Candidatos disputam evangélicos










Candidatos disputam evangélicos
Convenção das Assembléias de Deus anuncia apoio a Serra. Lula se reúne com grupo da Igreja Universal

Os grupos evangélicos estão no centro da disputa de apoio entre os candidatos à Presidência, para garantir a eleição no segundo turno. Ontem, a Convenção Nacional das Assembléias de Deus no Brasil, que representa 20 mil ministros, 23 mil templos e mais de oito milhões de membros, anunciou o apoio à candidatura de José Serra (PSDB).

O PT de Luiz Inácio Lula da Silva reagiu e informou que o partido espera que o Bispo Rodrigues, deputado reeleito pelo PL do Rio e líder da Igreja Universal, seja o principal nome na reunião que o candidato faz hoje com grupos evangélicos. Apesar de coligado com o PT no primeiro turno, o PL se dividiu e parte do partido apoiou o candidato Anthony Garotinho, que é evangélico.

O presidente vitalício da Convenção Nacional das Assembléias de Deus, bispo Manuel Ferreira, candidato derrotado ao Senado pelo PPB do Rio de Janeiro, disse que o apoio a Serra é "incondicional e total. Estamos hipotecando nosso apoio e solidariedade a Serra, e vamos sair a campo em busca de votos nas Assembléias de Deus".

Serra, que participou de solenidade ao lado de bispos evangélicos, agradeceu o apoio e lembrou que sempre foi defensor dos direitos civis, da liberdade religiosa e da luta por oportunidades para todos os brasileiros. Fez questão de ressaltar que combateu o tabagismo e a gravidez na adolescência. "São convergências que temos com os evangélicos e a Assembléia de Deus", disse.
O candidato destacou ainda o papel importante das Assembléias, no sentido de afastar a juventude das drogas. Serra encerrou o discurso dizendo que "Deus nos abençoe nesta luta que é pelo bem público e pelo País".

Em seguida, de mãos dadas e contrito, Serra rezou um Pai Nosso junto com bispos e pastores da Convenção. Participaram também do encontro o governador reeleito de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e os deputados Jutahy Magalhães (PSDB-BA) e Francisco Dornelles (PPB-RJ).

Só 45% mantêm votos
O percentual final de votação de Luiz Inácio Lula da Silva (46,44%) e de José Serra (23,2%) abriga eleitores potencialmente capazes de migrar o voto para o adversário. Do total de eleitores de Lula, 31% não pretendem mudar o voto no segundo turno e entre os de Serra 14% informaram que vão permanecer fiéis.

A análise do eleitorado considerado petista e tucano foi feita pela especialista em pesquisa Fátima Pacheco Jordão, com base na pesquisa realizada pelo Instituto Sensus entre os dias 27 e 29 de setembro. A consultora informa que essa pesquisa foi a que mais se aproximou dos números finais da votação no primeiro turno. E entre os dados expostos, revelou que o eleitorado que votaria apenas em Lula é de 31% e apenas em Serra é de 14%.

Fátima Jordão acredita que as primeiras pesquisas sobre o segundo turno, a serem divulgadas no fim de semana, devem mostrar a vantagem do candidato petista em relação ao tucano. Mas em razão do potencial de voto que cada um possui e em função do equilíbrio que há entre o eleitorado que aprova e o que não aprova o atual governo, não está descartada a hipótese de a disputa no segundo turno chegar ao final com os dois concorrentes registrando percentuais próximos nas pesquisas eleitorais.


Garotinho dá apoio, mas cobra definições de Lula
Candidato petista agradece adesão do PSB sem se comprometer com pontos citados pelo ex-governador

O ex-governador do Rio e candidato derrotado, Anthony Garotinho (PSB), manifestou o apoio formal de seu partido à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A aliança foi selada ontem na sede do PSB, em Brasília, e contou com a presença de líderes dos dois partidos.

Em nome do PSB, Garotinho entregou a Lula documento contendo pontos que gostaria que fossem considerados em um eventual governo petista, caso o candidato vença seu adversário, José Serra (PSDB), no segundo turno das eleições. Lula agradeceu o apoio mas nada disse sobre os pontos citados por Garotinho.

O primeiro deles diz respeito à manutenção da soberania nacional, com a reestruturação das Forças Armadas e o cancelamento do acordo firmado entre o País e os Estados Unidos, que permite aos norte-americanos utilizarem a Base de Alcântara (MA) como área para lançamento de foguetes, sem a supervisão brasileira.

Garotinho pediu também que Lula não aceitasse a entrada do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca), sem que uma série de alterações fossem feitas na proposta americana. E afirmou: "A Alca, do jeito que está, levaria o País a uma área de livre comércio das empresas americanas".

Por último, Garotinho pediu ao petista que reconsiderasse o atual valor do salário mínimo, afirmando que a quantia é motivo de vergonha e humilhação para todos os brasileiros.

A liderança do PSB garantiu que o apoio do partido será incondicional e atuante, marcado por uma militância forte em todos os estados. "Não vamos estar em cima do muro. Não vamos fazer de conta que faremos sua campanha. A faremos mesmo", disse Garotinho, dirigindo-se ao petista.
Ao discursar, Lula atestou que já previa tanto a união com Ciro Gomes (PPS), quanto a firmada ontem com Garotinho. "Sempre soube que estaríamos juntos, estando eu, Ciro, ou Garotinho no segundo turno. É a vontade de mudança de 76% dos eleitores brasileiros, mostrada nas urnas".
O candidato afirmou que a relação com o PSB é fraterna e que, apesar das diferenças entre os dois partidos, comprovadas no primeiro turno, existe uma coerência ideológica entre ambos, muito importante para que a oposição ganhe a eleição.

A intenção do PT, neste segundo turno, é retribuir a ajuda recebida de diversos candidatos a governos estaduais eleitos por outros partidos. "Nossa disposição é tentar utilizar o potencial humano da esquerda para ajudar os candidatos que nos apóiam e que concorrem ao segundo turno", disse.

Lula afirmou ainda que quer a participação dos políticos do PSB e do PPS no comando da campanha. Para ele, o apoio evitará erros e facilitará a derrota de Serra. "Tenho certeza que a pauta dos dois partidos é muito semelhante. Eu gostaria de contar com a participação PSB", declarou o candidato.

PMDB de Minas fica com o petista
O presidente da Executiva Estadual do PMDB em Minas, deputado Saraiva Felipe, anunciou ontem o apoio formal do diretório mineiro à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República.

Saraiva Felipe disse que irá caminhar pelos 853 diretórios de Minas e visitar os 238 prefeitos do partido no estado, orientando para que apóiem Lula. De acordo com ele, o partido não irá constranger as lideranças que prefiram apoiar José Serra, do PSDB. O PMDB integra a coligação que apóia Serra.

Segundo o vice-presidente da Executiva, Aloísio Vasconcelos, o apoio inclui também o candidato derrotado do PMDB ao governo de Minas, Newton Cardoso.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Robson Braga de Andrade, fez ontem uma clara manifestação de apoio à candidatura de Lula. Embora tenha afirmado que a entidade é "pluralista" e não pode se manifestar a favor de nenhum candidato, Andrade disse que uma pesquisa recentemente encomendada pela Fiemg revelou que os empresários mineiros "apóiam, maciçamente, o senador José Alencar (candidato a vice-presidente e ex-presidente da federação) e, conseqüentemente, o Lula".

O candidato, que ontem esteve em Belo Horizonte, reuniu-se pela manhã, na sede da Fiemg, com representantes do setor no estado e recebeu do presidente da entidade o documento "Compromisso com Minas - Propostas da Indústria Mineira para o Desenvolvimento", onde estão listados pontos que os empr esários consideram básicos para a retomada do crescimento econômico.

Lula disse, num rápido pronunciamento, que reservou esta semana para "consolidar o apoio de personalidades, o apoio de partidos políticos e segmentos sociais que começam a se definir mais nitidamente no segundo turno". O candidato da coligação petista, na próxima semana, dará início à "campanha de rua".

"É importante que a gente não perca de vista que, nessa eleição, 76% do povo brasileiro que votou, votou por mudança", disse Lula.

Rigotto vence Tarso
A primeira pesquisa sobre as preferências do eleitorado no segundo turno no Rio Grande do Sul aponta uma vitória de Germano Rigotto (PMDB). De acordo com o Centro de Estudos e Pesquisas em Administração (Cepa), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o candidato do PMDB venceria a eleição com 58,8% das intenções de votos. Tarso Genro (PT) ficaria com 35,8%.

Os indecisos somam 4%. Brancos e nulos 1,4%. O Cepa/UFRGS entrevistou 1.750 pessoas no dia 8 de outubro em 49 municípios do estado. A margem de erro da pesquisa é de 2,4 pontos percentuais para mais ou para menos.

A pesquisa confirma o favoritismo do peemedebista. Na última sondagem do instituto antes do primeiro turno, Rigotto já havia ultrapassado o petista num eventual confronto de segundo turno, mas com menos diferença, de 53,9% a 40%.

Cancelado debate na CBN
A assessoria do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comunicou ontem à Rádio CBN que o petista não vai participar do debate com o adversário na emissora, agendado para a próxima segunda-feira.

O debate na CBN era dirigido aos jovens e teria a presença de 24 adolescentes fazendo perguntas a Lula e ao candidato José Serra (PSDB).

Lula só deverá participar de um debate na televisão, que seria transmitido por um pool de emissoras, segundo tese que persiste no comando da campanha. Nem a necessidade desse debate está ainda confirmada. O presidente do PT, deputado José Dirceu, admite apenas essa participação, uma única vez.

A coordenação da campanha só deverá definir amanhã a estratégia que será seguida quanto à participação em debates na televisão com Serra. De acordo com o coordenador da campanha de Lula em Minas Gerais, Antônio Carlos Pereira, o partido ainda não definiu em quantos debates Lula vai participar. "Não existe decisão sobre a questão. Lula pode participar de mais de um debate, mas ainda não está decidido", afirmou.

A realização dos encontros foi tema de divergências entre as duas candidaturas, já que Serra defende o maior número de debates possível, enquanto Lula quer apenas um debate na TV, com um pool de emissoras. A justificativa do PT é a de que a campanha no segundo turno é muito curta para mais de um encontro.

O comando da campanha petista já firmou decisão de que Lula não vai responder às provocações de Serra. A avaliação de assessores próximos a Lula é que, se Serra esperar por isso, ficará falando sozinho. O candidato tucano tem desafiado Lula a participar dos três debates que haviam sido acertados com a Record, Bandeirantes e Globo. Os acordos teriam sido firmados durante o primeiro turno.

A direção das três emissoras descartaram a possibilidade de transmitir apenas um debate, pelo sistema de pool proposto pela assessoria de Lula.

O deputado José Dirceu não deu importância às críticas feitas ontem pelo candidato derrotado do PSB, Anthony Garotinho, à campanha do PT no primeiro turno. "A crítica é natural. Ele foi candidato a presidente. Temos humildade suficiente para ouvir isso e levar em consideração", afirmou, lembrando que o compromisso de Garotinho é para fazer campanha, carreata e comício no Rio de Janeiro.

Propaganda na TV vai começar segunda-feira
A propaganda eleitoral na TV no segundo turno eleitoral, que começa na segunda-feira, será aberta com o programa do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, por ter obtido a maior votação que o seu adversário, José Serra (PSDB).

No programa seguinte, Serra passa a ser o primeiro a aparecer na TV e, como determina a lei, os dois candidatos trocam a ordem de aparição até o final do horário eleitoral, de acordo com o que estabelece o calendário (veja quadro abaixo) aprovado pelo Superior Tribunal Eleitoral (TSE).
Cada candidato terá direito a 10 minutos à tarde (o programa começa às 13h) e outros 10 minutos à noite (a partir das 20h30), em programas diários, incluindo os domingos. Os dois candidatos terão também 7min30s de inserções publicitárias por dia.

Nos estados onde há segundo turno para governadores, como é o caso do Distrito Federal, o horário político para os dois candidatos vai ao ar logo após a propaganda dos candidatos à Presidência. O tempo reservado para os candidatos aos governos estaduais é igual ao dos presidenciáveis.

Em sorteio realizado na abertura da sessão de ontem à noite no Tribunal Superior Eleitoral, ficou definido que o candidato José Serra será o primeiro nome da cédula de papel, depois vem o de Luiz Inácio Lula da Silva. A cédula deverá ser utilizada quando houver problema na urna eletrônica.
O sorteio, realizado pelo ministro Sepúlveda Pertence foi acompanhado pelos advogados das duas coligações.

Votará através da cédula, o eleitor que não concordar, por duas vezes consecutivas com suas escolhas feitas na urna eletrônica que tiver módulo impressor, e ainda nas seções em que a urna tiver que ser substituída pela votação manual por problemas técnicos.

Na cédula, os candidatos a presidente serão identificados pelo nome indicado no pedido de registro, e pela sigla adotada pelo partido.

Roseana passa bem, após cirurgia na mama
A ex-governadora do Maranhão e senadora eleita, Roseana Sarney (PFL-MA), permanece na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, e, segundo os boletins médicos divulgados ontem, seu estado é bom. Ela foi submetida, quarta-feira, a uma cirurgia para retirada de nódulos nas mamas e a uma operação plástica de reconstrução.

De acordo com o exame anatomopatológico, divulgado ontem pela manhã, as lesões eram de caráter benigno. A previsão é que ela fique no hospital até o início da próxima semana.

Esta foi a décima sexta cirgurgia sofrida por Roseana, entre elas a retirada do útero e do ovário, em 1998. A série de cirurgias começou quando ela tinha 20 anos, para retirar um cisto do ovávio.
Entre outras visitas, Roseana recebeu o governador do Paraná, Jaime Lerner (PFL), que conversou com o pai dela, o senador José Sarney (PMDB-AC), os senadores Romeu Tuma (PFL-SP) e Eduardo Suplicy (PT-SP), a prefeita Marta Suplicy (PT) e o presidente regional do PFL, Cláudio Lembo (vice na chapa encabeçada pelo governador tucano Geraldo Alckmin), acompanhado do deputado federal Gilberto Kassab (PFL-SP) e o marido dela, Jorge Murad.
Marta esteve rapidamente com Roseana e disse que a senadora passa bem. "Fiquei contente com a recuperação dela", disse a prefeita, que lhe levou um livro de presente, Tempos Muito Estranhos, que conta a vida do casal Franklin e Eleanor Roosevelt. Marta explicou que, nessa fase de recuperação, é bom ter uma leitura "inspiradora".

Sobre política, a prefeita disse: "Ela me alertou, disse que eu devia ficar preparada porque agora, eles vêm com tudo, aqui em São Paulo", disse Marta, referindo-se ao segundo turno da campanha presidencial e aos ataques que o PT sofrerá do PSDB.

Entre as ligações recebidas pela senadora, segundo sua assessoria, estão a do secretário municipal de Finanças, João Sayad, do ministro Nelson Jobim, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do deputado Luiz Antonio Fleury (PTB), do presidente do Bradesco, Lázaro Brandão, da jornalista Marília Gabriela e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.


Incertezas pro vocam corrida para poupança
Em apenas cinco meses, aplicadores levam R$ 18 bilhões para cadernetas, que antes estavam meio esquecidas

O cenário econômico turbulento e a indefinição do quadro político brasileiro estão empurrando os investidores para a poupança. Segundo o Banco Central, nos últimos cinco meses, as cadernetas tiveram uma captação líquida de cerca de R$ 18 bilhões. Por outro lado, os fundos de investimentos perderam R$ 60 bilhões no mesmo período.

Uma parte destes recursos migrou para a poupança e outra para os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), que são títulos privados vendidos pelos bancos. Ainda de acordo com o BC, o saldo do CDB subiu de R$ 112 bilhões, em maio, para R$ 126 bilhões no mês passado.

O patrimônio líquido dos fundos de investimentos caiu de R$ 305,2 bilhões, no mês passado, para R$ 302 bilhões este mês. A maior captação da poupança, este ano, foi em junho (R$ 6 bilhões). No mês passado, este montante foi de R$ 1,8 bilhão. Isso significa que, apenas nos últimos cinco meses, a poupança captou R$ 18 bilhões.

A fuga do dinheiro dos fundos ocorreu depois que o governo mudou as regras deste tipo de investimento. Em maio, o BC definiu que os fundos passariam a cotar os títulos públicos por seu valor no mercado. Com isto, os papéis tiveram uma desvalorização, fazendo com que os investidores perdessem dinheiro.

Neste momento, porém, o que está assustando os investidores é o cenário político-econômico. "É melhor manter o dinheiro na poupança. Rende pouco, mas a gente não perde", pondera a comerciante Conceição Ribeiro, 55 anos. Ela garante que vai manter seu dinheiro aplicado na poupança e que não teme as medidas que o próximo presidente da República possa vir a tomar sobre este tipo de aplicação.

Para o bancário Marcelo Nepomuceno, 23 anos, a poupança também continua sendo o investimento mais seguro. "Com o meu 13º salário quero pagar as dívidas e, se sobrar, vou aplicar na poupança", revela. O único investimento que tem, hoje, é em ações da Vale do Rio Doce, feito com parte do saldo do seu FGTS.

Avesso a qualquer tipo de risco, o ambulante Cláudio Mário Ferreira Lima, 24 anos, prefere, como nos tempos de nossas avós, guardar o dinheiro de baixo do colchão, ou melhor no cofrinho. De real em real, ele garante ter conseguido juntar R$ 500 durante seis meses. "Com parte deste dinheiro, vou comprar uma bicicleta nova para minha filha, de oito anos", conta, empolgado.
Cláudio, com sua experiência, tenta persuadir as pessoas que passam pelo Setor Bancário Sul a comprar cofrinhos de barro que vende (a R$ 5 o médio). "Tem dia que vendo tudo. É a poupança mais segura, pois só quem mete a mão nesta é a gente mesmo", brinca o ambulante, que trabalha há um ano em frente ao Banco do Brasil, fazendo uma espécie de concorrência.


Contas de telefone não devem subir
A alta do dólar não será repassada para as tarifas de telefonia, segundo o presidente da Anatel, Luiz Guilherme Schymura. Ele afirmou que as tarifas são reajustadas em função da variação anual do IGP-DI e não da moeda americana.

"Essas renovações [reajustes], no caso da telefonia fixa só serão efetuadas em julho do ano que vem", completou. Empresas do setor vêm reclamando uma antecipação do reajuste, alegando que parte de seus custos se vincula ao dólar.

Schymura também disse que a competição entre as operadoras de telefonia fixa poderá reduzir o custo dos serviços de acesso à Internet. De acordo com ele, os provedores de Internet já oferecem pacotes com preços bastantes reduzidos, mas novas reduções são possíveis.


Dólar vai a R$ 4 e vale 10% menos que peso argentino
O vencimento de uma dívida de US$ 3,6 bilhões na próxima quinta-feira, as incertezas da transição presidencial e a iminência de guerra no Iraque levaram o dólar a romper ontem a barreira psicológica dos R$ 4 e registrar seu maior fechamento em reais de todos os tempos, R$ 3,99 para venda e R$ 3,985 para compra – 2,96% mais cara do que na quarta-feira.

Com essa cotação, o real brasileiro vale hoje, nominalmente, 9,2% menos do que o peso argentino em relação ao dólar. Enquanto o real vale US$ 0,25, o peso, pela cotação oficial do Banco Central Argentino, está a US$ 0,273. Em contrapartida, o risco Brasil sobe discretamente, 0,88%, e vale 2.289 pontos, bem abaixo dos 6,361 pontos argentinos.

A expectativa para os próximos dias é de alta. Ontem o Banco Central interveio vendendo dólares à vista, mas segundo operadores, a atuação foi modesta e em nada adiantou. Além disso, vendeu mais US$ 50 milhões em linhas externas e R$ 750 milhões em títulos atrelados ao IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado), papéis muito apreciados pelo mercado por embutirem a inflação na remuneração.

Mas nada disso adiantou. O cenário avesso ao risco faz com que investidores simplesmente parem de vender moeda. Além disso, as empresas brasileiras têm US$ 2,5 bilhões em compromissos externos (dívidas mais juros) para pagar neste mês.

Também no meio da tarde de ontem, o Banco Central resgatou cerca de US$ 80 milhões em títulos e contratos cambiais que vencem no próximo dia 17. A combinação das duas notícias sobre um mercado já nervoso e que não vendia dólares levou a moeda aos R$ 4.

O vencimento dos títulos e contratos cambiais na próxima semana – e há mais US$ 1,1 bilhão a vencer no dia 23 – faz com que as instituições financeiras corram para substituir os papéis vencidos por dólar em moeda, como precaução. Até agora, o BC alongou apenas 16,4% da dívida do dia 17, e somando o que foi resgatado hoje, ainda tem US$ 2,9 bilhões a liquidar ou rolar na próxima semana.

O mercado se mostra inseguro para aceitar títulos do governo. Em contrapartida, o BC não tem aceito taxas muito altas.


Passagens aéreas vão subir mais uma vez em novembro
Viajar de avião deve ficar ainda mais caro a partir do início de novembro. A culpa, mais uma vez, é atribuída às altas do dólar e do barril de petróleo. Se confirmado, será o quinto reajuste das passagens aéreas em 2002.

Até o fim de outubro, a Petrobras deve aumentar o preço do querosene de aviação (QAV). Especialistas do setor calculam um aumento de 14%. A conta se baseia no dólar a R$ 3,65. Se o índice for repassado integralmente pelas empresas, o trecho Brasília-São Paulo pela Varig, por exemplo, que custa R$ 398, passará para R$ 450. Na TAM, o bilhete de ida para Fortaleza, hoje a R$ 586, custará R$ 668.

"É lamentável, mas o repasse aos consumidores é inevitável", afirmou a presidente do Sindicato dos Aeronautas do Rio de Janeiro, Graziela Baggio.

No último dia 8, o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA) protocolou uma representação contra a Petrobras na Secretaria de Direito Econômico. O SNEA acusa a Petrobras de aumentos abusivos no preço do QAV.

O Sindicato entende que não houve uma melhora no processo de produção do querosene que justifique uma alta superior a de outros derivados do petróleo. Segundo dados do SNEA, de janeiro a setembro, o QAV aumentou 105%. No mesmo período, a gasolina subiu 30,5% e o óleo diesel, 31,1%.

Os reajustes das passagens e a representação do SNEA são reflexos da crise pelo qual passa o setor. "Hoje não há nenhuma companhia aérea que esteja bem", enfatizou o presidente do Sindicato dos Aeroviários de São Paulo, Uébio da Silva.

A Varig passa por uma reestruturação que envolve a demissão de funcionários e a fusão com a Rio-Sul e Nordeste. A TAM demitiu 524 funcionários no mês passado, reduziu em 12% a oferta de assentos e deixou de operar em nove cidades. A Gol, que oferecia preços mais baratos, já tem tarifas semelhantes às das concorrentes.


Artigos

O lado bom do efeito Enéas
Ricardo Mendes

A bandeira da reforma política une duas grandes legendas no Congresso: PT e PFL. Já não tem coloração ideológica o imperativo de fortalecer os partidos, garantir a fidelidade dos políticos às legendas e mexer nas regras eleitorais para conferir maior legitimidade aos representantes do povo. O irônico é constatar que a mais contundente contribuição para tirar esse debate do limbo é impulsionada pelo minúsculo Partido da Reedificação da Ordem Nacional – o Prona do vociferante Enéas Carneiro, recém-eleito deputado federal por São Paulo com mais de 1,56 milhão de votos.
Na última segunda-feira, a apuração revelou que Enéas havia se tornado um colosso eleitoral.

Reportagens pautadas para explicar o fenômeno ouviram eleitores paulistas, e o comentário mais comum foi atribuí-lo a um desejo de ver caras novas no poder. É possível. Mas é igualmente plausível imaginar que o Prona foi beneficiado pelo chamado voto de protesto, numa eleição em que a frieza da urna eletrônica impede o cidadão de anular o voto com impropérios redigidos na cédula.

Foi preciso Enéas se tornar o deputado mais votado do mais rico e populoso estado brasileiro para líderes políticos tradicionais e editoriais na imprensa descobrirem que há algo errado na forma como são escolhidos os deputados. Antes tarde do que nunca, diriam otimistas como eu.

Tucanos e peemedebistas começam a a engrossar o coro pró-reforma. Se as direções das quatro maiores legendas no Congresso (PT, PFL, PMDB e PSDB) comprarem a briga, a fidelidade partidária e a cláusula de barreira (que inibe a existência de siglas nanicas) têm grande chance de sair do papel. Afinal, são medidas que fortalecem partidos de maior porte.

Mais controverso é mexer na fórmula da proporcionalidade, que elege deputados estaduais, distritais e federais, sem falar nos vereadores. Diz-se no Congresso que parlamentares eleitos num determinado sistema tendem a trabalhar por sua manutenção porque já dominariam as regras do jogo e teriam aprendido a sobreviver com elas. Mas é nesse ponto que o efeito Enéas repercute mais. A vitória paquidérmica do líder do Prona evidenciou a aberração do modelo atual, ao resultar na eleição de deputados com menos de 400 votos. Quem garante que o fenômeno não vai se repetir em outros pleitos, com outros personagens?

Resposta: só uma reforma política poderá fazê-lo. O Congresso terá de encontrar um modelo que dê mais legitimidade aos nossos representantes, aproximando os candidatos do eleitorado, reduzindo o peso do poder econômico e assegurando a solidez dos partidos – fator essencial à governabilidade. Essa pedra filosofal tem nome. É o voto distrital misto.


Colunistas

CLÁUDIO HUMBERTO

Brasil ameaça retaliar americanos
Os consulados americanos no Brasil aumentaram de 65 para 100 dólares a taxa para a concessão de visto de entrada nos Estados Unidos. O governo recebeu a notícia como um gesto hostil a turistas brasileiros, até porque os países europeus, por exemplo, sequer nos exigem visto. O Ministério das Relações Exteriores estuda o troco, também aumentando para os mesmos valores a taxa de visto cobrada de americanos que desejam visitar o Brasil.

Dia das bruxas
Após o eixo do mal, a ameaça agora é "a vingança dos sandinistas", se Lula vencer. O alerta no site conservador NewsMax.com é de Faith Whittlesey, do Instituto de Política Mundial. Segundo ela, "amigos banqueiros suíços disseram que isso jamais ocorrerá". Uai, eles também votam no Brasil?

Rumo ao penta
O chamado "mercado" está com a cara do Felipão, levando o dólar ao tetra e caminhando de verde-amarelo para o penta.

Sarney presidente
José Sarney só não será presidente do Senado se não o quiser. Sua experiência seria decisiva, nos tempos bicudos do futuro governo. Ele tem a simpatia do PT, pelo seu apoio a Lula, e a maioria dos votos do PMDB e do PFL. Mas o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) também quer o cargo.

Cristão novo
As assembléias de Deus anunciaram ontem apoio a José Serra. O tucano, que estava descrente para o primeiro turno, já virou crente para o segundo.

Menas concordância
Na coletiva após a eleição, Lula disse que a imprensa tem sido imparcial, com "raríssimas exceção" (sic). Daí o medo dos petistas nos debates com Serra na TV. Não é por causa das discordâncias, mas da concordância.

Cabeça chata
Um leitor lembra a fama de pé-frio de Ciro e o estrago que ele pode causar com o apoio a Lula. Só falta agora enfiar um cocar na cabeça do petista.

Pensando bem...
...está na hora de o PT criar uma ONG em defesa do sapo barbudo.

Coronel interiorano
A capital baiana não é mais terreiro de ACM. Seu lema "Salvador continua no caminho certo" virou paródia: o babalaô teve menos votos que Waldir Pires para o Senado; Paulo Souto perdeu para Jacques Wagner no governo, e o neto de Painho foi derrotado por Nélson Pelegrino na Câmara.

Boa fé
O bom senador Eduardo Suplicy (PT-SP) consegue enxergar no programa do seu partido a promessa de adoção do Programa Renda Mínima, que tanto defende, num eventual governo Lula. É bom ele esperar sentado.

Ainda o vinho
O fato de Lula ter comemorado a vitória antes da hora, tomando o famoso vinho Romanée Conti, de quase R$ 7 mil a garrafa, não devia ter causado tanta surpresa. Quem pagou o vinho foi exatamente Duda Mendonça, o marqueteiro que mudou Lula da água para o vinho.

Mais vinho
Gastrônomos especializados em política garantem: o Romanée Conti é um vinho que só serve para acompanhar lula ao vinagre.

Cuidado com o pescoço
José Serra está revigorado. Abandonou a carranca e até parece que levou uma injeção de ânimo. Ou de sangue, como preferem os inimigos.

A rosa púrpura do Sul
Editor da newsletter DiegoCasagrande.com.br, o jornalista entrou com queixa-crime contra o leitor Antônio Mesquita Galvão, que ameaçou agredi-lo, dizendo-se superintendente aposentado da CEF, professor de Ciência Política da USP e autor de 80 livros. "Você estará na lista dos primeiros a ir para o paredón", rosnou o inimigo virtual de denúncias contra petistas.

Vitória do consumidor
O carioca Márcio Mascarenhas ganhou a primeira batalha contra a multinacional Swedishmatch. O Ministério Público do Rio acatou a denúncia, e a empresa e o Inmetro terão que avaliar se o isqueiro Cricket continua no mercado. Ele ficou cego de um olho, atingido por resíduos incandescentes.

Volta ao lar
Comprado pelo britânico Philip Best, o porta-aviões Minas Gerais enfrenta o problema de espaço nos portos ingleses. Será museu e hotel, após intensa campanha de veteranos da II Guerra pela volta do antigo HMS Vengeance. Um deles, Martin Hill, confirmou à coluna, em 2 de agosto, ser precipitada a notícia de que os chineses ganharam o leilão da Marinha brasileira.

Peixe vivo
A Justiça do Rio condenou a Petrobras a pagar R$ 524 milhões aos pescadores fluminenses, prejudicados com o vazamento de mais de um milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara, em 18 de janeiro de 2000. É a primeira vitória de uma ação coletiva por danos ambientais no país, criando jurisprudência. A Petrovaza vai recorrer.

Poder sem pudor

Votos pela aparência
Quando chegou para votar em sua seção eleitoral, no Colégio Rio Branco, em São Paulo, o estilista Guilherme Guimarães - o preferido de nove em dez socialites paulistanas - só tinha uma certeza: votar em Lula. E resolveu olhar as fotos dos candidatos na urna eletrônica para escolher os, digamos, mais bem apessoados. Sua pesquisa durou 35 minutos. Os seguranças do banqueiro Olavo Setúbal, na fila grande e impaciente, já ameaçavam retirar Guigui na marra da "cabine indevassável", quando ele exclamou:
- A-c-a-b-e-i!
E foi embora sob os aplau sos da galera.


Editorial

RESPONSABILIDADE ELEITORAL

Assim como o governo tem declarado dentro do território nacional e no exterior que o Brasil não cairá no caos nem na insolvência com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição deveria manter um discurso mais sereno em relação à situação econômica do País. Por mais que uma campanha política exija apelos emocionais, não é certo crucificar a gestão competente da equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso.

Por isso, é compreensível as declarações irritadas do presidente do Banco Central, Arminio Fraga, ao negar a atuação política do órgão. Fraga argumenta que a oposição sabe que as projeções para o futuro são melhores e não deveria alerdear o fracasso da política econômica atual. Tem razão.

Soa paradoxal aos investidores estrangeiros que Lula acuse tanto os rumos do governo e, ao mesmo tempo, garanta que todos os contratos serão cumpridos à risca. Lula e sua equipe sabem que não há milagres à vista. Como candidato a presidente preparado, Lula tem consciência de que não determinará a redução na taxa de juros em um passe de mágica. Sabe também que a receita a ser seguida já está em vigor e conseguiu a elevação do saldo da balança comercial de déficit para um superávit de US$ 10 bilhões este ano e reduziu a dependência externa, no último ano, de US$ 22 bilhões para U$ 15 bilhões anuais.


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10/11/2002


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Candidatos disputam 550 vagas em concurso do Incra no dia 13

Mais de 22 mil candidatos disputam vagas da AGU no próximo domingo

No Centro-Oeste, quatro candidatos disputam governos estaduais