Especialistas apontam dificuldades para digitalização do sistema de rádio no Brasil
Debate mostrou entraves para a digitalização do rádio brasileiro
O caminho da digitalização das rádios ainda pode ser longo no país. Em audiência pública nesta terça-feira (17) na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicações e Informática (CCT), especialistas mostraram os resultados ruins dos primeiros testes realizados e o desinteresse das emissoras de rádio em participar de novos testes.
Para o senador Walter Pinheiro (PT-BA), a digitalização da rádio é imprescindível, mas antes de escolher o padrão tecnológico, é necessário promover a universalização, a ampliação da cobertura para que toda a população tenha acesso a esse meio de comunicação.
– É preciso que adotemos um padrão que nos coloque em sintonia com o que está acontecendo no mundo, sintonizar de maneira que a gente ganhe escala, consequentemente reduza preço, que a gente ganhe as condições de produção industrial no Brasil – disse.
Pinheiro disse ainda que o país não pode repetir o erro cometido no debate sobre a televisão digital de discutir qual o padrão tecnológico será adotado sem discutir quais são as necessidades do país.
Para o senador Anibal Diniz (PT-AC), autor do requerimento da audiência pública, o governo parece estar alheio à importância estratégica da rádio no país.
– Como pode a gente não ter uma política, sabendo que o governo continua sendo o grande anunciante, para identificar onde estão os veículos de comunicação e fazer uma associação no sentido de: vamos investir, mas, em contrapartida queremos que amplie a potência, queremos a digitalização, queremos que evolua tecnologicamente? – questionou.
Testes insatisfatórios
De acordo com o diretor do Departamento de Acompanhamento e Avaliação de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações (MC), Octavio Penna, os primeiros testes realizados entre 2010 e 2012 mostraram que a rádio digital teria uma cobertura menor que a rádio analógica.
Penna explicou que não existe a intenção de desligar o sinal analógico para ficar apenas com o digital, mas de trabalhar com os dois sinais simultaneamente. Para isso, existe um limite de potência para a rádio digital não causar interferências no sinal analógico. O ministério fez testes tanto com o sistema HDRadio – padrão utilizado nos Estados Unidos e desenvolvido pela empresa Ibiquity – e com o DRM (Rádio Digital Mundial ou Digital Radio Mondiale, em inglês), padrão desenvolvido na Europa.
O Conselho Consultivo do Rádio Digital, criado em 2012, acompanha os resultados desses testes. De acordo com Penna, o MC quer fazer novos testes, adotando critérios mais precisos e específicos, mas não está havendo interesse das emissoras em participar das experiências.
- Temos confiança de que esses sistemas funcionam, a questão é encontrar a melhor configuração possível para esse funcionamento – afirmou Penna.
Vantagens e Custos da Digitalização
A rádio digital traz benefícios como a melhor qualidade do áudio e a possibilidade de multiprogramação, ou seja, no mesmo canal ou frequência, pode haver diversas programações. Além disso, há o canal de dados, em que podem ser disponibilizadas informações adicionais e aplicativos diferenciados, como notícias e a escalação do time de futebol que está jogando, por exemplo.
De acordo com a gerente de tecnologia da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Monique Cruvinel, os radiodifusores estão divididos. Um grupo está muito interessado na digitalização e outro não vê nos benefícios da rádio digital uma compensação pelos altos custos d a implantação de um modelo novo. Esse último segmento tem apostado na internet para suprir muitos dos serviços que a digitalização ofereceria.
– Existe um interesse, mas existe ainda essa questão do medo de que [a digitalização] não vai ser viável. E esse medo impede que muitas emissoras se coloquem na vanguarda – disse.
Segundo o engenheiro de Sistemas de Comunicação da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel), André Trindade, uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) mostrou que 81% das emissoras de rádio não têm condições de investir na digitalização.
– O investimento, segundo essa pesquisa, pode chegar à casa de US$ 150 mil – afirmou.
Isso acontece porque a maioria das emissoras possuem transmissores muito antigos, com mais de dez ou 20 anos, o que exigiria a troca dos transmissores.
Rádios Comunitárias
A legislação rígida sobre as rádios comunitárias foi também criticada na audiência pública pelo representante nacional da Associação Mundial das Rádios Comunitárias (Amarc), Pedro Martins, e pelos senadores Walter Pinheiro e Anibal Diniz.
Segundo Martins, o Brasil é um dos poucos países no mundo que criminaliza a rádio ilegal de baixa potência. Ele disse esperar que a discussão sobre a rádio digital também sirva para repensar o modelo de comunicação adotado no país, que concentra os meios de comunicação nas mãos de poucos empresários.
– Isso impede que grande parte da população tenha acesso a esse direito que a gente considera um direito humano, a comunicação – afirmou.
Martins ressaltou a importância das rádios comunitárias em momentos de tragédias naturais, como as tempestades que aconteceram na região serrana do Rio de Janeiro em 2011.
– A rádio comunitária de Nova Friburgo foi um dos principais veículos de comunicação que ajudou a achar corpos, achar parentes – relembrou.
Desenvolvimento da Indústria
O chefe de gabinete da Diretoria Geral da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Bráulio Ribeiro, disse que a empresa acredita na digitalização do rádio no país e tem se colocado à disposição para novos testes. No entanto, entende que é preciso investir na indústria de transmissores e receptores digitais e definir um modelo de negócios e de serviços para o rádio digital.
– A indústria está parada. A indústria não sabe se produz transmissor analógico, não sabe se começa a produzir transmissor digital, não sabe se produz transmissor digital para HD Rádio, para DRM, não sabe o que fazer – afirmou.
Ele defendeu a digitalização e ressaltou o papel fundamental da rádio no país, que, em determinadas regiões é o único meio de comunicação acessível para as pessoas.
17/09/2013
Agência Senado
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