CARLOS PATROCÍNIO PEDE EXAME CUIDADOSO DO ANTEPROJETO DO NOVO CÓDIGO PENAL



Um exame mais acurado, pelos parlamentares, das normas constantes do anteprojeto de novo Código Penal foi defendido nesta segunda-feira (25) pelo senador Carlos Patrocínio (PFL-TO). Alertado por nota publicada no Jornal do Brasil, o senador chamou a atenção para três itens do anteprojeto, referentes ao aborto, à eutanásia e ao assédio sexual.Patrocínio lembrou que uma comissão especial do Ministério da Justiça está encarregada de formular sugestões para o novo código. A mudança se justifica, para ele, porque o atual está em vigor desde 1942, quando o país ainda vivia a "Era Vargas".O senador chamou a atenção para as sugestões que ampliam as possibilidades de aborto legal. Atualmente, a interrupção da gravidez só é permitida nos casos de estupro ou de comprovado risco de vida para a gestante. Nessas situações, afirmou o senador, o aborto é "plausível e aceitável".As possibilidades aventadas para o novo código, no entanto, ampliam a aceitação do aborto legal para os casos de grave risco de saúde para a gestante, ou quando ela sofra agressão física ou moral e ainda na impossibilidade de vida do feto.Patrocínio considera que, em casos como a anencefalia - em que o bebê não apresenta a formação da abóboda craniana e morre algumas horas depois -, o aborto pode ser perfeitamente aceitável, uma vez que a nova tecnologia médica permite o diagnóstico da deformidade com precisão total. Mas ele teme que as interpretações de conceitos tão generalizados sejam muito elásticas e possam, assim, ampliar o número de casos possíveis de interrupção da gravidez.- Como vamos saber conceituar o que é um grave risco de saúde da gestante? - indagou o senador, em seu pronunciamento. Lembrou, como exemplo, que o diabetes é um fator de risco na gravidez e, sendo assim, toda mulher diabética poderia fazer o aborto legal.Da mesma forma, segundo Carlos Patrocínio, é impossível definir o que seria uma agressão física ou moral. Para ele, isto coincide com o que já é permitido hoje, no caso do estupro.- De repente vão aparecer conceitos que vão ampliar as hipóteses - afirmou.Para o senador, essa ampliação de conceitos somente favorece a alguns grupos feministas, que defendem que somente à mulher compete a decisão de ter ou não um filho. Mas Carlos Patrocínio lembrou que há hoje inúmeros métodos contraceptivos, incluindo a camisinha feminina. Para ele, é perigoso que a matéria não venha a ser estudada devidamente pelos parlamentares, antes de sua aprovação.O mesmo estudo detalhado foi defendido para os casos de assédio sexual. Carlos Patrocínio lembrou o caso do boxeador norte-americano Mike Tyson, que ficou anos preso, condenado por estuprar uma mulher que subiu ao seu quarto de hotel de madrugada. Para o parlamentar, trata-se de um tema muito delicado.Patrocínio ressaltou que o novo código pretende reduzir as punições para quem cometer a eutanásia - a morte induzida para pacientes terminais com alto grau de sofrimento -, incluindo a eutanásia passiva, que é a morte causada quando o médico deixa de administrar remédios que prolongariam a vida do paciente. Ele considera que a medida pode até ser aprovada, se for o desejo da maioria, mas requer amplo debate antes da votação.

25/01/1999

Agência Senado


Artigos Relacionados


CCJ discute anteprojeto do novo Código de Processo Penal

Comissão de Juristas entrega anteprojeto do novo Código Penal

Senado recebe anteprojeto do novo Código Penal elaborado por juristas

Juristas entregam anteprojeto do novo Código Penal na quarta-feira

Anteprojeto do novo Código Penal 'quebrou tabus', diz Gilson Dipp

Comissão de juristas discute anteprojeto de novo Código de Processo Penal