Ciência e tecnologia estão em crise no Brasil, apontam especialistas
Um quadro preocupante para a ciência e tecnologia no Brasil foi apresentado por participantes da audiência pública que comemorou nesta quarta-feira (10), no Senado, o Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento. Indicadores como queda no número de pesquisadores que trabalham em empresas, estagnação da participação brasileira no registro de patentes no mundo e redução no número de concluintes de cursos nas universidades federais foram apontados como sintomas de crise na área.
Alguns dos números citados pelos participantes da audiência na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) fazem parte do capítulo dedicado ao Brasil no Relatório Mundial sobre Ciências elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) elançado no evento. A reunião foi presidida pelo senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA).
Eficácia
Carlos Henrique de Brito Cruz, professor da Unicamp e diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), questionou a eficácia da política governamental para estimular a pesquisa nas empresas. Segundo o professor, um dos autores do capítulo brasileiro no relatório da Unesco, a Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), divulgada pelo IBGE em 2010, mostra que o número de pesquisadores em empresas caiu de 49.355, em 2005, para 44.901 em 2008.
O número destoa da realidade de alguns países, como a Coreia do Sul, onde as empresas empregam 166 mil pesquisadores, ou os Estados Unidos, onde a quantidade de pesquisadores na iniciativa privada ultrapassa 1,1 milhão.
Produtividade
Além disso, conforme Brito Cruz, o pesquisador brasileiro é pouco produtivo, se comparado com colegas de outros países. O número de patentes registradas por mil pesquisadores, no Brasil, é de apenas 2,25, diante de 7,2 na Espanha, 45 na Coreia do Sul e 68 nos EUA.
Os próprios dados de patentes registradas internacionalmente - um dos resultados concretos da pesquisa - mostram o Brasil estagnado: esse número caiu de 106, em 2004, para 103 em 2009. Enquanto isso, a China evoluiu de 404 em 2004 para 1.655 em 2009. O diretor técnico da Fapesp afirmou que o Brasil vem "marcando passo" nessa área desde 2000.
Universitários
O número de concluintes de cursos de universidades federais, conforme o professor Brito Cruz, cresceu apenas 0,03% entre 2003 e 2008. O mais grave, segundo ele, é que em 2008 houve menos concluintes do que em 2004.
O que o professor não entende é "o tipo de freio de mão que foi puxado nesse sistema", já que no período houve aumento dos recursos investidos, principalmente nas universidades federais. No caso, segundo ele, mais despesas produziram resultado menor do que o esperado do ponto de vista do contribuinte.
Além de Brito Cruz, participaram da audiência Vincent Defourny, representante da Unesco no Brasil; Roosevelt Tomé Silva Filho, secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência e Tecnologia; e Jailson Bittencourt de Andrade, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
10/11/2010
Agência Senado
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