CÂNDIDO: SITUAÇÃO DO NEGRO POUCO MUDOU EM QUASE 500 ANOS



"O Brasil ainda não derrubou o muro do racismo, do preconceito, da discriminação e da exclusão", conforme observou o senador Geraldo Cândido (PT-RJ) a propósito do Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. Para o senador, a poucos dias de um novo milênio, que marcará os 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil e os 112 anos da Lei Áurea, a condição do negro na sociedade pouco mudou.
Geraldo Cândido entende que o primeiro grito de liberdade a ecoar na América foi dado por Zumbi dos Palmares, assassinado em 20 de novembro de 1695 pelas forças coloniais portuguesas, por ter construído, no interior do Brasil escravocrata do século XVI - na Serra da Barriga, entre os estados de Alagoas e Sergipe - a República de Palmares.
- O Quilombo de Palmares foi uma sociedade multirracial e pluricultural, onde viveram em liberdade escravos fugidos, índios e brancos pobres, sem opressão de raça nem de gênero. Uma sociedade renovada, onde a exclusão do preconceito e do racismo foi uma realidade. Do ponto de vista étnico e político, aquela foi a única democracia racial de que se tem notícia em solo americano - disse Cândido.
Destacando que os negros constituem cerca de 48 % brasileiros, a maior população negra do mundo depois da Nigéria, Cândido observou que a discriminação é revelada pelos números: segundo levantamentos do Ministério da Educação, 22,2 % dos negros são analfabetos, enquanto entre os brancos esse índice é de 9 %.
Se em 1990 os negros tinham, em média, 3,3 anos de estudo, os pardos alcançavam 3,6 anos e os brancos 5,9 anos, observou Geraldo Cândido. Pesquisa divulgada pelo IBGE em 1997 mostrou que enquanto mestiços e brancos ganhavam em média 6,3 salários mínimos, os negros recebiam 2,9 salários mínimos.
Cândido enfatizou que a cidadania pretendida pelos negros visa despertar para a situação de exclusão em que vive a maioria dos brasileiros de raízes africanas. "O governo Fernando Henrique Cardoso e sua política neoliberal, associados que estão ao passado colonial escravista, explorador e excludente, perpetuam as desigualdades sociais, priorizando questões econômicas e acordos internacionais", denunciou o senador.

22/11/1999

Agência Senado


Artigos Relacionados


Desigualdade regional quase não mudou em 13 anos, diz Ipea

Em pouco mais de dois meses, novo PAT de Piraju realizou quase 300 atendimentos

Situação do negro no mercado de trabalho é tema de debate na CDH

Especialistas falam sobre situação do negro no mercado de trabalho

Mercadante celebra os 30 anos do PT e diz que governo Lula mudou a história do país

José Nery lembra assassinato de Paulo Fonteles e diz que campo não mudou nesses 20 anos