Ciro critica 'oportunismo' das instituições financeiras



 





Ciro critica 'oportunismo' das instituições financeiras
NOVA YORK - O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, criticou ontem duramente os bancos de investimentos que rebaixaram os papéis da dívida brasileira. "Essas recomendações representam nada menos que um oportunismo dessas instituições financeiras. É desonesto e intrinsicamente falso como uma nota de R$ 3 culpar as pesquisas de opinião pela instabilidade de hoje no mercado", afirmou, durante palestra para investidores, analistas e empresários, promovida pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, em Nova York.

Ciro confirmou que recebeu convite do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, para jantar. "Não tem cabimento nenhum. Acho que o Lula subiu na tamanca de novo; está cometendo um equívoco."

Ele classificou a motivação dos bancos como pura especulação. Mesmo assim, não poupou críticas à política econômica brasileira, como sendo responsável pela piora na avaliação do País.

"Há muito tempo que venho chamando atenção para a inconsistência daquele otimismo absurdo que a retórica oficial tomou-se dele no começo do ano." Mas, segundo Ciro, as instituições financeiras alimentaram esse otimismo. "Agora que o mercado está caindo, querem botar culpa no processo eleitoral?"

Risada - Indagado sobre qual foi sua reação ao receber, por telefone, o convite de Lula para jantar, disse: "Eu dei uma risada e perguntei a Lula se iríamos jantar escondido ou em público para gerar fofocas." Segundo Ciro, o convite só revela "a inexperiência de Lula e a falta de despreparo inclusive para as linguagens que um homem de Estado tem de praticar para aspirar ser presidente".

Durante a palestra, Ciro chegou a bater boca com um analista sobre seu projeto de salário mínimo.


Mercadante quer reação do governo
O secretário de Relações Internacionais do PT, deputado Aloizio Mercadante (SP), convocou todos os setores políticos e econômicos do País a estancar o processo especulativo contra o real, desencadeado por analistas financeiros internacionais. "Este não é um trabalho apenas da oposição, mas também do governo. Temos de defender os interesses do País."

Mercadante relaciona o rebaixamento da recomendação dos títulos brasileiros à crise argentina.

"Os bancos que veicularam suas análises são os mesmos que tiveram prejuízos enormes com a crise Argentina e que, até agora, tentam, sem sucesso, auxílio do FMI."

O diálogo entre o PT e os analistas de mercado, porém, tem sido constante.

Em junho, a convite do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Mercadante participará, em Washington, de um ciclo de debates. Ele também está convocando um seminário suprapartidário, em que serão discutidos a metodologia e os critérios das agências na análise de risco do País.


Serra garante que ainda não definiu vice
Após reunião em SP com FHC e Aníbal, ele diz que assunto nem entrou em discussão

O nome do vice na chapa do candidato do PSDB à Presiência, senador José Serra, a ser indicado pelo PMDB, ainda não foi definido. É que garantiu ontem o próprio candidato, ao deixar a casa do presidente Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo. Serra negou também que o assunto tenha sido discutido na conversa que teve com Fernando Henrique e presidente do partido, deputado José Aníbal.

Com a insistência dos repórteres para saber quem será o vice, Serra respondeu. "Isso está um pouco enjoativo. Não há hipótese de eu dizer o nome."

O político mais cotado no PMDB para ocupar a vaga de vice na chapa de Serra é o deputado Henrique Alves (RN), representando a região Nordeste. Os peemedebistas dizem porém que "é melhor" resolver os problemas das alianças regionais com os tucanos antes de anunciar o nome para a chapa com os tucanos.

Aníbal reforçou que a questão do vice não foi discutida no encontro de ontem, já que na quinta-feira houve conversa entre ele, Serra e o presidente do PMDB, deputado Michel Temer, em Ribeirão Preto, durante visita a Agrishow. "Falamos de vice na quinta, mas nada conclusivo", disse.

"O PMDB vai fazer a indicação em sintonia com Serra", afirmou Aníbal, ressaltando que não há um único nome para a indicação. "O deputado Henrique Alves é um político experiente, que tem vivência e eu não duvido de que ele seria um bom nome, mas existem outros que almejam ser vice", disse referindo-se ao senador Pedro Simon (RS), a deputada Rita Camata (ES) e o ex-prefeito de Joinville, Luiz Henrique (SC).

Para ele, mais importante do que ter um representante do Nordeste é que se faça "um programa para a região".

Aníbal disse que fez um relato sobre as alianças do PSDB nos Estados para o presidente e Serra.

Anunciou que os tucanos terão candidatos ao governo de 15 Estados. "Em Sergipe, Ceará e Goiás seremos adversários do PMDB; em outros Estados há negociações", enumerou. Em São Paulo, o ex-governador Orestes Quércia, vai disputar o governo do Estado, e garantiu que dará palanque a Serra.


Alckmin quer um vice que não queira 'puxar tapete'
O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) disse ontem que a qualidade essencial para quem quiser ser seu vice é ter "espírito de equipe, não de puxar tapete". "Pode ser do PSDB ou de outro partido, o importante é que tenha espírito de equipe, de colaboração, de ajudar, de resolver problemas e não de disputa, não de vaidade, não de puxar tapete", disse Alckmin. Segundo ele, a definição completa da chapa deve ficar pronta no final de junho, véspera da convenção.

Alckmin citou o vice-presidente Marco Maciel, do PFL, como bom exemplo de vice escolhido fora do ninho tucano. Mas lembrou que, ele próprio, foi escolhido para compor a chapa com o governador Mário Covas em dois mandatos consecutivos, ambos do mesmo partido. "No caso de São Paulo, o vice foi do PSDB, fui eu." Assim, segundo o governador, não há uma regra para a definição do nome do vice paulista nem pressa para fazer a escolha. De acordo com lideranças do PSDB, porém, dificilmente o vice de Alckmin virá de outro partido.

Como as duas vagas para o Senado já estão definidas - uma será do senador Romeu Tuma (PFL), que tentará a reeleição, e a outra será do PSDB -, é pouco provável que o vice seja pefelista. O PMDB, que ensaia uma coligação nacional, deve ter candidato próprio para a sucessão paulista, o ex-governador Orestes Quércia, não podendo indicar o vice de Alckmin. Resta o PTB de Campos Machado, aliado histórico do PSDB paulista, mas que vive situação indefinida na Frente Trabalhista que apóia Ciro Gomes (PPS) na disputa presidencial.

Entre os tucanos que disputam a indicação da segunda vaga ao Senado estão o presidente do partido, deputado federal José Aníbal, nome mais forte, a deputada federal Zulaiê Cobra Ribeiro e a ex-secretária de Educação Rose Neubauer. (AE)


PTB gaúcho abandona PDT e apóia Britto
PORTO ALEGRE – O PTB gaúcho não vai apoiar o candidato do PDT, José Fortunati, ao governo do Rio Grande do Sul, desafiando determinação da direção nacional do partido e pondo outro impasse para a Frente Trabalhista. Uma reunião do diretório estadual ontem decidiu não indicar o vice-governador da chapa. O deputado estadual Iradir Pietroski, presidente do PTB no Estado, elogiou Fortunati, mas disse que o PTB quer quem tem votos, ou seja, o candidato do PPS, Antônio Britto. Com cerca de 30%, este é apontado pelas pesquisas como o único capaz de enfrentar o ex-prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT). Fortunati não decolou, mantendo-se com 7%.


MST invade fazenda modelo de gado no RS
PORTO ALEGRE – O MST invadiu ontem a Fazenda Invernada, em Hulha Negra, a 390 quilômetros de Por to Alegre. A propriedade é uma das três da Agropecuária Ana Paula na região, num total de 15 mil hectares, com 18 mil cabeças de gado. A empresa é conhecida por produzir carne de novilhos precoces. “Decidimos em assembléia denunciar esse acúmulo de terra em benefício de poucos enquanto há milhares de famílias esperando por assentamentos embaixo de lonas”, disse Paulo Sérgio Vargas, um dos coordenadores das 500 pessoas que tomaram a fazenda. O MST diz que só sai se o Incra retomar avaliações de produtividade no Estado


Artigos

Boa sorte, Lavagna!
Gilberto Dupas

Após a renúncia de Fernando de la Rúa e uma única semana de governo de Rodríguez Saá, o atual presidente, Eduardo Duhalde, talvez tenha a última oportunidade de reorganizar o caos argentino dentro da normalidade institucional. Ele iniciou seu turbulento mandato nomeando um homem forte para o Ministério da Economia. Jorge Remes Lenicov era candidato declarado ao próximo pleito para primeiro mandatário da República. Resolveu jogar seu futuro e perdeu. É mais um dirigente consumido pelo fogo brutal que leva de roldão enormes nacos de futuro do país, destruindo suas mais preciosas esperanças. Agora, Roberto Lavagna - economista competente, homem tranqüilo e ardoroso defensor do Mercosul - é tirado de sua relativa paz de Bruxelas e jogado na boca do poço como encarregado de encontrar o seu fundo, juntar os escombros e iniciar a dura reconstrução de um país quebrado. Nós, seus amigos brasileiros, temos múltiplas razões para torcer por seu sucesso.

Estancar a hemorragia argentina é fundamental para o futuro de toda a América Latina.

O atual drama argentino é testemunho vivo dos riscos extremos a que estão expostos os grandes países da periferia mundial em tempos de globalização.

Esse país - que, até o início do século passado, era um dos mais ricos do mundo - havia construído um sistema político e social relativamente original que mantinha uma economia solidamente ancorada na sua grande competitividade agrícola e a população vivendo num padrão muito superior à média dos grandes países da América Latina. A crise de 1929 marcou para a Argentina o fim do desenvolvimento baseado na exportação de produtos primários e importação de manufaturas. A industrialização que se seguiu foi possibilitada por uma forte intervenção do Estado. O peronismo surgiu em meados dos anos 1940, por uma aliança entre áreas empresariais surgidas desse processo e setores operários. Em 1950, a indústria já ocupava o papel central na geração do PIB e do emprego, permitindo um notável auto-abastecimento de manufaturas. Mas a liderança do desenvolvimento industrial argentino, fortemente centrada nas mãos de subsidiárias das corporações internacionais atraídas pelo mercado protegido nos setores automotivo, químico e metal-mecânico, sempre conviveu com a ausência de um sistema nacional de ciência e tecnologia que preparasse as bases para uma liderança industrial local forte e relativamente autônoma.

Todo esse período foi de forte instabilidade política e econômica.

O golpe militar de 1976 marcou o fim da possibilidade de construção de uma economia industrial avançada na Argentina. A abrupta abertura econômica iniciada por Videla causou o desmantelamento de grande parte da indústria manufatureira que havia sido desenvolvida entre 1930 e 1975. Nos oito anos seguintes a dívida externa argentina saltou de US$ 3 bilhões para US$ 50 bilhões e a redução da capacidade produtiva - com a saída de grandes multinacionais assustadas com a crise - chegou a 40%. Esse processo se propagou pelos anos 1980, quando o PIB per capita do país caiu 21%, constituindo um desastre especial dentro da década perdida por toda a América Latina. O buraco crescente nas contas externas do país, alimentado pelo aumento contínuo das importações de manufaturas e pelos juros da dívida externa, levou a inflação a níveis então assustadores e, agravado pela loucura da Guerra das Malvinas, liquidou a ditadura militar em 1982.

O período que se seguiu, com Raúl Alfonsín, foi marcado por grande vulnerabilidade externa e desequilíbrios macroeconômicos, justamente no momento em que o México declarava sua moratória. Foi, também, o importante momento da construção do Mercosul. Brasil e Argentina deixaram de lado sua estúpida rivalidade militar e sonharam com um mercado comum que melhorasse a escala e as condições competitivas da região. Mas foi, também, o terrível período da hiperinflação que liquidou com grande parte do vigor do país e forçou Alfonsín à renúncia. Veio então Carlos Menem, articulando uma rara aliança entre setores populares peronistas, grandes grupos econômicos nacionais tradicionais e interesses multinacionais. Estava então em moda o novo tratamento de choque neoliberal, que incluiu radicais abertura econômica e privatização e prometia assegurar uma luz clara ao final do túnel. Menem entrou de cabeça nesse processo, implantando - em paralelo com a internacionalização da economia - o Plano de Convertibilidade, que garantia a paridade entre o peso e o dólar; aliás, aplaudida por uma década inteira pela comunidade financeira internacional como um exemplo a seguir.

Apesar de uma pequena recuperação da industrialização argentina nessa época, por conta da complementaridade de certas plantas industriais no Mercosul, o fato é que a Argentina já havia renunciado de vez ao seu desenvolvimento industrial há muito mais tempo. O protecionismo dos grandes países e a dificuldade em adicionar valor à produção local condenou o país a depender unicamente do seu sempre eficiente, mas limitado, agronegócio. A pequena escala do seu mercado interno e a camisa-de-força da paridade peso-dólar fizeram o resto do estrago. As inevitáveis - e tardias - desvalorizações da moeda brasileira de 1999 e 2001, associadas à precaríssima situação social argentina, criaram o cenário para uma situação que se transformou em tragédia a partir da miopia e irresponsabilidade das instituições reguladoras internacionais. Os EUA e o FMI, em sua nova fase de unilateralismo e frieza explícita, abandonaram a até então bem-comportada Argentina à própria sorte, em meio a um furacão que ela não causou sozinha.

Foi o golpe de misericórdia.

Agora só resta juntar cacos e tentar voltar a crescer a partir de um patamar muito mais baixo, com a Argentina, infelizmente, reduzida ao padrão médio elementar latino-americano. O dólar por volta de três pesos cria uma massa de 40% da população das grandes cidades vivendo abaixo do nível de pobreza.

Mas é claro que favorece muito não só as exportações argentinas como gera uma nova elite - a dos que não acreditaram nas promessas de paridade e estavam efetivamente dolarizados nos mercados internacionais - que pode acabar comprando ativos baratos, ajudando a reordenar aos poucos o processo econômico. Também é evidente que sem um apoio eficaz do FMI e do sistema bancário internacional não há saída para o caos. Aliás, é duvidoso imaginar que os grandes bancos, sempre tão bem hedgiados, tenham perdido tanto quanto alegam. Embora não engulam desaforos, eles têm margem para colaborar com a recuperação do país e com a estabilização sistêmica global, evitando um caos maior em que podem - aí, sim - ser vítimas maiores.

É esse quadro complexo que está à espera do talento e do equilíbrio do novo ministro Lavagna.

Estamos todos torcendo por ele. Até porque nós, brasileiros, temos muito a perder com o trágico sofrimento de nossa vizinha e irmã Argentina. Somos próximos demais para alardear imunidade.


Colunistas

RACHEL DE QUEIROZ

As várias faces da violência
Diz todo mundo, mostra-se na TV, que São Paulo, Rio - e todas as grandes cidades brasileiras atravessam uma fase de i ncrível violência. As pessoas se matam nas ruas, nas favelas e nas avenidas, como o cinema conta que se matava em Chicago de Al Capone.

É verdade. Mas o pior é que não é só aqui. Não é um fenômeno particular. A violência ataca o mundo inteiro. Agora mesmo, a Alemanha, ainda está em estado de choque com a chacina no colégio Gutenberg, em Erfurt: um ex-aluno, revoltado porque fora expulso pela falsificação de um atestado médico, em apenas l5 minutos disparou 40 tiros na escola, matando 16 pessoas, entre alunos, professores e funcionários do colégio, suicidando-se depois.

Alguns dos 12 professores foram mortos como numa execução: o garoto assassino exigiu que eles ficassem de joelhos antes de matá-los com um tiro na cabeça.

Depois dessa tragédia, que abalou toda a Alemanha, retorno às aulas, agora, é sob o domínio da tensão e do medo: de repente, os professores começaram a levar a sério ameaças de alunos descontentes com notas baixas. Num ginásio de Varel, perto de Bremen, a prova de conclusão do curso foi realizada sob forte proteção policial: o diretor do ginásio recebeu uma carta em que um aluno ameaçava suicidar-se e levar com ele o maior número possível de alunos e professores. A carta revela que o autor é um fanático religioso. Ele disse que faria tudo por ordem de Deus.

No Oriente Médio - Europa, França e Bahia - só se briga, só se mata - é só tocar com o dedo um ponto do mapa-múndi, e se vai encontrar sempre sangue correndo, fogo queimando.

E daí? Mas será que não foi sempre assim? As guerras foram sempre o tema dominante na História. A verdade é que desde que o mundo é mundo, vivemos sob a marca da violência. Todo bicho maior usa o direito de matar o bicho menor, e os do mesmo tamanho batalham mortalmente entre si. Até no lar, doce lar. Mamãe castiga o bebê. Como? Com uma palmada. Ele não sabe falar, mas sabe que dói: violência educativa. Aliás, tudo não começou no Gênesis, quando o primeiro filho do primeiro casal humano matou o irmão? Eram só eles dois, mas eram dois machos, Caim sentiu que devia acabar com Abel para ficar o senhor da futura tribo.

Sim, hoje a violência é demais, e isso é terrível. A gente tem medo de mandar as crianças para a escola, de deixar os filhos adolescentes saírem para o futebol, morre-se de medo quando os jovens se juntam num bar, à noite, para um chopinho. Quem tem família tem medo de tudo! E com razão, o medo é justificado. Grande parte dos pais já teve a prova amarga na própria carne.

E volto à minha velha tese: esse agravamento da violência no mundo inteiro é porque tem gente demais neste dito mundo. Até as florestas da Amazônia, da África, da Austrália fervilham de índios, de negros, de "aborígines", como diziam os ingleses colonizadores. Os quinhões de terra e comida para cada um vão ficando cada vez menores, mais magros, e então se briga.

E isso sem falar na situação dramática dos espaços urbanos. E fora a violência pelo espaço e pelo pão, ainda existe a violência pela pura diversão, como espetáculo. Haverá nada mais brutal do que uma tourada? E o boxe? Milhares de pessoas enlouquecidas ante dois brutamontes seminus, se matando aos socos?

Nas batalhas modernas acabaram-se os combates a espada e lança, depois que se inventou a pólvora. E depois se inventou a dinamite, ainda mais mortífera. E logo se chegou à bomba atômica: uma só mata milhões. E se ainda se mantém uma paz relativa, em muitas partes da Terra, é porque uns têm medo dos arsenais dos outros. Já pensou na quantidade imensa de explosivos que existe armazenada nesses arsenais espalhados por todo o mundo? Daria, talvez, para liquidar não só com o nosso planeta, mas com todo o sistema solar!

Nos hinos e nos discursos, nas pregações religiosas clamamos que "somos todos irmãos". Verdade. Somos irmãos, desde Caim e Abel.


Editorial

A disputa pelo 'social'


A população carente de São Paulo vem sendo contemplada, nos últimos meses, com uma espécie de superoferta de programas sociais. A vontade dos governantes de ajudar os menos favorecidos é tanta que o governo estadual e as prefeituras, em especial na Grande São Paulo, acabaram na condição de "concorrentes", com idênticos programas de ações sociais disputando o mesmo público-alvo. Não há nenhuma dúvida de que toda a ajuda destinada a combater a pobreza merece apoio. Porém também não restam dúvidas de que a proximidade das eleições incentiva mudanças tão significativas no destino das verbas públicas.
O projeto Banco do Povo, lançado pelo governo do Estado - para concessão de empréstimos a pequenos empresários e cooperativas, com juros bem inferiores aos de mercado -, também foi implantado em diversas prefeituras, algumas vezes com o mesmo nome. No município de Santo André, por exemplo, a linha de "crédito social" compete com a da agência similar estadual disputando clientes pelo juro mais baixo. Os nove restaurantes do projeto Bom Prato do governo estadual, que oferecem refeições subsidiadas, também já enfrentam "concorrência". Em Guarulhos, a administração petista abriu o Restaurante Popular Solidário, bem perto da sede local do Bom Prato estadual. O preço é o mesmo - R$ 1,00 por refeição - nos dois restaurantes.
As crianças das famílias carentes da capital são atendidas pelo programa Renda Familiar Mínima da Prefeitura. Essas mesmas crianças também compõem o público-alvo do programa estadual Renda Cidadã, que segue os mesmos critérios do municipal: a permanência da criança na escola é premiada com ajuda financeira aos pais, tudo muito parecido com o programa do governo federal chamado Bolsa-escola. Desse modo, a família carente paulistana pode, enfim, comemorar o fato de as três instâncias de poder - a federal, a estadual e a municipal - estarem preocupadas com a permanência de suas crianças na escola.
Em todas as pesquisas deste período de campanha sobre o que mais preocupa o eleitor, o desemprego, ganha disparado. Por essa razão, a "concorrência" para ajudar quem não tem emprego aumentou muito. A Prefeitura de São Paulo, por exemplo, criou a Operação Trabalho que garante emprego por nove meses na limpeza de ruas ou praças por um salário de R$ 315, competindo diretamente com as Frentes de Trabalho do governo estadual que pagam bolsa-auxílio de R$ 190 mensais por quatro dias de trabalho semanais, mais a obrigatoriedade de freqüentar cursos de capacitação profissional. Oferecer empregos a jovens também é objetivo comum às administrações municipais e estadual.
Essa superoferta de programas sociais, bem-vinda por todos os títulos, cria no entanto certa preocupação com respeito ao custo final sobre os orçamentos públicos. A obrigatoriedade de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal imporá aos próximos governantes eleitos o judicioso equacionamento da conta dessa competição - que, aliás, seria menor para as prefeituras e para o governo estadual se se fizessem convênios para evitar duplicidade de esforços com idêntico objetivo. Em benefício da população, esperemos que se encontrem fórmulas capazes de manter os programas, e até de expandi-los, sem romper com a LRF e sem cair na demagogia.

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05/04/2002


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