CONSELHEIRA DO CADE DIZ QUE AIRTON SOARES CRIOU VERSÃO DO SUBORNO



A conselheira do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) Hebe Romano, relatora do processo de fusão das cervejarias Brahma e Antarctica na empresa Ambev, acusou nesta quarta-feira (dia 15) o advogado e ex-deputado Airton Soares de ter criado a versão de suborno de dois conselheiros do Cade por concorrentes da nova companhia. Durante depoimento na Comissão de Fiscalização e Controle, requerido pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL), Hebe assumiu inteira responsabilidade pelo processo de fusão, mas acusou de vazamento de informações para a imprensa o delegado da Polícia Federal responsável pelo inquérito sobre a atuação de Soares.Diante das acusações da conselheira, o presidente da comissão, senador Romero Jucá (PSDB-RR) propôs a requisição dos autos do inquérito como única forma de esclarecer o caso. O requerimento foi aprovado após a sessão de perguntas a Hebe, ao presidente do Cade, Gesner de Oliveira, e demais conselheiros do órgão.Segundo a relatora do processo de fusão, em dezembro do ano passado Airton Soares, representante da distribuidora Antarctica Abradisa, usando de conhecimento e relação profissional que já havia mantido com ela no Ministério da Justiça, procurou-a para dizer que a Cervejaria Kaiser tinha verba de R$ 20 milhões para "combater a fusão", e que dois conselheiros já haviam sido subornados. Preocupada, não com a possibilidade de suborno, mas com a eventualidade de que alguém estivesse achacando empresas em nome do órgão, Hebe relatou a conversa com Airton ao ministro da Justiça, José Carlos Dias, de quem o advogado se dizia amigo. "Essa é mais uma do Aírton", teria afirmado o ministro à conselheira. Em seguida, determinou à Polícia Federal que abrisse inquérito para investigar o caso.Hebe contou aos senadores que era contra o inquérito por entender que a versão de Airton tinha tudo para ser fantasiosa, podendo inclusive ser desmentida mais tarde pelo advogado, quando os nomes de pessoas inocentes já tivessem aparecido no inquérito. Contudo, a investigação foi aberta. O que ocorreu, na opinião da conselheira, é que o delegado, além de obrigá-la a informar sobre nomes e aspectos que ela considerava um direito seu manter em sigilo, arrolou no inquérito o marido de Hebe, Mário Júlio Pereira da Silva, que tomou satisfações com Airton pela forma como abordou a conselheira. Além disso, o delegado teria vazado para a imprensa as suspeitas de suborno e de um suposto envolvimento de Mário Júlio com Airton.Com base nessas informações, o caso ganhou indevida repercussão na imprensa, segundo Hebe, apesar de outros esforços dela para garantir a integridade do Cade no episódio.- Procurei as empresas, inclusive a Kaiser, para alertar sobre a possibilidade de que alguém estivesse agindo em nome do Cade - informou Hebe. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) perguntou à conselheira Hebe Romano se a campanha publicitária patrocinada pelas empresas interessadas no processo de fusão estaria interferindo na análise do processo. A relatora respondeu que está tirando proveito da guerra de propaganda, pois as acusações mútuas estão ajudando a instruir o processo e fornecendo subsídios para novas diligências. O senador também manifestou convicção na seriedade do procedimento dos membros do Cade na análise do caso.

15/03/2000

Agência Senado


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