Coleção Brasiliana e obras inéditas justificam uma visita à Pinacoteca



São 70 obras da coleção, em que se destacam trabalhos dos artistas Rugendas, Debret e Albernaz

Uma coleção de gravuras do artista e viajante francês Jean-Baptiste Debret e o atlas desenhado a bico-de-pena pelo cartógrafo português João Teixeira Albernaz, cobrindo desde o Rio da Prata até o Amazonas, pela primeira vez em exibição ao público, são os destaques da mostra Versões e Narrativa - Coleção Brasiliana da Pinacoteca do Estado. As 70 obras em exposição representam um panorama de toda a Coleção Brasiliana, agora incorporada ao acervo do museu. Composta de 477 itens, a coleção reúne pinturas (óleo sobre tela, aquarela, óleo sobre papel e guache), desenhos e gravuras feitos por artistas viajantes europeus que aqui aportaram e registraram o Brasil e seus habitantes.

Com curadoria de Valéria Piccoli e Carlos Martins, a exposição fica em cartaz até outubro de 2008. Valéria diz que a mostra é uma seleção geral da Coleção Brasiliana, abrangendo diversos temas e artistas para que o visitante possa ter contato com a diversidade de todo o acervo. Por isso, há desde trabalhos dos pintores viajantes (cujos registros foram feitos nos séculos 17, 18 e 19 durante as expedições de reconhecimento do território brasileiro) até obras de artistas nacionais adquiridas recentemente.

Os desenhos de Debret mostram cenários, pessoas e costumes observados durante sua estada no País, de 1816 até 1831. Pintor da Missão Artística Francesa no Brasil, Debret fez os primeiros retratos da família real e organizou, em 1829, a primeira exposição de arte no País. O atlas de Albernaz pertence à série Descrição de todo o marítimo da Terra Santa Cruz. Manuscritos e aquarelados, os 31 mapas mostram o litoral brasileiro com detalhes, os acidentes geográficos e localização das povoações e fortificações. Alguns registros serviram para a Corte portuguesa conhecer as terras tupiniquins.Olhar estrangeiro – Outro documento em exposição é o Mapa do Brasil sob domínio holandês, de autoria dos artistas que acompanharam o príncipe Maurício de Nassau em suas expedições. Serviu de instrumento da ação colonizadora empreendida por Nassau, que levou parte do Nordeste brasileiro ao domínio holandês, entre 1630 e 1654. Os artistas Albert Eckhout e Frans Post faziam parte da comitiva e a coleção inclui algumas dessas obras. O desenhista alemão Johann Moritz Rugendas destacou a diversidade humana e paisagística e mostrou o contraste entre a natureza intocada e a ação degradante do homem.

O alemão Friedrich Hagedorn registrou uma vista inusitada do Pão de Açúcar, hoje ícone cultural e turístico da cidade do Rio de Janeiro. O quadro Natureza Morta com Flores do pintor brasileiro Agostinho José da Motta está na mostra. Aluno de Debret, o pintor trabalhou nas expedições de reconhecimento. Essa é a terceira exposição da Coleção Brasiliana, composta de 129 pinturas, 331 gravuras, 13 desenhos e 4 livros. A primeira foi Vistas do Brasil e a outra, Figura Humana, feitas pelo sistema de comodato com a Fundação Estudar, então detentora do acervo.

Desde 2003, a coleção está abrigada no museu. Com a doação feita pela Fundação, em setembro, à Secretaria Estadual de Cultura, passou a fazer parte do acervo da Pinacoteca. Essa é a maior coleção já recebida em cem anos de atuação do museu e complementa o seu acervo, centrado na produção do século 19, explica a curadora. O antiquário francês Jacques Kugel (Minsk, 1912 - Paris, 1985) foi o responsável por colecionar durante 40 anos as 300 obras iniciais da Coleção.

Arquivo e biblioteca – Em 1996, o acervo foi adquirido pela fundação inglesa Rank-Packard. No ano seguinte, chegou ao Brasil sob responsabilidade da Fundação Estudar, que foi acrescentando outras peças ao conjunto original. As últimas aquisições vieram de leilões no mercado brasileiro. A fundação era responsável pelo trabalho de conservação, catalogação, pesquisa, divulgação e manutenção, que agora fica sob responsabilidade da Pinacoteca e da pasta da Cultura.

A Pinacoteca recebeu também um Arquivo Documental e uma Biblioteca especializada (de 500 volumes) com registros das obras de todos os artistas, que ficarão disponíveis a historiadores e pesquisadores. A biblioteca reúne livros, catálogos, periódicos nacionais e internacionais, pesquisas acadêmicas e coleções de museus ou particulares.

SERVIÇO

Versões e Narrativas – Coleção Brasiliana
Pinacoteca do Estado – Praça da Luz, 2, Bom Retiro
Telefone (11) 3324 1000
De terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas
Até outubro de 2008.
Ingresso: R$ 4,00 (grátis aos sábados)

De Claudeci Martins, da Agência Imprensa Oficial

(C.C.)



11/03/2007


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