Congresso fica devendo leis antiviolência
Congresso fica devendo leis antiviolência
BRASÍLIA - Deputados e senadores correm o risco de disputar as eleições deste ano sem apresentar soluções para um dos problemas que mais aflige os brasileiros: a violência. Apesar das promessas de empenho para para votar os 24 projetos que constam no relatório final da Comissão Mista de Segurança Pública, os parlamentares sabem que não há tempo hábil para isso. ''Se conseguirmos votar cinco ou seis deles, está bom demais'', admite o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS). A mais recente pesquisa Sensus para a Confederação Nacional do Transporte mostra que o tema da segurança só perde para o desemprego na lista de preocupações do eleitor.
O relatório final da Comissão foi entregue há dois dias aos presidentes do Senado, Ramez Tebet, e da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG). Reuniu três propostas de emenda constitucional e 21 projetos de lei dentre os mais de 300 relacionados à segurança que há anos tramitam no Legislativo. Na relação estão projetos sobre porte de arma, tráfico de drogas, novas regras para tipificação de crimes como o seqüestro-relâmpago, unificação das polícias e aumento de pena para os casos de corrupção.
Para receber o relatório, discursos otimistas, sorrisos para fotógrafos e promessas de acelerar as votações dos projetos. Depois, Aécio e Tebet reuniram-se a portas fechadas, por mais de uma hora para tentar uma saída mais realista. Uma idéia levantada por Tebet é iniciar no Senado a tramitação dos projetos originários naquela Casa. Aécio comprometeu-se a fazer o mesmo na Câmara. ''Sabemos que é um ano atípico, por conta das eleições'', ponderou o tucano. ''Mas vamos abrir espaço prioritário na pauta para esse assunto tão importante.''
As três propostas de emenda constitucional estão fora desse esforço porque precisam de quorum elevado para aprovação - 308 dos 513 deputados e 49 dos 81 senadores, com duas votações em cada Casa. Em ano eleitoral é praticamente impossível contar com plenário cheio. Na prática, só restam seis semanas de trabalho legislativo.
Podem ficar para 2003 temas como a criação de guardas municipais armadas, a unificação das polícias e a instituição do Fundo Nacional de Segurança Pública, que recolherá 5% de todos os impostos arrecadados para a União, Estados e Municípios.
O relator da Comissão, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), reconhece as dificuldades, mas aposta num jeitinho para que os assuntos sejam avaliados. ''Sabemos que existem os ritos regimentais, mas acreditamos que o rito político possa superar tudo isto'',disse.
A Comissão foi criada em janeiro deste ano, no embalo da onda de seqüestros que assolou cidades como Campinas e São Paulo.
Presidente pede humildade a Lula
Fernando Henrique lembra o próprio fracasso eleitoral, em 1985, e aconselha o candidato petista a não usar ''salto alto''
O presidente Fernando Henrique Cardoso recomendou humildade a Luiz Inácio Lula da Silva durante o processo eleitoral. Em Carajás, no Pará, reclamou de sugestão feita pelo candidato do PT ao Palácio do Planalto, líder nas pesquisas de opinião, pedindo que ele não tome medidas importantes até o fim do ano.
''Ninguém deve botar sapato alto antes da hora. Os que já fizeram isso, como eu próprio, que já sentei em cadeira errada, sabem que não se deve repetir'', disse o presidente. Ele referia-se a episódio de 1985, quando concorria à prefeitura paulistana e se deixou fotografar na cadeira do prefeito antes do resultado da eleição. FH era o favorito, mas as urnas deram a vitória a Jânio Quadros. ''Ele (Lula) está dizendo o que que devo fazer até o fim do meu mandato. Espera lá, um pouco de humildade é bom, ajuda'', afirmou.
Até a eleição, Fernando Henrique disse esperar que Lula se informe melhor e aguarde os resultados. Só então, concluiu, o petista poderia dar lições de governo. Apesar da observação, o presidente se mostrou satisfeito em ver idéias suas adotadas pelo adversário. ''Pelo que estou vendo o PT dizer, não vai fazer muita coisa diferente do que estou fazendo, não!'', afirmou, citando projetos da área de energia, com participação de capital externo. Ao comemorar o 1° de maio num evento da Central Única dos Trabalhadores, em Santo André (SP), Lula preferiu adotar um discurso de tom humilde. ''Já perdi três eleições e não quero perder a quarta. Sem sapato alto, estou conversando com todo mundo'', observou.
A campanha presidencial foi tema de editorial do jornal inglês Financial Times. A publicação sustenta ser remota a possibilidade de vitória do candidato petista. Caso isso aconteça, diz o texto, os investidores não precisam se preocupar. ''Um governo do PT não deverá ser tão radical quanto algumas pessoas pensam'', afirma o editorial. A candidatura de José Serra, do PSDB, também foi avaliada. O Financial Times sugere que o governo procure outro nome se o ex-ministro da Saúde não empolgar o eleitor nos próximos meses.
''Pode o Brasil estar a ponto de virar à esquerda?'' é a primeira frase do texto. Se depender da opinião do jornal, a resposta é não. ''Para começar, Lula, sempre esteve na frente das pesquisas e perdeu as três últimas eleições'', argumenta. E sustenta sua tese ponderando que o candidato do governo ainda não entrou na briga pra valer: ''José Serra ainda não lançou sua campanha de verdade''. E continua: ''Mais gastos com publicidade e as próximas aparições na TV deverão fazer com que Serra ganhe pontos nas pesquisas''.
O jornal, contudo, alerta para a possibilidade de o candidato de FH não crescer. ''Se depois de tudo isso o pouco carismático José Serra não impressionar o eleitorado, a coalizão do governo ainda tem dois meses para optar por outra alternativa'', sugere.
Na mesma linha do editorial, o Financial Times também publicou uma reportagem avaliando os riscos paa investimentos no Brasil e a conjuntura política do país. Não faz previsões alarmantes.
Em Carajás para o lançamento do projeto ''Cobre do Sossego'' da Companhia Vale do Rio Doce, que dará início à produção de cobre no Brasil, Fernando Henrique disse não acreditar que o PFL sugira ao PSDB que troque Serra por outro candidato ao Planalto. ''Só posso rir, mas não creio que vão insistir nisso'', disse, ressaltando que não deve haver restrições a candidatos de outros partidos.
Dia do Trabalho em ritmo de campanha
Nas comemorações do 1° de Maio, sobrou trabalho para dois candidatos à Presidência da República. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS) aproveitaram os eventos promovidos pelas centrais sindicais e não hesitaram em subir ao palanque. Os discursos políticos disputaram espaço com shows - quase sempre curtos e dublados - e sorteios de carros e apartamentos. Com José Serra e Anthony Garotinho fora da festa, o cenário ficou polarizado: Lula bateu ponto nos atos públicos da Central Única dos Trabalhadores e Ciro ganhou apoio explícito da Força Sindical.
O candidato do PPS teve motivos de sobra para celebrar: fez campanha para 1,5 milhão de pessoas no megashowmício da Força na capital paulista. Subiu no mesmo palco em que Ivete Sangalo, Wanessa Camargo e outros 38 artistas se apresentaram. Foi elogiado pelos líderes sindicais e pediu aos brasileiros que analisem cada concorrente antes de votar.
Um helicóptero alugado pela CUT garantiu a presença de Lula nos quatro eventos promovidos pela Central no Estado de São Paulo. Sempre anunciado como ''o próximo presidente do Brasil'', o petista criticou a política econômica do governo e prometeu lutar pela criação de empregos. A maratona começou com uma missa em São Bernardo e terminou com um discurso em Santo André.
'Vamos serrar', pede Zito
Os assessores de marketing de José Se rra podem até não aprovar e provavelmente não farão uso dele, mas um novo slogan para o candidato do PSDB à Presidência da República já foi lançado e será propagado tanto quanto for possível, ao menos na Baixada Fluminense, se depender do coordenador da campanha do tucano no Rio - e eventual marketeiro -, José Camilo Zito. ''Vamos serrar! Estamos serrando, vamos serrar!'', gritava o polêmico prefeito de Duque de Caxias, ontem, em caminhada com Serra pela cidade que administra. O ex-ministro da Saúde ria constrangido, mas não fez nenhuma censura à idéia do correligionário.
A visita não estava programada e pegou tanto Zito quanto a cidade de surpresa. O feriado deixou as ruas vazias. O anfitrião trocou uma viagem de descanso por receber Serra e cumprir a palavra de ciceroneá-lo pelo Estado, com o intuito de transferir para ele sua popularidade local. Sem palanques para subir, nem grandes concentrações de público para discursar - como fizeram em São Paulo os rivais Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS) - restou a Serra o corpo-a-corpo com os escassos moradores que aproveitavam o dia nublado de folga nas praças públicas. ''Ele gosta é disso aí mesmo, andar no meio de aglomerações'', dizia Zito.
Em mangas de camisa, o candidato circulou pelos quatro distritos do município, distribuindo sorrisos e cumprimentou a crianças e trabalhadores. Os dois pretendem repetir a experiência por outras cidades do Estado uma vez por semana. A tomar pelo comentário de Zito, após a despedida, foi ele a estrela principal do passeio. ''Fui mais festejado que ele. É natural porque sou o prefeito do município, estou sempre junto da população e tive 82% dos votos.''
PPS gaúcho apóia Britto
BRASÍLIA - Surgiu no Rio Grande do Sul, uma informação animadora para os setores do PT e do PSDB que apostam tudo na desestabilização da candidatura Ciro Gomes, do PPS. O diretório gaúcho do partido aprovou resolução defendendo a candidatura Antonio Britto ao governo do Estado. Sem canal de interlocução com o PDT e o PTB - partidos que dizem apoiar Ciro mas rejeitam parceria nas disputas estaduais -, os ex-comunistas deram carta branca para Britto procurar apoio político onde quiser.
Antonio Britto começará pelo PFL local, o que acaba com a esperança de reconciliação com o PDT de Leonel Brizola. Ao cortejarem o PFL para apoiar Ciro, PTB e PDT desencadearam uma crise com o presidente do PPS, Roberto Freire (PE). Atentos às brigas na Frente Trabalhista, tucanos e petistas se animam com a perspectiva de conquistarem nacos do espólio.
O comando da campanha de José Serra, do PSDB, há muito trabalha com o cenário de aliança que inclui parte significativa do PTB. Na cúpula do PT, há quem aposte que Luiz Inácio Lula da Silva pode ainda vir a se beneficiar de um entendimento com Ciro. Interpretam como aceno concreto os rasgados elogios que o candidato do PPS à Presidência têm dedicado a Lula. Ciro foi o único a apoiar a proposta de Imposto de Renda escalonado sobre salários, apresentada pelo petista.
Roberto Freire (PPS-PE) contra-ataca. ''O PPS só não terá candidato se o Ciro não quiser'', diz. Tenta minimizar o quanto pode as divergências na Frente Trabalhista e o clima de cizânia imposto pela exclusão do PPS dos planos estaduais do PTB e PDT. ''O Palácio do Planalto e o PT, que perderá mais uma vez, estão muito satisfeitos com tudo isso. Eu não estou nada satisfeito.'' Freire utiliza estatísticas eleitorais para desdenhar as críticas de Brizola e do PTB. ''Em 1998, Ciro teve 11% dos votos apenas com apoio do PPS'', lembra.
São muitas as divergências na aliança nacional de apoio a Ciro Gomes. Hoje, Freire tentará convencer Fernando Bezerra, prefeito de Petrolina - a maior cidade do sertão pernambucano - a não aderir à coligação branca em torno do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), candidato à reeleição. Mas o fato é que a aliança de sustentação de Ciro, firmada entre PTB, PDT e PPS, pode sair dividida em pelo menos 13 Estados. O comando do PPS, no entanto, diz acreditar que é possível montar um palanque único na maioria dos Estados. Só não imagina solução para o Rio Grande do Sul e o Paraná.
Garotinho quer ser o Papai Noel do povo
SÃO PAULO - ''Serei o Papai Noel do povo brasileiro''. O autor da promessa é o ex-governador do Estado do Rio de Janeiro e candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho. A frase serviu como resposta a um jornalista que lhe perguntou se ele seria ''o algoz dos banqueiros''. Anteontem, Garotinho havia afirmado, em um comício em Recife (PE), que o presidente Fernando Henrique Cardoso era ''o Papai Noel dos banqueiros'' e que ''se fosse banqueiro, também votaria em José Serra''. Era uma referência aos sete anos de governo FH, período em que os bancos obtiveram altos lucros e cresceram.
Garotinho, que ontem inaugurou seu comitê de campanha em Bauru (SP), voltou a criticar os bancos de investimento norte-americanos Merrill Lynch e Morgan Stanley, que nesta semana recomendaram aos clientes diminuir os investimentos nos títulos da dívida brasileira, por causa da liderança do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, nas pesquisas de intenção de voto na eleição presidencial.
No discurso para os filiados do PSB que acompanharam a inauguração do comitê, Garotinho atacou a política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. ''A responsabilidade sobre a economia brasileira não cabe a nenhum candidato de oposição. Nos sete anos de governo FH, a dívida interna cresceu e hoje o país é responsável por 10% da dívida externa mundial'', disse o socialista. ''Se alguém deve ser responsabilizado por isso é Serra, o candidato dos banqueiros.''
Garotinho, que tem parentes em Bauru e lá esteve recentemente, considera a cidade ponto-chave para conquistar votos no interior do Estado de São Paulo, região em que não conta com grande popularidade. São Paulo é o maior colégio eleitoral do país e, portanto, é considerado crucial por todos os concorrentes das eleições para a Presidência da República. Garotinho inaugurou a nova sede ao lado do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar.
Justiça decide o futuro político de Cristovam Buarque
BRASÍLIA - Nome cotado para ser o vice de Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque pode ter o futuro político decidido hoje. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julga recurso para suspender a condenação do ex-governador, declarado inelegível e punido com pena de três meses de serviços comunitários.
Cristovam foi declarado culpado em março de 2001 por desobedecer ordem judicial de retirar cartazes com publicidade, quando disputava reeleição, em 1998. Na verdade, o petista enviou ofícios às secretarias pedindo o recolhimento imediato, mas alguns outdoors não foram retirados pelos funcionários do governo. Na semana passada, a ministra Ellen Gracie Northfleet negou liminar pedida em uma ação cautelar.
Provável candidato ao Senado, Cristovam lidera todas as pesquisas de intenção de voto em Brasília. Mas entre as três possíveis decisões do TSE, uma delas pode ser fatal para seu futuro político. Se for negado o efeito suspensivo e o Ministério Público pedir a execução da pena, Cristovam terá de prestar serviços à comunidade. ''O que é um absurdo, já que eu presto serviços à comunidade com prazer e não como pena'', diz o ex-governador. O TSE pode ainda arquivar o processo - adiando duas semanas o julgamento - ou conceder o efeito suspensivo, livrando Cristovam da pena.
Substituto economiza viagem
BRASÍLIA - Quando o presidente Fernando Henrique Cardoso viajar para o exterior, como já vai ocorrer no dia 17, o vice-presidente da República, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado - seus substitutos constitucionais, pela ordem - não serão obrigados a deixar o território nacional, a fim de se manterem elegíveis.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por unanimidade de seus membros, respondeu afirmativamente à consulta formal do deputado Aécio Neves (PSDB-MG), presidente da Câmara, sobre a possibilidade de os substitutos do presidente da República - candidatos a diferentes cargos nas eleições de outubro - simplesmente ''passarem'' a interinidade ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), sem que tenham de cruzar uma das fronteiras do país.
Assim, Marco Maciel (PFL-PE), Aécio Neves (PSDB-MG) e Ramez Tebet (PSDB-MS) não vão precisar gastar dinheiro com viagens aos países vizinhos para manter a condição de elegíveis, seja para o Senado, seja para um dos governos estaduais.
O parágrafo 1° do artigo 1° da Lei de Inelegibilidade (Lei Complementar 64/90) dispõe que, para concorrer a ''outros cargos'', o presidente da República deve deixar o posto até seis meses antes do pleito (6 de abril). Ao assumir a Presidência, ainda que em caráter interino, os substitutos ficariam, portanto, inelegíveis.
Artigos
O 'marketing' do pleito eleitoral
Gaudêncio Torquato
Consultor político
Como será o marketing da campanha deste ano? A resposta pode, até, gerar polêmica entre marqueteiros e consultores, mas algumas ênfases parecem consensuais: o foco estará mais na substância do discurso do que na forma; a articulação com a sociedade organizada será privilegiada; a pesquisa qualitativa ganhará lugar mais central; as estruturas operativas serão mais enxutas e profissionalizadas; os materiais de comunicação deverão ser menos poluídos e com linguagem mais direta; os valores que formam a personalidade dos candidatos ganharão realce.
As campanhas procurarão ser mais objetivas, menos onerosas, mais despojadas e com relação mais adequada na equação custo/benefício. O fato é que, ao correr das três últimas campanhas eleitorais, o marketing eleitoral transformou-se em espaço para experiências diversificadas, propostas estapafúrdias, exageros e extravagâncias cosméticas e modelos importados, que acabaram pasteurizando os programas televisivos. A mcdonaldização do marketing político, além de expurgar os molhos regionais, inflacionou o mercado, a ponto de certos herdeiros e cultores desse modelo, amparados no sofisma de que se a coisa deu certo ontem, dará certo hoje, estarem tentando prender candidatos na corrente do velho modelo.
Ora, o eleitorado está mais exigente. Considera-se ludibriado pela exacerbação do marketing nas últimas campanhas. Quer propostas objetivas. Por isso mesmo, a força do conteúdo prevalecerá sobre a cosmética da forma.
Nos últimos anos, as entidades de defesa dos grupos sociais ganharam força. Os candidatos precisam se amparar na força de grupamentos organizados, que formam opinião e difundem idéias. As cidades grandes e médias deverão ocupar mais o tempo dos candidatos, pela lógica de priorização das densidades eleitorais. Os comícios e eventos de menor proporção deverão ser multiplicados e serão mais eficazes que os grandes showmícios.
As pesquisas servirão para se extrair as molduras mentais e as estruturas de pensamento do eleitorado. Mas pesquisa, tanto qualitativa como quantitativa, precisa ser bem lida e interpretada. Os programas de televisão e rádio hão de ser bem concebidos, claros, limpos, tecnicamente bem feitos e, sobretudo, honestos.
A unidade é um dos maiores desafios de uma campanha política; programas, propostas, mobilização, articulação e agenda do candidato devem estar sintonizados e integrados. Daí a importância do estrategista. Trata-se do profissional que olhará a campanha de fora para dentro, analisando as pesquisas, sugerindo abordagens, corrigindo posições, comparando o discurso e a postura dos adversários, redimensionando as ações, observando o ritmo e o fluxo das ações durante as fases principais, que são a pré-campanha (maio/junho), o lançamento (junho), o crescimento/maturidade (julho/agosto), a consolidação (setembro) e o clímax (final de setembro/primeira semana de outubro).
Campanha bem-sucedida será resultado de um bom candidato, estrutura operacional e administrativa profissional, discurso adequado (com propostas simples e viáveis), comunicação eficaz, articulação eficiente com a sociedade organizada e aproveitamento maximizado dos espaços e do tempo. Não há como contar com o imprevisível.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
E a frente dá para trás
Essa história de junção de correntes diferentes, em geral, não dá certo, a não ser que haja um objetivo comum muito claro e com efeito mobilizador suficiente para que as diferenças fiquem em segundo plano. Foi assim com o MDB, no qual se juntaram todos os que se sentiram no dever de derrubar, pela via institucional, o regime militar. Ainda antes deste chegar ao fim formalmente, as divergências afloraram e, com o fim do bipartidarismo e a volta dos exilados, a partir de 1979, cada grupo tomou o seu rumo e a oposição aos militares fragmentou-se em vários partidos.
Numa proporção muito menor, mas de fundamento parecido, a união de PSDB e PFL - adversários da época referida acima -, teve como objetivo alegado um projeto de Brasil que incluía reformas estruturais e a busca da estabilidade econômica baseada em fundamentos sobre os quais ambos os partidos apresentavam concordâncias básicas. Mas, mesmo assim, logo que se consolidou o controle da inflação, não como instrumento de governo, mas como valor social, as divergências surgiram e foi o que todo mundo assistiu ao longo desses últimos anos: os problemas que verdadeiramente atingiram o Planalto não foram criados pela oposição, mas pelos aliados.
Tanto que não se pode atribuir ao PT ou a outras forças de esquerda, o fato de muitas reformas terem ficado incompletas. Levaram a fama, pois eram mesmo contra várias mudanças propostas, mas quem tinha força política e interesses arraigados no Estado eram aqueles que se entranharam no poder pós-1964 e, em determinado momento, consideraram que reformas têm limites. Algumas conseguiram barrar, mas outras tiveram de engolir.
Com certeza absoluta há no PFL quem não veja graça alguma no fato de o governo ter perdido a prerrogativa de distribuir concessões de rádio em troca de votos no Congresso. Aqueles empregos nas ineficientíssimas empresas de telecomunicações pelos Estados também instalam banzo em corações conservadores.
Mas esse preâmbulo todo tem, aqui, a única função de sustentar a tese inicialmente exposta, segundo a qual diferentes não se juntam impunemente sem objetivos fortes e claros. E por que a defesa de tal tese?
Apenas para demonstrar uma impossibilidade tão óbvia que surpreende pela longevidade: a aliança do PPS, PTB e PDT chamada de Frente Nacional Trabalhista, ou Trabalhista Nacional, tanto faz, porque o que vale é a ausência de identidade mínima entre seus integrantes. O antigo PCB, ao abrigar a filiação de Ciro Gomes e apoiar a candidatura dele em 1998, acreditou no discurso da nova conformação de centro-esquerda que poderia significar nova força no Brasil, capaz de unir setores de fato interessados no avanço, de forma a permitir a dispensa de eternos acertos com o atraso.
Foi assim até que o PTB, aliado do governo Fernando Henrique, aborrecido com a falta de melhores oportunidades naquela congestionada seara e, animado com a expectativa de boa performance de Ciro Gomes, exercitou seu já famoso senso de oportunidade e aderiu.
O PDT acoplou-se mais recentemente em virtude da falta de opção, por causa das brigas de Leonel Brizola com o PT e o PSB. Brizola impôs a condição de indicar o candidato ao governo no Rio Grande do Sul, o acordo aparentemente foi firmado, mas, no meio do caminho, surgiram dificuldades de origem ainda nebulosas, que acabaram por afastar os parceiros.
As alegações de parte a parte até agora parecem todas fantasiosas, o que autoriza a conclusão de que a realidade é mais simples: andam loucos para se livrar um do outro porque nada os une, tudo os afasta. Se lembrarmos do motivo que fez a crise eclodir em público, veremos como é falsa a alegação de cunho político.
Tudo começou com o desejo do PTB, do PDT e do próprio candidato de aceitar apoio do PFL, nunca proposto. O presidente do PPS, senador Roberto Freire, resistiu não apenas pela impossibilidade ideológica de se juntar aos pefelistas, mas também pela inexistência da proposição. Enxergava ali um truque do PFL para posicionar-se melhor junto ao interlocutor de fato desejado: o governo federal.
A confusão assumiu contornos de guerra civil e agora onde é que está mesmo posta a hipótese de o PFL apoiar Ciro Gomes?
Pois é. O que mostra que quando as coisas carecem de objetivos claros, acabam sempre dando a impressão de que são pautadas por intenções inconfessáveis. Dessa forma, eis que se encontra a tal frente na situação daquela que foi sem nunca ter sido.
E, agora, com o nível de irritação que se instalou à alma do dono da ficha de filiação de Ciro Gomes, Roberto Freire - apontando injustamente como o causador de todos os males -, a candidatura propriamente dita pode até sair, mas não será aprovada sem turbulências e contestações na convenção do PPS que, em junho, terá de referendar o nome de Ciro.
Editorial
DESAFIO DO CRIME
O problema da segurança no Estado do Rio continua maior do que as soluções tentadas. O comandante da PM, coronel Francisco Braz, deixou a reunião preparatória da Ação de Emergência contra a Violência para comandar a batalha urbana, também de emergência, entre traficantes e policiais militares. Moradores do Complexo do Alemão incendiaram nove ônibus em protesto contra a morte de um menino de dez anos atribuída a um soldado em ação.
A cena era comum, a oportunidade não. O comandante da PM foi recebido com hostilidade por meninos da favela que faziam com os dedos da mão as iniciais do Comando Vermelho como repulsa à presença da lei no local. A polícia está empenhada em dar aos cidadãos a sensação de maior segurança em seis meses, sem se afastar dos direitos humanos. A ação integrará policiais civis e militares. Nada menos de 20 mil policiais serão preparados para não expor a população a riscos.
A prioridade absoluta no Rio continua a ser a falta de segurança da sociedade. A situação se caracteriza pela falta de controle sobre o crime, apesar da boa vontade e do empenho demonstrado pelos dois últimos governos. A recepção hostil atenta contra o sentido da presença do comandante da PM no teatro de operações. Esta é a medida do que é preciso fazer com mais empenho, menos tempo e melhor resultado.
Não há a menor dúvida: não se espera segurança até que seja estabelecido novo padrão de organização policial, de inteligência, comando e controle. Só a completa mobilização do aparelho policial, com recurso e preparação, será capaz de articular a resposta que a sociedade espera. Tomara que a resistência burocrática não a retarde.
A lição dos países que passaram por situação igual (ou pior) é que os padrões policiais já superados pelo crime organizado terão de ser substituídos. Impõe-se uma nova estrutura, novos conceitos e padrões para devolver aos cidadãos o direito de trabalhar e viver em paz. Ao direito dos cidadãos à segurança corresponde a obrigação do Estado.
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05/02/2002
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