob pena de, como disse Noam Chomsky, “não haver mundo algum, nem ninguém para contar a história”, é um privilégio para todos nós. A imprensa fez o seu trabalho e contou sempre com o apoio do comitê responsável para recepcioná-la e ajudá-la na tarefa de informar as outras pessoas do mundo, que um outro mundo é possível, sim, e só depende de nós.

Muitas propostas foram apresentadas para melhorar o mundo. E algumas delas já estão sendo realizadas por movimentos sociais e voluntários e voluntárias do mundo inteiro. Denúncias foram apresentadas, com pedido de ajuda internacional, como o caso do Timor Leste, que foi explorado durante 450 anos pelos portugueses e, abandonado em 1975, foi invadido e espoliado pela Indonésia durante 24 anos. Este país, que agora está sob o protetorado da ONU e é administrado pelo embaixador brasileiro Sérgio Vieira de Melo, será o mais novo país independente do mundo a partir de 20 de maio próximo.

O mundo é imperfeito e injusto porque ele é humano. Porque as classes sociais estão sempre querendo se sobrepor umas às outras. Porque não existe respeito para com as diferenças. Como disse a Prêmio Nobel Rigoberta Menchú Tum, da Guatemala, “o mundo é diverso, sempre foi e será diverso, e foi feito para a diversidade”. Cabe a nós aceitar e trabalhar para que todos tenhamos os mesmos deveres, mas, sobretudo, os mesmos direitos.

Para dizer aos grandes e poderosos do mundo que todos os povos
têm direito à sua autodeterminação

E nós aqui estamos neste Porto, alegre e feliz, exatamente para fazer com que isso aconteça. Para dizer aos grandes e poderosos do mundo que todos os povos têm direito à sua autodeterminação, a ser diverso, a ser mulher, a ser negro, a ser índio, a ser criança... Que todos nós temos direito à vida plena e justa “aqui na Terra, e não apenas no céu”, como tão bem pontificou dom Mauro Morelli, bispo de Caxias, no Rio de Janeiro, em sua palestra.

Agora, todos voltamos para nossos países, nossas cidades, nossos bairros, nossas casas, nossas vilas e aldeias para levar a mensagem de que aqui, em Porto Alegre, foi dito aos grandes e poderosos do mundo que nós “trazemos a vocação do diverso. Do libertário. A vocação do humano. Recusamos a branca ordem de Davos, o poder e o medo de Nova York e suas siglas: OMC, FMI, Alca, Otan. Somos “a desencontrada polifonia das vozes do Sul e do Norte, que rejeita a marcha fúnebre do mercado”, como reza trecho da Carta do Sul, escrita pelo poeta Pedro Tierra e lida no encerramento do Fórum.

Só nos resta agradecer e dizer, parodiando Kleiton e Kledir, Porto Alegre, tchau.... Até 2003. Que essa gente pampeira siga sendo sempre alegre e feliz. Obrigado.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Assédio político
Ogovernador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, deu mais uma demonstração da agilidade com que se movimenta para pavimentar sua campanha eleitoral e vitaminar o seu partido, o PSB, na representação parlamentar. Nesta semana o governador voltou a dizer, com todas as letras, ao ministro Paulo Costa Leite, presidente do Superior Tribunal de Justiça, que o PSB tem o maior interesse em contar com a filiação do magistrado gaúcho que se notabilizou em grandes debates nacionais, envolvendo a relação com o governo. Gaúcho de Porto Alegre, o ministro Paulo Costa Leite mora em Brasília desde 1972. Seu domicílio eleitoral é o Distrito Federal.

No dia 3 de abril próximo, o ministro deixa a presidência do STJ e se aposenta. Terá três dias para tomar a decisão porque a lei eleitoral concede a magistrados e militares a data de 6 de abril para a filiação a fim de que possam disputar o pleito deste ano. O governador Anthony Garotinho, cuja candidatura está ganhando fôlego de acordo com as últimas pesquisas, empatando tecnicamente com a governadora Roseana Sarney (Ibope/Veja), está trabalhando intensamente para construir um palanque de notáveis. Em Brasília já lançou o ex-presidente da OAB nacional Reginaldo Oscar de Castro como candidato ao Senado pelo Distrito Federal e o jovem e ativo deputado distrital Armando Rollemberg como nome para disputar o governo do Distrito Federal.

O ministro Paulo Costa Leite, por dever de ofício, nega-se a comentar o convite feito pelo governador Anthony Garotinho. Promete que tratará do assunto somente a partir do dia 3 de abril, quando se aposentará. O governador do Rio, que também articula o apoio do PL e dos evangélicos para a campanha eleitoral deste ano, não considera inviável, somente com o PSB, vencer as eleições. Na última entrevista dada à Rádio Gaúcha, Garotinho deixou claro que pode vencer a eleição sem uma ampla aliança. Reconheceu, no entanto, que se vencer a eleição correrá para formar as alianças que possam garantir a governabilidade.


JOSÉ BARRIONUEVO

A discórdia
Uma provável classificação para o segundo turno e a perspectiva de mais um mandato no Palácio Piratini jogam o PT gaúcho na maior crise interna de sua história. A escolha do candidato através da prévia radicaliza a disputa e impede o consenso. Tarso Genro colocou lenha na fogueira ao se antecipar, em meio ao Fórum, na oficialização de sua pré-candidatura, provocando forte reação do grupo que apóia Olívio Dutra, tendo à frente o vice-governador Miguel Rossetto. No encerramento do Fórum Social Mundial, ontem de manhã, era visível o desconforto do governador e do prefeito da Capital, sentados lado a lado. Nos últimos dias, as divergências se acentuaram na organização do F órum das Autoridades Locais, a cargo da prefeitura, e o FSM, promovido pelo governo. No Estado onde o PT tem sua melhor representação política, hoje meca das esquerdas no mundo, a legenda pode comprometer o desempenho eleitoral com a radicalização numa prévia prevista para 17 de março, que coloca frente a frente seus dois principais líderes.

Tarso sente-se melhor do que na prévia de 1998
Com o apoio de nove grupos e correntes, Tarso Genro sente-se em melhores condições de vencer a prévia do que na disputa anterior com Olívio, em 23 de março de 1998. Naquela oportunidade, o PT Amplo, a tendência que o apoiava, contava com 30% do diretório estadual. Hoje, seus aliados asseguram 45% do comando do partido. O aspecto que mais favorece Tarso, na avaliação do próprio, é a forte rejeição a Olívio comprovada nas pesquisas.
O auditório do Hotel Umbu esteve lotado ontem antes da formalização da pré-candidatura.

Cobertura 99% livre
Tarso foi categórico ontem em entrevista à Rádio Gaúcha ao denunciar a manipulação nas transmissões da TVE, que teria cortado sua participação na abertura do FSM. Em longa carta, o presidente da TVE, José Roberto Garcez, e o secretário de Comunicação, Guaracy Cunha, explicaram a Tarso que teria havido um problema técnico.

- Lastimamos que a ocorrência de um erro, comum em todas as atividades humanas, inclusive no jornalismo, esteja servindo para alimentar a disputa política interna partidária. Ainda mais quando esse erro tem como responsáveis finais companheiros de partido.

(Inicialmente, Garcez e Cunha imaginavam ser intriga da Página 10, que divulgou o protesto do prefeito com exclusividade.)

Na carta, os dois jornalistas desafiam Tarso a mostrar outra atividade da prefeitura da Ca-pital que não tenha merecido atenção da TVE. Em anexo, foi encaminhada uma longa relação de reportagens “produzidas e veiculadas pela TVE entre 15 de janeiro e 4 de fevereiro sobre atividades da prefeitura”.

Briga de foice
Está estabelecida uma crise no MST, que marcha dividido na eleição deste ano. Por acordo estabelecido há quatro anos, o deputado Dionilso Marcon (PT) cederia a candidatura para frei Sérgio Görgen, principal líder dos pequenos agricultores, hoje unidos aos sem-terra.
Marcon gostou das elucubrações na tribuna, guindado à destacada condição de líder de bancada, e decidiu que vai concorrer de novo. O caso tem ingredientes suficientemente fortes para virar briga de foice, e martelo, no escuro.

Marcon apóia Olívio, frei Sérgio está com Tarso.

Radialistas
Reconhecido pelo trabalho desenvolvido na CPI da Segurança, o deputado Valdir Andres (PPB), natural de Santo Ângelo, ocupa a partir do dia 19 a 1ª vice-presidência da Assembléia. Bom para Sérgio Zambiasi (PTB), presidente da Casa, que parte para uma eleição majoritária.
Andres é um gentleman.

Mais apoio para Olívio
A Ação Democrática, que se constitui hoje na terceira força do PT (conta com 13 dos 23 prefeitos do partido), decidiu ontem à noite apoiar o governador Olívio Dutra à reeleição. Ao mesmo tempo, a AD condena a realização de prévia para a escolha do candidato. A AD é liderada pelos deputados Ivar Pavan e Valdomiro Fioravante, pelo prefeito Valdeci Oliveira, pelo secretário Marco Maia e por Ricardo Giuliani. A corrente deve ocupar mais uma pasta na reformulação do secretariado em abril, quando Maia deixa a Secretaria da Administração para concorrer a deputado federal.
A vereadora Maristela Maffei, que havia optado por Tarso, acompanha a posição da corrente.

Prefeitos boicotam Emater
Em solidariedade ao prefeito de Tupanciretã, Odilon Burtet, submetido a cárcere privado pelo MST, os 174 prefeitos do PPB podem decidir hoje, reunidos no Grande Hotel, romper com a Emater. Junto com os integrantes do MST, que agrediram Odilon, estava o gerente regional da Emater, Pedro Costa. O presidente da Comissão de Agricultura da Assembléia, Frederico Antunes, ingressou no Ministério Público com notícia-crime para que sejam feitas diligências sobre as agressões. O deputado observa que a Emater está voltada exclusivamente para o MST, excluindo da assistência técnica pequenos e tradicionais produtores.

Se o PPB boicotar a Emater, outros partidos de oposição pretendem tomar idêntica atitude, o que pode quebrar a empresa, um dos esteios do Orçamento Participativo no Interior.

Repúdio
Em reunião realizada ontem, o diretório estadual do PDT divulgou uma nota oficial repudiando o veto à participação do pré-candidato a governador José Fortunati, presidente da Câmara da Capital, no Fórum Social Mundial. O cancelamento do convite anteriormente formulado por organismos nacionais foi interpretado como decorrência do ingresso de Fortunati no PDT.
Na sessão de hoje na Câmara de Porto Alegre, o líder da bancada do PDT, vereador Nereu D’Ávila, apresenta uma moção de repúdio em plenário.

Mirante
• Quem realizou a pesquisa paga pelo grupo de Tarso foi a Labors (Laboratório de Observação Social). Não é Labor (trabalho em latim) como imaginava o colunista, que recebeu a informação errada, sem o esse, dos patrocinadores da dita-cuja.

• Ao acompanhar na PUC o encerramento do FSM, ontem, este colunista pôde comprovar a capacidade de organização das esquerdas. Porto Alegre é hoje um pólo político, de vanguarda socialista, no mundo.

• Presidente do PPS, Proença elogia o equilíbrio de Brizola na construção da aliança trabalhista.

• O deputado Fetter Júnior (PPB) constrói apoios para levar incentivos à Metade Sul.

• Agora o secretário Bisol resolveu atrapalhar até o que vai bem no Daer. A bronca chegou aos ouvidos do governador.

• O ministro Costa Leite, presidente do STJ, deixa o cargo dia 3 de abril para concorrer a deputado pelo DF. Vai se filiar ao PSB.


ROSANE DE OLIVEIRA

Ciranda eleitoral
Quem viu o prefeito Tarso Genro e o governador Olívio Dutra de mãos dadas, dançando animados a ciranda de Lia de Itamaracá, a musa do final do Fórum Social Mundial, não imagina o quanto é acirrada a disputa entre os dois. Cerca de duas horas antes, Tarso tinha espinafrado o vice-governador Rossetto – cabo eleitoral número 1 de Olívio – em entrevistas às rádios Gaúcha e Bandeirantes, e reclamado do que classificou de boicote da TV Educativa a sua participação na abertura do Fórum.

Diante dos convidados, o PT preservou a unidade. Sentados lado a lado, Olívio e Tarso pareciam apenas bons companheiros. Chegaram a cochichar algumas vezes, deram-se as mãos e dançaram conforme a música. Uma jovem morena os separou minutos depois na dança da ciranda e a partir daí cada um sambou para o seu lado.

Encerrado o Fórum, a campanha interna passa a ocupar toda a agenda do PT. Se nenhum dos dois se retirar da disputa – o que parece difícil faltando 10 dias para o registro das candidaturas – a guerra será inevitável. A oposição aposta que o PT não conseguirá juntar os cacos depois. Com medo de gastar numa disputa interna a energia que precisará na eleição de 6 de outubro, os principais líderes do PT defendem o consenso. Só que ninguém quer ceder e cada ala acha que seu candidato tem mais chances de vencer.

Os defensores da candidatura de Olívio criticaram o prefeito por ter precipitado o debate, quando o mais conveniente seria manter a disputa adormecida até a realização do Fórum. E passaram a acusar Tarso de estar contribuindo para a divisão do partido – que dividido está desde a prévia de 1998.

Baseado em pesquisas que apontam menor índice de rejeição, Tarso está convencido de que tem mais chances de vencer a eleição. Líderes europeus que participaram do Fórum chegaram a aconselhar o prefeito a desistir da disputa, para não prejudicar o trabalho que vem fazendo na prefeitura, mas era tarde. As correntes que apóiam Ta rso exigem que os filiados escolham o candidato. Se perder a prévia, Tarso continua na prefeitura e seus apoiadores partem para uma segunda briga, a da indicação do vice. Se ganhar, Tarso terá de renunciar ao mandato de prefeito até 4 de abril, correndo o risco de ficar sem mandato até 2006.

Correção: A coluna de ontem embaralhou as datas: o 1º Fórum Social Mundial foi realizado em 2001, e não em 1999.

Aviso: As férias estão começando hoje. Até a volta, em março.


Editorial

CIRANDA ELEITORAL

Quem viu o prefeito Tarso Genro e o governador Olívio Dutra de mãos dadas, dançando animados a ciranda de Lia de Itamaracá, a musa do final do Fórum Social Mundial, não imagina o quanto é acirrada a disputa entre os dois. Cerca de duas horas antes, Tarso tinha espinafrado o vice-governador Rossetto – cabo eleitoral número 1 de Olívio – em entrevistas às rádios Gaúcha e Bandeirantes, e reclamado do que classificou de boicote da TV Educativa a sua participação na abertura do Fórum.

Diante dos convidados, o PT preservou a unidade. Sentados lado a lado, Olívio e Tarso pareciam apenas bons companheiros. Chegaram a cochichar algumas vezes, deram-se as mãos e dançaram conforme a música. Uma jovem morena os separou minutos depois na dança da ciranda e a partir daí cada um sambou para o seu lado.

Encerrado o Fórum, a campanha interna passa a ocupar toda a agenda do PT. Se nenhum dos dois se retirar da disputa – o que parece difícil faltando 10 dias para o registro das candidaturas – a guerra será inevitável. A oposição aposta que o PT não conseguirá juntar os cacos depois. Com medo de gastar numa disputa interna a energia que precisará na eleição de 6 de outubro, os principais líderes do PT defendem o consenso. Só que ninguém quer ceder e cada ala acha que seu candidato tem mais chances de vencer.

Os defensores da candidatura de Olívio criticaram o prefeito por ter precipitado o debate, quando o mais conveniente seria manter a disputa adormecida até a realização do Fórum. E passaram a acusar Tarso de estar contribuindo para a divisão do partido – que dividido está desde a prévia de 1998.

Baseado em pesquisas que apontam menor índice de rejeição, Tarso está convencido de que tem mais chances de vencer a eleição. Líderes europeus que participaram do Fórum chegaram a aconselhar o prefeito a desistir da disputa, para não prejudicar o trabalho que vem fazendo na prefeitura, mas era tarde. As correntes que apóiam Tarso exigem que os filiados escolham o candidato. Se perder a prévia, Tarso continua na prefeitura e seus apoiadores partem para uma segunda briga, a da indicação do vice. Se ganhar, Tarso terá de renunciar ao mandato de prefeito até 4 de abril, correndo o risco de ficar sem mandato até 2006.

Correção: A coluna de ontem embaralhou as datas: o 1º Fórum Social Mundial foi realizado em 2001, e não em 1999.

Aviso: As férias estão começando hoje. Até a volta, em março.


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02/06/2002


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