Cerca de 30% de lesões corporais estão associadas ao uso abusivo de álcool



Cerca de 30% de todos os casos de lesões no mundo estão associados ao abuso do consumo de álcool, e essa proporção é maior quando os traumas são causados por acidentes com veículos, afirmou a consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS) e diretora do Centro Nacional de Pesquisa sobre Álcool dos Estados Unidos, Cheryl Cherpitel. A OMS fez estudo sobre o impacto do consumo de álcool nos acidentes com trauma, contando com a participação de 11 países, entre eles o Brasil.

O Hospital São Paulo, na capital paulista, foi o único participante brasileiro no programa para treinar profissionais responsáveis pela pesquisa no pronto-socorro da instituição. A Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp) pesquisou 518 pessoas atendidas no pronto-socorro do Hospital São Paulo, no período de três meses, e avaliou a dimensão do problema, concluindo que cerca de 13% dos acidentes cujas vítimas sofreram algum tipo de trauma físico estão associados ao consumo abusivo de álcool. Entre os traumas sofridos, há desde contusões e cortes superficiais até casos graves de politraumatismo.

Para Cherpitel, o uso abusivo do álcool é um problema de saúde pública que afeta populações de diferentes culturas que consomem a substância. Nos chamados países secos, que consomem álcool com menos freqüência mas em maior quantidade, há uma associação maior entre álcool e acidentes com trauma do que em países como Itália e Espanha, onde a população bebe, a cada dia, nas refeições, informou a consultora da OMS.

Segundo Cherpitel, leis mais rígidas de trânsito ajudam a diminuir o número de acidentes, pois se uma pessoa é presa por dirigir alcoolizada pode perder a licença, passar um tempo na cadeia e ter de freqüentar um programa de tratamento para pessoas com esse problema. "Essa legislação surte resultado", afirmou, observando que nos Estados Unidos as leis são mais duras para essa questão.

Na pesquisa feita pela Unifesp, 66% das vítimas desses acidentes eram homens e 34% mulheres, com média de escolaridade de 5,6 anos e renda de dois a cinco salários mínimos. Outro fato chamou a atenção dos pesquisadores: 11% das vítimas do sexo feminino estavam alcoolizadas, dado considerado significativo, pois entre 4% e 6% de mulheres são dependentes de álcool no Brasil, sendo que a maioria delas não procura atendimento especializado, disse a psicóloga Neliana Figlie, uma das coordenadoras da pesquisa da OMS no Brasil.

Consumo no Brasil

Os resultados parciais da pesquisa da OMS apontam, portanto, que, no Brasil, 13% dos acidentes com traumas estão relacionados com o consumo de álcool. Esse percentual é de 18% na África do Sul e de 23% em Belarus (Bielo-Rússia). O percentual tem aumentado no Brasil, pois dados do Ministério da Saúde revelam que essa relação entre acidentes com traumas e uso de álcool era de 12,3% em 2005 e de 11,2% em 2001.

Segundo dados do Ministério da Saúde coletados este ano, 37% dos jovens brasileiros admitem que voltam de festas e "baladas" dirigindo após consumirem bebidas alcoólicas. Um dos resultados dessa pesquisa aponta ainda que o consumo de bebidas alcoólicas no país está cada vez mais banalizado, seja como rito de passagem do adolescente para a vida adulta, ou indiretamente, a partir dos próprios pais e familiares que usam álcool indiscriminadamente na frente dos filhos.

Para agravar mais ainda o problema de abuso do álcool, a indústria da bebida alcoólica é uma das mais fortes no mercado nacional, segundo dados do Ministério da Saúde. Essas indústrias detêm grandiosas verbas publicitárias, aplicadas na mídia sem qualquer tipo de cuidado com horário ou faixa etária da programação.

Em 2006, o investimento em mídia da indústria de bebidas alcoólicas foi de R$ 907 milhões, conforme dados do ministério. Apenas a Ambev - maior anunciante do segmento -, investiu quase metade desse montante (R$ 451,9 milhões).

- Esses números refletem não apenas uma estratégia agressiva de comunicação, mas também uma necessidade de aumentar o volume de vendas - conclui a pesquisa do Ministério da Saúde.

Danos no cérebro

Estudos sobre a atividade elétrica do cérebro indicam que seu funcionamento fica prejudicado de forma crônica pelo uso do álcool, pois a substância compromete as funções superiores do órgão, tais como inteligência, memória, percepção, raciocínio lógico e capacidade de abstração.

Uma pesquisa realizada com 32 pacientes que bebiam, em média, um a um litro e meio de aguardente por dia, com idades de 30 a 50 anos, todos com, no mínimo, 15 anos de dependência, comparados com dez abstêmios, apontou comprometimento e grandes alterações da chamada área mais nobre do cérebro dos que bebiam. Em todos os pacientes que usavam álcool e os abstêmios foram feitos exames psicológicos e psiquiátricos.

A psicanalista Ana Maria Baccari Kuhn, colaboradora dessa pesquisa e professora da Unifesp, disse que dos dez sinais que apontam distúrbios psicológicos, essa população obteve sete positivos, sendo que com três já se constata que o indivíduo tem alguma alteração cerebral.

Os pesquisadores da Unifesp dizem ainda que muitos crimes contra a vida e a integridade física, como homicídios sem motivo ou agressões, podem resultar de uma alteração mental causada por lesão nas áreas afetadas pelo álcool. Os efeitos do álcool também são percebidos em órgãos como fígado, coração, vasos e estômago. Em caso de suspensão abrupta do consumo dessa bebida, pode ocorrer também a síndrome de abstinência, caracterizada por confusão mental, visões, ansiedade e convulsões.

Abaixo, os principais efeitos físicos e psíquicos do uso do álcool:

Provoca um efeito desinibidor.

Em caso de uso mais intenso, pode favorecer atitudes impulsivas e, no extremo, levar à perda da consciência chegando-se ao coma alcóolico.

Com o aumento do seu uso, diminui a potência sexual.

O uso crônico de doses elevadas leva ao desenvolvimento de dependência física e tolerância.

Em caso de supressão abrupta do consumo, pode-se desencadear a síndrome da abstinência caracterizada por confusão mental, visões assustadoras, ansiedade, tremores, desregulação da temperatura corporal e convulsões. Dependendo da gravidade dos sintomas, pode levar à morte.

< p>"Delirium tremens": quadro de abstinência completamente instalado (estado de consciência turvo e vivência de alucinações, principalmente táteis).



07/11/2007

Agência Senado


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