Chegando a hora



Chegando a hora Hoje será dado o primeiro passo formal para o início do processo que poderá levar à cassação do mandato do presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), por quebra de decoro parlamentar. A comissão do Conselho de Ética do Senado apresentará o relatório sustentando que o senador mentiu ao dizer, por três vezes, que não foi beneficiário dos recursos desviados do Banpará. O coordenador da comissão, senador Romeu Tuma (PFL-SP), disse que o relatório mostrará que há provas cabais sobre o envolvimento de Jader no rombo do Banpará. Com um voto em separado do senador João Alberto (PMDB-MA), que deve pedir o arquivamento do caso, os outros dois integrantes da comissão, Jefferson Peres(PDT-AM) e Tuma, assinam o relatório que será entregue ao presidente do Conselho, Geraldo Althoff (PFL-SC), hoje de manhã. Althoff deve convocar uma reunião do conselho para a tarde, quando será lido o relatório, que começará a tramitar. — Vou dizer que minha posição não é essa, e apresento voto em separado. Não existe nenhuma prova contra Jader para se pedir abertura de processo — disse João Alberto. Aliado de Jader tenta ganhar tempo O senador peemedebista vai pedir vista do relatório, para ganhar tempo. Althoff deverá conceder, por 24 ou 48 horas. Ele quer o relatório votado pelo conselho até a quinta-feira. A tendência é pela aprovação do texto assinado por Romeu Tuma e Jefferson Peres e pela rejeição do voto em separado. Se confirmada a aprovação na quinta, Althoff ainda terá tempo de indicar o relator da nova fase do processo, já que a eleição para o novo presidente será na sexta-feira. No fim de semana passado, em reunião com técnicos do Banco Central (BC), Tuma teve a comprovação do Banco Itaú de que as operações com o dinheiro desviado, levantadas pelo inspetor do BC Abrahão Patruni, são verdadeiras. A partir do depoimento de Jader à comissão, os técnicos fizeram um novo rastreamento das operações bancárias com cheques assinados pelo senador, para comprovar se ele foi beneficiário ou não das aplicações. As digitais de Jader aparecem nessas operações através dos resíduos das aplicações que foram parar na conta pessoal do senador no Banco Itaú. — Ele faltou com a verdade dizendo que não era beneficiário. As provas do seu envolvimento existem — disse Tuma ontem. Casos da Sudam serão incluídos O relatório, com aproximadamente 50 páginas, vai citar quatro operações bancárias com recursos do Banpará envolvendo Jader. A tese será reforçada com a citação do depoimento do arquiteto Aurélio Meira à comissão. Meira, que recebeu 46 ordens de pagamento da conta do Itaú que era alimentada com recursos do Banpará, disse aos senadores, em Belém, que os pagamentos pelos serviços prestados ao então governador Jader Barbalho eram liberados pelo gerente do Banco Itaú no Rio de Janeiro, Getúlio Mota. O relatório citará também as denúncias do envolvimento de Jader na cobrança de propina para a liberação de recursos na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e a omissão da compra da Fazenda Chão Preto, parte do Complexo Agropecuário Campo Maior, na sua declaração de Imposto de Renda. Jader justificou-se argumentando que a compra da fazenda está na declaração de pessoa jurídica de uma de suas empresas. Prometeu entregá-la aos senadores, mas até hoje não o fez. Tuma já encaminhou ofício à Receita Federal perguntando se a operação foi declarada ou não. Numa outra parte, o relatório vai afirmar que o senador tentou obstruir as investigações engavetando um requerimento do senador José Eduardo Dutra (PT-SE) que solicitava ao Banco Central os documentos sobre o caso Banpará. Essa parte do relatório ficou a cargo de Jefferson Peres. Na sua defesa, feita em seu gabinete há duas semanas, Jader negou a obstrução e disse que o atraso de três meses na tramitação aconteceu por causa de problemas da Mesa do Senado. Mas a desculpa não convenceu os senadores. O relatório, no entanto, não vai sugerir pena para Jader. Tuma explicou que a sugestão da pena é prerrogativa do plenário do Conselho de Ética, após a conclusão do processo de quebra do decoro parlamentar. Prevendo uma contra-ofensiva de Jader, que vai questionar a competência do conselho para investigar fatos anteriores ao exercício do mandato, Tuma disse que teve que avançar nas investigações sobre o Banpará para comprovar que ele mentiu em sua defesa. As ameaças veladas de Jader aos colegas também serão citadas. Retorno ao cargo pode ser impedido Amanhã, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado começa a analisar os projetos de resolução propondo que integrantes da Mesa do Senado sob suspeita fiquem afastados do cargo até o fim das investigações. O presidente da comissão, Bernardo Cabral (PFL-AM), garantiu que o projeto será votado rapidamente. Jefferson Peres quer que o projeto seja aprovado com bastante rapidez, tanto na CCJ quanto no plenário. De preferência, ainda a tempo de impedir o retorno de Jader Barbalho à presidência, já que sua licença termina no próximo dia 17. — Acho que não existem condições políticas para ele retornar. Quanto aos projetos, eles serão aprovados, com certeza, porque esse caso nos apontou a necessidade de minimizar os efeitos da impunidade — disse a senadora Heloísa Helena (PT-AL). Prefeito de Campinas é assassinado a tiros SÃO PAULO. O prefeito de Campinas, Antônio da Costa Santos (PT), foi assassinado a tiros, no final da noite de ontem, depois de deixar um shopping center, na periferia da cidade. Segundo as primeiras informações, o carro do prefeito foi seguido por outro veículo a caminho de sua casa, no Jardim Proença. Foram disparados vários tiros no vidro traseiro. O prefeito foi atingido duas vezes nas costas e uma na cabeça. A polícia trabalha com a hipótese de o prefeito ter reagido a um assalto, mas não descarta a possibilidade de Toninho do PT, como ele era conhecido, ter sido vitima de um atentado político. O prefeito, estava sozinho no automóvel. Ele já estaria próximo de casa e fora cercado por duas pessoas. Toninho já fora assaltado durante a campanha política do ano passado. Segundo Mário Camargo, assessor de imprensa da prefeitura, o prefeito foi atingido quando voltava para casa depois de fazer compras. A forma do ataque, para ele, reforça as suspeitas de um atentado O prefeito Antônio da Costa Santos tinha 49 anos, era arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC de Campinas. Filho de imigrantes portugueses, era casado com a psicóloga Roseana Garcia e tinha uma filha adolescente. Iniciou a vida política nos anos 70 e em 1988, integrou a chapa do PT que disputou a prefeitura. Ele foi eleito no ano passado, e assumiu em janeiro depois de uma surpreendente vitória na reta final da campanha, quando ultrapassou o favorito, o pedetista Dr. Hélio. No segundo turno, venceu o tucano Carlos Sampaio, com cerca de 60% dos votos. A vitória foi muito comemorada pelo partido, pois Campinas é o segundo pólo econômico do estado, e uma das maiores do país. Toninho já fora vice, de Jacó Bittar, de 1989 a 1993. O carro do prefeito, um Pálio de cor prata, placa CBJ 2113, depois de alvejado, foi parar em um terreno baldio, próximo à Rua Projetada, acesso à Rodovia Pedro I, perto do Shopping Center Iguatemi. Para o deputado federal José Genuíno, o delegado que registrou o caso teria afirmado que o prefeito fora executado. Grupo derrotado vai ser excluído da executiva nacional do PMDB BRASÍLIA. Ao contrário do que os aliados do senador Maguito Vilela (PMDB-GO) pensaram e até do que partidários da candidatura do deputado Michel Temer (SP) queriam, o PMDB vitorioso deverá excluir da executiva nacional, em reunião a ser realizada hoje, todos os derrotados. A decisão é uma resposta ao que os vencedores chamam de “comportamento antiético e desnecessário” na campanha para a presidência do partido. Na prática, mostra que o novo comando resolveu endurecer e não dar espaço para o crescimento da ala itamarista no partido. — Não tem que dar nada para o grupo deles. Em São Paulo minha chapa para o diretório regional fez 44% dos votos e Quércia não nos deu nenhum cargo — disse Temer. Os aliados de Temer citam três episódios que dificultam um acordo. O uso do espaço de TV do Partido Liberal para fazer campanha para Maguito; a acusação de cooptação de peemedebistas com promessas de liberação de verbas públicas; e a tentativa de incluir junto com a cédula para a escolha do presidente do PMDB a consulta sobre a candidatura própria e a data das prévias. — A exclusão dos derrotados é uma atitude politicamente incorreta — disse o ex-secretário-geral do PMDB deputado Saraiva Felipe (MG). — A convenção quer que o partido seja dirigido pela proposta vencedora — respondeu o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Os vitoriosos escolheram os nomes da nova executiva, que tem 15 membros. Além de Temer e Geddel, estariam incluídos os senadores Renan Calheiros (AL), Ney Suassuna (PB), Nabor Júnior (AC) e Marluce Pinto (RR), os deputados Eunício Oliveira (CE), Albérico Filho (MA), Benito Gama (BA) e Wagner Rossi (SP), Ana Catarina Alves (RN), irmã de Henrique Eduardo Alves (RN), e outros nomes ainda não escolhidos de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Temer desiste de ação de usucapião em Goiás BRASÍLIA. Um dia antes de se eleger presidente do PMDB, o deputado Michel Temer (PMDB-SP) disse ao GLOBO que desistirá de uma polêmica ação de usucapião, que lhe garantiria a posse de 2.300 hectares de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural em Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros (GO). Temer brigava na Justiça por essa área desde abril de 99, quando entrou com a ação de usucapião. A área faz parte da Fazenda Campo Alegre, da Associação Ecológica Alto Paraíso. — Aquela área tem me dado muitos aborrecimentos desde a época em que presidia a Câmara — afirmou. Temer e seu sócio Luiz Antônio Schincariol são donos de 500 hectares na região, próximo à reserva. A ação lhes garantiria anexar os outros 2.300 hectares.Temer comprou o pedaço de terra em 89 e afirma ser dono de 2.300 hectares da fazenda vizinha há mais de 20 anos, incluídas as posses de seus antecessores. A associação contestou a ação e acusa Temer de nunca ter ido à chapada. Afirma também que Temer não pode ter acrescida a posse do antecessor, que não teria o domínio da área. No processo, o presidente do PMDB afirma que a área é constituída por terras inaproveitáveis, o que é contestado pelos ecologistas. Segundo a associação, a área tem riquezas minerais importantes e é uma das mais cobiçadas da região. Temer diz que autorizou Ibama a doar área O deputado negou que nunca tenha ido à região. Ele disse que esteve lá, nesses 12 anos, “umas quatro ou cinco vezes”. Temer afirmou que já teria autorizado o Ibama a regularizar a área e fazer sua doação. — Se o Ibama encontrar alguma entidade ou organização não-governamental de peso, pode doar — declarou Temer, que disse querer transformar também seus 500 hectares em uma reserva particular. A fazenda Campo Alegre, de 7.500 hectares, foi reconhecida como reserva pelo Ministério do Meio Ambiente em 94. Maluf chega para depor em CPI como testemunha e sai como investigado SÃO PAULO. Uma falha dos integrantes da CPI da Dívida Pública na Câmara de Vereadores beneficiou o ex-prefeito Paulo Maluf em seu depoimento ontem. Convocado como testemunha, Maluf acabou na condição de investigado. A estratégia foi traçada pelos próprios advogados do ex-prefeito. Na condição de testemunha, Maluf não poderia mentir e nem se recusar a responder às perguntas sobre as ligações que teria feito para Jersey, paraíso fiscal onde teria US$ 200 milhões, sob risco de cometer falso testemunho. Como investigado, poderia alegar que só responderia em juízo às acusações. Assim, seu depoimento girou apenas em torno da dívida de São Paulo. Os vereadores fizeram 17 perguntas a Maluf sobre as contas em Jersey, mas ele se negou a responder a todas elas. Sobre reportagens publicadas na Suíça e em Jersey sobre as investigações, o ex-prefeito afirmou: — Esses artigos estão sendo escritos no Brasil por um gigolô internacional ligado ao PT de São Paulo que usa suas conexões na Europa para publicá-los — disse, numa acusação indireta a Luis Favre, ligado ao PT e namorado da prefeita Marta Suplicy. Antes do início do depoimento, os advogados de Maluf perguntaram se ele deporia como testemunha ou investigado. A pergunta provocou uma crise entre os integrantes da CPI. A sessão foi suspensa por uma hora e meia e só foi reiniciada depois que a comissão chegou à conclusão que Maluf era mesmo investigado. Os advogados do ex-prefeito se basearam em requerimento da CPI ao juiz do Departamento de Inquéritos Criminais, Maurício Lemos Porto Alves, no qual os vereadores pediram a quebra do sigilo bancário, telefônico e fiscal do ex-prefeito. Maluf alegara na época que, como testemunha, não poderia ter o sigilo quebrado. Os integrantes da CPI passaram o fim de semana estudando documentos obtidos com a quebra do sigilo telefônico e fiscal do ex-prefeito. O objetivo era pressionar Maluf a confirmar ligações para o paraíso fiscal. Nas últimas duas semanas, a CPI e o Ministério Público teriam encontrado ligações para instituições financeiras em paraísos fiscais e advogados especializados em desbloqueio de dinheiro. A estratégia de Maluf não se resumiu à ação dos advogados. Ele levou para a Câmara uma claque de aproximadamente 20 pessoas, a maioria motoristas de van, que mostrava faixas de apoio ao ex-prefeito. Antes do depoimento, Maluf informou que tinha entrado com uma queixa-crime no 1 DP contra a presidente da CPI, a vereadora Ana Martins (PCdoB), acusando-a de divulgar dados de seu sigilo telefônico. Na sexta-feira, Ana disse que tivera acesso às contas de Maluf e que nela constavam ligações para Jersey. — Isso que estão fazendo comigo é um crime, pois esses dados são protegidos por segredo de justiça. Agora a vereadora terá que provar que telefonei para Jersey — disse. Brindeiro denuncia Itamar à Justiça por difamação BRASÍLIA e BELO HORIZONTE. O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, apresentou ontem denúncia contra o governador de Minas, Itamar Franco, ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Itamar é acusado de ter cometido injúria e difamação por ter dito que Fernando Henrique seria capaz de fraudar a eleição de 2002. O pedido de denúncia foi feito pelo ministro da Justiça, José Gregori, em nome do presidente, na quinta-feira passada. No STJ será nomeado um ministro relator para o caso. Ele só poderá decidir se abre ou não o processo contra o governador depois que a Assembléia Legislativa de Minas conceder a licença. Além de ter dito que o presidente poderia fraudar a eleição, Itamar afirmou, no dia 4 de setembro, que Fernando Henrique vem liberando verbas para peemedebistas, por intermédio de ministros de Estado, em troca de votos para o deputado paulista Michel Temer, eleito no domingo passado presidente do PMDB. Itamar vai dar Medalha JK a Antonio Carlos Magalhães Amanhã Itamar vai homenagear o ex-senador Antonio Carlos Magalhães com uma das maiores honrarias do estado. Antonio Carlos vai receber, em Diamantina, a Grande Medalha Presidente Juscelino Kubitschek. Itamar preparou uma festa e, segundo sua assessoria, confirmou a presença de sete ministros: Francisco Weffort (Cultura), Pimenta da Veiga (Comunicações), Celso Lafer (Relações Exteriores), Aloysio Nunes (Secretaria-Geral), José Gregori (Justiça), Roberto Brant (Previdência) e Carlos Melles (Esportes). Antonio Carlos, que renunciou ao mandato após o escândalo da violação do painel de votação, apareceu na relação publicada no “Minas Gerais”, órgão oficial do governo estadual, como governador Antonio Carlos Magalhães. O ex-governador Leonel Brizola e o deputado Delfim Netto (PPB-SP) também vão receber a medalha. Itamar e assessores se negaram a comentar a entrega da medalha a Antonio Carlos, ex-desafeto do governador mineiro. Os assessores afirmam que o governador não influencia a escolha dos agraciados, mas admitem que certamente não haveria a homenágem se ele fosse contrário. A definicação da lista, ocorrida há cerca de um mês, foi precedida do escândalo que culminou na renúncia do ex-presidente do Senado, mas mesmo assim o governador de Minas não teria colocado obstáculos. Presidente diz que participação do Brasil impediu fracasso em Durban BRASÍLIA. O presidente Fernando Henrique Cardoso comemorou ontem os resultados da Conferência Mundial contra o Racismo, realizada em Durban, na África do Sul, e afirmou que a participação brasileira foi importante para impedir o fracasso do encontro. Pelo porta-voz Georges Lamazière, o presidente destacou que, junto com outros países da América Latina como México e Chile, o Brasil conseguiu importantes resultados na conferência, graças a uma atuação diplomática. Oportunidade de alertar o mundo para o tema Apesar da retirada dos EUA e de Israel do encontro — que Fernando Henrique preferiu não comentar — ele disse que a conferência foi uma oportunidade de alertar o mundo para a questão. — O presidente considera que a conferência foi muito importante para despertar uma consciência crítica sobre o racismo e considera que a contribuição brasileira foi muito construtiva e permitiu evitar a possibilidade de um fracasso da conferência — disse Lamazière. Fernando Henrique destacou, por intermédio de Lamazière, que foram registrados inegáveis avanços. Dentre eles, em questões relativas a afro-descendentes e indígenas. Segundo o presidente, as conclusões da conferência, na qual os países reconheceram que a escravidão foi um crime contra a humanidade, serão absorvidas pelo Brasil. O presidente lembrou que o país tem um leque de medidas em relação ao problema. — O importante é que agora o Brasil conta com uma plataforma muito sólida para atuar nessa área, que é o resultado da conferência das Nações Unidas, um processo interno de preparação para a conferência e o órgão recém-criado pelo presidente, o Conselho Nacional contra a Discriminação, que estudará o aprofundamento dessas medidas — disse o porta-voz. Colunistas PANORAMA POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL As diretas do PT Passada a convenção do PMDB — que deixou quase na mesma a indefinição do partido — vem aí a disputa interna pela presidência do PT, através da experiência inédita da eleição direta do comando partidário. O resultado ditará o tom da campanha, o rumo das alianças e as linhas gerais do programa de governo. A reeleição de José Dirceu será a vitória do “PT light que não assusta”. Além do embate ideológico, há a novidade do processo em si, um experimento de democracia partidária direta que o tempo dirá se os outros partidos vão adotar, como têm feito com as prévias para a escolha de candidatos majoritários, também introduzidas pelo PT. Como todo experimento, está sendo testado, e é um tanto trabalhoso. Dos 800 mil filiados, o partido espera que no mínimo 350 mil participem da eleição de domingo que vem. Concorrem sete chapas ao diretório nacional e seis candidatos à presidência do partido. Há dezenas de chapas e candidatos a presidentes regionais e mais de dois mil candidatos a presidentes municipais. Numa cidade como São Paulo, o filiado pode ter que votar oito vezes. O procedimento e o comparecimento podem naturalmente afetar os resultados. Mas segue o PT na busca do que seus próprios adversários invejam, a vida e a democracia interior de onde retira seu talvez mais valioso capital, o pulso dos militantes. Como os demais partidos, o PT elegia seus dirigentes pelo voto indireto de delegados. Agora, o militante de Chorrochó (BA) votará no candidato de sua preferência. José Dirceu, atual presidente, da corrente moderada Articulação, vinculada a Lula, concorre com cinco candidatos. É o favorito, e sua reeleição consolida a hegemonia do PT realista, que vem reciclando seu discurso, afastando temores e conseguindo apoios onde nunca teve. Mas talvez não ganhe no primeiro turno, tendo que enfrentar um segundo com Raul Pont, da tendência Democracia Socialista, apoiado pelo governador gaúcho Olívio Dutra. Ou mesmo com Júlio Quadros, da chapa Socialismo ou Barbárie, um PT mais duro, que assusta mais. Um segundo turno não será uma derrota eleitoral para Dirceu, mas dará força política aos outros para influir na escolha do programa de governo e das alianças. Aliança, por sinal, é o nome do problema atual do PT, que nunca esteve individualmente tão forte mas tão isolado. Dos aliados da esquerda, só conta hoje com o PCdoB. PSB e PDT seguem rumo próprio, ou por superestimarem a força da oposição ou por subestimarem a força do governo.Coisas estranhas Furnas realizou dois concursos públicos entre 1996 e 1997 para selecionar engenheiros e outros técnicos do setor elétrico. A validade de um expirou, a de outro foi prorrogada até o ano que vem. Por telegrama, os aprovados foram chamados a apresentar a documentação de praxe, inclusive a carteira de trabalho. Que, com surpresa, receberam assinadas por empresas privadas de engenharia que prestam serviços à geradora. Dezenas de ações tramitam na Justiça do Rio contra esse desvio, que caracteriza, além de burla do direito dos concursados, uma estranha cessão de empregados cuja seleção custou recursos públicos. Situação de fato esdrúxula. A empresa tem sua explicação: fez o concurso mas ainda não tem autorização superior para contratar os aprovados. Precisando de quadros qualificados para os serviços terceirizados, ofereceu a muitos deles a oportunidade de serem por elas contratados até que possam ser nomeados. Dizem o contrário os litigantes, que foram simplesmente alocados a algumas das 250 empreiteiras que prestam serviços a Furnas. Dicionário FGV Contra nosso propalado desmemoriamento político, está na praça um antídoto poderoso, o “Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro Pós-1930”, editado pela Editora FGV e CPDOC, com apoio do BNDES e outras instituições públicas. São mais de seis mil verbetes ao longo de igual número de páginas distribuídas em cinco volumes, resgatando figuras e fatos da história política recente — 5.696 verbetes são biográficos e 930 temáticos. O presidente FH recebe os primeiros exemplares hoje no Planalto. No Rio, o lançamento será no dia 19, na sede da FGV.Até o fim Acaba hoje, com a promulgação da emenda constitucional aprovada pelo Congresso, a era da edição ilimitada de medidas provisórias. Entre a última votação, na semana passada, e o ato de hoje, o governo baixou MPs aos borbotões. Um comportamento que muito irritou o Congresso. — Com a emenda já votada, o governo deveria ter tido um mínimo de respeito pelo desejo do Parlamento. Está cometendo um ato de truculência legislativa — diz o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro. Os governistas seguram a língua, mas também não gostaram.ESTÁ aberta a temporada de mudanças partidárias. O PSDB está pescando até nas águas aliadas. Uma das adesões esperadas, a do prefeito de Campina Grande (PB), Cássio Cunha Lima. PASTORES na política. Manoel Ferreira, manda-chuva das Assembléias de Deus, diz ter sido convidado pelo governador Marconi Perillo para disputar o Senado pelo PSDB goiano. Devem estar faltando tucanos em Goiás. Editorial Donos da Lacraia O incêndio que matou duas crianças e fez desabar um trecho da Linha Vermelha foi acidental. Nada mais nesse episódio trágico e perturbador para a vida da cidade merece o álibi do acaso. É consenso entre os técnicos que favelas sob viadutos representam perigo para a estrutura; e é uma vergonha para quem cuida de assistência social no estado e no município que se tenha permitido nascer (há três anos já) e crescer a hoje tragicamente famosa Favela da Lacraia). Qualquer debate sobre favelas, como é lógico, tem de partir do princípio de que é inconcebível aceitá-las em condições de alto risco. Autoridades estaduais culpam autoridades municipais: o subsecretário de Ação Social, Ricardo Bittar, pontifica: “O Código de Posturas Municipais estabelece que a ocupação irregular do espaço público é responsabilidade do município.” Já a secretária municipal de Habitação, Solange Amaral, afirma que a favela surgiu numa “faixa de domínio operacional da Linha Vermelha”, que é operada pelo estado. A sociedade não discute com as autoridades e está pronta a concordar com ambas: a culpa é das duas. De qualquer forma, a perda de tempo com troca de acusações é indigna de servidores públicos que deveriam estar empenhados em resolver problemas, não em construir álibis. Mesmo que falte o espírito público necessário, não deveria escapar dos governantes o fato óbvio de que o cidadão carioca é simultaneamente eleitor estadual e municipal. Isso, por si só, torna altamente conveniente — caso falte o compromisso moral — a iniciativa compartilhada em diversos campos. No caso particular da Lacraia, e enquanto o carioca enfrenta mais um foco de tumulto no trânsito, o simples pudor deveria fazer cessar, com humilde pedido de desculpas à sociedade, a troca de acusações. Do que já viu e ouviu, o que não falta são donos da tragédia, em todos os níveis. Há três iniciativas urgentes: 1. Dar moradia decente aos favelados desalojados pelo incêndio: 2. Localizar e remover todas as favelas em situação idêntica ou análoga, e 3. Convocar especialistas — estaduais, municipais, federais, pouco importa — para apressar a obra no viaduto. Enquanto engenheiros do DER falam em três meses de trabalho, outros técnicos (inclusive um dos construtores da Linha Vermelha) afirmam que o prazo pode ser de 30 dias. É uma hipótese que, dado o tamanho do transtorno para o trânsito, não pode deixar de ser examinada a sério. Pequeno passo De saída, a Conferência contra o Racismo tinha muito contra si. Os temas eram tão explosivos quanto variados. As posições divergentes não poderiam ser mais distantes umas das outras. E nenhum tema era desacompanhado de forte carga emocional. Era natural que nenhum observador sensato esperasse êxitos retumbantes. Realmente, houve modestos avanços, mais retóricos do que objetivos. Alguns erros foram flagrantes: a insistência em definir o sionismo como forma de racismo rachou o plenário, deu aos Estados Unidos o pretexto que desejavam para desprestigiar a reunião — e não produziu qualquer palavra coletiva de consolo para os palestinos. Na questão específica do racismo, o pedido europeu de desculpas informais pela escravidão e pelo colonialismo tem efeito moral — e efeitos morais não são necessariamente desprezíveis. Mas a recusa a qualquer forma de reparação mostra que os herdeiros do colonialismo só aceitam tratar do racismo daqui em diante: o que passou, passou. É frustrante, e as comunidades negras têm todo o direito de se considerarem discriminadas. Afinal, tinham a seu favor as reparações recebidas pelos judeus depois da Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, e por mais frustrante que tenha sido o desprezo dos EUA pelo encontro de Durban, algo se terá lucrado se vingar a posição da assessora de Segurança Nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice: ela sustenta que o importante é discutir formas de luta contra o racismo que existe hoje. Se Washington se empenhar nesse sentido Durban não terá sido tempo perdido. De certa forma, tratar do futuro é uma forma de consertar o passado. De fato, não se poderá falar em tempo perdido em circunstância alguma. Quando a comunidade internacional reconhece a necessidade de discutir a injustiça racial e demais formas de discriminação de minorias, esses assuntos não morrem mais. A reunião foi um primeiro passo — um pequeno passo. Mas, como a Humanidade já aprendeu, de que outra forma começam as suas grandes marchas? Topo da página

09/11/2001


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