Conservadores se viram para Ciro









Conservadores se viram para Ciro
ESTADOS UNIDOS - O candidato governista ao Planalto está afundado nas pesquisas. Quem pode impedir a esquerda de vencer a eleição de outubro e manter o mercado em "mãos amigas"?

É a pergunta lançada pelo jornal que também responde: Pode ser Ciro Gomes, ex-ministro da Fazenda com visual de garotão. Com apoio da esquerda e da direita, Ciro está colado no líder das pesquisas, Lula.

O que o mercado deseja é alguém que mantenha a austeridade orçamentária e as políticas de mercado. Temem que um presidente de esquerda possa provocar um êxodo de capital e uma crise à argentina. Mas o candidato escolhido por FHC, ex-ministro da Fazenda José Serra, falhou.

O jornal salienta porém que Ciro faz pouco para esclarecer as dúvidas que restam quanto a ele.

"Eu não quero ser um presidente encurralado pelo mercado", disse em sabatina do jornal Folha de S.Paulo. A base de Ciro inclui pesos pesados do conservadorismo, como o ex-governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães, e populistas com Leonel Brizola.

"A política de Ciro é mais direitista do que de esquerda", disse Stefan Salej, vice-presidente da Confederação Brasileira das Indústrias, ouvido por The New York Times.

O jornal nova-iorquino ressalta a esperança que setores conservadores tem de que Serra possa se erguer das cinzas quando a campanha na TV começar.


Que será, Serra?
SÃO PAULO - Até dois meses atrás, parecia provável que a eleição presidencial de outubro seria ganha por José Serra, aliado e amigo próximo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde então, cada pesquisa traz más notícias a ele.

Assim começa notícia publicada no site da revista ontem e que sairá na sua versão impressa neste fim de semana. O título original é mesmo em português, mas sem acento no "será".

A publicação classifica a candidatura Serra como do governo e dos mercados e especula se ela está condenada.

Diz que Serra, talvez, seja simplesmente o candidato errado. Argumenta que Tasso Jereissati tinha mais apoio entre a coligação que elegeu FHC. Em segundo lugar, diz que Serra pode ter errado ao sugerir que ele seria o único a evitar que o Brasil seguisse a Argentina no caos financeiro. Pesquisas mostram que eleitores identificam Serra com um governo que eles culpam pela crise. Também não ajudou a hesitação em posar como um candidato de mudança, quando ele representa a continuidade. Por outro lado, diz que Ciro Gomes tem tudo o que falta a Serra: carisma, habilidade na TV e uma parceira atraente em Patrícia Pillar.

A revista diz que Serra tem duas esperanças: usar bem seu tempo de TV e esperar que as constantes contradições e discussões com repórteres de Ciro o atrapalhem.


Não palpite na política, diz Lula a FMI
O candidato do PT a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, endureceu o discurso oposicionista e disse ontem à noite, em comício no Rio, que o país precisa de um líder para dizer ao FMI que "não dê palpite na política brasileira" e ao governo americano que "a Alca [Área de Livre Comércio das Américas] é uma política de anexação [do Brasil pelos EUA]".

Rebatendo as críticas de que não teria experiência administrativa para ser presidente, Lula afirmou que "o Brasil não está precisando de um ex-prefeito, de um ex-governador", mas de "um líder" que "tenha caráter, honradez e poder de comando".

"O que o povo espera de um político é liderança para poder dizer ao FMI: "Olha, não dêem palpite na política brasileira porque aqui quem manda é o povo brasileiro'", disse. "Para dizer para o governo americano: "Do jeito que vocês querem a Alca, nós não queremos, porque a Alca não é uma política de integração, é uma política da anexação". Nós não queremos ser anexados, nós somos um país livre e soberano."

O duro discurso contra o FMI havia inicialmente sido feito apenas pelo candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes. Assumindo uma postura de ataque -que vinha evitando- contra seu rival mais próximo nas pesquisas eleitorais, Lula afirmou anteontem que Ciro tenta "construir uma imagem de oposição".

Mais cedo, Lula havia cobrado mais clareza de FHC a respeito das soluções apresentadas para sair da crise -em resposta à cobrança, por FHC, de clareza por parte dos candidatos de oposição. "Quem está precisando demonstrar clareza é o presidente da República. Até agora, a única coisa que ele disse é que foi ao FMI."

Novas regras
O PT considera que medidas tomadas anteontem pelo Banco Central como a modificação das regras para avaliação de fundos de investimento são um sinal de que o governo está "correndo atrás do prejuízo", por estar consciente das limitações do acordo para conter a alta do dólar.

"A impressão inicial do governo sobre o pacote mudou completamente. O BC sinaliza para a sociedade que está se mexendo e correndo atrás do prejuízo para tentar acalmar a situação", disse Guido Mantega, um dos principais assessores econômicos de Lula.

Duas das medidas anunciadas pelo BC são claramente dirigidas a tentar conter a alta do dólar. Uma delas é abandonar a "marcação a mercado" dos fundos, determinada em maio. Os fundos voltam a ter seus valores registrados pela expectativa de desempenho futuro, e não pela performance atual, ditada pelo mercado.

A provável consequência imediata da medida será melhorar a rentabilidade dos fundos, o que desestimularia investidores de migrar para o dólar, movimento que tem ajudado a pressionar a moeda norte-americana.
"O BC agora faz um remendo, na tentativa de recuperar a credibilidade junto ao mercado. Mas credibilidade é algo que não se recupera do dia para a noite, com canetadas", declarou Mantega.

Outra das medidas que, segundo o PT, equivalem a uma "corrida atrás do prejuízo" é o aumento do recolhimento de compulsório bancário -ou seja, do dinheiro que os bancos são obrigados a depositar no BC. Com menos dinheiro disponível no mercado, haveria menor espaço para compra de dólares, contribuindo para evitar a alta da moeda.


FHC quer aval de candidatos para manter alíquota do IR
Percentual atual, de 27,5%, deve cair para 25% em janeiro

O presidente Fernando Henrique Cardoso vai sugerir aos quatro principais candidatos ao Palácio do Planalto a edição de uma medida provisória que mantenha em 2003 a alíquota de 27,5% do Imposto de Renda da Pessoa Física para quem ganha acima de R$ 2.115. De acordo com a Receita Federal, a providência é indispensável para manter o controle das contas públicas no ano que vem.

O presidente, porém, deseja que haja consenso em torno da proposta para editar logo uma MP. Ou seja, quer dividir com todos a responsabilidade pela notícia impopular, já que a alíquota cairia para 25% em janeiro de 2003.

Além disso, o governo também pode pedir apoio para manter em 2003 a alíquota de 9% da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), que vigora até o fim de dezembro. Essa alíquota tem um adicional de um ponto percentual sobre a original (8%).

A manutenção dessas receitas em 2003, que rendem atualmente R$ 2,8 bilhões ao ano, é considerada fundamental pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), a fim de garantir o cumprimento da meta de superávit primário de 3,75% do PIB previsto no acordo de US$ 30 bilhões fechado recentemente entre o país e o Fundo.

Minirreforma tributária
O presidente também vai pedir apoio dos candidatos à sua sucessão a dois projetos que podem ser incluídos como prioridade na pauta do esforço concentrado dos dias 26 e 27 deste mês.

O primeiro é um projeto de lei sugerido por Aécio Neves (PSDB-MG), presidente da Câmara, que acaba com o efeito cascata (cobrança do tributo em todas as etapas da cadeia p rodutiva sem compensação) do PIS/Pasep e isenta as exportações do pagamento desse tributo.

Essa proposta tem apoio do PT e também prevê que, em 14 meses, o governo envie projeto para acabar com o efeito cascata da Cofins (Contribuição Social para Financiamento da Seguridade).

O presidente da Câmara também pediu que FHC proponha aos candidatos ao Palácio do Planalto que apóiem a emenda constitucional que altera o artigo 192 da Constituição para permitir a regulamentação do sistema financeiro por várias leis complementares. Essa emenda tira da Constituição o detalhamento do sistema financeiro, inclusive o trecho que prevê o tabelamento da taxa de juros em 12% ao ano
"Se houver consenso, o Congresso pode votar ainda neste ano a chamada minirreforma tributária e a regulamentação do sistema financeiro prevista no artigo 192 da Constituição", disse Aécio, que conversou anteontem com o presidente sobre a pauta do encontro de segunda-feira.

Em São Paulo, após apresentar seu programa de governo na Bolsa de Mercadorias & Futuros o candidato do PSDB, José Serra, disse que, "até o fim do ano, o que pode sair é a substituição do PIS [Programa de Integração Social" por um imposto que terá alíquota mais alta, mas que vai tributar muito menos a cadeia produtiva".

Serra praticamente antecipou seu apoio ao conjunto de medidas em estudo no Planalto para evitar queda de receita em 2003. "Não dá para perder receita, porque isso comprometeria a meta de superávit primário." O tucano aceita até mesmo uma reforma tributária maior, ainda neste ano, "e mesmo acertos tributários transitórios para efeito de impedir que o quadro fiscal se deteriore". "A responsabilidade fiscal no Brasil é fundamental e nós vamos mantê-la a qualquer preço", declarou o presidenciável.

Em entrevista à rádio Gaúcha, de Porto Alegre, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o PT defende uma minirreforma tributária ainda neste ano. Ele pretende pedir ao presidente que não deixe para alguém fazer em janeiro o que ele pode fazer já.

Serra fez elogios à iniciativa de FHC: "O presidente atua com muita responsabilidade, acima de interesses partidários e eleitorais. Eu vou fazer de tudo para manter a tranquilidade".

Expectativa
O apoio às medidas econômicas que serão discutidas é fundamental, na visão do governo, para melhorar a expectativa dos investidores internacionais em relação ao país. O principal objetivo de FHC é obter dos candidatos oposicionistas, especialmente de Ciro Gomes (PPS), o compromisso de que cumprirão na íntegra o acordo com o FMI.

Na avaliação do FMI e do governo, Ciro é o candidato que mais tem assustado o mercado. Logo, é personagem mais importante que Lula, cuja posição sobre o acordo é considerada satisfatória pelo Fundo e pelo presidente.


Governo vai atrás do prejuízo, diz PT
O PT considera que medidas tomadas anteontem pelo Banco Central como a modificação das regras para avaliação de fundos de investimento são um sinal de que o governo está "correndo atrás do prejuízo", por estar consciente das limitações do pacote com o Fundo Monetário Internacional para conter a alta do dólar.
"A impressão inicial do governo sobre o pacote mudou completamente. O BC sinaliza para a sociedade que está se mexendo e correndo atrás do prejuízo para tentar acalmar a situação", disse Guido Mantega, professor da Fundação Getúlio Vargas e um dos principais assessores econômicos do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva. Na próxima segunda-feira, Lula e os demais candidatos à Presidência se reúnem com o presidente Fernando Henrique Cardoso em Brasília.

Duas das medidas anunciadas pelo BC são claramente dirigidas a tentar conter a alta do dólar.

Uma delas é abandonar a "marcação a mercado" dos fundos, determinada no final de maio. Agora, novamente os fundos terão seus valores registrados pela expectativa de desempenho futuro e não pela performance atual, ditada pelo mercado.

A provável consequência imediata da medida será melhorar a rentabilidade dos fundos, o que desestimularia investidores de migrar para o dólar, movimento que tem ajudado a pressionar a moeda norte-americana.
Quando a medida foi anunciada, o PT afirmou que não era contrário em princípio a ela, porque daria maior transparência ao funcionamento dos fundos.

Criticou, no entanto, a forma como foi feita, conjugada ao lançamento de Letras Financeiras do Tesouro que foram recusadas pelo mercado, o que contribuiu para aumentar a instabilidade nos fundos de investimento.
Os petistas também atacaram o momento em que a operação foi realizada, no início de um processo eleitoral que era potencialmente instável.

"O BC agora faz um remendo, na tentativa de recuperar a credibilidade junto ao mercado. Mas credibilidade é algo que não se recupera do dia para a noite, com canetadas", declarou Mantega.

Outra das medidas anunciadas pelo governo federal que, segundo o PT, equivalem a uma "corrida atrás do prejuízo" é o aumento do recolhimento de compulsório bancário ou seja, do dinheiro que os bancos são obrigados a depositar no Banco Central.

Com menos dinheiro disponível no mercado, haveria menor espaço para compra de dólares, contribuindo para evitar a alta da moeda. O efeito colateral disso, no entanto, seria menor oferta de crédito e dificuldades maiores para a queda nas taxas de juros, o que tende a dificultar a retomada do crescimento.

Cobrança
No Rio, Lula cobrou mais clareza de FHC a respeito das soluções apresentadas para sair da crise.
A declaração de Lula foi em resposta à cobrança, por FHC, de mais clareza dos candidatos de oposição. "Quem está precisando demonstrar clareza é o presidente da República. Até agora, a única coisa que ele disse é que foi ao FMI. O que nós precisamos ouvir dele é qual o modelo de desenvolvimento do Brasil. Em oito anos de governo a economia não cresceu. Precisamos fazer o Brasil voltar a crescer. A produção tem que substituir a especulação", disse.


Itamar entra na campanha de Lula hoje à tarde
O esperado ato de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com Itamar Franco (sem partido), governador de Minas, acontecerá na tarde de hoje, no centro de Belo Horizonte, onde os dois se encontrarão.

Itamar, que no mês passado chegou a anunciar que não participaria da campanha, voltou atrás e, agora, parece ter assumido esse apoio em definitivo.

O encontro será no Café Nice, na praça Sete, um local tradicional de peregrinação de candidatos. Por lá já passaram, nos últimos 40 dias, Ciro Gomes (PPS), José Serra (PSDB) e Anthony Garotinho (PSB).

O PT comemora muito o apoio de Itamar. Quer explorá-lo ao máximo, em outdoors e na TV. A cúpula nacional do partido entende que Itamar, pelo fato de ser um ex-presidente da República (92 a 94), tem liderança nacional e somará muito na campanha.

Itamar, no entanto, mesmo já pedindo votos para Lula em recentes atos públicos, nunca deixa de falar da sua simpatia pelo candidato do PPS, que foi seu ministro da Fazenda.

A forma que Itamar encontrou para falar de Ciro está no apoio que seu secretário de Governo, Henrique Hargreaves, dá ao candidato do PPS. Isso ocorreu no último final de semana, em viagem a São Tomé das Letras. Lembrou o apoio, mas pediu o voto em Lula.


"Como o sr. analisa o futuro do Mercosul frente à Alca?"
Dos países do Mercosul, você tem três muito fragilizados: Brasil, Argentina e Uruguai. Então, nós temos de esperar e ver o que vai ocorrer após o processo eleitoral no Brasil para que o país, que é a parte mais forte desse processo, possa adotar uma posição de reconstruir o Mercosul e ampliar as suas fronteiras. A Alca, para nós, agora não interessa. O Brasil precisa exigir condições melhores de negociação.


Ato de prefeitos lança dobradinha de Alckmin e Ciro
Decisão prejudica candidatura de Cabrera

O encontro de prefeitos que apóiam a candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, da coligação PSDB-PFL, serviu como palco para o lançamento informal da chapa Alckmin e Ciro Gomes, que disputa a Presidência da República pela Frente Trabalhista.

Durante um evento realizado ontem no clube Tietê, zona norte de São Paulo, prefeitos da frente, formada pelo PPS, PTB e PDT, explicitaram apoio à reeleição de Alckmin e ao nome de Ciro para a disputa pelo Planalto.
O fato de a Frente Trabalhista ter um candidato ao governo do Estado, Antônio Cabrera (PTB), não foi levado em consideração pelos prefeitos presentes, que disseram ter fechado o apoio a Alckmin antes do lançamento da candidatura do petebista.

Segundo a coordenação da campanha tucana, que registrou a entrada dos prefeitos em uma lista, 500 dos 645 prefeitos do Estado participaram do encontro. Entre eles, estariam três prefeitos do PT.

O prefeito do Guarujá, Maurici Mariano (PTB), foi um dos que aderiram à dobradinha. Ele montou na cidade um comitê suprapartidário de apoio a Alckmin e Ciro. "Lá, o eleitor pode pegar tanto o adesivo do governador quanto do Ciro", disse.

Com viagens frequentes ao interior, Alckmin costura o apoio dos prefeitos desde que assumiu o governo em 2001, com a morte de Mário Covas. Ele classificou o encontro como um "grande arco suprapartidário", que não inclui, entretanto, o nome do presidenciável tucano, José Serra.

"Os candidatos do meu partido pedem voto para a chapa completa. Mas é evidente que hoje se criou um grande arco suprapartidário", disse Alckmin.

A vice-presidente na chapa de Serra, Rita Camata (PMDB) e o vice-presidente da República, Marco Maciel (PFL), fizeram discursos em que defenderam a candidatura do presidenciável.

Acordo fechado
Na realidade, o PTB e o PPS já tinham fechado um acordo com Alckmin no final do ano passado. Mas a verticalização das alianças subordinação das coligações estaduais às nacionais -impediu o apoio oficial dos partidos.

A Frente lançou então Cabrera, para dar um palanque a Ciro no maior colégio eleitoral do país.
"Eu já tinha um compromisso com Alckmin. Mesmo que o partido não goste, eu sou Alckmin e Ciro", disse o prefeito de Jaguariúna, Tarcisio Chiavegato (PTB).

Todos os prefeitos usaram o mesmo discurso para justificar o apoio a Alckmin: dizem que o tucano faz um bom governo e que é muito atencioso com as cidades.

"Alckmin fez tanta coisa para o meu município, que eu não tenho outro caminho", disse o prefeito de Peruíbe, Gilson Bargieri, do PL, que está coligado no Estado com Paulo Maluf (PPB).

"Chegou o momento de agradecer a Geraldo, que ajudou todos nós com veículos, com remédios", disse o prefeito de Poá, Eduardo Carlos Felippe (PSD).

Para o prefeito de Barra Bonita, José Carlos Teixeira (PPS), como o seu partido já fazia parte da base de sustentação do governador na Assembléia, apoio é natural.

Até o fechamento desta edição, a organização não havia informado quantos prefeitos da Frente Trabalhista estiveram no evento.


Candidato do PMDB faz campanha em Franca
O candidato do PMDB ao governo de São Paulo, Fernando Morais (centro), faz campanha no centro comercial Parque Vicente Leporace, em Franca (400 km ao norte de São Paulo). À esquerda, está o candidato a deputado estadual Airton Sandoval (PMDB), que acompanhava o peemedebista na visita à cidade. Ontem foi o segundo dia de campanha de Morais na região. Anteontem, ele esteve em Barretos (424 km a noroeste da capital paulistana)


Lula classifica de "insanidade" uso de carro oficial pelo PT
PT proíbe utilização em campanha

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, classificou ontem como "uma insanidade" o uso de carro oficial para levar correligionários de um partido a um evento.

Lula se referia ao uso de carros públicos no lançamento do programa de governo de José Genoino, candidato petista ao governo de São Paulo, na terça passada.

"Acho até uma insanidade um secretário, qualquer que seja ele, numa reunião, ir de carro oficial. Tem metrô, tem táxi, tem carro particular...", disse, após conceder entrevista fechada no auditório do jornal "O Dia", no Rio.

Mas Lula fez a ressalva: "O Genoino não deve ter ido de carro oficial, porque o partido dá [um carro] para ele fazer campanha", ao ser questionado se o petista teria utilizado algum dos carros.

Entre os carros utilizados, foram identificados os das administrações regionais de Ipiranga, Jaçanã-Tremembé, Vila Prudente, Vila Mariana e Casa Verde.

A direção do PT determinou aos membros do partido que ocupam cargos públicos que não utilizem carros oficiais em eventos da campanha eleitoral, apesar de não considerar a prática "ilegal ou irregular", afirmou ontem o deputado Aloizio Mercadante (PT-SP), candidato ao Senado.

Anteontem, o Ministério Público de São Paulo abriu dois procedimentos investigatórios, nas esferas cível e eleitoral, para apurar o uso indevido de veículos oficiais da prefeitura paulistana no evento de terça-feira.

Sem carro oficial
"A recomendação é clara: não queremos carros oficiais [em eventos]. Tem que ter muito cuidado com o dinheiro do contribuinte, que tem de ser preservado", disse Mercadante.

O petista afirmou que veículos oficiais também são usados por governantes do PSDB na campanha. "No lançamento do plano de governo [de Genoino], os líderes do partido foram com carros oficiais, como os governadores para o lançamento do José Serra [candidato tucano à Presidência] também usaram transporte oficial."

A Folha procurou ontem a assessoria de Serra para que comentasse a declaração, mas até as 19h não obteve resposta.

Anteontem, Genoino pediu aos repórteres que o entrevistavam, em São Paulo, que as viagens do governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição, também fossem investigadas. A assessoria do governador afirmou que, em campanha, ela não usa carros ou outro meio de transporte que pertença ao Estado.
Genoino também declarou que, no evento de terça, os carros não foram usados com fins eleitorais, mas em um "ato interno" do PT.

Ontem, durante visita ao Vale do Paraíba, acompanhado por Mercadante, não quis comentar o caso. "Não falo mais desse assunto. Não opino sobre o transporte de autoridades nem sei como elas se transportam."
Genoino e Mercadante foram recebidos ontem no Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em Aparecida (167 km de SP), pelo arcebispo dom Aloísio Lorscheider.


Artigos

Ricos, mas órfãos
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - A Folha ouviu, dias atrás, de um portentoso homem de negócios, a seguinte avaliação sobre um segundo turno entre Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes:
"A esses dois não dou nem o benefício da dúvida".

Pode ser uma frase preconceituosa, cruel, impiedosa, mas é também um precioso instantâneo do momento em que vive boa parte dos homens de negócios e de mercado. Com a queda de José Serra nas pesquisas, ficaram pura e simplesmente órfãos.

Esse segmento tem aversão visceral a Lula e ao PT. Coisa de pele, não tem remédio. Ciro poderia até ser engolido. É afilhado político de um empresário (Tasso Jereissati), está agora cercado da turma que sempre conviveu perfeitamente bem com o "business" (Jorge Bornhausen, Antonio Carlos Magalhães e Paulo Pereira da Silva, entre outros).

Mesmo assim, não foi digerido até agora. Em parte porque, na sua curta passagem pela Fazenda, em 1994, criou vários atritos com o empresariado, em parte porque está adotando uma posição -verbal ao menos- extremamente agressiva em relação ao t al de mercado.

É relevante a orfandade desse segmento? Há quem ache que, pela porcentagem do PIB que maneja, pode até decidir a eleição, financiando a campanha do escolhido. O exemplo óbvio é o de Fernando Collor.

Suspeito, no entanto, que as coisas tenham mudado -e para melhor. Em 1989, a Rede Globo de Televisão fez a sua parte para criar um candidato de plástico, mas extremamente convincente e sedutor.

Posso queimar a língua, mas acho que a Globo não vai entrar mais nessa. Em parte porque não é necessário. Lula desbotou tanto que um anti-Lula já não é vital para os interesses estabelecidos.

O mercado pode até continuar especulando, usando o fantasma "Cirula", como antes usou o "Brizula".
Mas quem não vive só de especulação tende a continuar órfão.


Colunistas

PAINEL

Candidato do capital
José Alencar (PL), vice na chapa de Lula, percorrerá a partir da próxima semana as principais federações de indústrias do país em busca de apoio no empresariado para o presidenciável do PT. Argumento: a disputa está polarizada entre Ciro e Lula, e o petista é "mais confiável".

Ex-querido
Aliados de Ciro querem colocar no horário eleitoral pesquisa feita pela Câmara Americana de Comércio-SP em 94, após a eleição de FHC, que perguntava quem seria o melhor ministro da Fazenda para o governo do tucano. Ciro ficou em primeiro, com 36%. Serra teve 22%.

Sinal de prestígio
Coordenador da campanha de José Serra, Pimenta da Veiga (PSDB) convocou entrevista para falar que a campanha do tucano não atacaria mais os adversários. No mesmo dia, o site do presidenciável lançou um jingle que chama Ciro de "mentiroso".

O imparcial
O comitê de Lula abrirá em seu site na internet uma seção destinada a avaliar a cobertura dos candidatos pela mídia. As notícias serão classificadas como positivas, negativas ou neutras. O Instituto Universitário de Pesquisa do RJ), que faz estudo parecido, colabora com a sigla.

Fora da cadeira
Acusado pelos adversários de uso eleitoral da máquina, Joaquim Roriz (PMDB-DF) deixará o governo no dia 12 de setembro para concorrer à reeleição fora do cargo. Será substituído pelo presidente do TJ, pois o vice, Benedito Domingos (PPB), também disputa o governo estadual.

Na Justiça
Dois comissários de bordo da empresa American Airlines estão sendo processados na Justiça Federal brasileira por racismo. Em vôo entre Nova York e o Rio, em 1998, teriam chamado o passageiro Nelson Niremberg de "safado e repulsivo brasileiro". Os dois vão depor no Rio em março do ano que vem.

Bola de cristal
A Arko Advice, empresa que faz análise política para 50 instituições financeiras nacionais e estrangeiras, concluiu estudo no qual aponta que Lula terá o menor apoio consistente na Câmara (207 deputados) em um eventual governo seu. Serra teria apoio de 235, e Ciro, de 245.

Prioridade de campanha
A PM paulista desmarcou ontem um seminário que quatro agentes especiais do FBI fariam no Brasil sobre combate e gerenciamento de sequestros. A maior parte dos custos seria paga pela Embaixada dos EUA, que não recebeu explicação oficial para o cancelamento.

Passa mais tarde
Os quatro agentes do FBI tiveram de cancelar em cima da hora o embarque que fariam ontem para SP. O seminário foi pedido pela PM à embaixada logo após o sequestro e morte de Celso Daniel, em janeiro, e seria realizado entre 19 e 23 de agosto.

Tática de guerrilha
Maluf continua na linha do terrorismo econômico para atacar Alckmin. Após "fechar" há duas semanas fábricas que continuam operando, disse que a Kraft Foods, que controla a Lacta do Brasil, está saindo de SP.

Bala de festim
Ao saber da declaração de Maluf, a Lacta emitiu nota na qual diz estar desativando sua fábrica no Brooklin, pois o bairro cresceu muito desde que ela chegou lá, em 1959. Mas que manterá quatro fábricas em SP, além do escritório nacional de vendas.

Não é problema meu
Tucanos dizem que Marta reeditou o "nada a declarar" de Armando Falcão, ao ser questionada sobre os carros oficiais em ato de Genoino. Na versão petista, ficou "nada a comentar".

Visita à Folha
Celso Pitta, ex-prefeito de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Antenor Braido, assessor de comunicação.

TIROTEIO

De Ricarte de Freitas (PSDB-MT), sobre o apoio de Tasso Jereissati (CE) a Ciro (PPS):
- O problema do Tasso é ético. Se ele quer ser tratado nacionalmente no mesmo patamar de grandes figuras do PSDB, como Covas, Montoro e FHC, deveria ter um mínimo de ética.

CONTRAPONTO

Queixa interestadual
Na terça-feira da semana passada, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra (SP), deu uma palestra a empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Logo após o discurso, os empresários começaram a fazer perguntas.
Jésu Ignácio de Araújo, presidente da Federação das Empresas de Transportes de Cargas de Minas, fez uma longa reclamação sobre os pedágios de SP. Serra rebateu dizendo que isso era problema da campanha do governador Geraldo Alckmin. Silva insistiu:
- Tem uns 200 pedágios!
Serra disse que o número estava superestimado. O empresário retrucou afirmando que nem na Europa há tantos pedágios.
Cansado da discussão, Serra comentou, provocando risadas na platéia:
- É... Ainda bem que o senhor não vota em São Paulo...


Editorial

OUTRA LÓGICA

O progressivo fechamento do crédito externo vem forçando um rearranjo da política econômica brasileira. Esse reordenamento tem emergido a reboque dos fatos adversos, e está longe de constituir um todo coerente. Mas é inegável que cresce o recurso a medidas que até há pouco, por sua "heterodoxia", eram malvistas pelo governo.

Um exemplo disso é o reforço da intervenção no mercado de câmbio -que se afasta claramente do ideal da "livre flutuação". Outro é a expansão do crédito promovida pelos bancos públicos. Dada a retração do crédito concedido pelos bancos privados, essa "heterodoxa" ação anticíclica dos bancos públicos tem limitado o aperto de crédito.

Dentro desse rearranjo "ad hoc" da política econômica, cabe discutir o papel dos juros. Se o governo ainda se apegasse às noções que defendia até há pouco, não haveria o que discutir: como a inflação caminha para superar a meta, caberia esperar que os juros fossem aumentados.

Há quem defenda que o BC mantenha essa posição. Mas as novas condições da economia recomendam mudar também a política de juros.

Muito dificilmente elevar os juros, hoje, atrairia dólares ao país. E certamente agravaria a restrição de crédito que inibe a atividade econômica. A retração do crédito externo, a incerteza e o aumento dos compulsórios já estão contendo o crédito. Os prazos de financiamento ao consumidor estão sendo fortemente encurtados.
Aumentar os juros, agora, significaria optar por um ajuste das contas externas calcado na recessão. Seria uma estratégia, além de socialmente dolorosa, prejudicial para as contas públicas, que seriam pressionadas pelos juros e pela perda de arrecadação. E o conseqüente aumento da relação dívida/PIB reforçaria as dúvidas quanto à solvência do setor público.

No bojo do acordo com o FMI, as metas de inflação se tornaram menos ambiciosas, o que ampliou o raio de manobra do governo. As taxas de juros internacionais estão baixas e tendem a cair mais. Parece saudável, diante disso, compensar ao menos parcialmente os vetores recessivos que já estão presentes, por meio de uma lenta mas progressiva redução dos juros.


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08/16/2002


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