Cientistas discutem na USP valor dos alimentos



Provenientes de 46 países, 150 pesquisadores participaram da 7th International Food Data Conference

Saber a composição química de uma banana-prata (74 kcal, 18,14 g de carboidrato, 0,35 g de lipídios, 0,66 g de proteína, 1,30 g de fibra, entre outros) é útil para quem faz regime alimentar ou dieta por conta de doenças (diabete, colesterol, câncer, problemas cardíacos), e mais importante ainda para os profissionais de saúde pública. Informações como essas, divulgadas na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos da Universidade de São Paulo, servem para pesquisas epidemiológicas, nutrição, segurança alimentar, agricultura, indústria alimentícia e definição de políticas governamentais sobre alimentos.

Para tratar da composição dos alimentos de forma a garantir a preservação das culturas e seu uso sustentável, biodiversidade, nutrição humana e segurança alimentar, 150 pesquisadores e cientistas de 46 países se reuniram em São Paulo, em encontro promovido pela USP. Os participantes do 7th International Food Data Conference, evento que ocorre a cada dois anos, trocaram experiências e conhecimentos. A principal tarefa foi traçar diretrizes para a criação de uma composição alimentar global. Essas definições, a serem divulgadas até o final deste ano, poderão servir de modelo aos países que ainda não têm a sua tabela de alimentos.

A USP sediou o evento graças aos trabalhos que tem desenvolvido na área de composição de alimentos e pela criação da Tabela de Alimentos (banco nacional com dados de 1,8 mil alimentos, disponível ao público desde 1998), explicou a nutricionista Elizabete Wenzel de Menezes. Juntamente com a representante italiana da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Barbara Burlingame, coordenou o evento. Foram feitas 54 apresentações orais em inglês e mais 80 em forma de pôster. Brasil, Chile, Índia, Nigéria e Malásia, por exemplo, abordaram espécies e variedades desconhecidas ou subutilizadas.  A próxima conferência será em Bangcoc, Tailância, em 2009.  

Frutas e legumes – Elizabete é professora do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF/USP) e desenvolve pesquisas na área há 25 anos. De acordo com a especialista, o Brasil não explora a sua enorme biodiversidade. “Agora começamos a analisar as frutas do Nordeste. Algumas espécies são menos conhecidas, mas têm grande importância para o organismo. Nossos alimentos têm enorme capacidade antioxidante e muitos compostos bioativos.”

São eles que previnem o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis, esclarece Elizabete. Descobrir em quais alimentos há compostos antioxidantes e bioativos é missão quase impossível para os leigos. “De forma geral, eles podem ser encontrados nas frutas e legumes.”  Elizabete dá uma dica para quem quiser alimentar-se de forma saudável. “Há duas regras básicas: ponha bastante variedade de alimentos no prato e controle a quantidade.” 

O Ministro do Meio Ambiente, Rubens Nodari, afirmou que “o Brasil é um dos países que tem de 15% a 20% do número total de espécies existentes no planeta”. Mas faz pouco uso desses recursos por falta de investimento, conhecimento e tecnologia. Acrescenta que a comercialização de produtos nativos também é pouco explorada ou subutilizada. Fica restrita ao comércio local, com pequena inserção no mercado nacional e internacional. “A exploração das espécies domésticas ou exóticas é a grande oportunidade". Para acelerar a utilização desses recursos foi criado o programa Plantas para o futuro, em parceria com instituições governamentais e não governamentais.  

Obesos e subnutridos – Elizabete destacou que os estudos de composição de alimentos passaram por quatro revoluções. A primeira foi a descoberta do valor energético dos alimentos. A segunda, a importância das vitaminas e minerais para prevenir doenças causadas por sua deficiência. A terceira, relação entre dieta e doenças, incluindo a desnutrição e doenças crônicas não transmissíveis (cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer). A quarta, descoberta de outros componentes que causam efeito na saúde humana, como os compostos bioativos. O novo desafio é a biodiversidade.

A tabela de alimentos é a primeira da América Latina a ser disponibilizada na Internet e resulta do Projeto Integrado de Composição de Alimentos da Rede Brasileira de Composição de Alimentos (Brasilfoods). Sediada na FCP/USP, reúne 27 laboratórios.  A produção de dados, a compilação e a atualização são contínuas desde a criação da tabela e todas as informações e análises são confiáveis, salienta Elizabete, uma das maiores especialistas em composição alimentar. Ela é a coordenadora da tabela de alimentos junto com o farmacêutico, professor e vice-reitor Franco Lajolo.

Elizabete diz que a tabela é pouco difundida e fica restrita aos meios científicos. “A população precisa de educação nutricional. No Brasil, não só há desnutrição, mas também pessoas com sobrepeso e obesidade. Isso se explica, em parte, pela substituição do consumo de vegetais, ricos em fibra alimentar, vitaminas e outros compostos bioativos, por alimentos ricos em açúcares, carboidratos e lipídios (frituras, doces, refrigerantes). Esses alimentos industrializados são mais acessíveis do que eram há 30 anos”.

A análise da composição alimentícia pode, também, indicar alterações nos alimentos provocadas por mudanças ambientais (alterações no solo, clima, temperatura umidade, entre outros) e orientar ações que diminuam o impacto, afirma Elizabete.  

Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial 



11/06/2007


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