Comunidade carente faz terapia com equitação
Trabalho é realizado há 14 anos pelo Regimento de Cavalaria 9 de Julho, da PM
“Uma vez nós falamos para a mãe de uma menina com síndrome de Down que a criança podia fazer ‘isso’. Essa mãe passou a chorar de tal maneira e desabafou: ‘Passei 12 anos da minha vida ouvindo o que a minha filha não podia fazer. É a primeira vez que escuto o que ela pode’”, lembra, emocionada, a fonoaudióloga Lenora Canini Ávila, que, com outros profissionais da saúde, atua voluntariamente com policiais militares no trabalho social de equoterapia desenvolvido há 14 anos pelo Regimento de Cavalaria 9 de Julho, da Polícia Militar.
Crianças e adultos paraplégicos – com síndromes de diferentes naturezas (Down, Pett, West, Asperger e Noonan), autistas, portadores de deficiência auditiva e vítimas de paralisia cerebral – participam durante um ano da atividade. Montam em animais de meia tonelada e conseguem mudar sua perspectiva social. “Muitos de nossos praticantes chegam em cadeira de rodas, acostumados a ver tudo por baixo; quando montam, passam a enxergar o mundo de cima, o que causa uma sensação de poder”, enfatiza Lenora.
A equoterapia desenvolvida na Cavalaria da PM conta com o trabalho voluntário de fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e pedagogos. Essa atuação conjunta proporciona nova forma de tratamento das deficiências, para desenvolver equilíbrio, coordenação motora, fortalecer o tônus muscular, proporcionar autoconfiança, independência, socialização, orientação espacial, raciocínio, entre outros aspectos da reabilitação física, psíquica e social.
Além do picadeiro – Todas as segundas e terças-feiras à tarde, 20 praticantes chegam ao Regimento de Cavalaria, no centro da capital, e seguem direto para o picadeiro de 20 metros por 60 metros. Montados a cavalo, são acompanhados pelos terapeutas e por um policial condutor do animal. A ansiedade toma conta do grupo, enquanto todos esperam o picadeiro se abrir, para começar os 30 minutos do tratamento, que mais parece uma brincadeira.
Lena Maria Ribeiro conta que o filho não faltou um único dia do tratamento, nem no inverno. “O Alan adora! Na véspera da aula, fica se preparando, vai até a geladeira, pega a cenourinha do cavalo e arruma na sacolinha”. Um atraso na fala fez a mãe de Alan Ribeiro, de 16 anos, procurar o projeto.
O trabalho vai além da montaria no picadeiro. “Imitamos os sons dos animais, como um cavalo que relincha e outro que bate na porta da baia. Isso é uma nova motivação”, ressalta a fonoaudióloga.
Esse é apenas um dos recursos terapêuticos que a equoterapia proporciona. A criatividade dos profissionais participantes do projeto possibilita outros usos. “Pode-se trabalhar Matemática a cavalo. Tenho duas patas da frente, com duas patas atrás, dois mais dois são quatro, eu vou fazer contas com as patas do cavalo. Uso as letras do adestramento que estão pintadas no picadeiro para trabalhar vocabulário”, exemplifica Lenora, que atua na área há nove anos.
Marília Taufic, da Secretaria da Segurança Pública
10/25/2007
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