Congresso Nacional reverencia memória de Chico Mendes



Para marcar os 20 anos do assassinato do seringueiro, líder sindical e ambientalista Chico Mendes, ocorrido em 22 de dezembro de 1988, o Congresso Nacional realizou sessão solene com a presença dos ministros da Justiça, Tarso Genro, e do Meio Ambiente, Carlos Minc, e do secretário especial dos Direitos Humanos, ministro Paulo Vannuchi. Na tribuna, os ministros chamaram a atenção para o fato de que a violência continua a ser usada ainda hoje contra os defensores da Floresta Amazônica.

Tarso Genro disse que no próximo dia 10, no Acre, a Comissão de Anistia fará o julgamento do pedido da família de Chico Mendes para considerá-lo como anistiado político. A Lei de Anistia envolve as perseguições políticas de 1946 a 1988. Tasso Genro referiu-se ainda a uma expectativa sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à Reserva Indígena Raposa Serra do Sol.

A senadora Marina Silva (PT-AC), parceira de Chico Mendes nas lutas dos seringueiros dos anos 80, afirmou que aquele assassinato, à época visto como uma derrota desses trabalhadores, hoje pode representar uma vitória, pela amplitude conquistada pelo movimento ambientalista do qual Chico Mendes era líder.

- Há vinte anos tínhamos um grupo muito pequeno que apoiava essa luta. Passaram-se vinte anos e ampliamos o número de amigos no Brasil e em todo o mundo - disse Marina Silva.

Entre os amigos do movimento dos seringueiros à época, Marina Silva citou, entre os brasileiros, o atual ministro Carlos Minc e a atriz Lucélia Santos e, na esfera internacional, o então senador norte-americano Al Gore que, à época do crime, viajou ao Acre para prestar solidariedade à família e aos companheiros de Chico Mendes.

Marina Silva disse que a reserva extrativista criada no governo do então presidente José Sarney foi a primeira vitória do movimento liderado por Chico Mendes.

- Em 2003, o Brasil tinha cinco milhões de hectares de reservas extrativistas e hoje, cinco anos depois, já tem onze milhões de hectares dessas reservas, beneficiando mais de cinqüenta mil famílias em todo o Brasil. Esse é o legado de Chico Mendes - declarou a senadora.

O líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), ressaltou que Chico Mendes sacrificou a vida pela causa dos seringueiros, da floresta e de seu desenvolvimento sustentável. Casagrande disse que a foto de Chico Mendes exibida durante a sessão do Congresso mostrava uma alegria serena e um certo sarcasmo com os adversários.

- Era como se Chico Mendes estivesse dizendo: 'Vocês pensaram que iriam destruir minha luta, mas o que fizeram comigo multiplicou a vontade de atuar de muitos

ambientalistas no Brasil e no mundo' - disse Casagrande.

Por sua vez, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) propôs uma vigília do Congresso em defesa da preservação da Floresta Amazônica e da soberania brasileira sobre a região. Cristovam lembrou que, quando reitor da Universidade de Brasília (UnB), inspirado por Chico Mendes, que conheceu à época, convidou um seringueiro para passar seis meses na UnB, transmitindo seus conhecimentos e valores ambientalistas para alunos e professores. Cristovam registrou que, apesar de ser professor de Economia Brasileira, quase nada sabia sobre a economia dos seringais.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que a truculência da qual Chico Mendes foi vítima continua em ação no Brasil de hoje. Segundo o senador, foi a mesma truculência que levou ao assassinato da irmã Dorothy Stang e de líderes sindicais rurais na Amazônia e em outras regiões do país.

- Chico Mendes e Marina Silva se tornaram pessoas conhecidas no movimento dos trabalhadores rurais e de posseiros da Amazônia, apoiados pela Igreja progressista e pelo nascente movimento ambientalista presente na Rio-92 - lembrou Suplicy.

A sessão contou ainda com a participação de alunos de uma escola pública de Brasília. As crianças apresentaram trabalhos sobre a História do Brasil do ponto de vista dos povos indígenas e dos escravos africanos. Eles retrataram alguns momentos da história do país desde o século 16.

- Sonhamos com um Brasil com mais heróis e poucos mártires - disse a professora Raquel, ao final da apresentação.

Participaram também da sessão a viúva de Chico Mendes, Ilzamar Mendes, e seus filhos. Estavam presentes, ainda, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), o fundador da Aliança pelos Povos da Floresta, Ailton Krenak, o ex-governador do Acre Jorge Viana, representantes do Comitê Chico Mendes e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, entre outros.

A homenagem foi proposta pelos senadores Tião Viana (PT-AC), Marina Silva (PT-AC) e Cristovam Buarque (PDT-DF) e apoiada por diversos parlamentares.



03/12/2008

Agência Senado


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