Casa Enxaimel em Pilar de Goiás passa por obras
Com cerca de dois meses de trabalhos, a obra de restauração e requalificação da Casa Enxaimel, em Pilar de Goiás (GO), está a todo vapor. Desde a assinatura do contrato com o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional no Estado (IPHAN-GO), em 14 de outubro de 2013, já foi removido parte do reboco interno das paredes, a metade das telhas da casa principal com a devida limpeza e higienização e todo o forro interno. Também já teve início a recuperação dos esteios (pilares de madeira), as prospecções arquitetônicas (alvenarias, estrutura e esquadrias) e a queima da cal que será utilizada na obra.
Quem acompanha tudo de perto é dona Antônia de Jesus Batista Sousa, moradora da casa que guarda em sua memória o relato de seus antepassados. Eles contavam que a Casa Enxaimel foi construída por seu tataravô Francisco Gomes Tição, um português, nascido na cidade Villa de Ponte de Lima, que se casou com a paulista Eufrasia Maria Xavier Pissarro, no ano de 1753. Segundo informações retiradas do livro "Notas sobre a arquitetura do século XVIII em Pilar de Goiás" (1965), do arquiteto Elvin Mackay Dubugras, o casamento de Francisco e Eufrasia é a primeira referência histórica encontrada da Igreja Matriz de Pilar de Goiás, cuja data de construção ainda é desconhecida. Para Dona Antônia, é uma alegria ver a casa recuperada.
A previsão é que a obra de restauro esteja pronta em um ano. Na entrega das chaves do imóvel, após a conclusão dos serviços, Dona Antônia receberá uma via do Manual de Conservação contendo as orientações necessárias para a adequada preservação. A moradora se compromete a zelar pelo bem tendo a consciência que ele é um patrimônio cultural de todos os brasileiros. O Casa Enxaimel faz parte do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico tombado pelo Iphan em 1954 e desde 1995 não recebe qualquer intervenção.
A Casa Enxaimel em Pilar de Goiás
O half-timber é uma antiga técnica construtiva que ficou conhecida no Brasil como enxaimel. Trata-se de uma estrutura de madeiras encaixadas com os vãos preenchidos com tijolos ou taipa. A origem desta técnica – com exemplares em quase toda a Europa – ainda não foi determinada. Alguns estudiosos apontam sua origem no período medieval, sendo predominante na Alemanha. No Brasil, as casas enxaimel prevaleceram nas regiões de colonização alemã, principalmente nos estados do Sul.
A casa de Pilar de Goiás tem características que a destacam das outras foram construídas na cidade no século XVIII. Em lugar de apenas o esqueleto habitual, formado por esteios, baldrames e frechais, seu madeiramento também foi disposto na forma de vários painéis engradados, quase que perfeitamente medindo 0,5m² todos os vãos, preenchidos com alvenaria de pedra, o que lhe conferiu o aspecto das casas em estilo enxaimel. Esse imóvel em Pilar de Goiás simboliza a preservação das casas setecentistas, construídas nos antigos Arraiais e Vilas espalhados pelo Brasil que surgiram no período colonial, em decorrência da corrida pelo ouro e que deram origem a importantes cidades goianas, como Goiás, Pirenópolis, Corumbá de Goiás, Luziânia e Jaraguá.
A casa é relativamente pequena, com pouco mais de 100m2, dispõe de um corredor central, duas pequenas salas e três dormitórios. Modesta em tamanho, pode não representar o tipo de residência mais opulento dos ricos mineradores, mas suas características arquitetônicas revelam com requinte a história das cidades brasileiras e que hoje se configuram como admirável patrimônio cultural.
História
Em 1736, no fundo de um vale, a cidade surgiu como Arraial Nossa Senhora do Pilar através do descobrimento de ouro na região durante as primeiras décadas do século XVIII. Alguns escravos formaram um quilombo no local. Sua fundação está relacionada com as expedições, as bandeiras, que explorando a região entre Crixás e o Rio das Almas, objetivando enfrentar os índios caiapós e recuperar alguns escravos foragidos, encontraram ouro no local. A riqueza do descobrimento logo se espalhou, atraindo numerosa população de paulistas, portugueses e nacionais de outras regiões que trouxeram seus escravos. O auto de entrada do descobrimento das Minas de Nossa Senhora do Pilar está datado em 28 de julho de 1741.
No ano de 1756, a cidade já contava com uma população de 3,9 mil habitantes, a maioria escravos. Durante o período da mineração, o crescimento da cidade se deu de maneira rápida, porém o final do século XVIII marcou a decadência total e o ponto final do ciclo do ouro em Goiás, o que prejudicou consideravelmente a cidade de Pilar durante todo século XIX.
Fonte:
Instituto do Patrimônio Histórico e Art[istico Nacional
04/12/2013 17:16
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