Cirurgião plástico propõe treinar profissionais do Saúde da Família para atender queimados
José Adorno, coordenador de Cirurgia Plástica da Unidade de Queimados do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), em Brasília, sugeriu que as equipes do programa Saúde da Família recebam treinamento adequado para promoverem atendimento inicial aos pacientes com queimaduras. Para o cirurgião plástico, essa medida é mais importante que aumentar o número de centros de referência de queimaduras no país. Ele defendeu a medida em audiência pública promovida nesta terça-feira (09) pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS).
- Os centros e especialistas poderiam funcionar como multiplicadores. Os profissionais [do Saúde da Família] podem fazer a replicação da prevenção no ambiente doméstico sobre os riscos no manuseio do álcool e dos fogos de artifício. O próprio agente de saúde pode fazer isso - argumentou o cirurgião plástico.
José Adorno defendeu também que o paciente com queimadura receba o passe livre em ônibus, benefício já concedido às pessoas com deficiência. Ele listou cuidados de longo prazo, como fisioterapia permanente, necessários no tratamento de queimados. No entanto, alertou Adorno, o paciente muitas vezes não encontra centros de fisioterapia para dar continuidade ao tratamento, quando retorna a sua cidade de origem.
- A ferida foi coberta, mas não houve acompanhamento, faltou centro de referência, faltou informação, as retrações se instalam, a deficiência física é grande - observou.
A situação, enfrentada por uma maioria de crianças - entre 30% e 50% das vítimas -, é agravada, disse Adorno, pela incapacidade de os hospitais atenderem a demanda, muito superior à capacidade de atendimento. Os casos não atendidos adequadamente provocam cicatrizes incapacitantes e estigmatizantes, que dificultam, segundo ele, a convivência do sequelado em seu meio social.
Dificuldade em sensibilizar gestores
Para Roberta Maria Leite Costa, coordenadora de Queimados do Ministério da Saúde (MS), embora existam atualmente 41 centros de referência de queimados no Brasil, situados em 18 unidades da federação, ainda há dificuldade em sensibilizar governadores e prefeitos para a importância da implantação dessas unidades em seus estados e municípios, e, do mesmo modo, motivar profissionais da área da saúde para atuar com queimados.
A representante do MS deu o exemplo do município baiano de Cruz das Almas, onde há um festival com "briga de espadas" com fogos de artifício, onde está sendo implantado um centro de referência, mas não há profissionais para atender a demanda. Campanhas realizadas naquela localidade têm conseguido reduzir o número de casos, conforme ressaltou.
Roberta Costa explicou que, com a unificação da tabela de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) em 2007, foi possível a realização de procedimentos para a correção de seqüelas, como reconstrução de mama e de orelha.
Conforme informou a especialista, os casos graves de queimados, que em 2008 totalizaram 5.600 atendimentos, são os de maior custo, principalmente pelo uso de unidades de terapia intensiva e pela necessidade de realização de cirurgias e enxertos.
09/06/2009
Agência Senado
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