Câmara pode punir gazeteiros da CPMF
Câmara pode punir gazeteiros da CPMF
Doze deputados não votaram e viajaram para o Marrocos
BRASÍLIA - Enquanto os líderes do governo se esfalfavam ontem pelos corredores do Congresso pregando punição para os parlamentares que gazetearam a votação da emenda que prorroga a CPMF, um seleto grupo de 12 parlamentares desembarcava no Marrocos. O pretexto era um congresso interparlamentar. A viagem custou R$ 300 mil aos cofres da Câmara, alimentados pelo bolso do contribuinte.
A volta ao trabalho está prevista para semana que vem. Se os deputados não estiverem presentes à outra votação da CPMF, podem perder uma semana de salário. Ainda assim, não pagarão um centavo dos R$ 400 milhões que o governo deixará de arrecadar pelo adiamento da votação.
Os aliados de Fernando Henrique Cardoso foram bater à porta do presidente da Câmara, Aécio Neves (MG), pedindo punição severa para os faltosos. Estavam inconformados com a não-conclusão da votação da emenda na Câmara, quarta-feira à noite, quando 101 dos 513 deputados não esstavam presentes. O presidente do PSDB, deputado José Anibal (SP), e o líder do partido na Câmara, Jutahy Magalhães (BA), falavam em corte de salário.
Reunião - Aécio não teve outra alternativa senão convocar uma reunião para a próxima semana. Um dos possíveis punidos é o líder do PMDB deputado Geddel Vieira Lima (BA).
Geddel e seus colegas chegaram atrasados para a missão oficial. O encontro começou domingo, dia 17. Foi o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, que tratou de adiar o embarque. Telefonou a todos implorando para não viajarem antes de votar a CPMF. Apesar do atraso, ainda há tempo de participar hoje, às 14h30, da cerimônia de encerramento.
Aécio Neves minimiza o problema. Alega que a verba da viagem não é da Câmara, e sim do Grupo Brasileiro União Interparlamentar. Mas uma rápida consulta ao Sistema de Acompanhamento Financeiro (SIAFI) mostra o valor das transferências, feitas em duas parcelas (R$ 230 mil e R$ 70 mil), da conta da Câmara, no Banco do Brasil, para a do grupo.
Além de Geddel, integram a comitiva Benito Gama (BA), Leur Lomanto (BA), José Gomes da Rocha (GO), Ana Catarina (RN), Jorge Tadeu Mudalen (SP) - todos do PMDB -, além de João Almeida (PSDB-BA), José Thomaz (PFL-AL), Cunha Bueno (PPB-SP), Efraim Morais (PFL-PB) e Robson Tuma (PFL-SP).
Serra e Roseana perdem com briga
Pesquisa mostra queda nos índices dos candidatos do PSDB e do PFL. Lula permanece estável e Garotinho cresce
BRASÍLIA - A briga entre PSDB e PFL custou eleitores aos candidatos dos dois partidos. A mais recente pesquisa do Ibope, divulgada ontem, mostra queda nos índices do tucano José Serra e de Roseana Sarney. Quem ganha é o candidato do PSB, Anthony Garotinho. Os três aparecem empatados tecnicamente em segundo lugar. A disputa continua liderada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Feita por encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a pesquisa teve como base entrevistas com eleitores de todo o País entre 14 e 18 de março, tendo sido ouvidas duas mil pessoas.
O Ibope comparou os resultados com os da pesquisa anterior, cujas entrevistas foram feitas entre 7 e 11 de março. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais. Lula obteve 24% das indicações nas duas pesquisas. Sua posição não foi afetada pela briga entre os outros candidatos.
Roseana teve o maior prejuízo com o tiroteio. Em uma semana perdeu quatro pontos percentuais e caiu de 17% para 13%. Nas pesquisas realizadas por outros institutos em fevereiro, a governadora do Maranhão chegou a estar tecnicamente empatada com Lula, na liderança.
Tudo mudou depois da blitz da Polícia Federal na sede da Lunus, empresa de Roseana e do marido dela, Jorge Murad, em São Luís, no dia 1° de março. Os policiais encontraram R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo. A governadora e Murad apresentaram várias versões para a origem do dinheiro, mas nenhuma delas convenceu a opinião pública.
A pesquisa mostra também que a rejeição ao nome de Roseana cresceu muito. Em dezembro do ano passado, 38% responderam que não votariam nela de jeito nenhum. Agora, o percentual subiu para 50%. Só Enéas, do Prona, com 72%, e o peemedebista Itamar Franco, com 59%, têm índices piores. E Itamar renunciou anteontem à candidatura.
Depois da blitz na Lunus, a resposta do PFL foi atacar Serra e o governo. O candidato tucano foi acusado de montar uma operação de espionagem contra Roseana. Serra, que havia dado um salto de 5% para 19% das intenções de voto entre dezembro e o início de março, segundo o Ibope, caiu agora para 16%.
Quem mais ganhou foi Garotinho. Em dezembro, tinha 9% das indicações. Subiu para 11% no início de março e, agora, passou para 14%.
No caso de Serra, a pesquisa mostra que se apresentar como o candidato do presidente Fernando Henrique Cardoso pode ser ruim. Das duas mil pessoas entrevistadas, 56% disseram que não votariam em quem representa a ''continuidade da política econômica''.
Em simulações feitas sem a presença do PMDB e de Roseana, as posições não se alteram. Os números mostram que os votos se pulverizam. Assim, nenhum candidato se beneficiaria isoladamente se os partidos de Itamar ou da governadora do Maranhão desistissem de lançar candidatos. Nessa situação, cada concorrente cresceria no máximo dois pontos percentuais.
''Era dinheiro de campanha'', diz Roseana
Candidata confirma versão do marido para o R$ 1,34 milhão apreendido na sede da Lunus e garante que não é crime
BRASÍLIA - ''Campanha se faz assim.'' Com a frase a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, confirmou ontem que o R$ 1,34 milhão encontrado na sede da Lunus pela Polícia Federal era dinheiro para cobrir gastos iniciais da disputa presidencial. Confirmou a versão do marido, Jorge Murad, para a fortuna apreendida no cofre da empresa do casal em São Luís. ''Quem duvida disso é hipócrita'', acrescentou Roseana durante a inauguração de um centro de ensino profissionalizante em Santa Inês, interior do Estado. Ela não informou, contudo, quem fez a doação.
Depois de vinte e um dias e sete diferentes versões, ela não se limitou a reforçar que o dinheiro em espécie financiaria custos da corrida à Presidência. Pediu o testemunho dos parlamentares presentes para atestar a veracidade de suas palavras. ''Os que estão aqui sabem que se faz campanha assim. Todos os políticos vivem dessa hipocrisia, alguém tem de assumir.'' E prevendo as reações, garantiu que a arrecadação antecipada não é crime.
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, advogado de Murad e da governadora, confirmou que sua cliente não recaiu em delito eleitoral. ''Isso não existe'', assegurou. ''Jorge Murad só não declarou quem foram os doadores porque ainda não é o momento adequado, nem há necessidade de constranger as pessoas'', afirmou. ''Mas vamos anunciar, muito breve, quem fez a doação.''
A opinião de Castro também é compartilhada pelo advogado do PFL, Torquato Jardim, especialista em Direito Eleitoral e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral. A lei eleitoral não prevê punição para a arrecadação de fundos fora da época de campanha.
Choro - A governadora, que chorou durante a leitura de um poema por uma estudante, evitou comentar o resultado do Ibope, que apontou sua queda na intenção de voto. Roseana insiste em manter a candidatura à Presidência. Declarou-se disposta a deixar o governo maranhense em 5 de abril, data-limite para a saída dela do governo, para concorrer ao Planalto.
Roseana planeja voltar a percorrer o país na tentativa de recuperar a confiança dos eleitores. Segunda-feira, viajará para Salvador para participar da entrega do prêmio Luís Eduardo Magalhães a es tudantes universitários. O PFL quer transformar o evento numa mega-festa para Roseana. Oficialmente, o homenageado será o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, candidato ao Senado, e ao filho Luís Eduardo Magalhães, ex-líder do governo Fernando Henrique, morto em 1996 de infarto.
Observadores sem apoio
Fiscais de eleição sugeridos por Sarney não empolgam nem a oposição
BRASÍLIA - O senador José Sarney (PFL-AP) não encontrou eco na ameaça de pedir fiscalização internacional para assegurar ''eleições limpas'' no País. Nem mesmo o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que faz oposição ao presidente Fernando Henrique Cardoso, acha a medida necessária. Lula entende que a Justiça Eleitoral dispõe dos instrumentos necessários para evitar manipulações.
O PPS de Ciro Gomes não quer nem ouvir falar: ''O Brasil não é uma republiqueta qualquer'', discorda o presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE). Em discurso no Senado, quarta-feira, Sarney disse que poderia pedir à ONU e à OEA o envio de observadores para fiscalizar o processo de votação e apuração.
No PFL da candidata Roseana Sarney, a vigilância internacional não é uma unanimidade. Ex-líder do governo no Congresso, o deputado Heráclito Fortes (PI) prefere os mecanismos de controle instituídos. ''Acredito na nossa Justiça Eleitoral'', diz.
Sarney disse que as urnas eletrônicas despertam desconfiança porque a Agência Brasileira de Informação (Abin) é a ''única detentora da chave criptográfica das urnas e do sistema eleitoral''.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Nelson Jobim, que vai comandar a eleição neste ano, preferiu não entrar na polêmica. A assessoria do ministro informou que Jobim já se pronunciou diversas vezes sobre a segurança do sistema de votações.
A Secretaria de Informática do TSE explicou que a chamada chave criptográfica serve exclusivamente para transformar dados que vão para totalização em códigos indecifráveis. Esses dados, segundo o TSE, tornam-se públicos nos boletins de urnas logo após a votação. A chave serve apenas como uma espécie de ''carro- forte'' para garantir que não haja alterações dos dados durante o transporte dos disquetes das seções eleitorais para os locais de totalização.
O chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Alberto Cardoso, disse que todas as explicações sobre a manutenção da chave criptográfica foram dadas por técnicos da Abin em audiência na Câmara dos Deputados. ''Não há nenhuma possibilidade de se fraudar as eleições'', garantiu Cardoso.
Uma guerra sem vencedor
Na mais disputada eleição para a ABL dos últimos anos, ninguém chegou lá
Não foi desta vez que os imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL) conseguiram dar novo dono à cadeira de número 21, deixada vaga pela morte do ex-ministro Roberto Campos, em outubro. Como os acadêmicos mais experientes já previam, a eleição realizada ontem, uma das mais disputadas da história recente da Academia, não teve vencedor: nenhum dos três candidatos - o embaixador Mario Gibson Barboza, o sociólogo Helio Jaguaribe e o escritor Paulo Coelho - conseguiu atingir o mínimo de 19 votos. Com isso, o processo eleitoral volta à estaca zero. As inscrições para a vaga estão abertas a partir de hoje até 21 de maio e a nova eleição está marcada para 25 de julho.
Não foi a primeira vez que não se chegou ao resultado numa eleição da ABL, mas poucas vezes as candidaturas provocaram tanta movimentação nos bastidores. Dentro das complicadas regras da casa, uma eleição comporta até quatro escrutínios - e os acadêmicos podem mudar de voto a cada um deles. Jaguaribe quase chegou lá no terceiro escrutínio, quando atingiu 17 votos. ''Ele é o vencedor moral dessa eleição'', proclamou o professor Cândido Mendes de Almeida, um dos comandantes da campanha do sociólogo.
Anulado - Jaguaribe ficou à frente em todas as votações (dos 37 eleitores, 26 mandaram cartas com seus votos, incluindo oito dos 19 presentes). Na primeira, teve 14 votos, contra 13 de Gibson e dez de Coelho; na segunda, obteve 16 votos, enquanto Gibson ficou com nove e Coelho, 11. No terceiro escrutínio, liderado por Jaguaribe com 17 votos, Gibson teve dez e Coelho, nove.
Esta votação teve sua dose de polêmica: descobriu-se que um dos acadêmicos (o voto é secreto) havia colocado no envelope o nome de Paulo Coelho e o do escritor Joel Silveira, que não era candidato - ele disputou a eleição passada contra Zélia Gattai. Sob protestos dos partidários de Coelho, o voto foi anulado. No último escrutínio, o placar foi de 16 votos para o sociólogo, nove para Gibson e 12 para Coelho.
Apesar dos números, Jaguaribe não quis dizer se vai se candidatar novamente. ''Vou consultar as pessoas que votaram em mim'', informou. Gibson também vai esperar. ''Acabei de sair dessa guerra, quero tempo para pensar'', afirmou. Paulo Coelho garantiu que desde já é candidato à nova eleição. ''Minha carta estará chegando à Academia amanhã (hoje). Diz o I-Ching que a perseverança é favorável'', sentenciou.
Os adeptos do mago esperam herdar os votos de Gibson, caso ele não se candidate novamente. Havia um acordo entre os comandantes das duas campanhas para que, no segundo e terceiro escrutínios, os votos de um migrassem para quem estivesse na frente - o que não aconteceu.
Assassinato de jovem dobra em 20 anos
Um em cada dois brasileiros mortos entre 15 e 24 anos é vítima de homicídio. Estado do Rio lidera ranking nacional
O número de homicídios de jovens no Brasil supera o de países que vivem em estado de guerra, como Israel, Croácia, Eslovênia e Irlanda do Norte. A revelação está na pesquisa Violência e Emigração Internacional da Juventude, divulgada ontem pelo secretário de Trabalho da prefeitura de São Paulo, Márcio Pochmann. De acordo com o levantamento, em 1997, de cada grupo de 100 mil jovens de 15 a 24 anos do sexo masculino 80 foram assassinados. No mesmo ano, os Estados Unidos registram 27,9 homicídios por 100 mil habitantes dessa faixa etária. A Argentina, 10,7; e Israel, 1,9.
O estudo analisou os efeitos da violência juvenil nas duas últimas décadas do século passado. Mostra que, em 1980, ocorreram 16.908 mortes por causas não naturais. Dessas, 25,6% foram homicídios. Dezenove anos depois, os dados tornaram-se mais alarmantes. Houve 116.778 jovens mortos por causas externas e 51,4% deles foram assassinados. Isso significa que um em cada dois brasileiros mortos nesse limite de idade é vítima de homicídio. O Estado do Rio é o campeão da mortalidade juvenil: 108 em cada 100 mil jovens morreram de forma violenta.
Ranking - No início da década de 80, a região metropolitana do Rio ocupava o primeiro lugar no ranking da violência contra a juventude. Quase vinte anos depois, perdeu o triste posto para a Grande Vitória (ES). Na capital capixaba, 67% dos jovens mortos por causas não naturais foram assassinados.
Em Brasília, onde a qualidade de vida era a marca da cidade, as estatísticas fazem soar o alarme. Em 1980, o entorno da capital federal marcava 15 homicídios de jovens em 100 mil habitantes dessa faixa etária. No final dos anos 90, o coeficiente multiplicou-se por três.
A Grande São Paulo, potência econômica, era, em 1999, a quarta região mais perigosa do território nacional para cidadãos que estavam ingressando na vida adulta e no mercado de trabalho. No mesmo ano, entre os principais municípios brasileiros, Natal revelou-se uma ilha de paz, com o menor coeficiente de mortalidade juvenil.
Virada - São Luís, no Maranhão, tornou-se um lugar mais seguro entre 1989 e 1999. Os dados da pesquisa mostram que caiu o número de assassinatos na juventude. Passou de 29,3% do total de mortes para 13,6%. O Estado, o mais pobre do País , teve em 1999 as menores taxas de homicídio entre jovens.
O estudo de Pochmann se debruça sobre uma parcela da população que representa cerca de 20% do total. Em 1980, significava 21,1%.O aumento da violência sobre esses brasileiros, diz o secretário, soma-se à falta de expectativa profissional e muda o comportamento da juventude. ''O crescimento das taxas de desemprego neste segmento da população é prova concreta dessa falta de perspectiva'', afirma.
Exterior - A pesquisa revela que a mortalidade juvenil crescente, especialmente aquela provocada pela violência, contribui para a emigração internacional. Entre 1991 e 2000, foram para o exterior 149,6 mil jovens entre 15 e 24 anos, o equivalente a 4,7% da população dessa faixa etária no início da década passada.
''A combinação da violência com a falta de perspectivas faz com que o nosso potencial produtivo deixe o país, desperdiçando o que temos de melhor'', disse Pochmann. ''O impacto é muito negativo. Perdemos os mais preparados para o exterior e temos ainda um desequilíbrio na relação homem-mulher, uma vez que a grande maioria dos jovens mortos é do sexo masculino''.
Artigos
Água e ecoturismo
Caio Luiz Carvalho
Dois temas a ONU reuniu em pauta para 2002: ecoturismo e meio ambiente. Primeiro, resolveu declarar 2002 o Ano Internacional do Ecoturismo, e promove agora em maio a Cúpula Mundial do Ecoturismo, em Quebec, no Canadá. Depois, vai reunir todas as nações, em setembro, na África do Sul, para a Conferência da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 10. E sempre buscando levar aos 6 bilhões de habitantes do planeta Terra uma reflexão sobre a qualidade de vida e sobre o uso e abuso dos recursos naturais, a ONU fez do dia de hoje o Dia Mundial da Água. Ecoturismo, desenvolvimento, meio ambiente, água, tudo isso é a corrente que une todos nós para valorização da vida. Sem água não há como fazer ecoturismo e sem ecoturismo não há como interiorizar a economia, dar emprego e melhorar a renda de brasileiros que vivem em verdadeiros paraísos, mas sem oportunidades de viver dignamente.
O presidente Fernando Henrique tem toda razão quando diz que desenvolvimento que não leva em conta o meio ambiente é estéril. Inútil. O ecoturismo é uma atividade econômica que busca integrar o homem com a natureza, faz bem ao corpo e à alma e, promovido com competência, evita desgastar os recursos naturais, buscando sempre a qualidade de vida das populações e das comunidades onde se insere. É um forte fator de desenvolvimento sustentável e de aproveitamento e enriquecimento do patrimônio cultural de um povo.
Ecoturismo ajuda a preservar e educar. Em qualquer modalidade dessa atividade, os recursos hídricos estão presentes: nas praias, nos parques, nas florestas, nos rios e lagos. E hoje, dia 22 de março, a ONU promove essa reflexão. Acho importante todos participarem desse mutirão de defesa da água.
É verdade que o Brasil é um país rico em água, mas essa verdade também é uma ilusão, pois as grandes reservas estão na Amazônia, longe do centro produtor e do mercado consumidor. Essa distribuição irregular traz muitos desequilíbrios. E pior do que os desequilíbrios é ver que a água provoca numa mesma cidade, como Rio ou São Paulo, um duplo sofrimento: há problema seriíssimo de abastecimento dágua e, num paradoxo fantástico, pena com as enchentes.
Certa vez li uma reportagem muito interessante no Jornal do Brasil. Mostrava justamente que a chuva que cai na região do Guandu (RJ), e que deveria ser encarada como uma bênção do céu, é detestada pela população e pelos técnicos da Cedae. Pela população, porque causa enchentes e desmoronamentos. Pelo pessoal da Cedae, porque ele tem de fechar as comportas, deixar a água da chuva passar, de tão suja que ela chega. Vale mais a pena perder essa água da chuva, por tanto lixo que ela traz, do que armazená-la para ser usada. É muito difícil de entender, mas essa é a realidade da água no Brasil.
Que o Dia Mundial da Água sirva para que nossas autoridades, nossos empresários, nosso povo e nossas crianças aprendam de vez esta lição: sem água limpa não há alimentos, não há prazer com o ecoturismo e não há vida.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
A lógica das responsabilidades
Se é verdadeiro o raciocínio segundo o qual o flagrante da polícia que atingiu em cheio a candidatura de Roseana Sarney foi armado pelo governo para beneficiar a candidatura de José Serra, a pesquisa do Ibope mostrando que o episódio prejudicou também o tucano, pois 77% das pessoas acham que houve armação política por trás do caso, deveria autorizar conclusão oposta. Afinal, se não foi Serra o beneficiário, não foram também seus companheiros os autores.
Tanto a primeira quanto a segunda premissa estão erradas e é exatamente a desconexão entre hipóteses e teses que demonstra como este caso está sendo, em alguns setores, observado pela lógica do absurdo. Desde sempre esteve bem claro que ao PSDB não interessava um rompimento, muito menos uma briga de morte com o PFL. Seria, como as coisas andam a indicar que acabará sendo, o abraço do afogado. Igualzinho àquele que se deram Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho.
Destruir Roseana e destruir o PFL para o governo equivale a arrasar com um pedaço do próprio terreno. Pois na velocidade em que vai a carruagem, já está ficando até inviável o apoio dos pefelistas a Serra no segundo turno. Caso ele chegue até lá, bem entendido.
Quando falou em ''tempestade em copo dágua'', Fernando Henrique Cardoso estava tentando administrar politicamente o desastre. Mas quem se viu sem saída e deu o tranco da politização no episódio foi o PFL. Exatamente porque, ao notar que estava à beira do abismo, decidiu não cair nele sozinho. Puxou o tucanato pela mão, armou manobra diversionista em torno de uma teoria conspiratória que não resiste a nenhuma análise mais acurada, conseguiu eco entre os desavisados e equivocados e não se pode dizer que não tenha obtido algum êxito.
Já o que fará com ele, não há um pefelista que consiga hoje dizer. Até porque, à medida em que a poeira for baixando e a clareza for tomando conta dos espíritos (os de boa fé, evidentemente), ainda algo zonzos com o histrionismo da reação da família Sarney, ficará cada vez mais claro que a tese da armação entre Planalto, Ministério Público e Polícia Federal é inverossímil e falha num ponto crucial.
Para que ela fizesse sentido seria necessário que o dinheiro encontrado na Lunus não pertencesse aos donos da empresa, mas tivesse sido ''plantado'' ali pela polícia. E, entre todas as versões que já foram dadas para a história, esta ainda não se apresentou. Nem poderá se apresentar, uma vez que os responsáveis pelo dinheiro assinaram documento no ato de apreensão, atestando tanto os valores quanto a propriedade.
No que tange à alegada ilegalidade da operação, a tese também carece de exatidão. Senão, vejamos: se foi uma ação ilegal, então aquele dinheiro que, segundo Jorge Murad, pertencia à campanha de Roseana por doação de correligionários foi roubado e, não, legalmente apreendido.
Ora, se é assim, então porque o senhor Murad não reclama a devolução de seu dinheiro dado que, como disse a governadora, ''não é crime nenhuma empresa ter dinheiro em caixa''?. Como de resto, também não é crime ter dinheiro em casa. A decisão de depositar em banco algo que lhe pertence é de cada cidadão. Guardar o dinheiro em casa, pode.
O que não pode é ser depositário de recursos ilegais. Tendo como provar a fonte e, pagando os impostos sobre os valores, ninguém é subtraído de seus bens assim, sem mais nem menos. Caso aconteça, o natural é que haja reclamação de di reitos. Mas nem a Jorge Murad, nem aos coordenadores da campanha de Roseana, ocorreu contratar um advogado para pedir a liberação daquilo que lhes pertence.
O dinheiro está lá, depositado na Caixa Econômica Federal, sem que ninguém reclame por ele. Ou seja, vítimas de uma insidiosa armação têm R$ 1,34 milhão expropriados numa ação ilegal e não lhes passa pela cabeça pedir a devolução. Talvez porque, para isso, seja preciso provar a origem do dinheiro, cuja legalidade é o que está em discussão. O resto é barulho para criar fatos que se sobreponham ao fato principal.
Direito de resposta
O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, envia mensagem de protesto e esclarecimento a respeito do trecho de artigo publicado no início do mês. O senador poderia ter feito seu registro de imediato, pois sabe perfeitamente que seria acatado. Mas, como sempre, há tempo para tudo nesta vida, vamos a ele:
''Em sua coluna com data de 7 de março último, comete V. Sª a grave impropriedade de recomendar ao Partido da Frente Liberal matricular-se num curso intensivo sobre como fazer campanhas eleitorais sem recursos do Orçamento da União.
Por certo que sua experiência lhe mostra que atribuir tal circunstância ao PFL é sugerir que tenha o partido feito uso ilegal do dinheiro público em campanhas eleitorais. A gravidade da imputação por certo não passou despercebida de seus leitores.
A nota merece, a todos os títulos, reparação cabal. Conta o PFL com sua serenidade e seu agudo senso profissional para proceder a mesma.''
Por ''recursos do Orçamento da União'', entenda-se a participação do PFL no governo federal. Este foi o sentido da referência.
Editorial
A CHAMA RADICAL
Dois dias antes da viagem do presidente George Bush ao Peru, terroristas ao estilo do extinto Sendero Luminoso detonaram um carro-bomba em frente à embaixada americana em Lima. Trata-se seguramente de provocação para inibir a viagem, mas Bush, ao saber do atentado, garantiu: ''Pode apostar que vou.''
A reação vem a propósito. Em plena campanha contra o terrorismo internacional, não seria este o incidente que mudaria o rumo da política americana. Em todo o caso, além do Peru, e com graus e objetivos diferentes, o terrorismo mostra o rosto em vários outros países, tentando ganhar impulso. Na Europa, tanto a ETA (Espanha) quanto as Brigadas Vermelhas (Itália) buscam retomar o antigo fôlego, que parecia quase desativado principalmente no caso das Brigadas Vermelhas. Não é o que acontece no Oriente Médio, onde, numa tentativa de neutralizar as pressões diplomáticas a favor da trégua, a Jihad Islâmica marcou presença ontem no Centro de Jerusalém.
Vítimas inocentes são imoladas no altar da violência, em provocações constantes para manter a chama do radicalismo. Excetuando o Oriente Médio, onde os confrontos terroristas se tornaram way of life regional, o grupo basco ETA foi o primeiro movimento a colocar a cabeça de fora desde o atentado às torres gêmeas e ao Pentágono nos EUA, ao detonar, em novembro, um carro-bomba em Madri (quase 100 feridos) e ao assassinar um juiz no País Basco. Ao matar agora um vereador socialista basco, a ETA completou, em números redondos, 800 assassinatos desde sua criação há 40 anos, dos quais 37 desde que retomou a atividade em janeiro de 2000. Atualmente, seus comandos de matadores são recrutados entre os jovens do viveiro nacionalista radical da kale borroka (luta de rua, em basco) que preenche os fins de semana incendiando ônibus, quebrando vitrines e lançando coquetéis molotov nas agências bancárias de San Sebastián e Bilbao. O ministro do Interior espanhol disse: ''A ETA é o maior inimigo da Espanha.''
Já a execução do economista de Bolonha reedita os métodos violentos das Brigadas Vermelhas, de extrema esquerda, que sobressaltaram a Itália nos anos 70, culminando com o assassinato brutal e impiedoso do ex-primeiro ministro democrata-cristão Aldo Moro. Em geral, uma ação corresponde a uma reação: dois anos depois, um atentado da extrema direita fez 84 mortos numa estação ferroviária de Bolonha.
O Sendero Luminoso peruano é a versão maoísta da guerra civil dos anos 80 no Peru. Chegou a dominar a região de Ayacucho, praticamente dividindo o país em duas partes, até ser derrotado na gestão do presidente Alberto Fujimori que, por sua vez, retirou-se do governo em 2000 em meio a acusações de corrupção galopante.
Novos e antigos movimentos, portanto, se equivalem na escalada de violência que só merece o desprezo das populações localizadas em seu caminho. Há movimentos que parasitam causa maior, outros nem isto. O terrorismo é o calcanhar-de-aquiles do mundo moderno. Combatê-lo e derrotá-lo demanda tempo e paciência, mas é inevitável.
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03/22/2002
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